De São Paulo - SP.
Está um dia lindo e ensolarado e você decide
caminhar em Santa Teresa, um bairro tradicional do Rio de Janeiro.
De repente, você nota que um bondinho desce
descontrolado pelos trilhos, sem freios e ganhando velocidade. Quando passa
zunindo na sua frente, você percebe que há cinco passageiros em pânico dentro
do bonde, desesperados e gritando por socorro.
Então, você nota que perto de você há uma manivela
para desviar a rota e direcionar o bondinho para outros trilhos. Esses outros
trilhos terminam numa grande caixa de areia onde o bonde será freado com
segurança, perdendo velocidade até parar. Tudo que você precisa fazer é acionar
a manivela para salvar os cinco passageiros.
Parece fácil, né? Mas há um problema. No meio dos
trilhos que levam a caixa de areia tem um homem totalmente distraído, de costas
para a cena dramática e que nada percebe.
Não há tempo para alertá-lo e você se vê diante de
um dilema. Se você puxar a alavanca levando o bondinho a parar em segurança,
salvará os cinco passageiros, mas o homem morrerá. O que você faz?
Considere outro dilema, muito semelhante. Você
passeia em Santa Teresa e nota o bondinho descontrolado, só que dessa vez não
tem nenhuma manivela para desviá-lo, nem caixa de areia para frear o trenzinho.
Mas tem um homem enorme ao seu lado, entre você e
os trilhos. Ele é grande o bastante para fazer o bondinho parar. Você pode
salvar os cinco passageiros se empurrar o grandalhão para cima dos trilhos, o
que fará o bondinho descontrolado parar. Só que nesse caso, você matará o homem
ao usá-lo para parar o bondinho. Novamente, o que você faz?
Esses dois dilemas fazem parte do “trolley problem”
(problema do bondinho, em tradução
livre), um paradoxo moral formulado pela filósofa Britânica Philippa Foot em
1967 como parte de seu trabalho “Abortion and the Doctrine of Double Effect”,
publicado no Oxford Review.
Longe de resolvido, o “trolley problem” lançou uma
onda de discussões filosóficas que continua em debate até hoje. O problema do bondinho é uma questão de
moralidade humana e um exemplo de consequensialismo,
uma visão filosófica.
O consequencialismo
diz que a moralidade é definida pelas consequências de uma ação e tudo o que
importa são as consequências. Mas exatamente, quais consequências são
aceitáveis nos dois dilemas do problema
do bondinho?
Numa análise superficial as consequências das duas
ações são as mesmas: uma pessoa morre e cinco sobrevivem ou mais
especificamente, nos dois exemplos, cinco pessoas vivem como resultado da morte
de uma pessoa.
As soluções nos dois dilemas podem parecer
justificáveis, no entanto, quando perguntada sobre qual das duas ações é admissível
– puxar a alavanca ou empurrar o homem para cima dos trilhos - a maioria das
pessoas diz que a primeira é aceitável e a segunda proibida. Isso revela uma
distinção entre matar uma pessoa e deixar uma pessoa morrer.
Porque uma é errada e outra aceitável já que ambas
resultam em morte? Se uma pessoa morre nos dois cenários e ambas as mortes
resultam de uma ação direta que você tomou, qual seria a diferença entre as
duas?
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