terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

O 7º continente, a economia da longevidade e os fundos de pensão 2.0 - Parte 3







PARTE 3

Dilemas dos aposentados pela previdência complementar 

Se nos voltarmos para os fundos de pensão perceberemos que seus esforços sempre foram muito mais focados nos participantes durante a fase de formação da poupança e bem menos em ajudar os aposentados a gerenciarem essa poupança durante a fase de recebimento do benefício. 

Talvez porque o sistema de previdência complementar que herdamos se propusesse, originalmente, a pagar rendas vitalícias, espelhando os sistemas de previdência oficiais. Com o futuro dele garantido, para quê se preocupar em ajudar o aposentado a fazer sua renda de aposentadoria durar não é mesmo?

Porem, o sistema de previdência complementar fechado (fundos de pensão) avançou e foi se transformando. Vieram os planos de contribuição definida e as rendas vitalícias foram aos poucos sendo empurradas para os livros de história da atuária. 

O participante pode escolher hoje, ao se aposentar, se quer receber mensalmente um percentual do saldo de conta acumulado, se quer fixar um número de anos para receber sua renda e em alguns planos pode até mudar essas escolhas todo ano.  Nas formas de pagamento do benefício que surgiram, o aposentado passou a ser o responsável pela gestão da renda, por esticar seu dinheiro o máximo possível no tempo.

Aquela antiga preocupação de morrer cedo e deixar a família desamparada, cedeu lugar ao medo de viver demais e o dinheiro acabar. Aliás, a geração grisalha dos nossos dias vive a dicotomia de duas realidades, outrora estanques: ao mesmo tempo em que continua a trabalhar, geralmente como PJ, supostamente na fase de poupar para a aposentadoria vai usando sua previdência complementar para viver.

Diante de poucas ferramentas e soluções para essas novas realidades, a angústia de fazer durar o máximo possível o dinheiro economizado durante uma vida, só faz aumentar. Planos de contribuição definida foram idealizados para ambientes de retornos estáveis ou crescentes e expectativas de vida, digamos, comportadas.

Acontece que nosso mundo é tudo, menos comportado. A longevidade vem aumentando continuamente, seguindo uma tendência que deverá continuar na medida em que novas tecnologias que buscam uma longevidade saudável entrem em cena. 

Do lado dos investimentos, vale ler um artigo super interessante publicado pelo Bank of England agora em janeiro/2020, intitulado “Eight centuries of global real interest rates, R-G, and the ‘suprasecular’ decline, 1311–2018". 

Eles reconstruíram a taxa real de juros global em bases anuais retroagindo ao século XIV e cobrindo 78% das economias desenvolvidas (gráfico abaixo). Mostraram que a taxa real de juros nunca foi "estável" e que depois da turbulência monetária do fim da idade média, prevaleceu uma tendência de queda entre 0,6% e 1,6% por ano nas taxas reais. 

O trabalho sugere que, independentemente de respostas fiscais e monetárias específicas, as taxas de juros reais podem em breve entrar em território negativo permanente! (Paper completo aqui: https://bit.ly/2tHv0O8


Um cenário desses faz até mesmo os maiores especialistas em investimento e atuaria coçarem a cabeça. Sem uma evolução rápida, o modelo de negócios atual dos fundos de pensão e das instituições financeiras tradicionais, é insustentável. 

No ponto de inflexão em que nos encontramos, as demandas e necessidades da geração prata começam a entrar no radar das startups e demais players do ecossistema da longevidade, novas soluções são inexoráveis.

Na quarta parte do artigo discorremos sobre a economia da longevidade e seu ecossistema. Fique ligado, acompanhe, questione, comente. 

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Eder C. da Costa e Silva é sócio-gerente e fundador da E.Carva Investimentos & Participações e autor do livro “Revolucionando os Conselhos dos Fundos de Pensão” (ed. PoloBooks, 2020) que será lançado em breve 


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