domingo, 28 de fevereiro de 2021

Investimentos e poupança na era da “Revolução das Máquinas”


Credito de Imagem: https://www.ideals.news/

 

De São Paulo, SP.


Um sinal de que muitos pesquisadores, estudiosos e jornalistas ainda se prendem subconscientemente ao passado é o uso de uma terminologia que marcou toda a história humana recente, mas que já não reflete nem sinaliza a reviravolta que os humanos viverão nessa era que se inicia.

 

Muita gente usa o termo 4ª Revolução Industrial para se referir a esse novo tempo, como se fosse mera continuação dos anteriores, isso pode ser visto no vídeo abaixo, feito pela Sales Force (https://youtu.be/zgCPvwagEHg). 



Eu prefiro o termo
 1ª Revolução das Máquinas como marco temporal para essa era que se inicia. Uma era na qual os computadores sairão andando de nossas mesas e de nossos bolsos, ganharão movimento e “vida” independente. Será a revolução das revoluções, cujas mudanças realmente não têm precedentes e os impactos são imprevisíveis.

 

As mudanças que estão por vir irão muito além da transformação do mundo analógico em um mundo digital. Computadores e robôs oniscientes controlados por inteligência artificial e onipresentes por meio de uma Internet com alcance global, funcionando na velocidade da luz, não revolucionarão apenas as indústrias, os serviços e nossa economia. A revolução, dessa vez, será em nível global, amplo, geral e irrestrito.     

 

MillenialsGen Z e Gen Alfa ainda conseguirão enganar os robôs, mas até quando?

 

Millennials, também chamada de Geração Y, se refere aos nascidos após o início da década de 1980 até aproximadamente o final do Século XX. Essa geração desenvolveu-se numa época de grandes avanços tecnológicos, prosperidade econômica, facilidade material e ambiente altamente urbanizado, imediatamente após a instauração do domínio da virtualidade como sistema de interação social e midiática, e em parte, no nível das relações de trabalho (https://pt.wikipedia.org/wiki/Geração_Y). 

 

A Geração Z é a definição sociológica para as pessoas nascidas, em média, entre a segunda metade dos anos 1990 até o início da década de 2010. Se a Geração Y foi concebida na transição para o novo mundo tecnológico, a Geração Z foi a primeira verdadeiramente nascida neste meio, mesmo que no seu primórdio (https://pt.wikipedia.org/wiki/Geração_Z).

 

Geração Alfa é o grupo demográfico que vem após a Geração Z. Pesquisadores e a mídia usam como marco para definir as pessoas dessa geração, o começo da década de 2010 e o meio da década de 2020. A Geração Alfa é a primeira a ter nascido integralmente no Século XXI (https://pt.wikipedia.org/wiki/Geração_Alfa).


Siga a multidão

 

Nos treinamentos que ministro para conselheiros de fundos de pensão eu costumo citar uma pesquisa feita em 2019 pela NACD – National Association of Corporate Directors (Associação Nacional de Conselheiros de Administração) mostrando, entre outras coisas, que as crises serão quase permanentes daqui pra frente:

 

65% dos CEOs disseram que suas empresas enfrentaram uma crise nos 3 anos anteriores à pesquisa e 75% esperavam enfrentar uma nos 3 anos seguintes.

 

Pois bem, esse começo de 2021 vai entrar para história, não pelo lado da crise planetária causada pela pandemia do Covid-19, um evento iniciado em 2020, mas sim por causa de uma crise causada no mercado de ações dos EUA e pelos seus desdobramentos.

 

Em janeiro passado um fórum chamado WallStreetBets (WSB) criado na plataforma de mídia social Reddit criou um fuzuê na bolsa de valores americana quando os participantes (hoje uns 4 milhões de pessoas) se uniram para comprar opções de ação da GameStop, uma velha empresa de jogos eletrônicos, influenciando o destino da companhia.

 

Se você, assim como eu, costuma ler diariamente as mensagens trocadas no Reddit, já percebeu que é difícil para um ser humano acompanhar a linguagem usada por aquela turma que frequenta a plataforma. Imagine, então, para as máquinas.

 

Depois do estrago que as transações causaram nas negociações do varejo, fundos de hedge inundaram a plataforma do Reddit com algoritmos cuja missão é tentar detectar o próximo movimento que será induzido no mercado de ações por uma geração cujo senso de proposito encontrou um novo caminho para se manifestar. 

 

O movimento dos “hedge funds” está mostrando a enorme dificuldade para os computadores extraírem dos message boards (quadros de mensagens) onde são trocadas conversas por “traders” amadores, dados que façam algum sentido no mundo real das operações profissionais de compra e venda de ações.  

 

Até mesmo para fazer coisas básicas, como identificar o nome das ações, um algo (gíria para algoritmo em ingles) precisa aprender como interpretar a linguagem dos Millennials, com seus memes e erros propositais de digitação. Isso apenas para começar.

 

Stefan Nann, CEO da Stockpulse, uma firma alemã sediada em Bonn que trabalha com analytics usando os robôs do Reddit, disse: “Não dá para usar o dicionário padrão com as palavras da língua inglesa. Precisamos ler os comentários e decidir se por trás deles há uma opinião positiva ou negativa – é assim que estamos treinando as máquinas”.

 

Não por acaso, no mundo da alternative data a chamada sentiment analysis virou o “rei da cocada preta” do momento. Uma pausa aqui, porque vale a pena você entender esses termos em inglês. 

 

Alternative data ou “dados alternativos”: (em finanças) são dados usados para se obter uma visão melhor (insight) sobre as oportunidades e servem de base para melhores decisões no processo de investimentos. Esses conjuntos de dados são geralmente usados por bancos, gestores de ativos, fundos de hedge e investidores institucionais. Reúnem informações publicadas sobre determinada empresa, por fontes externas (de fora da empresa) e podem fornecer uma visão única e tempestiva sobre oportunidades para investimentos. Os conjuntos de dados alternativos são categorizados como big data porque reúnem uma quantidade enorme de dados, cuja grande complexidade não permite manipulá-los com softwares tradicionais usados para tratamento e armazenamento de dados, tipo o MS-Excel. Em comparação aos dados tradicionais produzidos diretamente pela própria empresa, como apresentações feitas para potenciais investidores, informações submetidas a CVM e press releases publicadas na mídia, os dados alternativos são compilados de várias fontes diferentes como sensores, dispositivos moveis, satélites, registros públicos, Internet, transações financeiras etc. Os conjuntos de dados alternativos não estão prontamente acessíveis e são menos estruturados que os dados das fontes tradicionais. Muitos agregadores de dados e outros intermediários se especializaram ao longo da última década, em fornecer dados alternativos para analistas e investidores https://en.wikipedia.org/wiki/Alternative_data_(finance)

 

Sentiment Analysis, “análise de sentimento” ou “mineração de opinião”: é chamada por alguns de “Inteligência Artificial das Emoções” e se baseia na análise de textos, no processamento de linguagem natural, em linguística computacional e biometria para, sistematicamente, identificar, extrair, quantificar e estudar estados afetivos e informações subjetivas. Essa análise é amplamente feita revisando-se pesquisas de opinião do consumidor, reviews de clientes online, mídias sociais etc. Em um nível mais básico, a “análise de sentimento” procura classificar a polaridade expressa em um texto, seja em uma simples sentença ou no documento como um todo, identificando se a opinião é positiva, negativa ou neutra. Classificações mais avançadas vão além da polaridade de sentimento analisando, por exemplo, estados emocionais como contentamento, raiva, desgosto, tristeza, medo e surpresa. https://en.wikipedia.org/wiki/Sentiment_analysis

 

Olhando em retrospectiva, pelo menos na teoria, seguir a multidão teria resultado em lucros astronômicos.

 

É assim que a coisa funciona

 


A Stockpulse, mencionada acima, é especializada na análise de sentimentos e detectou o primeiro burburinho em torno das ações da GameStop no Reddit, no começo de dezembro/2020, um mês antes do preço das ações começar a subir (gráfico acima).


Funciona mais ou menos assim: um usuário do Reddit posta comentários indignados sobre o porquê de determinada empresa (ex. a BlackBerry Ltd.) estar valendo mais do que quatro vezes o preço de suas ações. Um algo treinado por uma empresa de analytics, tipo a MarketPsych, detecta o código da ação da BlackBerry (BB) no texto e varre o post a procura de sinais que indiquem o sentimento de compra ou venda da ação.

 

O algoritmo tenta, então, descobrir a intensidade desse sentimento a partir de pistas como emojis de alegria ou raiva, o uso de tempos verbais no futuro, palavras como “líder de mercado” e até mesmo palavrões. 

 

Esse processo é repetido com níveis de teste cada vez mais rígidos e vai fornecendo mais segurança à interpretação e conclusão.

 

Conforme explica o fundador da MarketPsych, um psiquiatra certificado para atuar como conselheiro de administração, a IA que processa linguagem natural não consegue interpretar posts nas mídias sociais de forma tão direta como os sinais sobre os resultados trimestrais, emitidos pelo executivo de uma empresa num call com analistas de mercado. 

 

Quando surge uma nova gíria, o dicionário das máquinas precisa ser atualizado pelos humanos. Fazer isso em nível mundial é ainda mais difícil. A MaketPsych demorou certo tempo para descobrir o quê diferentes emojis significam em culturas diferentes e saber que os ingleses são bem mais sutis nos insultos que fazem ao falar mal da ação de determinada empresa. Os desafios são vários, por exemplo, o computador precisa saber diferenciar o termo “hold” (segurar em inglês) de “HOLD” que é o símbolo de um ETF na bolsa de Nova York formado pelos mesmos caracteres da palavra.

 

O que vem pela frente

 

Fóruns de discussões como o do Reddit ,Tweeter e outras mídias sociais influenciando a compra de ações no varejo não tem um track record (histórico) longo e consistente na seleção de ações, como aqueles usados atualmente por analistas quantitativos. 

 

Além disso, não existe uma simples correlação linear entre o sentimento das pessoas e o retorno das ações, de modo que muita pesquisa e filtragem ainda precisarão ser feitas para tornar uteis os dados monitorados na Internet e suas mídias sociais.  

 

Por outro lado, o exército do varejo mostrou em janeiro passado o tamanho do dano que pode causar quando se concentra em empresas que odeia para prejudicar operadores de ação que trabalham a descoberto, que no vernáculo da turma do Reddit são chamados de “shorties”.

 

Acrescente nessa equação os participantes de planos CD e as escolhas que podem fazer periodicamente de perfis de investimentos. O segmento dos fundos de pensão vem, historicamente, individualizando cada vez o risco e o retorno das escolhas pessoais no retorno dos investimentos de seus participantes. Para o bem e para o mal, as mídias sociais estão por ai, a disposição de todos e deles também. 

 

Saber para onde o dinheiro do varejo está se deslocando e em qual empresa o dinheiro da multidão vai pousar, em tese, pode ser lucrativo. 

 

Os indivíduos são responsáveis hoje por 25% do volume de negociações de ações nos EUA. Esse número vai aumentar, não apenas por lá, mas no mundo todo, quando incluirmos nessa conta as negociações de cryptomoedas. 

 

Na medida em que papel dos indivíduos for ganhando relevância nos mercados de ações e de cryprtativos, os robôs também ganharão experiência. 

 

Até o dia em que a linguagem dos indivíduos será irrelevante para determinar o futuro do mercado de ações ... não apenas dele.

 

Grande abraço,

Eder.

 


Fonte: "Wall Street robots are taking on the confusing world of Reddit", escrito por Stefan Nann.


quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

MUDANDO DE “POR QUE BITCOIN?” PARA “PORQUE NÃO BITCOIN?”

 



De São Paulo, SP.

Michael Moro – CEO da Genesis, falando hoje no painel “Prime Brokerage and the Rise of Institutional Validation” no “Bloomberg Crypto Summit” comentou sobre a mudança na visão de investidores institucionais, como fundos de pensão, sobre o Bitcoin (BTC).

Antes visto como “coisa daquela turma do Vale do Silício” e investimento de fundos de venture capital, que aplicam em ativos que podem render “muito dinheiro” ou ir a “zero” e perder tudo, o BTC começa a ser visto na tesouraria de empresas como Microstrategy e Tesla (mantem 8% de suas reservas em BTC) e a ser considerado como negócio por grandes bancos custodiantes, tipo o BNY Mellon.

LIÇÃO: O interesse dos investidores institucionais pelas cryptomoedas está aumentado. O conselho do seu fundo de pensão está acompanhando a passagem dessa carruagem?


Grande abraço,

Eder.



A CRYPTOECONOMIA ESTÁ CHEGANDO

 


De São Paulo, SP.


Glenn Hutchins - Chairman da North Island Ventures e Co-Foundador da Silver Lake – falando hoje no painel “Taking The Temperature” do "Bloomberg Crypto Summit", fez um comentário que reflete bem o impacto que as finanças descentralizadas (DeFi) e as cryptomoedas causarão no sistema financeiro tradicional. 


Ele comentou que as administradoras de cartões e os grandes bancos cobram hoje taxas e comissões exorbitantes na concessão de empréstimos, transferências internacionais de dinheiro, manutenção de contas correntes e demais operações financeiras. Os ganhos sobre capital e os lucros dessa turma vem daí e o consumidor não tem como fugir desse monopólio.


O consumidor começa a enxergar na cryptoeconomia um meio de contornar esse problema e pagar menos por todas essas operações. O outro lado da moeda? Bancos de administradoras de cartões perderão um grande quinhão da receita atual. 


LIÇÃO: Onde uns enxergam barreiras e obstáculos, outros enxergam oportunidades e inovações. De que lado está o conselho do seu fundo de pensão?


Grande abraço,

Eder.



TE CONTEI? A “NEURODIVERSIDADE” ENTROU NO DEBATE DE INCLUSÃO NOS CONSELHOS DOS FUNDOS DE PENSÃO

 


Credito de Imagem: Getty Images / Galerie Bilderwelt



De São Paulo, SP.


O QUE ESTÁ ACONTECENDO: 

De acordo com o Diretor de Política Regulatória, Análises e Orientações do órgão regulador dos fundos de pensão no Reino Unido, David Fairs, a “Neurodiversidade” é um fator chave para promover o debate de diversidade e inclusão na previdência complementar. “O que queremos em torno da mesa de reuniões do conselho não é todo mundo trazendo a mesma visão das coisas, mas sim pessoas que cheguem com diferentes perspectivas, desafiem e debatam as questões. 


POR QUE ISSO É IMPORTANTE: 

Concordo com o David Fairs. Nos treinamentos que faço com conselheiros de fundos de pensão eu insisto muito nesse ponto. O caminho para se melhorar o processo de tomada de decisões passa pelo debate e discussão dos assuntos a serem deliberados, isso requer pessoas que pensem de forma diferente, requer diversidade em todas as suas formas.


CONCLUSÃO: 

“Group Thinking” é um termo usado em inglês para dizer que todo mundo pensa da mesma forma, mas como dizia o General George Smith Patton Jr., que liderou as forças norte-americanas no Mediterrâneo e Europa durante a II Guerra Mundial: “Se todo mundo está pensando da mesma forma, então alguém não esta pensando”. 


Grande abraço,

Eder.


Fonte: TPR calls for neurodiversity to be promoted in D&I debate, escrito por Ruth Gillbe.


quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

ESTUDO SOBRE A TRANSMISSÃO DO SARS COV-2

 




De São Paulo, SP.


Artigo publicado na Revista NATURE mostra os padrões de transmissão do virus SARS COV-2 (figura acima).


Os pontos coloridos representam pessoas infectadas pelo virus na província Chinesa de Hunan e seus distritos (prefeituras com nível de cidades), no começo de 2020. Os pesquisadores construíram a cadeia de transmissão para 1.178 pessoas representadas pelas linhas que conectam os pontos.


A maioria dos indivíduos não infectou mais ninguém, mas 15% das pessoas foram responsáveis por 80% das infecções secundarias. Isso significa que os "superdisseminadores" foram responsáveis pela maior parte das transmissões do virus.


Esse pode ser o caminho para controlar o virus.


Grande abraço,

Eder.


Fonte: Superspreading drives COVID pandemic - and could help tase it, escrito por Diany Lewis.



TE CONTEI? ENTRE AS MAIORES PREOCUPAÇÕES FIDUCIÁRIAS DOS FUNDOS DE PENSÃO AMERICANOS PARA 2021 ESTÃO AS TAXAS DE ADMINISTRAÇÃO

 

 

De São Paulo, SP.


O QUE ESTÁ ACONTECENDO: 

A 14ª Pesquisa Anual da Callan, uma das maiores firmas de consultoria em investimentos nos EUA, mostrou que pelo menos 71% das patrocinadoras pretende fazer estudo das taxas de administração esse ano (em 2020 eram pouco mais de 50%). As patrocinadoras de planos CD citaram governança e processos como prioridades, com aumento significativo da presença de pessoal do jurídico interno nas reuniões de seus comitês: 56% em 2020 contra 11% há três anos, além do aumento de 20% na quantidade geral de reuniões de comitês.

 

POR QUE ISSO É IMPORTANTE: 

O cenário econômico, com quedas brutais das taxas de juros, impõe mesmo a necessidade de revisar o custo de administração dos planos, incluindo as taxas de administração de contas dos planos CD, as taxas de gestão dos investimentos e as receitas indiretas dos prestadores de serviço.  

 

CONCLUSÃO: 

Os conselhos deliberativo e fiscal do seu fundo de pensão estão atentos a essas questões? 


Grande abraço,

Eder.



Fonte: Fees, governance top concern for DC plan sponsors, escrito por Danielle Andrus



terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Transformação digital não tem a menor importância como diferencial estratégico para seu fundo de pensão

 


De São Paulo, SP.


Trinta e dois anos atrás, a maioria dos conselheiros e diretores dos fundos de pensão enxergava os computadores como ferramentas relegadas aos empregados de níveis inferiores. Analistas, técnicos e até secretárias eram glorificados com seus desktops como meios para tornar mais rápido cálculos, digitação e manipulação de dados e informações.

 

Ainda lembro bem a competição para ficar com o primeiro PC, doado pela Itautec em 1989 para o fundo de pensão onde eu trabalhava, como reciprocidade pela gestão dos investimentos que fazíamos junto ao Banco Itaú. Tanto a área de seguridade, que eu gerenciava, como a área de saúde, gerenciada por um colega, queriam o computador.

 

Acabei propondo que dividíssemos o tempo de uso do PC entre as duas áreas, com o beneplácito do diretor superintendente que assistia a “briga” de longe, sem o menor interesse no equipamento. 

 

Raro era o diretor presidente de um fundo de pensão, naquela época, que deixava seus dedos tocarem o teclado de um computador, quanto mais pensar na nova tecnologia como estratégia de negócio. 

 

Hoje a história é completamente diferente. CEOs de fundos de pensão discutem rotineiramente com seus conselhos deliberativos, formas de usar a tecnologia digital como diferencial e como vantagem competitiva.

 

É uma premissa razoável e até intuitiva, pensar no valor estratégico que a transformação digital pode ter na evolução do modelo de negócios da previdência complementar ou de qualquer outro segmento.

 

Mas isso é um erro. O que faz um recurso ser estratégico, que o torna a verdadeira sustentação de uma vantagem competitiva, não é sua disseminação, mas sua escassez. Você só ganha a dianteira sobre seus rivais se você fizer algo que eles não possam fazer ou tiver algo que eles não tenham.  

 

No ponto em que estamos atualmente os meios para se fazer a transformação digital – tipo: big data, IA, processamento e armazenamento em nuvem, IoT, dispositivos moveis - estão disponíveis e ao alcance de todos.

 

O alcance e a disseminação das tecnologias por trás da transformação digital estão fazendo com que ela deixe de ser um recurso potencialmente estratégico para ser uma commodity na produção de bens e serviços. A transformação digital está se tornando o custo que precisa ser pago por todos que quiserem continuar a fazer negócios, sem que isso torne qualquer player distinto em relação aos demais.  

 

A transformação digital é a face mais nova de uma serie de tecnologias amplamente adotadas na reformulação da economia ao longo dos últimos duzentos anos. Só que dessa vez, diferentemente das anteriores, elas estão disponíveis e ao alcance de todos quase que imediatamente após terem surgido.

 

Por um curto período de tempo, a máquina a vapor, a estrada de ferro, o telégrafo, o telefone, a eletricidade, o motor a combustão, a Internet e todas as novas tecnologias, geraram oportunidades, abriram caminhos e deram uma vantagem competitiva na infraestrutura e no comercio para empresas com visão de futuro. 

 

Na medida em que sua disponibilidade e acesso foram aumentando e seus custos foram diminuindo, essas tecnologias foram se tornando commodities. Sob o ponto de vista estratégico, elas se tornaram invisíveis, deixaram de fazer diferença. 

 

Isso é exatamente o que está acontecendo hoje com as tecnologias por trás da transformação digital e suas implicações para diversos segmentos de negócio, incluindo aí os fundos de pensão.

 

Diferencial efêmero e comoditização da tecnologia

 



Tecnologias proprietárias, com acesso restrito, até podem criar um diferencial competitivo por determinado tempo. Uma farmacêutica que cria uma droga inovadora ou uma indústria que desenvolve um processo difícil para os competidores replicarem, vão auferir lucros maiores do que seus rivais por um tempo mais longo.

 

Tecnologias “infraestruturais”, em contraste, possuem mais valor quando partilhadas do que quando adotadas individualmente. Pense na estrada de ferro, na energia elétrica, no celular ou na Internet. As características e a economia das tecnologias infraestruturais tornam inevitável que, com o tempo, venham a ser amplamente compartilhadas e se tornem parte da infraestrutura geral dos negócios.

 

No início, as tecnologias infraestruturais podem assumir a forma de tecnologias proprietárias, quando o acesso a elas é igualmente restrito. No entanto, a armadilha que pega os executivos é assumir, quaisquer que sejam as tecnologias (proprietária ou infraestrutural), que a vantagem e as oportunidades delas decorrentes estarão disponíveis indefinidamente.   

 

Ou seja, o potencial de uma tecnologia para diferenciar determinada empresa das demais – o poder estratégico – inexoravelmente declina na medida que ela se torna acessível e barata. Esse tempo de diferenciação vem encurtando ao longo da história e tendendo a zero.

 

A chegada da Internet acelerou ainda mais o processo de comoditização da TI ao fornecer um canal perfeito para entrega de aplicativos genéricos. 

 

Para quê desenvolver seu próprio aplicativo de reconhecimento facial, de IA ou de contabilidade de fundo de pensão, quando se pode comprar um software já pronto ou um aplicativo no estado da arte, por uma fração do preço de desenvolvimento?

 

Não apenas o software é replicável. Como muitas atividades e processos foram sendo embutidos nos softwares, estes também passaram a ser replicáveis. Quando um fundo de pensão compra um aplicativo genérico, também está comprando um processo genérico. Tanto a economia gerada como os benefícios da interoperacionalidade fazem com que valha a pena sacrificar a diferenciação, isso passa a ser inevitável.

 

Imagine um processo de prova anual de vida e residência feito através de dispositivos moveis, embutindo geolocalização, com reconhecimento biométrica e registro no blockchain. Você prefere desenvolver uma solução proprietária ou comprar um processo genérico disponível no mercado? 

 

Operar um fundo de pensão hoje pode ser feito simplesmente através da compra (com pagamento de honorários mensais) de softwares e serviços de terceiros, da mesma forma que se compra energia elétrica ou serviços de telecomunicação. Na medida que mais e mais fundos vão substituindo aplicativos customizados por soluções genéricas, as capacitações de TI e a transformação digital vão se tornando cada vez mais homogêneas.

 

Quando Gordon Moore previu que a capacidade de processamento dos chips de computador dobraria a cada ano, ele estava indiretamente prevendo a queda livre no preço da funcionalidade dos computadores. O custo de processamento caiu de US$ 480 por milhão de instruções por segundo (MIPS-Million Instructions per Second) em 1978, para US$ 50 em 1985, para US$ 4 em 1995 e segue em queda livre e na velocidade da luz em áreas como transmissão e armazenamento de dados.

 

O rápido acesso e disseminação das tecnologias digitais não estão apenas democratizando o acesso à revolução das máquinas, estão destruindo uma das maiores barreiras à competição nos negócios até mesmo quando se trata das mais avançadas tecnologias.

 

O que os fundos de pensão deveriam fazer?

 

Quando um recurso se torna essencial para manutenção da competitividade, mas indiferente para o desenvolvimento da estratégia, os riscos que ele cria se tornam mais importantes do que as vantagens que ele proporciona.

 

A transformação digital representa vários riscos operacionais para um fundo de pensão, desde falhas nas tecnologias, obsolescência, interrupção na prestação de serviços, problemas com prestadores de serviços terceirizados até brechas na segurança.

 

Disrupturas nas soluções de TI podem paralisar um fundo de pensão ou uma empresa, impedindo-os de prestar seus serviços, produzir seus produtos ou se conectarem com seus participantes e clientes. Mesmo assim, poucos fizeram um trabalho profundo de identificação e prevenção de suas vulnerabilidades.

 

No longo prazo, porem, o maior risco que a TI representa para uma organização é mais prosaico do que as catástrofes. É simplesmente gastar demais com tecnologia e não ser capaz de separar o que é um investimento essencial do que é discricionário, desnecessário ou até contra-produtivo.

 

Estudos mostram, consistentemente, que grandes gastos corporativos com TI raramente se traduzem em resultados financeiros superiores, na verdade, geralmente o oposto é que é verdadeiro. Em 2022 uma firma de consultoria em tecnologia (Alineam) comparou os gastos de TI com os resultados financeiros de 7,5 mil grandes empresas americanas.

 

As que estavam no topo em performance eram as mais “munhecas”, ou seja, que menos gastavam. As 25 empresas com melhor desempenho econômico, gastavam em média 0,8% da receita em TI enquanto a média de gastos de todas as empresas era de 3,7%. 

 

A chave para o sucesso da maioria dos fundos de pensão, portanto, não é buscar agressivamente uma vantagem competitiva através das tecnologias digitais, mas sim gerenciar meticulosamente os custos e riscos das novas tecnologias.

 

Se o seu conselho deliberativo aprova gastos mais frugais com tecnologia, pensa de maneira mais pragmática sobre transformação digital e coloca maior ênfase nas estratégias em si mesmo, como meio para mudança do modelo de negócios da previdência complementar, seu fundo de pensão está na direção certa.

 

Grande abraço,

Eder.

 



Fonte: Esse texto foi adaptado do artigo "It Doesn't Matter", escrito por Nicholas G. Carr, publicado na Harward Business Review em 2003.

 


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