segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Porque muitas previsões falham e outras não?



De São Paulo, SP.

Num domingo do verão de 1987 trezentas mil pessoas se comprimiram no vão central da Ponte Golden Gate em São Francisco – EUA, atraídas pela comemoração do 50º aniversário da inauguração.

Prensadas entre os dois grandes pilares da ponte e incapazes de se mover em qualquer direção, a multidão se aproximou inconsequentemente do que poderia ter sido o maior acidente humano de toda a história norte-americana.

Os engenheiros que desenharam a Golden Gate haviam feito inúmeros cálculos para projetar uma estrutura capaz de suportar inclinações de quase 9 metros, aguentar ventos de dezenas de quilômetros por hora e resistir ao tráfego de centenas e centenas de veículos pesados.

Mas em se tratando de uma ponte voltada para o tráfego de veículos, ninguém jamais havia previsto que uma gigantesca turba de pedestres marcharia simultaneamente sobre a ponte em determinado momento.

Como resultado, a ponte se achatou e os pilares centrais se aproximaram perigosamente, ficando por um fio de arrebentar cada um dos cabos de sustentação daquela superestrutura vermelha.

As consequências de dados errados, previsões desequilibradas, opiniões mal concebidas, estimativas vagas, hipóteses incorretas e no caso da Ponte Golden Gate, de um evento improvável, podem ser catastróficas.

O melhor aliado para aquele que costuma fazer prognósticos é um conjunto de dados precisos... casado com uma boa pitada de juízo (avaliação) humano(a).

Isso explica porque algumas previsões, como a de furacões, são tão boas enquanto outras, como as projeções econômicas, são tão ruins.

Graças ao conhecimento de catástrofes anteriores, fotografias de satélite, balões meteorológicos e aviões que voam no olho de tempestades, os meteorologistas são agora capazes de prever com muitos dias de antecedência o caminho e a força dos furacões e quando eles atingirão o continente.

Todas essas informações, melhoradas pelas análises dos especialistas, aumentou em 350% nos últimos 25 anos a acurácia das previsões do tempo.

As 1.833 vítimas do Furacão Katrina, que inundou Nova Orleans nos EUA, não morreram por falta de previsão, mas sim porque o prefeito da cidade demorou a declarar estado de emergência e a ordenar a evacuação compulsória. Quando o fez, já era tarde demais.

Já projeções econômicas são outra história. Parte do motivo para as previsões do tempo terem melhorado é que os cientistas, matemáticos e programadores são capazes de construir modelos computacionais a partir das moléculas que formam as nuvens.

O mesmo não se aplica a economia, um campo onde é impossível capturar cada variável de mercado e até o Governo se mostra inepto para acertar na projeção de crescimento do PIB, o que dirá acertar em medidas mais refinadas.

Não é incomum os gurus econômicos falharem em prever uma recessão, até mesmo depois de ter começado.

É espantoso constatar que os bancos e as grandes empresas ainda se preocupam em manter economistas na folha de pagamentos. Todos estariam melhor se dessem emprego para a “Mãe-Diná”.

Existem acontecimentos que desafiam as previsões. Há coisas tão bizarras ou improváveis que para a maioria das pessoas, em dado momento, podem simplesmente parecer inconcebíveis.

Pense no tsunami da Indonésia, no acidente de Fukushima no Japão, no ataque as torres gêmeas em Nova York - EUA, na tromba d’água em Teresópolis ou em uma “presidenta” mulher no Brasil.

Apesar disso, de alguma maneira, todos esses eventos seriam possíveis de prever se as pessoas fossem capazes de separar o importante do trivial, ou seja, se conseguissem distinguir o barulho do sinal, dando o gigantesco salto de fé que converte o improvável no possível.

Nossa vida inteira gira hoje em torno de previsões. O Governo projeta a inflação, a taxa de crescimento do PIB, a safra de grãos do ano que vem e a taxa de natalidade.

Os sites de Internet tentam antecipar que produtos as pessoas pesquisarão e comprarão, as empresas de petróleo buscam os melhores terrenos para prospectar, as cias farmacêuticas procuram mensurar a eficácia das moléculas na cura de doenças, enquanto um monte de incautos tenta acertar os números da mega-sena da virada.

Nós mesmos ocupamos nosso tempo com projeções pessoais. Quanto tempo vou levar para chegar no trabalho amanhã? Quando o perú de Natal vai demorar para assar? Qual será o retorno do fundo de investimentos atrelado à inflação? Quanto será que vai aumentar meu salário se eu fizer um MBA?

Algumas dessas projeções são surpreendentemente precisas enquanto outras acabam se mostrando um fracasso retumbante.

As tábuas atuariais surgiram há muito mais de um século, quando a tecnologia e seus impactos sobre o limite da vida humana eram simplesmente impensáveis.

Continuamos projetando a sobrevivência humana a partir de bases de dados e com os mesmos conceitos daquela época.

Estamos aplicando a mesma solução para um problema que mudou. Está faltando casar os dados com uma pitada de juízo humano!

Será que ainda não deu para perceber, num mundo em que se vive além dos 100 anos e a longevidade continua a aumentar a passos largos, que os modelos atuais de previdência social e complementar simplesmente não serão capazes de levar as pessoas a acumular o suficiente para uma aposentadoria tranquila?

Está na hora de um freio para arrumação...



Grande abraço,
Eder.


Fonte: Adaptado do artigo “Are We All Being Fooled by Big Data?” escrito por Michael Moritz. Crédito de Imagem: www.media.licdn.com

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