De São Paulo, SP.
Muitos idosos estão
presos numa vida de trabalho sem fim, um destino que pode assolar milhões de americanos
nas próximas décadas.
Roberta Gordon nunca imaginou
que chegaria viva aos 76 anos e muito menos que ainda estaria trabalhando com
essa idade. Mas todo sábado ela distribui amostras de frutas para os clientes
de um pequeno mercado para ganhar cerca de R$ 160 por dia, porque ela precisa do
dinheiro.
Roberta, que vive hoje no
interior da Califórnia, fez dezenas de bicos e teve inúmeros empregos temporários
ao longo da vida – foi faxineira, cuidadora de idosos, operadora de
telemarketing e recepcionista de biblioteca – em muitas dessas ocasiões seus
empregos informais não recolhiam contribuições para a previdência social e nos
temporários ela simplesmente não ganhava o suficiente para poupar para a
aposentadoria.
Agora com 76 anos de
idade ela recebe da previdência social uns R$ 2.900 por mês, mas desde agosto
passado quando morreu seu companheiro, tem que pagar sozinha um aluguel mensal
de R$ 3.300. Para cobrir a diferença e ainda pagar as contas de agua e luz, comprar
artigos de necessidade básica e alimentos, ela está se endividando no cartão de
crédito. Frequentemente ela vai a uma igreja do bairro onde vive para receber
alimentos como parte de um programa social.
Na medida em que as gerações
mais velhas chegam à aposentadoria sem poupança suficiente e que aumentam os
preços de moradia e os custos de assistência médica, mais e mais idosos estão se
encontrando na mesma situação que a Roberta.
“Será a primeira vez que
veremos uma porção de pessoas ganhando rendas descendentes enquanto suas idades
vão progredindo”, disse Diane Oakley – Diretora Executiva do National Institute on Retirement Security
(Instituto Nacional para Segurança na Aposentadoria). “Elas vão evoluir de quase
pobres para pobres”, completa ela.
De acordo com Kevin
Prindiville - Diretora Executiva da “Justice in Aging” (Justiça no
Envelhecimento), uma ONG que procura soluções para o empobrecimento dos idosos,
entre 8.000 e 10.000 americanos completam 65 anos de idade todos os dias. A única
faixa etária que viu aumentar, significativamente, as taxas de pobreza entre
2015 e 2016, de acordo com dados do Censo, foi a dos idosos.
Enquanto caíram os níveis
de pobreza das pessoas com idades inferiores a 18 anos e também da faixa etária
entre 18 e 64 anos, houve um aumento de 14,5% nos níveis de pobreza das pessoas
com idades superiores a 65 anos.
“Há algumas décadas,
quando começamos nosso trabalho, ajudávamos jovens comunidades que eram pobres.
Atualmente, estamos ajudando pessoas que estão entrando pela primeira vez na
linha de pobreza ao atingirem a terceira idade”, completou Kevin.
Isso é muito preocupante
porque pode atingir milhões de trabalhadores que se aposentarão nas próximas
décadas.
Se as pessoas idosas já
estão tendo dificuldade com baixas rendas na aposentadoria, imagina o que
acontecerá com as pessoas que hoje possuem empregos precários, recebem rendas
fragmentadas e não conseguem poupar para a aposentadoria?
A atual onda de pobreza
dos idosos pode ser apenas o começo. Dois terços dos Americanos não possuem
planos de previdência complementar nem poupam para a aposentadoria, de acordo
com pesquisadores do Censo. Isso poderá ter grandes implicações para a
economia. Se a classe media de hoje reduzir os gastos quando se aposentar, toda
a economia será afetada.
Para muitos idosos a
única saída para a falta de poupança para a aposentadoria tem sido continuar
trabalhando e trabalhando, como faz a Roberta Gordon. Hoje, 12,4% das pessoas com
idade de 65 anos ou mais ainda faz parte da população economicamente ativa, no
ano 2.000 eram apenas 3%, de acordo com Diane.
Conheci uma mulher
chamada Deborah Belleau que tem 67 anos e trabalha como gerente num
estacionamento de mobile-home, em Palm Springs na Califórnia. Mãe solteira, ela
trabalhou como garçonete durante 30 anos e frequentemente dependia de ajuda
assistencial do governo para criar os dois filhos. “Você simplesmente não pensa
no amanhã” quando está mais preocupada em colocar comida na mesa hoje, disse
ela. O resultado é que, atualmente, apesar de receber dinheiro da previdência social,
ela não pode se dar ao luxo de ter um celular ou uma televisão. Seu aluguel
custa R$ 1.900 por mês. Ela trabalha em tempo integral no estacionamento de
mobile-home, apesar de sentir dores nas costas e nos pés. Algumas vezes, quando
se levanta ela não consegue nem andar. Mas diz para si mesma: “Não posso parar.
Não tenho como viver com R$2.500 por mês” valor que recebe da previdência social.
Essa situação pode ser
particularmente dura para as mulheres que recebem, tipicamente, benefícios
menores do que os homens. Em 2014, as mulheres idosas recebiam da previdência
social nos EUA, em media, US$4.500 a menos por ano do que os homens. Salários
menores durante a carreira das mulheres acabam levando a benefícios menores na
aposentadoria. Além disso, as mulheres costumam interromper suas carreiras para
cuidar dos filhos ou de parentes idosos, fazendo com que contribuam por menos
tempo para a previdência social, portanto, recebendo benefícios menores.
Deborah Belleau e outros,
pelo menos, ainda possuem condição física para trabalhar. Alguns que não tem a
mesma sorte, sem capacidade de gerar renda, tem se tornado sem-teto.
Cerca de metade dos
adultos, solteiros, sem-teto, tinham nos EUA em 2016, idade igual ou superior a
50 anos, comparado a 11% em 1990. O que pode ser feito para ajudar os idosos de
hoje e as futuras gerações?
Há duas abordagens possíveis,
segundo Kevin:
A primeira seria tornar
os planos de previdência mais acessíveis. Uma iniciativa federal vem tentando
estabelecer programas que ajudem as pessoas a pouparem para a aposentadoria
através de deduções feitas diretamente nas suas folhas de salários, mesmo que
seus empregadores não ofereçam nenhum plano de previdência complementar.
Infelizmente, o governo Trump
rejeitou em maio de 2017 uma regulamentação do Ministério do Trabalho da era
Obama que permitia que os Estados Americanos tornassem mais fácil a implantação
de programas desse tipo. Além disso, o governo federal está descontinuando um
programa chamado “myRA”, que procurava encorajar pessoas de renda média e baixa
a pouparem para a aposentadoria. “Não há novas iniciativas ou estratégias
vindas do governo federal numa época em que está aumentando a necessidade de
iniciativas desse tipo”, desabafa Kevin.
A segunda abordagem seria
tornar as moradias mais acessíveis, criar programas para ajudar os idosos a cobrir
suas despesas com saúde e reformar os programas de assistência social de modo a
fornecer benefícios maiores aos idosos.
Não parece haver apetite em
Washington, nesse momento, por nenhuma das ideias acima. A administração de
Trump propôs cortes no programa e complementação de renda dos idosos e também
no programa de renda por invalidez da previdência social americana.
Iniciativas como as
sugeridas acima podem ser a diferença entre ter ou não ter uma casa — e alguma
aparência de estabilidade.
A Roberta Gordon, do
interior a Califórnia, mal conseguia se manter quando foi entrevistada. Alguns
meses mais tarde, ela estava muito mais estável. Por quê? Ela saiu da lista de
espera e foi aceita em um programa conhecido como Seção 8 (Section 8) que ajuda a pagar parte do aluguel de pessoas idosas.
Ela ainda tem que trabalhar aos 76 anos de idade, mas se sente um pouco mais
segura agora que conta com mais ajuda financeira.
Pelo menos, ela sabe que
é uma pessoas de sorte — ainda consegue colocar comida na mesa e ter um teto
sobre a cabeça.
* * * * *
Eu me sinto melhor,
enquanto profissional de previdência complementar, relatando histórias
positivas, mostrando o lado bom das pessoas terem poupado para a aposentadoria.
Contudo, não podemos
apagar os efeitos negativos da ausência de preparação financeira para a fase de
aposentadoria.
Não consigo nem imaginar quantas Robetas e Deborahs devem existir no Brasil! Vale a reflexão.
E você, o que acha?
Grande abraço,
Eder.
Fonte: Adaptado do artigo “This Is What Life Without
Retirement Savings Looks Like”, escrito por Alana Semuels e publicado no The
Atlantic Daily.
Crédito
de Imagem: Howard McWilliam
Nenhum comentário:
Postar um comentário