quarta-feira, 6 de maio de 2020

UM PEQUENO VIRUS PARA O HOMEM, UM GRANDE PASSO PARA O MUNDO DO TRABALHO!





De São Paulo, SP

A pandemia causada pelo vírus Sars-CoV-2, em poucas semanas desencadeou uma guinada radical no mundo corporativo ao acelerar tendências de trabalho remoto, novos layouts de escritório e um equilíbrio diferente entre vida pessoal e profissional.

"O trabalho remoto pulou de uma discussão no nível do RH para o nível da presidência”, afirma Prithwiraj Choudhury - Professor da Harvard Business School.

Antes da pandemia menos de 4% dos trabalhadores faziam home-office em tempo integral nos EUA. De acordo com o Brookings Institute (um think-thank baseado em Washington D.C.). Esse número pulou para mais de 50% em toda a força de trabalho e perto de 70% nos níveis salariais mais altos, aquela turma que senta em estações de trabalho.

"Há o efeito demonstração produzido por essa crise, mostrando que o trabalho pode ser feito de casa”, diz Isabel Sawhill do Brookings. Quando a pandemia passar, muitos desses empregados seguirão em trabalho remoto ao invés de voltar aos escritórios.

Se a moda pegar, um monte de gente deixará de frequentar as áreas urbanas onde as empresas se concentram. Isso marcará o começo da reversão de uma tendência secular de urbanização e concentração nos grandes centros.

Os escritórios para aqueles que eventualmente voltarem, não se parecerão em nada com aqueles que deixaram em março passado, muitos ironicamente recém remodelados ao custo de milhões, para dar lugar ao questionado modismo do “open office”.

Salas de reunião pequenas e apertadas como as que tive chance de usar na última empresa em que trabalhei, deverão ser remodeladas para espalhar mais as pessoas por causa do distanciamento social. Pequenas reformas em casa, fazendo a alegria de arquitetos e da indústria de obras, entrarão no orçamento doméstico e quem sabe, com incentivo fiscal.

Uma outra face dessa moeda pode ser o aumento da terceirização e a diminuição da quantidade de empregados com contrato permanente e registrados na folha de pagamentos. “Se um trabalho pode ser feito remotamente nos EUA (ou no Brasil), também pode ser feito na índia ou na China”, pondera Isabel.

Eu complemento adicionando: se flexibilizar o local de trabalho pode trazer vantagens para as empresas, o passo seguinte vai ser questionar porque não flexibilizar também o tipo de contrato de trabalho?

Ainda é cedo para dizer qual a extensão do impacto do coronavirus no futuro do trabalho, mas as mudanças imediatas têm impactado desde a forma que conduzimos reuniões, passando pela hora que almoçamos e tomamos cafezinho e até na convivência com filhos e cônjuges.

Nem tudo são flores I – Problemas do home-office

Um estudo publicado em 2014 pela Universidade de Oxford fornece algumas pistas sobre o tipo de problema que surge com o trabalho remoto. A experiência foi conduzida com 249 voluntários que trabalhavam no call center de uma agência de viagens e expressaram a vontade de trabalhar de casa.

Um sorteio separou os 249 empregados em dois grupos. No Grupo 1: os empregados foram mandados para “home-office” e no Grupo 2 (o grupo de controle): os empregados permaneceram trabalhando no escritório. Durante nove meses, ao longo dos quais não era permitido mudar de grupo, a produtividade foi medida.

O resultado mostrou que o Grupo 1 conseguiu atender 3,3% mais ligações por minuto e o dia de trabalho deles foi 10% mais produtivo porque faziam menos intervalos para descanso.

Mas a coisa ficou interessante mesmo no final do experimento.

Foi quando a empresa perguntou, então, para os dois grupos quem queria trabalhar em casa. Cerca de 50% dos empregados do Grupo 1 que estavam em home-office escolheram voltar imediatamente a trabalhar no escritório e apenas 35% do Grupo 2, o grupo de controle que permaneceu no escritório, optou por ir para home-office.

Tem mais. Os pesquisadores também pesquisaram o nível de bem-estar e satisfação dos empregados que trabalharam em home-office. Apesar da solidão, eles tinham baixos níveis de cansaço e a taxa de atrito com clientes foi metade daquela observada no grupo de controle.

No estudo de Oxford o grupo que ficou trabalhando em casa tinha um tempo médio de deslocamento diário para o trabalho de 80 minutos e mesmo assim metade deles quiseram voltar a trabalhar no escritório. O isolamento para eles pesava mais do que tudo.

Trabalhar em casa pode ser mais produtivo que trabalhar no escritório, mas por várias razões as pessoas não gostam tanto quanto pensam que gostariam. A principal delas é a falta de convivência com os colegas. Somos seres sociais e fomos biologicamente programados para viver em grupo visando aumentar nossas chances de sobrevivência. Gostamos da presença e do toque humano, escrevi ontem sobre isso (artigo: aqui).

Nem tudo são flores II – Problemas das reuniões virtuais

Mesmo quando terminamos uma ótima reunião virtual por vídeo conferência, nos sentimos cansados, como se nossa energia tivesse sido drenada. Conforme explica Gianpiero Petriglieri, Professor de Administração no Ensead, isso se deve a um efeito psicológico conhecido por “Negação da Verossimilhança” ou “Negação do Plausível” (do inglês, plausible deniability).

"Nossa mente é enganada com a ideia de estarmos presentes enquanto nosso corpo sente que não estamos, isso cria uma dissonância que é cansativa”, diz ele. Numa reunião presencial nossos sentidos estão constantemente processando o ambiente e o contexto ao redor, mas por vídeo é como se nosso cérebro estivesse com uma venda. Nossos sentidos tentam processar informações que simplesmente não estão presentes e nossa imaginação não é capaz de criar.

Há outras desvantagens como a autoconsciência de estar sendo filmado (pode ser amenizada: assim), a distração criada por enxergar sua própria imagem constantemente na tela (também pode ser amenizada: dessa forma) e a falta de conexão e de sinais que normalmente recebemos com apertos de mão ou com a vista panorâmica de uma sala de reuniões do conselho localizada no últimos andar de um prédio. 

Inovações e soluções para o novo normal

"Já existem startups oferecendo aplicativos para detecção de emoções e softwares analíticos para medir padrões de fala e de sinais que permitam inferir os níveis de atenção e engajamento”, ensina Steve Blanck em seu blog.

Podemos esperar a incorporação desses apps nas novas gerações de ferramentas de vídeo conferência. Sinceramente, não sei se isso é assustador ou inovador. 

Ao mesmo tempo, algumas empresas vêm criado novos meios para amenizar o desconforto e o cansaço do trabalho remoto como a contratação de DJs para festas virtuais e personal trainers para grupos de malhação igualmente virtuais.

Outras estão oferecendo professores para ajudar os filhos dos empregados com o dever de casa. Cerca de metade das empresas está oferecendo reembolso para amenizar os custos dos empregados com o trabalho remoto, como a compra de maior velocidade de Internet ou novos monitores.

Houve até um aumento na oferta de telemedicina nos planos de saúde corporativos, uma prática de 72% das empresas em 2019 que já passou para 86% em 2020.

Por outro lado, há sinais de alerta sendo dados. Em uma pesquisa da Quartz com seus leitores nessa semana, mais de 40% deles disseram estar considerando uma guinada em sua carreira e que este é o momento perfeito para fazê-lo (gráfico abaixo).



Enfim, as mudanças virão, mas com elas virão também novos desafios para empresas e empregados.

Grande abraço,
Eder.


Fonte: Adaptado do artigo “Do People Actually Like Working From Home?”, escrito por Allen Gannett e da edição semanal do “Quartz at Work”, escrito por Heather Landy e Holly Ojalvo.


Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Cuidados na Portabilidade

Hora no Mundo?

--------------------------------------------------------------------------

Direitos autorais das informações deste blog

Licença Creative Commons
A obra Blog do Eder de Eder Carvalhaes da Costa e Silva foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição - Uso Não-Comercial - Obras Derivadas Proibidas 3.0 Não Adaptada.
Com base na obra disponível em nkl2.blogspot.com.
Podem estar disponíveis permissões adicionais ao âmbito desta licença em http://nkl2.blogspot.com/.

Autorizações


As informações publicadas nesse blog estão acessíveis a qualquer usuário, mas não podem ser copiadas, baixadas ou reutilizadas para uso comercial. O uso, reprodução, modificação, distribuição, transmissão, exibição ou mera referência às informações aqui apresentadas para uso não-comercial, porém, sem a devida remissão à fonte e ao autor são proibidos e sujeitas as penalidades legais cabíveis. Autorizações para distribuição dessas informações poderão ser obtidas através de mensagem enviada para "eder@nkl2.com.br".



Código de Conduta

Com relação aos artigos (posts) do blog:
1. O espaço do blog é um espaço aberto a diálogos honestos
2. Artigos poderão ser corrigidos e a correção será marcada de maneira explícita
3. Não se discutirão finanças empresariais, segredos industriais, condições contratuais com parceiros, clientes ou fornecedores
4. Toda informação proveniente de terceiros será fornecida sem infração de direitos autorais e citando as fontes
5. Artigos e respostas deverão ser escritos de maneira respeitosa e cordial

Com relação aos comentários:
1. Comentários serão revisados depois de publicados - moderação a posteriori - no mais curto prazo possível
2. Conflitos de interese devem ser explicitados
3. Comentários devem ser escritos de maneira respeitosa e cordial. Não serão aceitos comentários que sejam spam, não apropriados ao contexto da dicussão, difamatórios, obscenos ou com qualquer violação dos termos de uso do blog
4. Críticas construtivas são bem vindas.




KISSMETRICS

 
Licença Creative Commons
This work is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Vedada a criação de obras derivadas 3.0 Brasil License.