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sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

ENSAIO - A TRANSFORMAÇÃO QUE O BLOCKCHAIN CAUSARÁ NA INDÚSTRIA DE FUNDOS DE PENSÃO



Credito de Imagem: blenderartists.org
De São Paulo, SP.

Tem uma frase ótima de um filósofo alemão do Século XIX chamado Arthur Schopenhauer, que eu gosto muito. Ela diz mais ou menos o seguinte: “ter talento é acertar num alvo que ninguém acertou, ser gênio é acertar em um alvo que ninguém viu”.

As tecnologias que transformam o mundo começam devagarinho. Primeiro, causam (dis)ruptura em algum lugar. Uma empresa aqui, um segmento ali ou uma indústria específica acolá, adotam a inovação. Todo mundo olha e enxerga a coisa como um daqueles faróis de navegação. A galera toda vagando no nevoeiro e aquela luzinha lá longe, sinalizando que tem algo ali.

Um grupo de empresas e seus consumidores geralmente compreendem mais cedo o alcance daquela nova tecnologia, o poder de transformar o status quo e deslocar o pensamento vigente. Tome a indústria aeroespacial como exemplo. Essa turma vislumbrou o potencial das impressoras 3D muito antes do setor de manufatura perceber as economias de tempo e dinheiro e a redução de riscos que poderiam obter na produção de protótipos e de pequenos lotes de peças de reposição. Uma empresa chamada “Made in Space” criou  uma impressora 3D que funciona em gravidade zero, algo que a NASA não conseguiu fazer em décadas – 90% do peso de um foguete enviado para a estação espacial são peças de reposição, imprimi-las in loco no espaço representa um avanço tremendo. Hoje a tecnologia de impressão 3D produz de casas a carros, de tênis a bonecas, em materiais tão diversos quanto plástico, cimento, metal e chocolate. Até 2050 estima-se que inclusive órgãos humanos serão impressos.

O mesmo aconteceu a indústria automotiva, que foi capaz de antecipar em mais de quatro décadas a revolução que a mecatrônica e a robótica causariam com a automatização em larga escala das linhas de produção – a automação começou nos anos 70. Ainda foram necessários muitos anos até que o segmento de logística também abraçasse a robótica em seus centros de distribuição. Hoje a Amazon conta com mais de 200 mil robôs em seus armazéns pelo mundo – implantou os primeiros em 2012 (Robôs da Amazon).

É assim que acontece. Com o tempo, organizações de outros setores passam a enxergar o potencial das tecnologias disruptivas e uma gama diversificada de novas aplicações vai sendo desenvolvida. Esse processo de disseminação na adoção das novas tecnologias é chamado de “difusão das inovações”.

Isso está ocorrendo nesse exato momento com a disseminação do blockchain, uma tecnologia que para muitos ainda está associada às fintechs e criptomoedas, tipo “Bitcoin”. Porém, as soluções e aplicações que vem surgindo com a evolução do blockchain vão muito além do setor financeiro, onde inicialmente apareceram.

Explicando blockchain de forma resumida

Blockchain é uma tecnologia que faz registro de transações. Elas são colocadas em uma cadeia de dados que não pode ser alterada. Caso isso aconteça, há o comprometimento com a segurança do sistema e invalida as transações. O resultado é uma cadeia única de dados onde as transações são armazenadas.

O blockchain muitas vezes se compara com um grande livro de registros. Cada computador que processa o blockchain possui uma cópia desse livro e com isso faz verificações de redundância e confiabilidade das transações executadas. Isso aumenta a segurança e confiabilidade das transações, pois é quase impossível apagar ou fraudar todas os livros de registro espalhados pela internet.

A segurança do blockchain é dada pela garantia de que as transações só podem ser anexadas ao registro principal após seu preenchimento. Ou seja, a transação precisa ser concluída e ambos os lados precisam fornecer os dados corretos da transação. Para aumentar a segurança, as transações são criptografadas, o que torna o roubo de dados quase impossível.

Isso faz com que o blockchain tenha inúmeras aplicações diferentes, desde que elas garantam a mesma lógica de funcionamento: transações (ou troca de informações) entre indivíduos. O fórum econômico mundial já aponta o blockchain como a tecnologia que vai moldar o mundo. O motivo? Ela descentraliza o poder de grandes instituições que fazem as transações seguras (bancos, governos, empresas, seja o que for).

blockchain está transformando a forma que a tecnologia está lidando com trocas e transações entre indivíduos, sejam eles pessoas físicas ou jurídicas. A garantia de transações entre as partes sem a verificação de uma entidade reguladora central permite o desenvolvimento de serviços confiáveis.

A mudança de paradigma com o blockchain

A cada dia mais e mais organizações, de variados setores, estão expandindo e diversificando a aplicação do blockchain e desenvolvendo novas soluções. Segmentos tão diversos quanto o de mobilidade autônoma, viagens e turismo, identidade digital, saúde, seguros, imobiliário e ajuda humanitária. 

Poderíamos listar um montão de negócios em funcionamento hoje que, a partir da tecnologia blockchain, desenvolveram soluções criativas e inovadoras (alguns exemplos seguem no anexo, após o final desse artigo). Porém, o mais importante é chamar a atenção para uma característica comum a praticamente todas as soluções que usam blockchain. Se você analisar com atenção, vai perceber que a tecnologia resolve um dos maiores problemas da humanidade quando se trata de fazer negócios: "confiança". Conforme disse Warren Buffett certa vez:

“Confiança é como o ar que respiramos – quando está presente, ninguém realmente nota. Quando está ausente, todo mundo nota”.

Fundos de pensão e blockchain

Quando se trata de localizar a poupança de aposentadoria ou de (trans)portar os recursos do fundo de pensão de um empregador para outro, cabe ao participante correr atrás.

Em junho passado senti isso na própria pele. Ao deixar meu antigo empregador resolvi portar para um plano de previdência individual, administrado por uma seguradora, a poupança que acumulei no fundo de pensão corporativo. Foram várias idas e vindas, documento para um lado, documento para o outro, coleta de assinaturas, musiquinhas infindáveis em atendimentos 0800, uma canseira. Fui eu quem precisou ficar de olho, acompanhar toda a transação para assegurar que o processo de portabilidade não ficasse parado numa gaveta qualquer.

Não existe no Brasil e diga-se de passagem, em em lugar nenhum do mundo, um banco de dados nacional que mantenha informação sobre os planos de previdência complementar de todos os trabalhadores – sejam eles administrados por fundos de pensão ou seguradoras (PGBL, VGL, FGB).

Falta um sistema unificado que permita aos trabalhadores Brasileiros, automaticamente, portar seus recursos de um plano de previdência complementar para outro. Seja quando mudam de emprego ou simplesmente quando encontram condições comerciais e técnicas melhores em outro lugar.

Por isso, com frequência, muitos saldos com poupança de previdência complementar vão ficando para trás, espalhados em vários planos diferente. As pessoas perdem o controle de suas contas de aposentadoria e dos recursos acumulados em cada uma delas.

Inexistem dados no Brasil sobre a montanha de dinheiro que foi ficando para trás (alô PREVIC, alô SUSEP, que tal dar uma olhada nisso!). Nos EUA, de acordo com um relatório de 2017 da NBC News, US$ 2 trilhões podem se perder quando os americanos mudam de emprego. Relatório aqui.

O problema nos nossos planos de previdência complementar corporativos é que a poupança de aposentadoria fica no fundo de pensão quando um participante que termina o vínculo empregatício com a empresa patrocinadora não se manifesta sobre o destino dos recursos.

A legislação determina que assim aconteça – tecnicamente isso é chamado de BPD “Presumido” (BPD = Benefício Proporcional Diferido). Normalmente, são os saldos de pequeno valor que ficam perdidos e 80% dos saldos de aposentadoria, são de pequeno valor. Esses saldos acabam sendo zerados com o passar dos anos em função da cobrança de taxas de administração/gestão financeira, que são deduzidas diretamente das contas. Nos EUA acontece a mesma coisa e um saldo de US$ 1.000 levará em média nove anos para ser zerado e sumir do mapa para sempre, impondo perda ao participante. Idem por aqui.

Imagine se existisse uma solução para esse problema. Uma forma de acompanhar todas as nossas contas de aposentadoria mantidas nos fundos de pensão dos nossos antigos empregadores, inclusive os PGBL e VGBL corporativos e individuais. Um meio seguro, transparente e de fácil acesso a qualquer um.

Num futuro não muito distante, a plataforma do blockchain resolverá esse problema maravilhosamente bem. Todos os nossos saldos serão registrados de forma segura num blockchain e cada individuo poderá acessar e gerenciar suas próprias contas de aposentadoria. Poderá fornecer um “token” para um fundo de pensão ou seguradora para que tenham acesso às suas contas registradas no blockchain.

Farol de navegação

O modo exato que as novas tecnologias serão aplicadas aos fundos de pensão e mudarão a forma que poupamos para o futuro, ainda não pode ser vislumbrado. Até porque os fundos de pensão estão navegando em águas bem agitadas ultimamente, mas é possível enxergar um farol marítimo pulsando ao longe, na base dele está escrito: "blockchain".

Grande abraço,
Eder.


PS: Quem quiser ter uma visão geral de como os setores mais importantes da economia estão enxergando as aplicações do blockchain, pode dar uma olhada numa pesquisa da Deloitte chamada Deloitte 2019 Global Blockchain Survey

Fontes: Adaptado dos artigos “Many paths lead to blockchain adoption, and no two are alike - An industry-by-industry look at Deloitte’s 2019 Global Blockchain Survey”, escrito por Jonathan Holdowsky - Nakul Lele e Geoff Lougheed; “How Blockchain Can Help Us Save More For Retirement”, escrito por Adam Bergman e “O que é e como funciona a tecnologia blockchain?”, escrito no blog impacta.com.br.

ANEXO

Algumas soluções inovadoras baseadas no blockchain.

CAR VERTICAL é uma empresa da Estônia que foi criada em 2017, tem menos de 50 empregados e projeta faturamento de US$ 6 bilhões em cinco anos a partir do lançamento. Usa uma plataforma baseada na tecnologia blockchain na qual fica registrada toda a vida do automóvel. É voltada para assegurar confiança na procedência do veículo, afastando os receios comuns de quem compra um carro usado como: fraude no odometro, roubos, troca de peças, se passou pelas manutenções, recalls, teve acidentes e batidas, qual o preço anterior?

AI GANG é uma seguradora digital de Singapura que combina Internet das Coisas - IoT, Big data, smart contracts e gestão de risco em uma única plataforma baseada em blockchain. Oferece seguro de dispositivos móveis. Os prêmios são definidos em tempo real, a cada instante, com base nos dados dos sinistros enviados online. O próprio dispositivo móvel (smartphone, tablet, laptop) usa um protocolo para informar se houve algum sinistro, tipo queda, quebra ou roubo e aciona a cobertura automaticamente. A indenização é creditada na conta do segurado de forma descentralizada, a partir de uma criptomoeda/token proprietária chamada AIX.

TURO (https://youtu.be/EbEYrigCs-o) surgiu em São Francisco – EUA em 2010. Com 200 funcionários, é uma empresa de compartilhamento de carros, uma espécie de ABnB dos automóveis. É um negócio do tipo P2P – Peer to peer (pessoa física para pessoa física), contratado via smartphone, com pagamentos descentralizados via uso de criptomoedas, todo controlado por protocolo blockchain. Opera em mais de 50 países e se propõe a diminuir o custo de quem tem um carro, através do compartilhamento remunerado. Afinal o carro fica parado a maior parte do tempo.

ICERTIS foi criada em 2009. Há alguns dias participei de um webinar no qual eles apresentaram uma solução para gestão de contratos comerciais construída em cima da tecnologia blockchain e Inteligência Artificial. A solução assegura o cumprimento de obrigações contratuais e a atribuição de responsáveis pelas mesmas, sem intervenção humana. Por exemplo, rastreia toda a cadeia produtiva indo até o fornecedor de matéria prima, para verificar se constam em todos os contratos o compromisso com os princípios ESG - aquelas cláusulas contratuais contra trabalho escravo, assegurando direitos humanos, ética nos negócios e proteção ao meio ambiente. A Daimler – Mercedes Benz é um dos clientes, J&J outro e por aí vai.


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