sábado, 5 de abril de 2014

Educação Financeira e Previdenciária: Como chegamos até aqui e para onde vamos agora

De Sao Paulo, SP.


Para a maioria das pessoas, todo o alvoroço em torno da Educação Financeira e Previdenciária no Brasil parece ter surgido do nada.
Apesar da origem desse movimento nunca ter sido explicada oficialmente nas terras abaixo da linha do Equador, não seria correto supor que a razão principal foi a “Marolinha” que chegou às praias Brasileiras depois do “Tsunami” de 2008 na economia mundial.
Apenas por diversão, decidi investigar esse assunto buscando a incidência de dois termos chave nos livros escritos desde o ano de 1800.
O resultado você poderá ver no gráfico que aparece mais abaixo. Mas antes que você vá direto para o gráfico, deixe-me explicar como chegamos a um ponto na história em que é mais importante do que nunca para as crianças aprenderem sobre dinheiro em casa e na escola.
O conceito de Alfabetização Financeira (“Financial Literacy” em inglês) surgiu nos EUA há 15 anos. Foi cunhado em meados dos anos 90, numa época em que apesar da economia robusta e dos orçamentos governamentais saudáveis e superavitários por lá, as falências pessoais estavam batendo recordes quase todo ano (sim, lá as pessoas podem pedir falência!).
Então, um grupo de economistas se reuniu em Washington DC - EUA para analisar essa realidade desconcertante e concluiu basicamente que enquanto sociedade, os americanos haviam chegado num determinado ponto de inflexão, sem que a maioria se desse por conta.
O grupo descobriu que a segurança financeira de longo prazo para a maioria dos americanos dependia primariamente das decisões pessoais que o indivíduo tomava sobre coisas como poupar, gastar e pegar emprestado (crédito).
Benefícios institucionais como Previdência Social, Previdência Complementar e Saúde Pública, que ampararam a população por gerações, eram menos importantes e estavam em declínio.
Os planos de previdência tradicionais (benefício definido) e a Previdência Social estavam sendo substituídos por produtos de cunho mais financeiro como planos de contribuição definida.
Com essas mudanças, a responsabilidade pelas decisões estava sendo transferida para o individuo que passou a assumir o ônus de suas escolhas como poupar ou em qual fundo/perfil de investimentos colocar seu dinheiro.
Lá pelo meio da década de 90 as economias dos americanos tinham se desintegrado a ponto deles começarem a reconhecer que a responsabilidade pessoal era a nova chave para um futuro seguro.
Foi então que se deram conta de que a maioria das pessoas não estava preparada para essa nova tarefa e a grande evidência eram as altas taxas de falências e concordatas em uma época de oportunidades abundantes.
A reunião do grupo de Washington determinou que a alfabetização financeira para toda a população deveria ser uma prioridade nacional. Aquele grupo formou o núcleo das iniciativas de educação financeira que mais tarde foram ampliadas e hoje se encontram a pleno vapor.
No Brasil, podemos fazer um paralelo com a estabilização econômica que se iniciou naquele exato período, isto é, na mesma década de 90.
A responsabilidade pela segurança financeira no futuro também girou para o individuo aqui no Brasil e basicamente pelos mesmos motivos que nos EUA.
Não obstante, o Brasileiro possui desafios ainda maiores que os americanos já que vem de uma época em que apanhar um táxi era mais barato do que pegar um ônibus porque a inflação era tão alta que tornava mais vantajoso pagar no final do trajeto (no caso do taxi) do que no inicio (no caso do ônibus).
Acostumadas com uma economia indexada, muitas pessoas por aqui até hoje acham que os preços de alugueis, salários etc. tem que ser ajustados anualmente pela inflação... ou pior, acham que a correção monetária pela inflação é algo garantido por Deus!
O Brasileiro agora precisa aprender a se planejar para o futuro, precisa aprender isso rapidamente porque a responsabilidade passou a ser de cada um e o governo não vai mais poder ajudar como antes.
Chega a ser um contra senso termos programas sociais, como o bolsa família, sem que venham acompanhados de iniciativas de educação financeira voltadas para a realidade desses nossos conterrâneos menos favorecidos. Mas essa é outra história....
Voltemos ao gráfico que mostra na linha vermelha o declínio da proteção dada pelo governo (“social security”, que em Inglês significa “segurança social”) e na linha azul a ascensão da responsabilidade pessoal (“on your own”, que em Inglês significa “por conta própria”).
Esse gráfico foi feito com ajuda da ferramenta “Google Ngrams” que digitalizou mais de 5,2 milhões de livros publicados desde 1500.

Perceba que o termo “por conta própria” / "on your own" (linha azul) começa a aparecer bastante nos livros por volta da década de 1980, uma época de alta inflação e malsucedidos planos econômicos aqui no Brasil.
Foram tempos em que a mídia publicou muitos artigos sobre as dificuldades das contas do governo e as pessoas começaram, então, a sentir o peso da responsabilidade pela gestão de suas finanças pessoais. A previdência complementar regulamentada em 1977 ganhava força, colocando ainda mais ênfase nas decisões futuras do indivíduo.
A queda do teto dos benefícios pagos - reduzido de 20 salários mínimos para menos de 7 hoje - já dava os sinais de potenciais problemas futuros com o financiamento da previdência social... a ficha começava a cair: seu futuro vai depender de você!
A proteção social que teve seu ápice com a criação da legislação trabalhista e da própria previdência social aparece nos livros nos anos 30 (linha vermelha) de forma crescente.
O cruzamento das linhas acontece em 1999 marcando na história o declínio da proteção social em detrimento do indivíduo e deixando inequívoca a nova era em que o individuo é que responde pelo seu futuro.
Conforme escreveu Dan Kadle em janeiro de 2002 em reportagem de capa da Revista Time: “You’re On Your Own, Baby!” (Você Está Por Conta Própria, Querido!).
A era da responsabilidade individual não vai embora. Vai acompanhar nossos filhos ao longo de suas vidas.
Se eles realmente vão estar por conta própria, não temos que dar a eles uma educação que os permita gerenciar suas questões financeiras sozinhos?
Sim, temos! A educação financeira e previdenciária ainda tem um longo caminho pela frente.
Viva o Visão Educa! Visão Educa e o programa de educação financeira e previdenciaria da Visão Prev, o fundo de pensão do Grupo Telefoncia-Vivo no Brasil.

Grande abraço,
Eder

Fonte: Adaptado do artigo “Financial Education: How We Got Here and Where We are Going”, escrito por Dan Kadle para Money Watch da CBS
Crédito de Imagem: www.pf101.org

Um comentário:

Guilherme Gazzoni disse...

Muito bom Eder! Fiquei um tempo sem ler o blog, na correria de ultimamente, e ainda não tinha lido seu post sobre Educação. Gostei bastante do raciocínio. Há de fato um nexo causal na origem de grande parte das mudanças, e neste caso não parece ser diferente. Por mais que trabalhemos de maneira próativa e prospectiva com o tema da educação financeira / previdenciária, parece que é a efetiva necessidade que vai ditar o ritmo. Parabéns pelo material e fico na torcida pelo próximo artigo!

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