terça-feira, 16 de setembro de 2014
Pressupostos de Conhecimento
Nunca pressuponha que seu cliente sabe
sobre o que você está falando!
Muitos prestadores de serviços para
fundos de pensão, como gestores de investimentos e firmas de serviços
atuariais, assumem que os clientes possuem ao menos uma base de conhecimento
técnico sobre o assunto, o que freqüentemente está longe de ser verdade.
Se investimento, economia ou atuária,
por exemplo, não são o seu trabalho diário, sua exposição ao assunto será
seletiva, parcial e muito baseada no que você lê ou ouve por aí.
Esse nível de conhecimento não
substitui a genuína experiência de quem trabalha com aqueles ou com outros
assuntos muito técnicos (jurídico, comunicação etc.).
Mesmo conselheiros de fundos de pensão
indicados pelas patrocinadoras ou eleitos pelos participantes, com bilhões de
reais em patrimônio, só mudam o foco para os investimentos esporadicamente e de
forma inconsistente, encaixando a discussão do assunto numa pequena parte do
seu dia de trabalho.
Um conselheiro freqüentemente adquire
conhecimento num rápido rompante durante uma reunião periódica do conselho
deliberativo, apenas para perdê-lo no intervalo de espera até a próxima, que em
alguns fundos chega a 3 meses.
É por isso que a prestação de contas de
muitos gestores de investimentos ou de consultores atuariais pode passar voando
por sobre as cabeças do conselho, até mesmo questões básicas!
O caso que aconteceu num fundo de
pensão alguns anos atrás é um bom exemplo de “pressuposto de conhecimento”.
O conselho deliberativo de um
prestigioso fundo de pensão encarava sua responsabilidade fiduciária de maneira
extremamente séria, se reunindo regularmente e com agendas cuidadosamente
estruturadas.
Muito desse rigor na governança do
fundo se devia ao profissionalismo do Presidente do Conselho Deliberativo,
conhecido como Sr. Estamura.
O Sr. Estamura gerenciava suas reuniões
estritamente dentro do tempo, não deixava espaço para os conselheiros perderem o
rumo em discussões infindáveis.
Ele acreditava ser essencial manter o
olho nos gestores dos investimentos do fundo e por isso exigia que os
representantes dos gestores externos participassem de duas reuniões do conselho
deliberativo por ano.
Assim aconteceu ao longo de toda a
presidência do Sr. Estamura, que já durava quase 20 anos naquela ocasião (ele
deve ter sido um dos mais longevos presidentes de conselho de fundo de pensão
no país).
Uma gestora de investimentos – que
vamos chamar de Sombra Asset Management
– sempre atemorizada pelo presidente, submetia um extenso relatório escrito com
bastante antecedência de cada reunião.
Então, durante a reunião propriamente
dita, os representantes da Sombra
(nunca menos do que duas pessoas, as vezes mais) faziam uma apresentação
detalhada.
Começavam com uma visão abrangente da
situação macro econômica e desciam para as estratégias de investimentos da
casa, antes de esmiuçar o racional por trás da seleção de cada ação específica
e das decisões de alocação.
A exposição deixava todos de boca
aberta, com minúcias econômicas apoiadas por vasta estatística, métricas e
indicadores complexos.
Era impressionante, os conselheiros
balançavam as cabeças concordando com os pontos-chave e a concordância mais
vigorosa sempre vinha do Sr. Estamura.
Infelizmente, devido ao gerenciamento
militar da agenda pelo Sr. Estamura, raramente sobrava tempo para muito
questionamento no final da reunião.
Um dia, porém, algo inesperado
aconteceu. Numa reunião só apareceu uma representante da Sombra e sem o vasto e denso material costumeiramente mostrado a reunião transcorreu mais rápidamente.
Como ela terminou mais cedo a
apresentação, sugeriu que seria uma boa oportunidade para responder
qualquer questão mais complexa que os conselheiros pudessem ter em mente.
O Sr. Estamura ficou visivelmente
excitado com essa possibilidade – 10 minutos livres na agenda para perguntas –
e não se conteve em ser o primeiro a perguntar!
- “Bem, há algo que eu venho matutando
já por algum tempo”, disse ele, se endireitando na cadeira.
- “Sim?”, assentiu a apresentadora, se
preparando para uma pergunta de abissal tecnicidade.
- “Eu sempre quis saber”, perguntou o
Sr. Estamura, ”... o que é um equity
(ação)?”
* * * * * * *
Qualquer semelhança com histórias ou
nomes reais terá sido mera coincidência.
Não obstante, caso você tenha se
identificado com uma situação parecida, saiba que este é um dos motivos pelos
quais tenho defendido incansavelmente a adoção pelos fundos de pensão
brasileiros, da figura do Conselheiro
Independente.
Conselheiro
Independente é aquele profissional de mercado, remunerado para aportar sua
experiência no fundo, que não participa de nenhum plano administrado
pela entidade da qual é conselheiro, que não é empregado ou ex-empregado de
patrocinadora, nem possui qualquer vinculo com o fundo de pensão.
Grande abraço,
Eder.
Fonte: Adaptado do artigo Assumptions of Knowledge, escrito por Steve Delo da Mooreland Human
Capital
Crédito de Imagem: http://www.mdig.com.br
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