domingo, 22 de dezembro de 2019

Sai 2019 entra 2020 e o futuro vai se aproximando. Qual sua previsão?


Crédito de Imagem: blog.rackspace.com


De São Paulo SP.

De acordo com o Banco Mundial e dependendo da definição que se utilize, nos últimos trinta anos a quantidade de pessoas vivendo em extrema pobreza no mundo diminuiu entre 58% e 74% (artigo aqui). Essa é uma das maiores realizações na história humana recente.

No entanto, as pessoas não conseguem perceber isso. Em um estudo feito em 24 países pela Glocalities – uma empresa de pesquisa de mercado – sob coordenação da Fundação Bill e Melinda Gates, mostrou que 87% das pessoas acham que a extrema pobreza aumentou ou permaneceu no mesmo patamar nas últimas décadas. Somente 1% dos respondentes disse, corretamente, que a extrema pobreza diminuiu mais de 50%.

Apesar dos avanços na erradicação da pobreza serem positivos, a percepção das pessoas continua focada no passado e num certo pessimismo que contamina nosso presente.

No entanto, tudo muda quando as pessoas olham para o amanhã. O desconhecido nos amedronta e ao mesmo tempo nos fascina. Por isso o ser humano tem verdadeira obsessão em prever o futuro. Saber o que vem pela frente pode garantir o sucesso ou a sobrevivência. 

Só tem um probleminha, graças a evolução, a psicologia e a complexidade dos dados, somos terríveis em prever o futuro. Os meteorologistas conseguem uma acurácia de 90% nas previsões do tempo para cinco dias, mas essa acurácia cai para 50% quando a previsão é para dez dias.

Cerca de 15% das previsões que os especialistas juraram de pés juntos que nunca aconteceriam, acabaram acontecendo e 25% dos eventos que eles disseram que certamente ocorreriam, simplesmente, jamais aconteceram.  

Até mesmo os analistas de inteligência da CIA, munidos de toda a parafernália de dados a disposição, conseguiram ser superados por um grupo de “superprofetas” em 30% das previsões (Good Judgement Project).

Tentar adivinhar o que vem pela frente nos diverte. Os americanos gastam US$ 150 bilhões por ano em apostas ilegais na área de esportes. Thomas Edison, cujas invenções marcaram o Século XX, previu em 1911 que as casas do futuro seriam repletas de móveis de aço e os livros seriam feitos de níquel. Aqui em casa, como na maioria das residências mundo afora, a maioria dos móveis é feita de madeira e os livros são de papel ou estão na nuvem.

Previsão não é o nosso forte

“É muito difícil fazer previsões, principalmente sobre o futuro”, diz um ditado Dinamarquês.
A principal razão para sermos ruins em enxergar a vastidão do além é que nosso cérebro está fixado no futuro imediato. Por questões evolutivas, nosso viés psicológico prioriza aquilo que é importante para nos manter vivos hoje e nada além disso. 
Temos um otimismo exacerbado quando se trata das coisas que gostaríamos que acontecessem e erroneamente baseamos nossas previsões em nossas experiências passadas. Quando obtemos novas informações, procuramos encaixa-las naquilo em que antes já acreditávamos ser verdade. 
Percebemos quando as coisas mudam rapidamente, mas somos incapazes de notar quando as mudanças acontecem lenta e gradualmente, especialmente quando ocorrem no curso de gerações. Achamos que coisas ruins acontecerão, mas nunca conosco e a verdade é que não damos a mínima quando achamos que elas não vão acontecer.   
Somos péssimos em sintetizar grandes quantidades de dados. Basta olhar para as previsões meteorológicas. Para determinar se vai chover na sua cidade e qual quantidade de chuva vai cair, os climatologistas têm que levar em conta a temperatura do solo, a temperatura atmosférica, a densidade das nuvens, como os sistemas de alta e baixa pressão vão se movimentar e a interação dessas com outras forças atmosféricas.  
“Nossas previsões só precisam ser boas o bastante para nos manter vivos e propagar a espécie. Se tivéssemos que computar um monte de dados com precisão, nossos cérebros precisariam de muito mais poder de processamento”, afirma Susan Weinschenk – Cientista Comportamental Chefe na Team W, uma empresa de consultoria e treinamento. 
A habilidade de prever o futuro pode não ser a melhor qualidade dos seres humanos, mas pelo menos é adequada, afinal, ela precisa ser apenas boa o suficiente para nos manter vivos.
Breve história das previsões
Ao longo dos tempos a tentativa de prever o futuro foi evoluindo. Uns 4.000 anos a.c. as ferramentas disponíveis no Egito, China e Babilônia eram a astrologia, a numerologia e a leitura de mãos e folhas de chá. Em 1555 o profeta e astrólogo Frances M. Michel de Nostradamvs publicou “Les Prophéties”, um livro com estranha presciência. 
O conhecimento foi evoluindo, em 1660 o químico Britânico Robert Boyle previu que o transplante de órgãos, um dia, salvaria vidas. Uma publicação póstuma de autoria de Thomas Bayes, intitulada “An Essay Towards Solving a Problem in the Doctrine of Chances” criou em 1763 o campo da “Probabilidade Bayesiana”.
Ao longo do caminho tivemos visionários como o escritor Frances Júlio Verne que, em 1865, através da obra de ficção cientifica “From the Earth to the Moon”, foi capaz de prever o pouso do homem na lua. Perfilamos a ele o gênio e inventor Nikola Tesla que imaginou, em 1909, o desenvolvimento do WiFi.
Mais recentemente na escala do tempo, em 1918, um artigo publicado na revista “Scientific America” previu que o carro do futuro, entre outros dispositivos, não teria coisas como o assento do motorista. Em 1949 George Orwell escreveu o clássico “1984”, um romance distópico descrevendo um governo totalitário que controlaria os passos dos cidadãos através da tecnologia (isso numa época que reconhecimento facial não existia). Finalmente, em 1954, Philip K. Dick escreveu um conto que ganhou fama há poucos anos nas telas do cinema através de um filme homônimo, “Minority Report”, no qual um departamento da polícia era capaz de prever crimes futuros antes que ocorressem.
A sabedoria coletiva
Somos melhores em fazer previsões quando nos baseamos na opinião de um monte de pessoas ao invés de ouvirmos um único “visionário”. Philip Tetlock, um estudioso do assunto, diz que acurácia das previsões melhora substancialmente através da “sabedoria das multidões”. 
Um grupo de pessoas grande e diverso, que se baseie em diferentes fontes de informação, tende a fazer melhores previsões do que um grupo pequeno de especialistas ou uma única pessoa, ainda que altamente treinada.
Em 1906 um estatístico Britânico chamado Francis Galton fez um experimento com uma multidão de pessoas. Pediu que estimassem o peso de um boi morto. Muitas estimativas individuais eram ruins, mas quando somadas e tirada a média das estimativas, a previsão da multidão errou o peso por apenas 0,453 kg. 
Pesquisadores da Universidade da Pensilvânia analisaram os fatores que levam uma pessoa a fazer boas previsões. Os “superprofetas” são capazes de fazer previsões excepcionalmente boas, muitas vezes estimando probabilidades de cabeça. Uma maneira de ajudar as pessoas a fazerem melhores previsões, segundo os pesquisadores, é fornecendo feedback sobre quais previsões deram certo e quais erraram.  

O que vem pela frente

Tudo isso nos leva a Steve Kotler (jornalista do New York Times, autor de vários best-sellers) e Peter Diamandis (respeitado futurologista e criador do XPRIZE). Juntos, eles escreveram livros como “Abundance” e “Bold”, projetando as mudanças que a tecnologia causará no mundo dos negócios e na vida das pessoas.

“Veremos mais transformações tecnológicas nos próximos oitenta e um anos do que vimos em toda a história da humanidade. Estamos vivenciando uma convergência tecnológica que irá transformar todos os aspectos de nossas vidas, de carros voadores a medicina e longevidade, passando pela educação e varejo”, disse Kotler recentemente em uma entrevista.

As previsões hoje mexem com nosso imaginário por causa dos avanços inimagináveis da tecnologia. O povo teme o futuro, pensa que os robôs tomarão conta de tudo e o ser humano vai desaparecer. O maior medo das pessoas com a chegada das novas tecnologias é a perda do emprego. 

Se por um lado é bem provável que motoristas de caminhão, por exemplo, venham realmente a ser substituídos por caminhões autônomos, por outro, ainda levará mais de meio século até que empregos semiqualificados desapareçam do mapa.

“A vida como a conhecemos hoje será irreconhecível em um período muito curto de tempo”, prevê Kotler. 

Previsões sobre o futuro continuam nos causando uma atração irresistível. Ignora-las, parece nos dar a sensação de que ficaremos de fora da festa. Lembre, porem, da
previsão de Thomas Edison mencionada acima. Previsões continuam sendo previsões e a bola de cristal apenas uma esfera de vidro. 

De acordo com Albert Eisntein, “nenhum problema pode ser resolvido pelo mesmo nível de conhecimento que o criou”. Daqui a alguns dias entraremos na terceira década do novo milênio. Você se arrisca a fazer alguma previsão? 


Grande abraço,
Eder.


Fonte: Adaptado do artigo “Prediction – The unscientific way to figure it out what’s coming next “, escrito por Alexandra Ossola, editado por Annaliese Griffin e produzido por Tori Smith e do artigo “Steven Kotler: On Writing The Most Important Book Of The Year, And Next Year, And The Year After That”, escrito por Michael Levin.

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