De São Paulo, SP.
terça-feira, 11 de junho de 2019
Saiba Porque Temos o Hábito de Embrulhar Presentes e Embrulhe Um Plano de Previdência para Seu Filho
De São Paulo, SP.
O Dia das Mães mal passou e já temos pela frente o Dia dos Namorados. Não se passa um mês, sem que tenhamos uma boa razão para presentear alguém.
Seja um ovo de chocolate na Páscoa, um livro no Natal ou uma garrafa de vinho no aniversário, todos os presentes que entregamos possuem uma coisa em comum: ... são envoltos em uma bela folha de papel decorado.
O hábito de cortar, dobrar e embrulhar algo em papel transcende culturas e religiões. Tem mais de mil anos. Embrulhar um presente é a forma que os humanos tem para indicar que um objeto é especial.
O embrulho que você provavelmente fará amanhã para a pessoa que você ama, está conectado ao mesmo motivo que uma moldura dourada em torno de uma pintura a transforma em uma obra de arte ou que uma caixa de veludo torna uma correntinha com um santinho em uma joia.
Embrulhar um objeto comum é o que o transforma em algo extraordinário.
O tamanho da atual indústria de papel para presente é imenso. Os fabricantes reportam, apenas nos EUA, vendas anuais em torno de US$ 10 bilhões.
Tem o lado ruim disso. Os números indicam que nas festas de fim de ano as pessoas jogam no lixo, a cada ano, cerca de 4 milhões de toneladas de papel e sacolas para presente. Um peso equivalente ao de 11 edifícios Empire States.
Os embrulhos para presente são feitos, tipicamente, com um papel muito leve, colorido com tintas que o torna difícil de reciclar. Pior ainda, se incluir laminado ou plástico em sua composição, a maioria das recicladoras não o aceitarão.
Alguns consumidores estão deixando de usar papel para presente e colocando os presentes em caixas e sacolas de papelão reaproveitadas.
Mesmo diante dos argumentos de preservação ambiental é difícil para a maioria das pessoas imaginar um presente que não seja envolto em papel ornamental novinho e brilhante.
O habito ocidental de embrulhar presentes surgiu na Europa e nos EUA durante a era Vitoriana, quando se tornou elegante envolver os presentes em papel de seda e laços de fita.
Então, no Natal de 1917, uma loja na cidade do Kansas, no estado americano do Missouri, ficou sem papel de seda para vender e começou a vender um papel padronizado, usado para forrar envelopes. Rapidamente, vendeu tudo!
A loja, mais tarde, se transformou na Hallmark (a marca americana mais famosa de cartões comemorativos) e assim nasceu a indústria moderna de papel para presentes.
Em 1979 o sociólogo Theodore Caplow conduziu um estudo na cidade de Muncie, estado de Indiana, sobre o ritual americano de dar presentes. Caplow entrevistou mais de 100 adultos sobre suas experiências com o Natal e resumiu tudo em algumas regras: “Os presentes de Natal precisam ser embrulhados antes de serem entregues”. Os entrevistados, notou Caplow, embrulhavam praticamente todos os presentes em papel — exceto aqueles muito grandes ou com formato esquisito, como uma bicicleta. Ele concluiu que a pilha de presentes embrulhados e colocados debaixo da árvore de Natal, significava que “a família era afluente e repleta de afeto mutuo entre seus membros”. Também gerava um sentimento alegre de surpresa para os recebedores.
Em 1990, o antropólogo James Carrier acrescentou uma outra dimensão ao estudo dos embrulhos para presente. Ele associou a prática moderna de embrulhar presentes ao surgimento de uma indústria paralela de produção em massa de objetos. Carrier argumentou que um embrulho para presente transforma algo impessoal em uma coisa pessoal — o ritual torna uma commodity anônima em um presente sob medida. Por exemplo, o iPhone que qualquer um pode comprar, quando embrulhado, se transforma no iPhone que eu comprei para você. De acordo com Carrier, por isso que um presente caseiro, como um pote da geleia feita pela vovó, não requer um embrulho completo. Diferente da commodity, a geleia da vovó não se encontra em nenhum outro lugar, então, uma fitinha enfeitada em volta da tampa do pote é suficiente.
Os estudos citados acima nos dizem muito sobre os embrulhos para presente na sociedade ocidental contemporânea. Não obstante, a pratica de embrulhar presentes tem uma história mais abrangente — sugerindo uma razão mais profunda para as pessoas embrulharem, emoldurarem e envolverem um objeto especifico.
O papel foi usado para embrulho antes que fosse usado para escrita. Na China antiga, uns 2.000 anos atrás, o papel era usado para proteger objetos preciosos e para armazenar folhas de chá e remédios. Mais tarde, a Corte Imperial Chinesa usou envelopes de papel para presentear oficiais do governo com dinheiro. Há cerca de mil anos o embrulho assumiu importância central na entrega de presentes na cultura Japonesa. Em outras palavras, as pessoas já embrulhavam presentes muito antes da revolução industrial.
O ato de embrulhar está englobado em uma prática humana mais abrangente, que é o hábito de usar um objeto para envolver outro mais importante. A historiadora de arte Cynthia Hahn, rotulou esse fenômeno de “o efeito relicário”.
Ela estudou as práticas de igrejas Católicas, mesquitas Islâmicas e mosteiros Budistas, para entender o que torna sagrado coisas como o osso de um dedo, um fragmento de madeira e até um pouco de água. De acordo com Cynthia, a maioria das relíquias não tem nenhum valor intrínseco, mas precisam se “transformar socialmente” em um objeto com poder. Isso é feito através do relicário — o receptáculo criado para conter a relíquia. O “relicário é que faz a relíquia”, ensina Cynthia.
Foto: Relicário carregado em procissão por padres ortodoxos Romenos contendo a cabeça de St. Andrew
Relicários são geralmente enfeitados e bonitos, mas sua função é mais básica: deixar claro que o conteúdo — a relíquia carregada no seu interior — é valiosa. Ao mesmo tempo, eles precisam desvanecer como um pano de fundo, sugerindo que aquilo que carregam em seu interior nunca esta totalmente contido. Ou seja, a relíquia não pode ser confinada como “se estivesse em quarentena física”, nas palavras de Cynthia. Pense na moldura em torno de um quadro a óleo; ela demarca a imagem transformando-a em arte, mas nunca com a intenção de ser parte da arte que ajuda a criar.
O receptáculo prepara uma espécie de show de striptease, que os dois escondem (você não sabe exatamente o que esta contido) e revelam (você tem uma ideia do que esta no interior). Como num show erótico, comenta Cynthia, “o relicário tem o proposito de estimular o desejo e atrair a atenção”.
O poder do invólucro foi percebido por muitas instituições. Os Museus usam o vidro para ressaltar o valor histórico de um objeto. Funerárias depositam as cinzas da cremação em urnas decoradas para transformar pó humano em ancestrais a serem venerados. Por ai vai.
Esse é o resultado de embrulhar algo em papel: o ato transforma um objeto em presente. Torna, por exemplo, um livro de presente num presente em si mesmo. Um livro não embrulhado em papel de presente poderia simplesmente estar na prateleira de uma biblioteca ou em uma estante qualquer. Afinal, ate mesmo aquele pote de geleia da vovó precisa de uma fita enfeitada na tampa para significar que é um presente.
Portanto, nesse dia dos namorados, quando alguém colocar um presente nas suas mãos, aprecie o papel que o envolve. Por um momento, reflita sobre essa tradição humana — e pondere que se o presente que você esta segurando não estivesse embrulhado, talvez você nem sentisse que é um presente.
Embrulhar em papel é criar um show de streaptease, escondendo e revelando, transformando em presente objetos que de outra forma seriam ... simples objetos.
Forte abraço,
Eder
Fonte: Adaptado do artigo “Why Do We Wrap Presents?”, escrito por Chip Colwell
Credito de Imagem: Kiss PNG/Calenton e Daniel Mihailescu/Getty Images
Marcadores:
Relicário; Presentes; Embrulhar; Papel
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