De São Paulo, SP.
Roy Tuscany tinha 24 anos de idade quando quebrou as costas
depois de errar um salto de esqui e se estatelar na neve.
Duas semanas antes do acidente que mudou sua vida em 2006, ele
poderia ter optado pela cobertura de invalidez permanente incluída no seguro de
vida em grupo oferecido pela sua empresa.
Da mesma forma que muitos jovens adultos da sua idade, ele não
deu nenhuma importância para aquilo, achando que não era necessário. Afinal,
ele era instrutor de esqui na cidade de Norden, na California nos EUA e
instrutores de esqui não se envolvem em acidentes, certo?
"Eu tinha acabado de me inscrever no plano de saúde da
empresa e já estava incomodado o bastante em ter que pagar por aquilo" lembra
Tuscany.
Tuscany, que hoje tem movimentos limitados nas duas pernas e
anda com a ajuda de muletas, disse que não tem ideia de quanto a cobertura de
invalidez teria lhe custado e que não entendia naquela época porque um cara
jovem como ele precisaria daquela cobertura.
Sabendo o que sei agora, eu teria dito para mim mesmo
que devido ao meu estilo de vida a cobertura de invalidez seria quase que obrigatória”,
resignou-se.
... e o custo?
"Teria valido a pena deixar de comprar uma dúzia cervejas
por mês para pagar por aquela cobertura”, Tuscany disse.
Enquanto muitas pessoas adquirem seguro para seus carros,
suas casas e suas despesas médicas, nem todo mundo se preocupa com aquilo que
pode ser mais importante: suas vidas e
seus empregos.
Muitos trabalhadores dizem que a razão de não terem esse
tipo de cobertura é porque eles não entendem os custos e os benefícios que
teriam com tais seguros.
Não surpreende, portanto, que o setor de seguros tenha
obtido fracos resultados em sua tentativa de aumentar a participação dos
consumidores nos seguros de vida e invalidez.
Para piorar esse quadro aqui no Brasil, ao longo dos últimos
20 anos as empresas vem diminuindo sensivelmente o foco nas coberturas de
invalidez e morte de seus programas de benefícios.
Até meados dos anos 90 os planos de previdência complementar
no país garantiam uma renda vitalícia para o cônjuge em caso de morte do
empregado ou a segurança de uma renda mensal ao próprio empregado diante das
agruras de uma invalidez permanente.
Hoje, se um empregado morre ou se invalida cedo em sua
carreira, o seguro de vida em grupo da empresa somado ao benefício por morte ou
invalidez de seu plano de aposentadoria não garantem mais do que uns poucos
anos de renda, antes de acabarem.
Completando esse cenário, cada vez mais empresas estão
fazendo com que o empregado tenha que escolher voluntariamente e pagar por todo
tipo de benefício — desde ticket alimentação e até a própria cobertura de seguro
de vida e de invalidez.
Ter que decidir qual benefício escolher no momento da
admissão pode ser algo intimidador e confuso para o empregado.
DESCONEXÃO COM A
REALIDADE
Os trabalhadores não são os únicos que se sentem confusos em
relação às coberturas de invalidez e morte oferecidas pelas empresas. Os gestores
de RH podem estar deixando escapar maneiras importantes para ajudar os empregados
e suas famílias. O papel social das empresas está se esvanecendo.
No mundo moderno, onde viver 100 anos já não causa espanto,
a preocupação de morrer cedo deixando a família desamparada foi dando lugar para
o medo de viver demais e ficar sem dinheiro no fim da vida
Isso pode ser visto nos planos de previdência das empresas,
que foram voltando seu foco para o benefício de aposentadoria e se afastando paulatinamente
dos riscos de invalidez e morte.
A maioria dos gestores de RH pode pensar que ter um bom
seguro de vida em grupo no pacote de benefícios da companhia é o bastante para
tranquilizar os empregados. Mas não se pode confundir seguro com previdência. Seguro de invalidez e morte cobre alguns meses
(24, 36, 72 vezes o salário mensal) enquanto os benefícios de previdência
garantem (ou deveriam garantir), nesses casos, uma renda mensal de longo prazo
São simplórios os valores pagos hoje pela maioria dos planos
de previdência das empresas, diante de invalidez ou morte do empregado.
Quando se trata de invalidez a maioria das pessoas não entende
mesmo, diz Carol Harnett, Presidente do “Council for Disability Awareness”, uma
ONG com sede em Portland, no estado americano do Maine.
Carol propõe chamarmos essa cobertura de seguro de renda ao invés de seguro por invalidez. Concordo com ela
porque para a maioria das pessoas, seguro
por invalidez tem a ver com curtos períodos de tempo durante os quais a
pessoa não pode trabalhar, como durante a recuperação após um acidente, uma
cirurgia, ou então durante a gravidez.
FAZENDO DIFERENTE
Jovens já são maioria na força de trabalho. Os chamados “milênios”,
pessoas com idades entre 18 e 34 anos, são a mais numerosa geração viva nos
dias de hoje.
Nos EUA eles são cerca de 75,3 milhões contra 74,5 milhões
de “baby boomers”, a geração nascida após a II Guerra e que está agora com
idades na faixa de 51 a 69 anos.
Esse perfil jovem da força de trabalho, aliado a tendência
das empresas transferirem para os empregados a responsabilidade pela escolha
dos benefícios, ressalta ainda mais a importância de uma comunicação eficiente.
A geração dos “milenials” está direcionando as tendências da
comunicação nas empresas.
“Tem a ver com a explicar as coisas de uma maneira diferente
de modo que elas possam coloca-las no contexto e tomar decisões mais bem
informadas”, explica Tom Dupuis - Vice Presidente de Desenvolvimento de
Produtos e Mercados do Grupo Unum.
Em setembro do ano passado a MetLife criou uma série de
vídeos chamada de Who I Live For,
“Qual a minha razão de viver”, em tradução livre para o Português.
Os vídeos foram lançados exclusivamente através das mídias
sociais tipo Facebook, LinkedIn, Twitter e YouTube, ou seja, nada de televisão.
Foram filmadas pessoas de diferentes origens, idades e sexo
e as respostas foram bem similares. Cada pessoa contou sua história individual,
algumas mostrando fotos gravadas em seus
“smartfones”, outras escrevendo em pequenos cartazes (veja abaixo).
“Ao invés de promover a necessidade de seguro de vida
ressaltando o medo de morrer ou de se invalidar, como tradicionalmente se faz, os
vídeos tinham mais a ver com proteger e cuidar das pessoas que você ama”,
comentou Stephen Pontecorvo, Vice Presidente Sênior da MetLife.
"É uma forma de pegar mais leve na conversa sobre
seguro de vida”.
A campanha da MetLife atraiu mais atenção do que qualquer
outra campanha da empresa fora do campeonato futebol americano, registrando
mais de 354.000 acessos aos vídeos e 146.000 tweets.
Foi um bom exemplo de como atrair a atenção dos empregados jovens
com mensagens criadas de uma maneira que eles querem receber.
Ninguém gosta de falar sobre morte e invalidez, então, é
preciso sair do lugar comum e criar uma comunicação mais inteligente, que atinja
o mesmo objetivo por um caminho diferente.
Ainda há um longo
caminho pela frente para ajudar os empregados a fazerem a conexão entre os
riscos que correm e a proteção oferecida pelas empresas onde trabalham.
Tuscany, por exemplo, conseguiu fazer essa conexão –
infelizmente, o fez por acidente.
Forte abraço,
Eder
Fonte: Adaptado do artigo “Insurance
Indecision”, de Patty Kujawa.
Crédito de
Imagem: www.pt.depositphotos.com