segunda-feira, 28 de outubro de 2019
Veja a diferença entre “mudanças climáticas” e “aquecimento global”: cobre iniciativas do conselho deliberativo do seu fundo de pensão
De São Paulo, SP.
Muita gente acha que as atividades humanas não são responsáveis pelas transformações climáticas que o planeta vem experimentando. Vá lá, vamos abstrair isso por um momento.
É inegável que os incêndios na Califórnia estejam cada vez mais severos e as chuvas torrenciais nas cidades brasileiras venham causando prejuízos e danos que aumentam a cada verão.
Também não se pode deixar de notar os problemas na infraestrutura viária da Rússia e dos países Nórdicos decorrente do degelo do permafrost, nem a redução das áreas anteriormente cobertas pelos glaciares mundo afora.
Esses fatos todos colocaram no centro das discussões dois termos que parecem sinônimos, mas tem significados bem diferentes: “mudanças climáticas” e “aquecimento global”. Vamos à eles.
Clima e Tempo (no sentido meteorológico)
Para entender a diferença entre “mudanças climáticas” e “aquecimento global”, precisamos primeiro deixar claros os conceitos de clima e tempo.
“Tempo” é o estado da atmosfera no curto prazo e em determinado lugar geográfico: tipo, o tempo na Serra das Araras está chuvoso hoje. Humidade, temperatura, velocidade do vento, pressão atmosférica e visibilidade, são fatores que ajudam a determinar o “tempo” em determinado lugar e momento. Em outras palavras, o tempo no sentido meteorológico não perdura por longos períodos. As condições do tempo mudam no curso de dias, horas e até minutos, por isso buscamos constantemente nos atualizar sobre elas. Quando você quer saber se vai fazer sol em Angra dos Reis amanhã, você quer saber o “tempo” por lá.
Já o clima tem um alcance mais amplo. O clima reflete as médias e tendências do tempo em determinada área, no longo prazo. Geralmente ao longo de décadas de observação meticulosa. Em função disso, as mudanças no clima são muito mais lentas do que no tempo. Ainda assim elas ocorrem.
Juntando todas as médias dos climas regionais temos o que os cientistas chamam de “clima global” que flutua ao longo das épocas da mesma forma que mudam seus componentes regionais. O ano de 2018 foi, até hoje, o quarto mais quente da história humana.
Mudanças climáticas e Aquecimento Global
Beleza! Feito o esclarecimento, o que então significa o termo “mudança climática”? Numa definição mais ampla, mudança climática inclui toda e qualquer flutuação de longo prazo verificada em uma ou mais variáveis relacionadas ao clima – tipo, média pluviométrica (chuvas) ou temperatura média – dentro da mesma localização. A mudança pode ocorrer apenas em climas regionais ou no próprio clima global.
Digamos que a região sul do Brasil experimentou um aumento dramático nas tempestades que perdurou por décadas até terminar. Esse cenário hipotético seria um exemplo de mudança climática regional, independentemente do que tivesse acontecido em outras partes do planeta.
Por outro lado, aquecimento global é – bem, é global né! Indo direto ao ponto, o termo reflete um aumento na temperatura média da superfície de um planeta e aqui na Terra, sem sombra de duvidas, ela vem subindo.
Entre os anos de 1880 e 2016 a temperatura media da superfície dessa nossa bolinha azul aumentou cerca de 0,95º Celsius, conforme dados do NOAA – National Oceanic & Atmospheric Administration, a agência do governo americano que monitora o clima.
Pode parecer pouco, mas para colocar isso em perspectiva,15 mil anos atrás nosso mundo era apenas 5º Celsius mais frio do que é hoje e isso era suficiente para manter 1/3 da superfície do planeta debaixo de uma densa camada de gelo - a chamada “Era do Gelo”.
“Voltando à vaca fria”, hahahaha, o resumo da opera é: o aquecimento global é uma forma de mudança climática – mas nem toda mudança climática se manifesta na forma de aquecimento global.
Um problemão sem precedentes
Por mais estranho que possa parecer, as mudanças climáticas estão provocando ao mesmo tempo seca e inundações, dependendo da região do globo que se analise.
Nas palavras do Dr. Nathan Steiger, um climatologista da Universidade de Columbia, ao longo da história, a raça humana foi impactada por eventos climáticos disruptivos iguais aos que estão ocorrendo hoje. Nossa civilização sempre sofreu com calor ou frio extremos, períodos de seca e inundações.
A diferença entre o passado e o presente é que esses eventos aconteciam sem que a atividade humana os agravasse, ninguém tinha culpa. Hoje, porem, o efeito dos extremos climáticos disruptivos são ampliados por causa do modo que os seres humanos tratam o meio ambiente.
Por exemplo, olhe a erosão causada pelo uso agrícola do solo. Áreas que perderam aquela camada grossa e rica de substrato, são mais suscetíveis à se tornarem permanentemente áridas durante as longas secas. Isso torna as secas muito piores do que seriam. O mesmo vale também para as catástrofes nas encostas do Rio de Janeiro. Se a cobertura vegetal dos morros não tivesse sido trocada por tijolos e cimento, não seriamos submetidos ao show de horrores transmitido pelas televisões a cada verão.
Estudo publicado na Revista Nature pelo Dr. Steiger e sua equipe analisou as alterações – pequenas e grandes – ocorridas no clima do planeta ao longo dos últimos dois mil anos.
Usando amostras de gelo, corais e outras evidencias, eles constataram ter havido alguns períodos de alteração no clima. Um deles foi o “Período de Anomalia Medieval” caracterizado por um aquecimento incomum do Atlântico Norte que durou entre os anos de 800 a.c. e 1200 a.c.. Teve também duas “Pequenas Eras do Gelo” entre 1290 d.c. e 1400 d.c. e entre 1645 d.c. e 1715 d.c. durante as quais as temperaturas médias da Europa e da América do Norte caíram 2º Celsius em relação às atuais. A maioria dos eventos foi, essencialmente, regional.
Entretanto, o estudo mostrou que nesses últimos 2.000 anos, o único período de aquecimento global, que atingiu 98% do planeta, foi o Século XX, quando as temperaturas globais dispararam.
Em suma, ao longo dos 20 séculos da historia humana nossos ancestrais nunca enfrentaram um fenômeno climático com impacto tão universal – e alarmante - como a mudança climática dos tempos modernos. Uma pequena amostra do que aconteceu entre os anos de 1900 e 2017 pode ser vista no gráfico abaixo.
Mesmo que você ache que isso é uma mera coincidência e que fomos premiados pela história, podemos ajudar a amenizar os efeitos dessas mudanças e deixar um mundo melhor para nossos filhos e descendentes.
Basta direcionar os investimentos dos nossos fundos de pensão para investimentos responsáveis, que busquem (de verdade) o bem social, a preservação do meio ambiente e um propósito maior.
Fale com o conselho deliberativo do seu fundo de pensão. Peça a inclusão dos princípios ESG na analise dos seus investimentos. Solicite a adoção voluntaria das recomendações do TCFD - Task Force on Climate Related Financial Disclosure, para que os impactos financeiros materiais dos riscos e oportunidades ligados ao clima - incluindo aqueles relacionados a transição para uma economia de baixo carbono - sejam reportados no relatório anual do seu fundo de pensão. A mudança começa em cada um.
Conforme o Claudio Maes - Gerente de Desenvolvimento de Normas da CVM me contou ter ouvido de um gestor de investimentos (e eu achei o máximo): “de que adianta eu entregar o melhor alfa, se amanhã você não tiver um mundo para gastar?”.
Fica a dica.
Grande abraço,
Eder.
Fonte: Adaptado do artigo “What's the Difference Between Global Warming and Climate Change?”, escrito por Mark Mancini
Credito de Imagem: www.americannursetoday.com/older-citzens-climate-change/
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