terça-feira, 23 de setembro de 2014

Educação Financeira só não basta!


De São Paulo, SP.

A despeito de todo o movimento em prol da Educação Financeira, que ganhou folego mundial após a crise de 2008 e no qual o Brasil embarcou mais recentemente, ainda há muito por ser feito.

É isso que mostra, entre outras coisas, uma excelente pesquisa intitulada How the 401(k) revolution created a few big winners and many losers - "Como a revolução dos planos de contribuição definida criou alguns poucos vencedores e muitos perdedores", em tradução livre.

O trabalho publicado em setembro de 2013 pelo Economic Policy Institute, de autoria de Monique Morissey e Natalie Sabadish, mostra nos últimos anos um declínio na participação em planos de previdência complementar oferecidos pelas empresas nos EUA.

A maior queda na participação nos planos corporativos ocorreu entre os trabalhadores com menores níveis de educação, mas também se verificou em praticamente todos os níveis de escolaridade, como mostra o gráfico abaixo.




A tendência captada pelo estudo pinta um quadro de crescente desigualdade na poupança para aposentadoria e nos benefícios pagos pelos planos de previdência complementar.

Essa disparidade vem aumentando nas diversas faixas de renda, entre raças, por etnia, nos vários níveis de escolaridade e até por estado civil.

"Mesmo as mulheres, que vem diminuindo a diferença com os homens no mercado de trabalho, estão mal servidas por um sistema de previdência que transferiu todos os riscos para os trabalhadores, principalmente o risco das pessoas viverem mais do que suas economias", concluiu o estudo.

Quem quiser ler o trabalho completo pode acessar o link a seguir.

RETIREMENT INEQUALITY CHARTBOOK

Os resultados da pesquisa deveriam nos fazer parar e pensar o que podemos fazer para colocar o sistema de previdência complementar novamente nos trilhos.

Abraço,
Eder.

Fonte: Relatório "Retirement Inequality Chartbook", escrito por Monique Morissey e Natalie Sabadish.
Crédito de Imagem: www.therealsingapore.com
  



 

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Pressupostos de Conhecimento




De São Paulo, SP.


Nunca pressuponha que seu cliente sabe sobre o que você está falando!

Muitos prestadores de serviços para fundos de pensão, como gestores de investimentos e firmas de serviços atuariais, assumem que os clientes possuem ao menos uma base de conhecimento técnico sobre o assunto, o que freqüentemente está longe de ser verdade.

Se investimento, economia ou atuária, por exemplo, não são o seu trabalho diário, sua exposição ao assunto será seletiva, parcial e muito baseada no que você lê ou ouve por aí.

Esse nível de conhecimento não substitui a genuína experiência de quem trabalha com aqueles ou com outros assuntos muito técnicos (jurídico, comunicação etc.).

Mesmo conselheiros de fundos de pensão indicados pelas patrocinadoras ou eleitos pelos participantes, com bilhões de reais em patrimônio, só mudam o foco para os investimentos esporadicamente e de forma inconsistente, encaixando a discussão do assunto numa pequena parte do seu dia de trabalho.

Um conselheiro freqüentemente adquire conhecimento num rápido rompante durante uma reunião periódica do conselho deliberativo, apenas para perdê-lo no intervalo de espera até a próxima, que em alguns fundos chega a 3 meses.

É por isso que a prestação de contas de muitos gestores de investimentos ou de consultores atuariais pode passar voando por sobre as cabeças do conselho, até mesmo questões básicas!

O caso que aconteceu num fundo de pensão alguns anos atrás é um bom exemplo de “pressuposto de conhecimento”.

O conselho deliberativo de um prestigioso fundo de pensão encarava sua responsabilidade fiduciária de maneira extremamente séria, se reunindo regularmente e com agendas cuidadosamente estruturadas.

Muito desse rigor na governança do fundo se devia ao profissionalismo do Presidente do Conselho Deliberativo, conhecido como Sr. Estamura.

O Sr. Estamura gerenciava suas reuniões estritamente dentro do tempo, não deixava espaço para os conselheiros perderem o rumo em discussões infindáveis.

Ele acreditava ser essencial manter o olho nos gestores dos investimentos do fundo e por isso exigia que os representantes dos gestores externos participassem de duas reuniões do conselho deliberativo por ano.

Assim aconteceu ao longo de toda a presidência do Sr. Estamura, que já durava quase 20 anos naquela ocasião (ele deve ter sido um dos mais longevos presidentes de conselho de fundo de pensão no país).

Uma gestora de investimentos – que vamos chamar de Sombra Asset Management – sempre atemorizada pelo presidente, submetia um extenso relatório escrito com bastante antecedência de cada reunião.

Então, durante a reunião propriamente dita, os representantes da Sombra (nunca menos do que duas pessoas, as vezes mais) faziam uma apresentação detalhada.

Começavam com uma visão abrangente da situação macro econômica e desciam para as estratégias de investimentos da casa, antes de esmiuçar o racional por trás da seleção de cada ação específica e das decisões de alocação.

A exposição deixava todos de boca aberta, com minúcias econômicas apoiadas por vasta estatística, métricas e indicadores complexos.

Era impressionante, os conselheiros balançavam as cabeças concordando com os pontos-chave e a concordância mais vigorosa sempre vinha do Sr. Estamura.

Infelizmente, devido ao gerenciamento militar da agenda pelo Sr. Estamura, raramente sobrava tempo para muito questionamento no final da reunião.

Um dia, porém, algo inesperado aconteceu. Numa reunião só apareceu uma representante da Sombra e sem o vasto e denso material costumeiramente mostrado a reunião transcorreu mais rápidamente.

Como ela terminou mais cedo a apresentação, sugeriu que seria uma boa oportunidade para responder qualquer questão mais complexa que os conselheiros pudessem ter em mente.

O Sr. Estamura ficou visivelmente excitado com essa possibilidade – 10 minutos livres na agenda para perguntas – e não se conteve em ser o primeiro a perguntar!

- “Bem, há algo que eu venho matutando já por algum tempo”, disse ele, se endireitando na cadeira.

- “Sim?”, assentiu a apresentadora, se preparando para uma pergunta de abissal tecnicidade.

- “Eu sempre quis saber”, perguntou o Sr. Estamura, ”... o que é um equity (ação)?”

* * * * * * *

Qualquer semelhança com histórias ou nomes reais terá sido mera coincidência.

Não obstante, caso você tenha se identificado com uma situação parecida, saiba que este é um dos motivos pelos quais tenho defendido incansavelmente a adoção pelos fundos de pensão brasileiros, da figura do Conselheiro Independente.

Conselheiro Independente é aquele profissional de mercado, remunerado para aportar sua experiência no fundo, que não participa de nenhum plano administrado pela entidade da qual é conselheiro, que não é empregado ou ex-empregado de patrocinadora, nem possui qualquer vinculo com o fundo de pensão.

Grande abraço,
Eder.


Fonte: Adaptado do artigo Assumptions of Knowledge, escrito por Steve Delo da Mooreland Human Capital
Crédito de Imagem: http://www.mdig.com.br
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