domingo, 28 de abril de 2019

Porque ajustamos a resposta para se encaixar naquilo que buscamos: pense que precisa poupar mais para aposentadoria


De São Paulo, SP

Sob diversos aspectos a vida hoje é muito melhor do que era um século atrás, a humanidade tem evoluído dramaticamente
Vivemos com boa saúde até idades mais avançadas, há menos pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza e graças à saúde pública quase não morremos mais de doenças infectocontagiosas
Claro que ainda existem inúmeros problemas a resolver e precisamos melhorar cada vez mais em áreas em que já avançamos bastante.
A maioria das pessoas, porém, discute e argumenta com uma visão negativa da vida, como se o mundo fosse terminar amanhã. Não parecemos felizes nesse mundo de relativa abundância.
As preocupações atuais recaem sob o fim da vida na terra por causa das mudanças climáticas, os robôs tomando conta dos nossos empregos e nossa incapacidade de acompanhar o ritmo das novas tecnologias.
Um grupo de cientistas pode ter encontrado uma explicação para essa visão negativa que muitos carregam das coisas à sua volta.

Eles chamaram isso de “mudança conceitual induzida-pela-prevalência”.

“Quando parte de um conceito se torna menos prevalente, o conceito pode se expandir para que inclua outras partes, que anteriormente excluía, mascarando assim a magnitude de seu próprio declínio”.

Explicando: quando estamos procurando algo, por exemplo, um mal comportamento e aquilo que consideramos mal comportamento diminui, nós expandimos nosso conceito para incluir o que antes quase não considerávamos mal comportamento. Ou seja, expandimos a régua daquilo que classificamos como “mal”.

Os pesquisadores realizaram vários testes, nos quais os participantes tinham que classificar o que consideravam pontos de cor azul dentre uma série de pontos cuja cor variava do tom “muito azul” para “muito roxo”.

Depois de algumas rodadas do experimento, os cientistas reduziram a quantidade de pontos de tonalidade azul e os participantes reagiram selecionando como pontos azuis aqueles que antes consideravam roxo – a definição da categoria “azul” se expandia na medida que diminuía a quantidade de pontos azuis na amostra.

Em outro teste, os pesquisadores se depararam com efeito semelhante quando os participantes tiveram que identificar rostos agressivos de um grupo de faces humanas que variavam de “muito agressiva” para “não muito agressiva”. O mesmo foi verificado, ainda, em uma bateria de testes separando propostas de pesquisas consideradas antiéticas de propostas de pesquisas éticas.

No teste dos pontos azuis, quando aumentou o número de pontos azuis ao invés de diminuir, o resultado foi o inverso – pontos que anteriormente foram considerados azuis, repentinamente passaram a ser desconsiderados.

O mais impressionante é que esse efeito continuou acontecendo mesmo quando as pessoas foram alertadas que estavam agindo assim e mesmo quando as pessoas foram pagas para não cair nessa armadilha.

Esses experimentos parecem provar que somos incapazes de adotar conceitos rígidos e somos suscetíveis a idas e vindas.

No entanto, deve ser notado que esse efeito ocorre quando as pessoas estão procurando por partes de um conceito – a categoria azul se expandiu quando as pessoas procuravam pontos azuis, faces neutras se tornaram ameaçadoras quando a missão das pessoas era procurar rostos ameaçadores.

Em circunstancias normais, nas quais as pessoas não estão procurando ativamente rotular certas coisas, elas não são suscetíveis às mesmas mudanças de conceito.

Se eu permanecer indiferente a atos de agressão ou de gentileza dirigidos à mim, ainda que mude a frequência de qualquer desses dois atos, será mais provável que eu reconheça essa mudança ou eu tenderei a mudar minha definição?

Será que algum dia vou considerar um sorriso amistoso como um ato de agressão? É bem provável que exista um limite para o alcance dessa mudança de conceito

Talvez alguns pontos roxos se tornem azuis, mas será que jamais vamos rotular um ponto vermelho como sendo azul? Claramente existe um limite para as categorias que se expandem. Eu pelo menos espero que exista, porque sempre há um monte de pessoas procurando o que quer que “mal” signifique para elas.

“Quando bananas amarelas se tornam menos prevalentes, o conceito de ‘maduras’ de um consumidor se expande e passa a incluir as bananas pintadas (passando do ponto de maduras), mas quando crimes violentos se tornam menos comuns, o conceito que um policial tem de ‘agressão’ não se expande para incluir atravessar a rua fora da faixa”.

Ainda que o mundo esteja se tornando melhor, parece que não somos tão inclinados a notar essa mudança. Quando os elementos negativos são reduzidos, tendemos a encontrar negatividade em elementos que antes não considerávamos negativos. Se estamos atentos às coisas boas e elas aumentam em quantidade, nossa definição do que é bom pode se reduzir para excluir exemplos do que anteriormente considerávamos bom.

Essa, claro, é a direção que gostaríamos de ver o mundo caminhar, mas seria legal se fossemos mais conscientes daquilo que já conseguimos realizar ao longo do caminho.

Então, vamos tratar como exceção a poupança para a aposentadoria, poupar nunca vai ser demais, continue poupando!


Grande abraço,
Eder.


Fonte: Adaptado do artigo “The Psychology of Finding What You’re Looking For”, escrito por Sam Brinson.

Crédito de Imagem: https://www.coloradomesa.edu/social-behavioral-sciences/degrees/psychology/index.html


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