domingo, 22 de dezembro de 2019
Sai 2019 entra 2020 e o futuro vai se aproximando. Qual sua previsão?
Crédito de Imagem: blog.rackspace.com
De São Paulo SP.
De acordo com o Banco Mundial e dependendo da definição que se utilize, nos últimos trinta anos a quantidade de pessoas vivendo em extrema pobreza no mundo diminuiu entre 58% e 74% (artigo aqui). Essa é uma das maiores realizações na história humana recente.
No entanto, as pessoas não conseguem perceber isso. Em um estudo feito em 24 países pela Glocalities – uma empresa de pesquisa de mercado – sob coordenação da Fundação Bill e Melinda Gates, mostrou que 87% das pessoas acham que a extrema pobreza aumentou ou permaneceu no mesmo patamar nas últimas décadas. Somente 1% dos respondentes disse, corretamente, que a extrema pobreza diminuiu mais de 50%.
Apesar dos avanços na erradicação da pobreza serem positivos, a percepção das pessoas continua focada no passado e num certo pessimismo que contamina nosso presente.
No entanto, tudo muda quando as pessoas olham para o amanhã. O desconhecido nos amedronta e ao mesmo tempo nos fascina. Por isso o ser humano tem verdadeira obsessão em prever o futuro. Saber o que vem pela frente pode garantir o sucesso ou a sobrevivência.
Só tem um probleminha, graças a evolução, a psicologia e a complexidade dos dados, somos terríveis em prever o futuro. Os meteorologistas conseguem uma acurácia de 90% nas previsões do tempo para cinco dias, mas essa acurácia cai para 50% quando a previsão é para dez dias.
Cerca de 15% das previsões que os especialistas juraram de pés juntos que nunca aconteceriam, acabaram acontecendo e 25% dos eventos que eles disseram que certamente ocorreriam, simplesmente, jamais aconteceram.
Até mesmo os analistas de inteligência da CIA, munidos de toda a parafernália de dados a disposição, conseguiram ser superados por um grupo de “superprofetas” em 30% das previsões (Good Judgement Project).
Tentar adivinhar o que vem pela frente nos diverte. Os americanos gastam US$ 150 bilhões por ano em apostas ilegais na área de esportes. Thomas Edison, cujas invenções marcaram o Século XX, previu em 1911 que as casas do futuro seriam repletas de móveis de aço e os livros seriam feitos de níquel. Aqui em casa, como na maioria das residências mundo afora, a maioria dos móveis é feita de madeira e os livros são de papel ou estão na nuvem.
Previsão não é o nosso forte
“É muito difícil fazer previsões, principalmente sobre o futuro”, diz um ditado Dinamarquês.
A principal razão para sermos ruins em enxergar a vastidão do além é que nosso cérebro está fixado no futuro imediato. Por questões evolutivas, nosso viés psicológico prioriza aquilo que é importante para nos manter vivos hoje e nada além disso.
Temos um otimismo exacerbado quando se trata das coisas que gostaríamos que acontecessem e erroneamente baseamos nossas previsões em nossas experiências passadas. Quando obtemos novas informações, procuramos encaixa-las naquilo em que antes já acreditávamos ser verdade.
Percebemos quando as coisas mudam rapidamente, mas somos incapazes de notar quando as mudanças acontecem lenta e gradualmente, especialmente quando ocorrem no curso de gerações. Achamos que coisas ruins acontecerão, mas nunca conosco e a verdade é que não damos a mínima quando achamos que elas não vão acontecer.
Somos péssimos em sintetizar grandes quantidades de dados. Basta olhar para as previsões meteorológicas. Para determinar se vai chover na sua cidade e qual quantidade de chuva vai cair, os climatologistas têm que levar em conta a temperatura do solo, a temperatura atmosférica, a densidade das nuvens, como os sistemas de alta e baixa pressão vão se movimentar e a interação dessas com outras forças atmosféricas.
“Nossas previsões só precisam ser boas o bastante para nos manter vivos e propagar a espécie. Se tivéssemos que computar um monte de dados com precisão, nossos cérebros precisariam de muito mais poder de processamento”, afirma Susan Weinschenk – Cientista Comportamental Chefe na Team W, uma empresa de consultoria e treinamento.
A habilidade de prever o futuro pode não ser a melhor qualidade dos seres humanos, mas pelo menos é adequada, afinal, ela precisa ser apenas boa o suficiente para nos manter vivos.
Breve história das previsões
Ao longo dos tempos a tentativa de prever o futuro foi evoluindo. Uns 4.000 anos a.c. as ferramentas disponíveis no Egito, China e Babilônia eram a astrologia, a numerologia e a leitura de mãos e folhas de chá. Em 1555 o profeta e astrólogo Frances M. Michel de Nostradamvs publicou “Les Prophéties”, um livro com estranha presciência.
O conhecimento foi evoluindo, em 1660 o químico Britânico Robert Boyle previu que o transplante de órgãos, um dia, salvaria vidas. Uma publicação póstuma de autoria de Thomas Bayes, intitulada “An Essay Towards Solving a Problem in the Doctrine of Chances” criou em 1763 o campo da “Probabilidade Bayesiana”.
Ao longo do caminho tivemos visionários como o escritor Frances Júlio Verne que, em 1865, através da obra de ficção cientifica “From the Earth to the Moon”, foi capaz de prever o pouso do homem na lua. Perfilamos a ele o gênio e inventor Nikola Tesla que imaginou, em 1909, o desenvolvimento do WiFi.
Mais recentemente na escala do tempo, em 1918, um artigo publicado na revista “Scientific America” previu que o carro do futuro, entre outros dispositivos, não teria coisas como o assento do motorista. Em 1949 George Orwell escreveu o clássico “1984”, um romance distópico descrevendo um governo totalitário que controlaria os passos dos cidadãos através da tecnologia (isso numa época que reconhecimento facial não existia). Finalmente, em 1954, Philip K. Dick escreveu um conto que ganhou fama há poucos anos nas telas do cinema através de um filme homônimo, “Minority Report”, no qual um departamento da polícia era capaz de prever crimes futuros antes que ocorressem.
A sabedoria coletiva
Somos melhores em fazer previsões quando nos baseamos na opinião de um monte de pessoas ao invés de ouvirmos um único “visionário”. Philip Tetlock, um estudioso do assunto, diz que acurácia das previsões melhora substancialmente através da “sabedoria das multidões”.
Um grupo de pessoas grande e diverso, que se baseie em diferentes fontes de informação, tende a fazer melhores previsões do que um grupo pequeno de especialistas ou uma única pessoa, ainda que altamente treinada.
Em 1906 um estatístico Britânico chamado Francis Galton fez um experimento com uma multidão de pessoas. Pediu que estimassem o peso de um boi morto. Muitas estimativas individuais eram ruins, mas quando somadas e tirada a média das estimativas, a previsão da multidão errou o peso por apenas 0,453 kg.
Pesquisadores da Universidade da Pensilvânia analisaram os fatores que levam uma pessoa a fazer boas previsões. Os “superprofetas” são capazes de fazer previsões excepcionalmente boas, muitas vezes estimando probabilidades de cabeça. Uma maneira de ajudar as pessoas a fazerem melhores previsões, segundo os pesquisadores, é fornecendo feedback sobre quais previsões deram certo e quais erraram.
O que vem pela frente
Tudo isso nos leva a Steve Kotler (jornalista do New York Times, autor de vários best-sellers) e Peter Diamandis (respeitado futurologista e criador do XPRIZE). Juntos, eles escreveram livros como “Abundance” e “Bold”, projetando as mudanças que a tecnologia causará no mundo dos negócios e na vida das pessoas.
“Veremos mais transformações tecnológicas nos próximos oitenta e um anos do que vimos em toda a história da humanidade. Estamos vivenciando uma convergência tecnológica que irá transformar todos os aspectos de nossas vidas, de carros voadores a medicina e longevidade, passando pela educação e varejo”, disse Kotler recentemente em uma entrevista.
As previsões hoje mexem com nosso imaginário por causa dos avanços inimagináveis da tecnologia. O povo teme o futuro, pensa que os robôs tomarão conta de tudo e o ser humano vai desaparecer. O maior medo das pessoas com a chegada das novas tecnologias é a perda do emprego.
Se por um lado é bem provável que motoristas de caminhão, por exemplo, venham realmente a ser substituídos por caminhões autônomos, por outro, ainda levará mais de meio século até que empregos semiqualificados desapareçam do mapa.
“A vida como a conhecemos hoje será irreconhecível em um período muito curto de tempo”, prevê Kotler.
Previsões sobre o futuro continuam nos causando uma atração irresistível. Ignora-las, parece nos dar a sensação de que ficaremos de fora da festa. Lembre, porem, da
previsão de Thomas Edison mencionada acima. Previsões continuam sendo previsões e a bola de cristal apenas uma esfera de vidro.
De acordo com Albert Eisntein, “nenhum problema pode ser resolvido pelo mesmo nível de conhecimento que o criou”. Daqui a alguns dias entraremos na terceira década do novo milênio. Você se arrisca a fazer alguma previsão?
Grande abraço,
Eder.
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sexta-feira, 6 de dezembro de 2019
ENSAIO - A TRANSFORMAÇÃO QUE O BLOCKCHAIN CAUSARÁ NA INDÚSTRIA DE FUNDOS DE PENSÃO
Credito de Imagem: blenderartists.org
De São Paulo, SP.Tem uma frase ótima de um filósofo alemão do Século XIX chamado Arthur Schopenhauer, que eu gosto muito. Ela diz mais ou menos o seguinte: “ter talento é acertar num alvo que ninguém acertou, ser gênio é acertar em um alvo que ninguém viu”.
As tecnologias que transformam o mundo começam devagarinho. Primeiro, causam (dis)ruptura em algum lugar. Uma empresa aqui, um segmento ali ou uma indústria específica acolá, adotam a inovação. Todo mundo olha e enxerga a coisa como um daqueles faróis de navegação. A galera toda vagando no nevoeiro e aquela luzinha lá longe, sinalizando que tem algo ali.
Um grupo de empresas e seus consumidores geralmente compreendem mais cedo o alcance daquela nova tecnologia, o poder de transformar o status quo e deslocar o pensamento vigente. Tome a indústria aeroespacial como exemplo. Essa turma vislumbrou o potencial das impressoras 3D muito antes do setor de manufatura perceber as economias de tempo e dinheiro e a redução de riscos que poderiam obter na produção de protótipos e de pequenos lotes de peças de reposição. Uma empresa chamada “Made in Space” criou uma impressora 3D que funciona em gravidade zero, algo que a NASA não conseguiu fazer em décadas – 90% do peso de um foguete enviado para a estação espacial são peças de reposição, imprimi-las in loco no espaço representa um avanço tremendo. Hoje a tecnologia de impressão 3D produz de casas a carros, de tênis a bonecas, em materiais tão diversos quanto plástico, cimento, metal e chocolate. Até 2050 estima-se que inclusive órgãos humanos serão impressos.
O mesmo aconteceu a indústria automotiva, que foi capaz de antecipar em mais de quatro décadas a revolução que a mecatrônica e a robótica causariam com a automatização em larga escala das linhas de produção – a automação começou nos anos 70. Ainda foram necessários muitos anos até que o segmento de logística também abraçasse a robótica em seus centros de distribuição. Hoje a Amazon conta com mais de 200 mil robôs em seus armazéns pelo mundo – implantou os primeiros em 2012 (Robôs da Amazon).
É assim que acontece. Com o tempo, organizações de outros setores passam a enxergar o potencial das tecnologias disruptivas e uma gama diversificada de novas aplicações vai sendo desenvolvida. Esse processo de disseminação na adoção das novas tecnologias é chamado de “difusão das inovações”.
Isso está ocorrendo nesse exato momento com a disseminação do blockchain, uma tecnologia que para muitos ainda está associada às fintechs e criptomoedas, tipo “Bitcoin”. Porém, as soluções e aplicações que vem surgindo com a evolução do blockchain vão muito além do setor financeiro, onde inicialmente apareceram.
Explicando blockchain de forma resumida
Blockchain é uma tecnologia que faz registro de transações. Elas são colocadas em uma cadeia de dados que não pode ser alterada. Caso isso aconteça, há o comprometimento com a segurança do sistema e invalida as transações. O resultado é uma cadeia única de dados onde as transações são armazenadas.
O blockchain muitas vezes se compara com um grande livro de registros. Cada computador que processa o blockchain possui uma cópia desse livro e com isso faz verificações de redundância e confiabilidade das transações executadas. Isso aumenta a segurança e confiabilidade das transações, pois é quase impossível apagar ou fraudar todas os livros de registro espalhados pela internet.
A segurança do blockchain é dada pela garantia de que as transações só podem ser anexadas ao registro principal após seu preenchimento. Ou seja, a transação precisa ser concluída e ambos os lados precisam fornecer os dados corretos da transação. Para aumentar a segurança, as transações são criptografadas, o que torna o roubo de dados quase impossível.
Isso faz com que o blockchain tenha inúmeras aplicações diferentes, desde que elas garantam a mesma lógica de funcionamento: transações (ou troca de informações) entre indivíduos. O fórum econômico mundial já aponta o blockchain como a tecnologia que vai moldar o mundo. O motivo? Ela descentraliza o poder de grandes instituições que fazem as transações seguras (bancos, governos, empresas, seja o que for).
O blockchain está transformando a forma que a tecnologia está lidando com trocas e transações entre indivíduos, sejam eles pessoas físicas ou jurídicas. A garantia de transações entre as partes sem a verificação de uma entidade reguladora central permite o desenvolvimento de serviços confiáveis.
A mudança de paradigma com o blockchain
A cada dia mais e mais organizações, de variados setores, estão expandindo e diversificando a aplicação do blockchain e desenvolvendo novas soluções. Segmentos tão diversos quanto o de mobilidade autônoma, viagens e turismo, identidade digital, saúde, seguros, imobiliário e ajuda humanitária.
Poderíamos listar um montão de negócios em funcionamento hoje que, a partir da tecnologia blockchain, desenvolveram soluções criativas e inovadoras (alguns exemplos seguem no anexo, após o final desse artigo). Porém, o mais importante é chamar a atenção para uma característica comum a praticamente todas as soluções que usam blockchain. Se você analisar com atenção, vai perceber que a tecnologia resolve um dos maiores problemas da humanidade quando se trata de fazer negócios: "confiança". Conforme disse Warren Buffett certa vez:
“Confiança é como o ar que respiramos – quando está presente, ninguém realmente nota. Quando está ausente, todo mundo nota”.
Fundos de pensão e blockchain
Quando se trata de localizar a poupança de aposentadoria ou de (trans)portar os recursos do fundo de pensão de um empregador para outro, cabe ao participante correr atrás.
Em junho passado senti isso na própria pele. Ao deixar meu antigo empregador resolvi portar para um plano de previdência individual, administrado por uma seguradora, a poupança que acumulei no fundo de pensão corporativo. Foram várias idas e vindas, documento para um lado, documento para o outro, coleta de assinaturas, musiquinhas infindáveis em atendimentos 0800, uma canseira. Fui eu quem precisou ficar de olho, acompanhar toda a transação para assegurar que o processo de portabilidade não ficasse parado numa gaveta qualquer.
Não existe no Brasil e diga-se de passagem, em em lugar nenhum do mundo, um banco de dados nacional que mantenha informação sobre os planos de previdência complementar de todos os trabalhadores – sejam eles administrados por fundos de pensão ou seguradoras (PGBL, VGL, FGB).
Falta um sistema unificado que permita aos trabalhadores Brasileiros, automaticamente, portar seus recursos de um plano de previdência complementar para outro. Seja quando mudam de emprego ou simplesmente quando encontram condições comerciais e técnicas melhores em outro lugar.
Por isso, com frequência, muitos saldos com poupança de previdência complementar vão ficando para trás, espalhados em vários planos diferente. As pessoas perdem o controle de suas contas de aposentadoria e dos recursos acumulados em cada uma delas.
Inexistem dados no Brasil sobre a montanha de dinheiro que foi ficando para trás (alô PREVIC, alô SUSEP, que tal dar uma olhada nisso!). Nos EUA, de acordo com um relatório de 2017 da NBC News, US$ 2 trilhões podem se perder quando os americanos mudam de emprego. Relatório aqui.
O problema nos nossos planos de previdência complementar corporativos é que a poupança de aposentadoria fica no fundo de pensão quando um participante que termina o vínculo empregatício com a empresa patrocinadora não se manifesta sobre o destino dos recursos.
A legislação determina que assim aconteça – tecnicamente isso é chamado de BPD “Presumido” (BPD = Benefício Proporcional Diferido). Normalmente, são os saldos de pequeno valor que ficam perdidos e 80% dos saldos de aposentadoria, são de pequeno valor. Esses saldos acabam sendo zerados com o passar dos anos em função da cobrança de taxas de administração/gestão financeira, que são deduzidas diretamente das contas. Nos EUA acontece a mesma coisa e um saldo de US$ 1.000 levará em média nove anos para ser zerado e sumir do mapa para sempre, impondo perda ao participante. Idem por aqui.
Imagine se existisse uma solução para esse problema. Uma forma de acompanhar todas as nossas contas de aposentadoria mantidas nos fundos de pensão dos nossos antigos empregadores, inclusive os PGBL e VGBL corporativos e individuais. Um meio seguro, transparente e de fácil acesso a qualquer um.
Num futuro não muito distante, a plataforma do blockchain resolverá esse problema maravilhosamente bem. Todos os nossos saldos serão registrados de forma segura num blockchain e cada individuo poderá acessar e gerenciar suas próprias contas de aposentadoria. Poderá fornecer um “token” para um fundo de pensão ou seguradora para que tenham acesso às suas contas registradas no blockchain.
Farol de navegação
O modo exato que as novas tecnologias serão aplicadas aos fundos de pensão e mudarão a forma que poupamos para o futuro, ainda não pode ser vislumbrado. Até porque os fundos de pensão estão navegando em águas bem agitadas ultimamente, mas é possível enxergar um farol marítimo pulsando ao longe, na base dele está escrito: "blockchain".
Grande abraço,
Eder.
PS: Quem quiser ter uma visão geral de como os setores mais importantes da economia estão enxergando as aplicações do blockchain, pode dar uma olhada numa pesquisa da Deloitte chamada Deloitte 2019 Global Blockchain Survey
Fontes: Adaptado dos artigos “Many paths lead to blockchain adoption, and no two are alike - An industry-by-industry look at Deloitte’s 2019 Global Blockchain Survey”, escrito por Jonathan Holdowsky - Nakul Lele e Geoff Lougheed; “How Blockchain Can Help Us Save More For Retirement”, escrito por Adam Bergman e “O que é e como funciona a tecnologia blockchain?”, escrito no blog impacta.com.br.
ANEXO
Algumas soluções inovadoras baseadas no blockchain.
CAR VERTICAL é uma empresa da Estônia que foi criada em 2017, tem menos de 50 empregados e projeta faturamento de US$ 6 bilhões em cinco anos a partir do lançamento. Usa uma plataforma baseada na tecnologia blockchain na qual fica registrada toda a vida do automóvel. É voltada para assegurar confiança na procedência do veículo, afastando os receios comuns de quem compra um carro usado como: fraude no odometro, roubos, troca de peças, se passou pelas manutenções, recalls, teve acidentes e batidas, qual o preço anterior?
AI GANG é uma seguradora digital de Singapura que combina Internet das Coisas - IoT, Big data, smart contracts e gestão de risco em uma única plataforma baseada em blockchain. Oferece seguro de dispositivos móveis. Os prêmios são definidos em tempo real, a cada instante, com base nos dados dos sinistros enviados online. O próprio dispositivo móvel (smartphone, tablet, laptop) usa um protocolo para informar se houve algum sinistro, tipo queda, quebra ou roubo e aciona a cobertura automaticamente. A indenização é creditada na conta do segurado de forma descentralizada, a partir de uma criptomoeda/token proprietária chamada AIX.
TURO (https://youtu.be/EbEYrigCs-o) surgiu em São Francisco – EUA em 2010. Com 200 funcionários, é uma empresa de compartilhamento de carros, uma espécie de ABnB dos automóveis. É um negócio do tipo P2P – Peer to peer (pessoa física para pessoa física), contratado via smartphone, com pagamentos descentralizados via uso de criptomoedas, todo controlado por protocolo blockchain. Opera em mais de 50 países e se propõe a diminuir o custo de quem tem um carro, através do compartilhamento remunerado. Afinal o carro fica parado a maior parte do tempo.
ICERTIS foi criada em 2009. Há alguns dias participei de um webinar no qual eles apresentaram uma solução para gestão de contratos comerciais construída em cima da tecnologia blockchain e Inteligência Artificial. A solução assegura o cumprimento de obrigações contratuais e a atribuição de responsáveis pelas mesmas, sem intervenção humana. Por exemplo, rastreia toda a cadeia produtiva indo até o fornecedor de matéria prima, para verificar se constam em todos os contratos o compromisso com os princípios ESG - aquelas cláusulas contratuais contra trabalho escravo, assegurando direitos humanos, ética nos negócios e proteção ao meio ambiente. A Daimler – Mercedes Benz é um dos clientes, J&J outro e por aí vai.
quinta-feira, 5 de dezembro de 2019
DIVINOS OBSTÁCUOS - JOGUE FORA SEU PLANO “A”
De São Paulo, SP.
Os dois estudantes de graduação quase não acreditaram na sorte, eles haviam criado um aplicativo e agora uma empresa que tinha tecnologia inferior estava avaliando comprá-lo por US$ 1 milhão.
É verdade que outros desenvolvedores de software estavam conseguindo vender suas soluções para grandes empresas, por dezenas de milhões de dólares, mas tudo bem, eles se contentavam com um milhãozinho. O plano deles era pegar o dinheiro, comprar suas casas e seguir a vida com seus estudos e suas pesquisas.
Um dia o telefone tocou, era o advogado deles, estava ajudando na venda do aplicativo. Do outro lado da linha ouviram o seguinte: “Tenho más notícias pessoal. O CEO rejeitou a oferta de US$ 1 milhão, mas se vocês toparem reduzir o preço, eu acho que consigo convencer ele a pagar US$ 750 mil”.
Os dois estudantes colocaram o telefone no modo “mudo” e conversaram a sós por um momento, sem que o advogado os ouvisse. Setecentos e cinquenta mil? Sabiam que valia mais, porém, fazer o quê? Não tinham lá muita alternativa. Relutaram por um instante, mas concordaram.
Alguns dias depois o advogado retorna o contato. A grande empresa que estava interessada, desistiu. Os estudantes de graduação ficaram chateados. Se quisessem ganhar algum dinheiro com o aplicativo, teriam que adotar o plano “B”: criar uma empresa real em torno do aplicativo.
O plano “B” não era o que eles queriam, mas já estavam acostumados a fazer sacrifícios na vida. O mais novo deles vinha de uma família de imigrantes que fugira da União Soviética para a América. Antes de emigrarem, ele enfrentava provocações anti-semitas todo santo dia. Cursar faculdade seria praticamente impossível no seu país de origem. Tanto seu pai como sua mãe haviam perdido os empregos apenas porque demonstraram interesse em deixar o país. Resolveram emigrar, mesmo assim, mas a família ficou oito meses sem receber nenhuma renda enquanto esperava aprovação das autoridades de imigração para se mudarem para os EUA.
Quando finalmente conseguiram chegar em segurança na América, a vida dele mudou. A mudança em si foi uma luta, mas graças ao seu talento natural ele se destacou nos estudos. Estava de olho no MIT, mas sem chance, foi rejeitado. Partiu então para o plano “B”: Stanford. Uma vez lá foi alocado para trabalhar num projeto da faculdade junto com outro graduando.
Tentaram fazer o trabalho juntos, mas um achava o outro muito pretensioso, agressivo e irritante. Por que se detestavam? Ao trabalharem lado a lado perceberam que eram praticamente clones um do outro – mesmos interesses, nível de escolaridade e inteligência. Um irritava o outro por serem tão parecidos.
Não demorou muito para se acostumarem um com o outro e aprenderem a trabalhar juntos. Canalizaram as energias para o projeto de desenvolvimento do aplicativo ao invés das picuinhas e desentendimentos.
O projeto da faculdade que eles estavam trabalhando era voltado para desenvolver uma ferramenta para os professores e alunos que possibilitasse encontrar informações dentre inúmeras fontes de dados. Os dois desenvolveram um algoritmo de ponta que funcionava como uma magica. Stanford adorou e como se tratava de um projeto da faculdade, entrou com pedido de patente.
Inspirados pela boa receptividade do aplicativo que desenvolveram para a faculdade, os alunos bolaram dois planos. O plano “A”: vender a tecnologia e continuar estudando. O plano “B”: criar uma empresa em torno da tecnologia.
O plano “A” falhou, ninguém queria comprar o aplicativo por US$ 750 mil. Partiram para o plano “B”, mas isso significava abandonar permanentemente o doutorado e se dedicar ao novo negócio em tempo integral.
Os estudantes procuraram um professor que dava consultoria para empreendedores, nas horas vagas. Durante a papo, o professor pegou o telefone e convidou um investidor para se juntar a conversa. Na semana seguinte, os dois estudantes-empreendedores estavam frente a frente com o professor e o investidor, tentando vender seu peixe. Dez minutos do começo da demonstração, foram interrompidos: “Já vi o bastante”.
Um estudante olhou para o outro com nervosismo. O que o cara quis dizer? O homem tateou os bolsos do casaco. “Vocês têm algo interessante aqui”. Puxou um talão de cheques. O professor-consultor fez o mesmo. Os homens preencheram cheques e os jogaram em cima da mesa.
Os estudantes mal podiam acreditar no que estavam vendo. Era mais do que suficiente para tirar o negócio do papel. Se comprometeram em deixar a faculdade e seguir em frente a pleno vapor com a empresa deles.
O primeiro escritório foi na garagem de um amigo – forrado com um carpete azul, uma mesa de ping-pong e luminárias com luzes fracas, nas laterais. Com o passar dos anos o escritório evoluiu, mas os dois nunca abandonaram o jeito de se divertirem enquanto faziam o trabalho.
Levantaram mais US$ 12,5 milhões numa nova rodada de captação de investimentos. Dali para frente a empresa explodiu e hoje é mais do que o nome de uma empresa, tornou-se uma palavra nova.
Os fundadores haviam nomeado a empresa, originalmente, como “BackRub”, mas por sorte tiveram que partir (mais uma vez) para o plano “B” e renomearam a empresa para ... Google.
O estudante mais novo nessa história é Sergey Brin. O mais velho? Larry Page. A dupla construiu o Google, que se tornou a terceira empresa mais valiosa do mundo.
“Google” é um jogo de palavras com as letras que compõe o nome. G-O-O-G-O-L é um termo matemático que significa 1 seguido de 100 zeros. Representa a quantidade de informações que o algoritmo de busca é capaz de processar rapidamente.
Mais um problema surgiu, o nome do domínio já estava registrado, então os fundadores simplesmente mudaram a grafia e colocaram a letra "E" no final.
Algumas vezes tratamos o plano “B” como se fosse uma opção inferior. Como se fosse o consolo por termos perdido a oportunidade principal, a grande oportunidade. Larry e Sergey tinham um plano “A” que não rolou. Por terem levado adiante o plano “B” com a mesma seriedade, o Google é o Golias de nossos dias.
Os dois não se deixaram abater por nenhuma de suas “falhas”. Sabiam que tinham algo de valor em mãos. Algo melhor do que qualquer coisa. Partiram para o plano “B” e o fizeram dar certo.
Muitas vezes ficamos desmotivados, deprimidos e tristes quando algo não funciona em nossas vidas. Uma demissão, um negócio que fracassa, o amor que te abandona. Tendemos a encara-los como fracassos. Não obstante, frequentemente são apenas desvios em nossas vidas com potencial a nos levar para caminhos surpreendentemente maravilhosos.
Meu pai, que está na reta final de sua existência, escreveu um livro contando a vida dele. Colocou o título como: “Divinos Obstáculos”. Ele conta como cada percalço, cada pedra que apareceu no caminho dele, parecem ter sido colocados lá por obra divina, porque sem que ele pudesse antever, acabaram desviando a trajetória dele para algo muito melhor.
Essa é a história deles. Qual será a sua?
Grande abraço,
Eder
PS1: Dizem que a própria historia da Universidade de Stanford foi um plano "B". Veja o video e se divirta:
PS2: Segue o link para uma entrevista do CEO da Fortune, o Alan Murray, com o Larry Page. Muito bacana.
PS1: Dizem que a própria historia da Universidade de Stanford foi um plano "B". Veja o video e se divirta:
PS2: Segue o link para uma entrevista do CEO da Fortune, o Alan Murray, com o Larry Page. Muito bacana.
Fonte" Adaptado do artigo "Burn Your Plan A", Mission.org.
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segunda-feira, 2 de dezembro de 2019
Estamos em uma nova era, seu fundo de pensão está preparado?
De São Paulo, SP.
Anos 90, curso de mestrado profissional de administração da FGV – EAESP, primeira aula de Tecnologia da Informação. O professor entrou na sala e disse: “anotem aí, eu não sou sapo”.
Meio surpresos, meio curiosos, ninguém disse nada. Nem precisou, ele logo explicou: sapos são pecilotérmicos, também conhecidos como animais de "sangue frio", adaptam a temperatura do corpo à temperatura ambiente, não percebem mudanças lentas de temperatura, notam apenas mudanças bruscas. Se você jogar um sapo numa panela com água fervendo ele vai pular, mas se você colocar o sapo numa panela com água fria e aquecer lentamente até ferver ele não vai perceber e morrerá cozido, com um grande sorriso no rosto.
Se essa história é mito ou verdade, não importa, o que vale é que aquela foi uma das melhores cadeiras do curso e ali aprendemos a monitorar indicadores para, através deles, antecipar tendências futuras e não sermos surpreendidos pelas mudanças. Afinal, as transformações não constam nos calendários nem tem datas pré-definidas e uma nova era não é precedida de anúncio formal nas mídias sociais.
As grandes transformações tecnológicas que levaram à revolução industrial começaram por volta de 1760, bem antes de 1800 e esta só “explodiu” e foi totalmente percebida na Inglaterra, durante o reinado da Rainha Victoria, que se iniciou em 1837.
Apesar de ser difícil estabelecer com precisão uma data específica, é fato que uma nova era já chegou e com ela está emergindo uma onda de empresas cuja organização e gestão serão bem diferentes daquelas vigentes até aqui.
Muitos acham que ainda é muito cedo para dizer como essas novas organizações funcionarão e tem dificuldade para antecipar o impacto que os novos modelos de negócio terão na força de trabalho e nos fundos de pensão atuais.
Bem, se aprendi alguma coisa com o Fernando de Souza Meirelles, aquele professor da FGV que mencionei ali em cima, para antecipar muito do que deverá ocorrer com os fundos de pensão, precisamos olhar para o contexto que vem moldando os negócios do Século XXI.
Pode até parecer que as transformações surgem de uma hora para outra, mas não é bem assim. Apenas para citar um exemplo, em 1985 quando ainda estava na faculdade fiz um curso de IA - Inteligência Artificial, no Laboratório de Computação Científica da UFRJ. Apesar de todos os avanços e mesmo depois de 35 anos, a IA ainda está na sua infância. O mesmo vale para a revolução tecnológica, para as transformações sociais e para tantas outras descobertas que vêm dando forma ao mundo atual e ao mundo corporativo em particular.
É verdade que muitas das forças que tem criado novas oportunidades – inovações, tecnologias, globalização, mudanças de hábitos e costumes – já estavam em movimento na virada do milênio. O efeito dessas forças, porém, só agora começa a ficar mais claro. Os desafios gerados pelas mudanças, que não tem precedentes na história humana, não estavam no radar das empresas na virada do ano 2000, quando a maior preocupação, por incrível que pareça, era o “bug do milênio”.
Inúmeras são as forças afetando os fundos de pensão, começando pelos contratos de trabalho - meu sogro fez carreira no Banco Interamericano de Desenvolvimento, em Washington. Integrou o quadro de funcionários do banco por 35 anos e se aposentou no final dos anos 90 com um belo plano de benefício definido e assistência médica vitalícia. Naquela altura, ali por volta de 1997, o BID já estava migrando de contratos de trabalho permanente para contratos temporários, com duração de 2 anos, renováveis a cada dois anos. Todos os organismos internacionais, da ONU ao FMI, do Banco Mundial à OEA, adotam atualmente contratos temporário para a maior parte de sua força de trabalho. Sem falar na instabilidade que um contrato de trabalho temporário carrega, os empregados regidos por vínculos temporários não têm direito a planos BD nem à planos de saúde vitalícios. Na sequência da reforma trabalhista que tivemos aqui no Brasil, não vai demorar muito (estimo uns 3 anos) para as empresas adotarem, em larga escala, contratos de trabalho temporário, contratos via pessoa jurídica e outras modalidades previstas na legislação. Esse movimento vai afetar os fundos de pensão, cujos planos são voltados para empregados com o tradicional contrato de trabalho permanente.
Outra força que não pode ser desprezada, porque afeta diretamente a poupança previdenciária, é a estagnação ou queda da renda, por enquanto apenas nos países desenvolvidos. Entre 2005 e 2014 a renda real caiu ou não aumentou em cerca de 70% das famílias dos países ricos. Apesar da prosperidade, a desigualdade vem aumentado nesses países. Na semana passada publiquei um post no LinkedIn comentando sobre um movimento para mudar o PIB como indicador de crescimento econômico dos países, porque apesar do PIB estar crescendo em muitos deles, a renda da maioria está indo na direção inversa. A tecnologia está acelerando a desigualdade entre empresas, cidades e regiões. Cerca de 10% de todas as empresas (não apenas as de tecnologia) respondem em média por 80% do lucro econômico. O surgimento de novas potências econômicas entre os países vai criando rivalidades geopolíticas e geotecnológicas, vai rompendo as cadeias de suprimentos, mudando o equilíbrio das trocas comerciais e redistribuindo a criação de valor entre as empresas. A guerra comercial China-EUA foi apenas a face mais visível daquilo que já vem acontecendo lentamente ao longo das últimas três décadas, um movimento que vem tirando do mercado muitas empresas tradicionais e provocando fusões e aquisições em larga escala.
A retomada do crescimento econômico no Brasil vai mostrar se esse padrão de estagnação salarial com crescimento do PIB também ocorrerá por aqui, o que não será surpresa se acontecer porque tem relação direta com as mudanças tecnológicas nas empresas. A reforma da previdência social vai fazer com que muitos profissionais na faixa etária acima de 45 a 50 anos tenham uma redução em suas rendas. As regras de transição forçarão esses profissionais a permanecerem por mais tempo num mercado de trabalho refratário a trabalhadores mais velhos. Expelidos pelas empresas, terão que se submeter a ocupações com rendas inferiores e eles são muitos, a população está envelhecendo lembra? Além disso a reforma diminuirá a renda de aposentadoria oficial porque a forma de cálculo passou a considerar os salários da carreira inteira e é improvável que as empresas compensem essa perda em seus planos de previdência complementar.
A eliminação da renda vitalícia e a adoção dos planos de previdência corporativos do tipo contribuição definida, já vinham deslocando para os participantes grande parte da responsabilidade pela poupança de aposentadoria. A redução da renda e a postergação da aposentadoria deverão agravar esse quadro, a menos que os fundos de pensão ofereçam soluções criativas para essa nova realidade.
O que mais? Os impactos da tecnologia sobre os empregos. As inovações, que vem afetando não apenas um ou outro setor, mas todos os aspectos da vida moderna, são hoje essenciais para a performance de qualquer empresa. Muito além da privacidade dos dados e dos crimes cibernéticos, tecnologias como inteligência artificial, robótica, transporte autônomo e automação acelerada, vem gerando ansiedade crescente nas pessoas e são motivos de profunda preocupação dos trabalhadores em função de seu potencial de deslocar do mapa a força de trabalho. Um impacto bastante óbvio das novas tecnologias tem sido a redução no tamanho das organizações. Costumo citar alguns exemplos, como o da VW, que chegou a ter mais de 110 mil funcionários no Brasil e hoje tem cerca de 15 mil. O processo de manufatura foi o mais afetado pela substituição da mão-de-obra pela automação e novos meios de gestão (terceirização etc.), mas na medida em que o mundo se digitaliza o setor de serviços vai passando pelo mesmo fenômeno. O Instagram surgiu em outubro de 2010 e quando foi vendido para o Facebook por US$ 1 bilhão, em 2012, tinha apenas 13 funcionários. O Whatsapp surgiu em 2009 numa salinha no Vale do Silício e foi vendido por US$ 29 bilhões em 2014, também para o Facebook, tinha 55 funcionários. Exceto pelas gigantes da tecnologia, como Google, Facebook, Amazon e algumas outras, a esmagadora maioria dos setores econômicos tem visto as empresas diminuírem de tamanho. O oxigênio dos fundos de pensão é escala, mas vai se tornando difícil respirar em um ambiente que a cada dia vê cair o número de empregados. Há solução para isso, mas o formato dos fundos de pensão precisa mudar.
Outra grande força transformadora, até aqui menosprezada pelos fundos de pensão ao redor do mundo, surgem das mudanças de atitude de uma geração cuja voz é cada vez mais influente na sociedade. Esses jovens, que estão às vésperas de compor o mercado de trabalho do futuro, esperam – na verdade, demandam – que as empresas parem de fazer “purpose washing” e partam para realmente adotar a diversidade, inclusão e sustentabilidade em suas operações. A preocupação crescente dessas novas gerações com o meio ambiente e com as ameaças do aquecimento global, está levando a sociedade a exigir que as empresas ajam: mais de ¾ dos empregados pesquisados pelo Edelman Trust Barometer - 2019 disseram esperar que seus empregadores liderem as mudanças ao invés de esperar que os governos as imponham.
No 40º Congresso dos Fundos de Pensão, que aconteceu em outubro passado, tive a chance de enviar uma pergunta sobre esse assunto para os palestrantes de uma das plenárias. A pergunta foi: “as novas gerações são movidas por propósitos, vocês não acham que os fundos de pensão deveriam ouvir os participantes sobre onde eles gostariam que seu dinheiro fosse investido? Não deveria haver um alinhamento entre os propósitos dos participantes e os investimentos do fundo?”. A resposta, bem, deixo para vocês tirarem suas próprias conclusões. Ouvi coisas tipo: “... é impossível ouvir todos os participantes” ou “ ... os participantes já tem um representante no conselho para isso”. Desculpe aí pessoal, mas parece que vocês não entenderam as transformações sociais a pleno vapor. Para quem acha que a preocupação com os princípios ESG é coisa da “garotada”, recomendo dar uma olhada nesse vídeo aqui: Business Round Table 2019. Em agosto passado, o "Business Roundtable", uma organização originalmente criada para defender interesses corporativos em Washington, publicou em seu "Statement on the Purpose of Corporations" (uma espécie de declaração das finalidades das corporações) as principais responsabilidades de uma empresa. No novo documento, antes do foco nos acionistas, aparecem: “criar valor para clientes”, “investir nos empregados”, "fomentar diversidade e inclusão", “tratar fornecedores de forma ética e justa", “apoiar as comunidades onde trabalham" e “proteger o meio ambiente". Num documento de 300 palavras, os acionistas vão aparecer lá pela palavra 250. Os fundos de pensão sempre tiveram dificuldade para atrair os jovens para poupar para a aposentadoria, mas as transformações sociais levantaram uma bola e tanto: alinhar o destino dos investimentos dos fundos de pensão com o propósito das novas gerações, adotar princípios ESG, ouvir os participantes.
A convergência de todas essas forças e seus efeitos positivos e negativos sobre os negócios estão se desenrolando diante de nossos olhos. A nova era vai avançando, os problemas vão mudando, mas muitas das soluções que adotamos continuam as mesmas. Tem um ditado muito engraçado que diz: "quando a única ferramenta que você tem é um martelo, você tende a ver todo problema como um prego". Os fundos de pensão sempre focaram em aumentar o retorno dos investimentos e esse foco não vai mudar, isso é o que eles sabem fazer melhor. Porém, não podem ser meros expectadores das transformações sociais do nosso tempo, principalmente quando essas transformações cruzam com suas atividades. Os fundos de pensão precisam desenvolver novos produtos, oferecer soluções e serviços inovadores e não podem ignorar o efeito de seus investimentos e de suas ações sobre as comunidades onde operam. Se quiserem surfar nas oportunidades dessa nova era, liderar as mudanças e moldar o mercado, terão que ajustar seu curso para entregar resultados num mundo sustentável e inclusivo.
Nossos fundos de pensão precisam dar uma freada de arrumação. Revisitar nossa missão, propósitos e horizonte de tempo. Quais são nossas responsabilidades? Quem se beneficia do nosso sucesso? Participantes e patrocinadoras, claro, mas também prestadores de serviço, meio ambiente, comunidade, sociedade como um todo. Como usar os dados pessoais e as novas tecnologias de forma responsável para alavancar nossos objetivos? Será que termos conselhos deliberativos apenas com representantes das patrocinadoras e dos participantes está alinhado com essa nova realidade? O conselheiro independente não seria uma forma de agregar valor nessa equação? Os conselhos deliberativos dos fundos de pensão dos funcionários públicos federais (dos três poderes), dos fundos estaduais e municipais, não deveriam ter representantes da sociedade, que no fim do dia é quem paga a conta das decisões tomadas ao redor daquelas mesas?
Responder a todas essas perguntas é uma questão de estratégia, não circunscrita apenas a uma responsabilidade social e corporativa. Os conselhos deliberativos dos fundos de pensão que forem capazes de imprimir uma nova dinâmica ao seu funcionamento e que forem capazes de responder a essas questões, irão diferenciar suas patrocinadoras da competição, conseguirão encantar seus participantes, sejam eles jovens ou mais experientes, entregarão resultados superiores e ao mesmo tempo superarão as expectativas crescentes no cumprimento de suas obrigações sociais e de sustentabilidade.
Os fundos de pensão terão que vislumbrar como fazer uso das plataformas de mídias sociais e de novas tecnologias e conhecimentos, como blockchain, inteligência artificial, e avanços da neurociência, em suas atividades. Como fazer a transição de entidades “fechadas” de previdência para organizações “escancaradas”, que oferecerem “cobertura financeira futura” para profissionais (e seus familiares) tenham eles contratos permanentes, temporários, PJ ou outras abordagens.
Apenas algumas organizações criaram plataformas verdadeiramente digitais e globais, os fundos de pensão ainda não estão entre elas. Para gerar valor e operar no complexo ecossistema digital, os fundos de pensão terão que expandir seu alcance e abrangência, espichar seus horizontes abraçando parceiros, prestadores de serviço, cadeia de suprimentos, clientes/participantes e comunidade. Terão que fazer uso das tecnologias que já se encontram a disposição para adotar práticas mais verdes, socialmente responsáveis e com governança elevada, porque caso não o façam, serão “incentivados” por participantes/consumidores, comunidades e governos.
Seu fundo de pensão está preparado? Seu conselho deliberativo vai assumir a responsabilidade por levar adiante as mudanças? As transformações necessárias para seu fundo de pensão navegar por esses e pelos novos desafios que surgirão ao longo desse século não acontecerão da noite para o dia. Avanços, retrocessos, acertos e erros farão parte do processo. Não existem roteiros, modelos, nem soluções padronizadas.
Uma nova era nos espera, façam suas apostas. Quer liderar as mudanças? Comece a construir hoje o fundo de pensão do Século XXI.
Grande abraço,
Eder.
Fonte: Adaptado doartigo “The Questions Companies Should Ask Themselves to Prepare for a New Era of Business”, escrito por James Manyika e Lareina Yee
Crédito de Imagem: https://revistanegociospet.com.br/tecnologia-pet/parecia-transformacao-mas-era-silada-sic/
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