terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Quando a Intuição se vinga dos Algoritmos na Gestão de Investimentos


De São Paulo, SP.

Os economistas defendem a hipótese do mercado eficiente e argumentam que os traders (operadores de mercado) não são capazes de vencê-lo. Mais recentemente, os economistas comportamentais proclamaram que um viés cognitivo faz dos humanos péssimos tomadores de risco.

No entanto, novas evidências descobertas em estudos de neurociência podem sair, afinal, em defesa dos operadores de mercado.

Uma pesquisa conduzida por John Coates - um ex-operador de derivativos que se transformou em neurocientista - alega que os humanos, quem diria, podem ser bons tomadores de risco.

Coates diz ter encontrado evidencia sugerindo que a preparação física de uma pessoa fornece uma medida precisa sobre risco-retorno, que pode não estar sujeita aos vieses de comportamento mencionados na economia comportamental.

Em determinadas condições de estímulo fisiológico, os traders que possuem sensibilidade aos sinais dados por seus corpos, são capazes de maximizar risco e retorno. Enquanto traders cronicamente estressados, operando num mercado em condições extremas, podem ter prejudicada sua capacidade de julgar risco.

Essa dinâmica de stress contribui fortemente para as bolhas e quebras das bolsas de valores, segundo Coates. A ideia básica é que quando os traders conseguem explorar a preparação física na tomada de risco – gerenciando sua intuição – eles conseguem ganhar de algoritmos embutidos nos sistemas automatizados de negociação.

Coates trabalhou por mais de uma década em Wall Street operando mesas de derivativos do Goldman Sachs e do Deutsche Bank, antes de abraçar a neurociência e a fisiologia aplicada.

Então, ele começou a fazer experimentos no seu antigo ambiente de trabalho. Ao longo dos últimos 10 anos ele conduziu estudos na vida real, em mesas de operação.

“Conectamos os traders com sensores da cabeça aos pés, 24 horas por dia, durante uma semana de cada vez e correlacionamos a alta frequência de dados fisiológicos com as perdas e ganhos de suas contas e com os dados de value-at-risk (nº que representa a pior perda esperada de uma carteira/produto de investimentos num determinado dia). Obtivemos resultados que saltam aos olhos indicando que o estado fisiológico deles é provavelmente o maior determinante dos retornos”, falou Coates.

Em um dos experimentos Coates descobriu ao longo de duas semanas uma correlação surpreendente entre os níveis de cortisol (um hormônio liberado pelo corpo em resposta ao stress) e a volatilidade no preço de títulos da dívida pública alemã (Bunds).

Os humanos não processam informações de mercado desapaixonadamente, como faz um computador, argumenta Coates, nós reagimos a elas fisicamente e nossa preparação física é uma medida precisa de oportunidades e ameaças.

“Humanos são robôs de última geração e não computadores de segunda classe. O cérebro humano é um sistema incrivelmente poderoso que controla movimentos extremamente complexos. Se alimenta de informações para produzir movimento”, explica Coates.

Nesse sentido, um trader pode ser comparado a um animal em alerta, agindo em resposta a determinado ambiente. A resposta ao stress, que não é nada mais do que a preparação metabólica para o movimento, é, portanto, um componente essencial da ação.

Coates prossegue com o argumento, amparado nos resultados científicos que publicou, de que os traders tomam as melhores decisões envolvendo riscos, em níveis ótimos de stress.

Entretanto, a maior descoberta de suas pesquisas é que o apetite de risco dos traders muda com seus corpos. Quando os níveis de stress estão elevados, por exemplo, após o estouro de uma bolha no mercado, os traders se tornam mais avessos ao risco. Em contrapartida, o contrário ocorre quando os mercados estão subindo e os níveis de testosterona dos jovens machos estão altos, levando a um maior apetite ao risco.  Isso pode explicar porque comportamentos impulsivos ou excessivamente defensivos emergem.

As pesquisas de Coates chamam a atenção para três aspectos chave: primeiro, as preferências de riscos mudam, contrariando uma premissa que sustenta toda a teoria econômica e financeira. Segundo, elas mudam de forma pró-cíclica, significando que sob certas condições os humanos regularmente fazem escolhas contra produtivas. Terceiro, as mudanças nas preferencias de risco são causadas por mudanças no nosso corpo.

Coates comenta: “A maioria dos modelos econômicos e financeiros,  clássicos ou comportamentais, é baseada na premissa de que as preferências de risco não se alteram. Essa premissa era necessária para construção de modelos baseados numa arquitetura de escolha racional, que cai por terra se você admitir que as preferencias de risco mudam.Até agora essa premissa fundamental nunca foi testada em grande escala. O que descobrimos empiricamente nesses estudos é que as preferencias de risco de fato se alteram. Elas se alteram dramaticamente, de forma muito rápida e podem desestabilizar seriamente os retornos. Mudanças pró-cíclicas nas preferencias de risco podem transformar um mercado em alta numa bolha e um mercado em baixa numa quebra. “Eu acho um escândalo que essa premissa nunca tenha sido apropriadamente testada”.
 
Reação Hostil
 
Os economistas, diz Coates, não aceitaram seus estudos de forma pacífica. “Encontramos muita resistência para publicar nossos estudos em jornais de economia e finanças, apesar dos estudos terem embasamento científico. A Ciência tem que ser anárquica e disruptiva e não deveria importar quem você é ou qual paradigma está testando”.”A reação da comunidade médica foi muito melhor”, acrescenta ele, que publicou seu trabalho em jornais científicos altamente renomados como o Royal Society do Reino Unido e o National Academy of Sciences dos EUA.
 







Essa relutância dos economistas em aceitar as pesquisas de Coates não é surpreendente se consideramos as críticas que ele faz aos fundamentos da Ciência Econômica. Coates, porém, não apenas critica a incapacidade dos economistas teóricos em testar uma hipótese tão fundamental. Ao voltar sua atenção à psicologia e ao corpo, ele vai mais fundo questionando a obsessão dos economistas pelo pensamento consciente e se apoiando num princípio da filosofia ocidental que remonta a Platão: a separação do corpo e mente.
Coates não está advogando uma espécie de determinismo biológico nem dizendo que a racionalidade não conta. Ele só está argumentando que, acaso a mudança nas preferencias de risco tivesse sido levada em conta quando se analisou a origem da bolha imobiliária e a crise de crédito nos EUA, a explicação teria sido bem diferente. De fato, é difícil argumentar contra o fato das preferencias de risco terem mudado depois da crise financeira.   

Aplicação Prática

Coates diz que o resultado de suas pesquisas gerou grande interesse dos gestores de ativos. As empresas de investimentos estão correndo para entender as implicações disso para seus modelos de negócio e transformando esse novo conhecimento em aplicações práticas.

Ele explica: “… no último ano as firmas de gestão de ativos mostraram-se realmente interessadas porque seus modelos de negócio estão sob ameaça. Recebemos diferentes questionamentos, dependendo de qual departamento nos contata. Diretores de Assistência Médica, RH e Departamentos de Gestão de Risco, nos perguntam sobre como melhorar seus processos baseados nos nossos estudos”.

No entanto, as mesas de gestão de carteira é que mostram particular entusiasmo, comenta Coates. “Eles perguntam como podem fazer para ter melhores gestores de investimentos. Vamos ensiná-los como usar tecnologia vestível, que monitora respostas fisiológicas, quais sistemas deveriam estar monitorando, como se correlacionam com performance e como devem se engajar intervindo nos padrões de sono, nutrição e condicionamento físico. Essas intervenções ajudarão os traders a se prepararem para ter uma performance melhor.
 
"Coates diz que essa filosofia também se aplica a investimentos de longo prazo. Se essa abordagem se disseminar mais, a gestão ativa poderá reivindicar a volta de seu status original. “Um ambiente como o atual com uma volatilidade tão baixa, talvez seja o mais hostil possível para atuação de gestores discricionários. Mas a volatilidade vai voltar e quando isso acontecer, os humanos serão capazes de mostrar suas habilidades em tratar risco-retorno. Humanos bem treinados podem se sair extremamente bem comparados aos algoritmos”, diz ele.
Para terminar, tendo por base os estudos de Coates, eu queria dizer que os consultores de investimentos da Mercer são muito preocupados com o condicionamento físico e a maioria é “sarada”, está em perfeita forma física e com a intuição afiada para a tomada de decisão sobre investimentos.
Entre em contato com eles sempre que precisar de aconselhamento sobre os investimentos do fundo de pensão da sua empresa.

 
Grande abraço.
Eder.
 
Fonte: Adaptado do artigo “Neuroscience: The revenge of the ‘gut feeling’” escrito por Carlo Svaluto Moreolo para a IPE

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