Washington DC
Não deve estar sendo nada fácil o trabalho dos profissionais que trabalham com previsão do tempo, na medida em que tentam prever quando uma tormenta imprevisível atingirá a plataforma continental.
Eles tentam fazer suas previsões com um ou dois dias de antecedência e conseguir isso já é “mega” difícil.
Imagina então prever eventos como o Furacão Sandy, algo que deveria ter ocorrido com meses e meses de antecedência...
Muito antes de tormentas como essa surgirem numa tela de Doppler (radar usado em previsão de eventos climáticos) as companhias de seguros patrimoniais já estavam definindo os preços que cobrariam em suas apólices de seguros (ex.: residenciais, prediais etc.) vendidas para pessoas físicas e jurídicas.
Seus atuários tiveram que analisar pilhas e pilhas de dados históricos para calcular qual o tamanho do prejuízo que teriam que cobrir.
Tormentas como a Sandy estão tornando o trabalho dos atuários extremamente difícil. Um relatório da Ceres (uma ONG focada em sustentabilidade) mostra um monstruoso aumento nos sinistros relacionados ao clima, que vem sendo pagos pelas seguradoras ao longo das três últimas décadas.
Isso torna a técnica tradicional, baseada em dados históricos para prever sinistros futuros, uma prática cada vez mais precária.
Também levanta questões sobre como, daqui pra frente, serão indenizados os prejuízos decorrentes de catástrofes naturais, já que as seguradoras não se interessarão por um negócio no qual as indenizações pagas superam os prêmios recebidos.
“Nos últimos 30 anos, o setor de seguros vem efetuando pagamentos crescentes de perdas relacionadas a catástrofes” informa Cynthia McHale – Diretora de Programas de Seguros da Ceres.
Efetuar Cálculos Atuariais é um trabalho reconhecidamente chato, envolve o destrinchar de números que mais parece coisa de doido. Mas se você é uma seguradora, calcular corretamente os prêmios é crucial para sobreviver e permanecer ou não no negócio.
Da mesma forma que uma seguradora de automóveis tem que coletar dinheiro suficiente de todos os clientes para cobrir a soma das indenizações de seus poucos segurados que batem ou tem o carro roubado, uma seguradora que trabalha com seguros patrimoniais tem que acumular os prêmios que recebe de um montão de clientes para cobrir um pequeno conjunto de perdas patrimoniais.
Para poder fazer isso as seguradoras olham para a experiência passada, analisando dados históricos, e precificam seus prêmios.
Os dados, no entanto, vêm se tornando cada vez menos confiáveis, por dois motivos. Primeiro, o aumento na frequência em que ocorrem eventos climáticos extremos, conforme mostra o gráfico abaixo.
E segundo, o aumento na densidade populacional: Se mais pessoas vivem numa pequena área geográfica e ocorre uma catástrofe climática, mais reclamações de sinistros podem ser esperadas pelas seguradoras.
Em conjunto, diz a Srta. McHale da Ceres, esses dois fatores tem sido responsáveis pelo aumento exponencial das indenizações pagas por danos a propriedades. No gráfico a seguir você pode ver que nos anos recentes foram desembolsadas pelas seguradoras as maiores indenizações jamais pagas:
A AM Best, uma firma de rating de seguradoras, faz eco com a Srta McHale e informa em um relatório recente, sobre o mercado de seguros patrimoniais, que se por um lado as catástrofes climáticas são sempre “grandes surpresas”, por outro, tem se tornado surpresas maiores ainda...
O relatório mostra que continuarão ocorrendo “tempestades de intensidade acima da média”, incluindo o aumento na frequência das tempestades que não se transformam em furacões.
Em 2011, o grande número de sinistros fez com que a indústria de seguros patrimoniais operasse com perdas: Gastaram US$ 34 bilhões a mais com indenizações do que coletaram em prêmios (figura a seguir).
Existem algumas poucas soluções aqui. Uma é as seguradoras simplesmente aumentarem seus prêmios. Se coletarem mais dinheiro poderão cobrir mais prejuízos.
É isso que vem acontecendo recentemente. Um relatório de janeiro/2012 estima que houve um aumento de 10% a 20% nesses tipos de apólice.
Se isso perdurar, o preço dos seguros patrimoniais se tornará proibitivo e uma espiral mortal acontecerá: somente aqueles que quase certamente precisarão de cobertura comprarão uma apólice de seguro (ex.: casas perto da praia ao longo do litoral); os preços continuarão a aumentar; e a assinatura de novas apólices cairá em quantidade, levando o mercado de seguros patrimoniais a entrar em colapso.
A Ceres defende que as seguradoras adotem um papel mais ativo na prevenção dos riscos, afinal, elas é que são prejudicadas quando os sinistros reclamados envolvem grandes somas.
“Queremos que as seguradoras não pensem nesse problema apenas em termos de aumento de prêmios, mas também em como tornar as comunidades mais resilientes. Isso deveria fazer parte da discussão, pois a ciência que estuda a infraestrutura das cidades tem avançado bastante e podemos torna-las mais resilientes aos eventos climáticos”, conclui a Srta. McHale.
É, faz sentido.
Abraço grande,
Eder.
Fonte: Adaptado do artigo “How storms like Sandy batter insurance companies“, escrito por Sarah Kliff para The Washington Post.
Créditos de Imagem:Munich Re; AM Best Company e www.wifeofthecolonel.blogspot.com.br