terça-feira, 10 de dezembro de 2024

QUEM TEM MEDO DO LOBO MAU? A POLÊMICA EM TORNO DA FISCALIZAÇĀO DE FUNDOS DE PENSĀO PELO TCU.




De Sāo Paulo, SP.


O filósofo Luiz Felipe Pondé e o psicólogo Ilan Brenman na obra “Quem Tem Medo do Lobo Mau?” discutem o impacto do politicamente correto na formação das crianças e – consequentemente – dos adultos que elas se tornarão.

Os dois mostram que a patrulha do pensamento leva à perda da capacidade de interpretar a vida, com seus símbolos e ironias.

A obra da dupla nos faz refletir e pensar que talvez o lobo mau não viva apenas nos contos de fada, mas esteja a nos espreitar na escola, na família, na política ... no TCU, enfim, na sociedade.

Enfrentar o lobo mau requer ser livre para pensar e se expressar, então, vamos lá.


A polêmica

O Tribunal de Contas da União - TCU tem hoje um papel indireto na fiscalização dos fundos de pensão, pois o controle é feito por meio das empresas estatais patrocinadoras. O TCU fiscaliza a legalidade, legitimidade e economicidade dos órgãos e entidades públicas. As empresas estatais. patrocinadoras de fundos de pensão do setor publico, são unidades jurisdicionadas do Tribunal.

A Lei Complementar nº 108/2001 estabelece que as empresas patrocinadoras são responsáveis pela fiscalização sistemática das atividades de seus fundos de pensão. A Resolução CGPAR 38/2022 determina que as empresas estatais federais devem solicitar auditorias periódicas sobre as Entidades Fechadas de Previdência Complementar – EFPC (como os fundos de pensāo sāo chamados na regulamentação).

O TCU já realizou fiscalizações sobre o dever de supervisão e fiscalização dos fundos de pensão patrocinados por empresas estatais e organizações do setor publico, com o objetivo de reduzir os riscos para a União. O TCU também já apontou irregularidades no controle da própria Superintendência de Previdência Complementar - PREVIC em relação às EFPC.

A polemica atual é se o TCU deve (ou nāo) fiscalizar diretamente os fundos de pensão do setor publico, atribuição hoje da PREVIC. Essa é a decisão que está em discussão nesse momento.

Argumentos a favor do TCU fiscalizar os fundos públicos

Segundo o portal G1, entre 2011 e 2017 o governo fez 10 intervenções em fundos de pensão (tabela abaixo).


Alguns fundos de pensão foram autuados mais de uma vez, como o Serpros, que representa os funcionários do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), empresa vinculada ao Ministério da Fazenda.

Também sofreram intervenção o Portus, patrocinado pela antiga Portobrás, o Silus, da estatal gaúcha Cesa e a Fundação CEEE, o maior fundo de pensão do Rio Grande do Sul, que reúne funcionários de empresas de energia elétrica.

Mas a maior intervenção até hoje foi no Postalis, o fundo de pensão dos funcionários dos Correios & Telégrafos, criado em 1981, que teve toda a diretoria afastada.

O escândalo do Postalis foi um dos maiores envolvendo fundos de pensão brasileiros e envolve uma série de irregularidades, entre elas: denúncias de fraudes em investimentos, feitos em desacordo com a política interna do Postalis, investimentos de alto risco sem justificativa, quebra do dever de diligência, entre outras.

O Postalis sofreu um rombo de cerca de R$ 15,2 bilhões, o que ameaçou a sua insolvência e deixou um rastro de destruição. Algumas das consequências do escândalo foram:

  • Descontos contínuos nos contracheques dos participantes.
  • Redução do décimo terceiro e da pensão por morte.
  • Extinção do pecúlio por morte.

Salta aos olhos que a maioria das intervenções aconteça em fundos de pensão do setor publico o que, indubitavelmente, reforça a tese daqueles que defendem a inclusão de mais uma camada de fiscalização, que seria exercida pelo TCU.

Argumentos contrários ao TCU fiscalizar os fundos públicos

Os argumentos dos que se opõe à fiscalização do TCU é que já existe um órgão federal, no caso a PREVIC, que exerce essa fiscalização.

Portanto, a inclusão de mais um órgão para fiscalizar os fundos de pensão do setor publico aumentaria o custo de administração e seria uma duplicidade desnecessária.

Há também quem alegue que o dinheiro colocado por empresas estatais e pela administração publica em seus fundos de pensão, deixa de ser $$$ publico assim que entra no plano de previdência complementar.

Ou seja, não caberia ao TCU fiscalizar um dinheiro que não é mais dinheiro publico.

Espremido na briga, o que realmente importa: o participante

A briga em relação à fiscalização direta (ou não) dos fundos de pensão públicos pelo TCU tem méritos de lado a lado.

No entanto, o que realmente importa e passa desapercebido pela sociedade é a defesa dos interesses dos participantes e o risco sistêmico, decorrentes da quebra ou intervenção do governo em um fundo de pensão – seja do setor publico ou privado.

Diferente do que acontece em países como os EUA, a legislação de previdência complementar brasileira não define de forma clara e inequívoca o ponto em que um fundo de pensão deve ser liquidado pelo governo quando faltam as condições de cumprir com seu objetivo: pagar os benefícios prometidos aos participantes.

Essa falta de clareza fez com que pilotos aposentados de Boeing 747 tivessem que passar a dirigir taxi especial no Rio de Janeiro, pois quando o Aerus – o fundo de pensão da antiga Varig – foi liquidado, já era tarde demais. O mesmo vale para a intervenção no Postalis, será que se tivesse acontecido antes, o prejuízo dos participantes teria sido menor?

Vamos combinar, para os mais de 130 mil participantes ativos e aposentados do Postalis e para os cerca de 15 mil do Aerus, que viram suas poupanças de uma vida toda ir pelo ralo, é irrelevante se a fiscalização cabe à PREVIC ou ao TCU.

Já passou da hora de incluirmos na legislação o ponto em que um fundo de pensão deve ser liquidado, para estancar as perdas para os participantes, quando as coisas dão errado.

Nos EUA, a legislação estabelece regras estritas para evitar insuficiência patrimonial e proteger os participantes, estabelecendo o que acontece quando o déficit do plano ultrapassa determinado patamar:

1. Taxa de cobertura menor que 80% (Zona Amarela): quando o plano tem menos de 80% de nivel de cobertura dos passivos – ou seja, os ativos/patrimônio são menores que 80% do necessário para pagar os benefícios futuros – ele entra na Zona Amarela. Acende um sinal de alerta, começam as restrições e um plano de recuperação deve ser elaborado, estabelecendo:

    • Reduçaāo ou congelamento de aumento dos benefícios;
    • Limitaçāo de pagamentos únicos (lump sum);
    • Incremento das contribuiçōes dos patrocinadores e participantes.

2. Taxa de cobertura menor que 65% (Zona Vermelha): quando o plano tem menos de 65% de nivel de cobertura dos passivos, ele entra na Zona Vermelha, um ponto crítico no qual aumentam as restrições. Nesse estágio há:

    • Proibição de aumento de benefícios;
    • Possibilidade de redução de benefícios futuros (não os já adquiridos);
    • Acompanhamento pelo PBGC (*) (ver abaixo) e liquidação quando o plano tem um nível de cobertura entre 50% e 60%.

La garantia soy jo

Seria muito mais importante para a estabilidade do setor de previdência complementar discutirmos a criação de um seguro para os participantes, nos moldes existentes nos EUA, Reino Unido e outros países.

O PBGC (*) – Pension Benefit Guarantee Corporation é uma espécie de seguradora do governo americano que assume o pagamento dos benefícios quando um fundo de pensão é considerado insolvente e incapaz de gerar contribuições suficientes para acabar com o déficit.

Quando os passivos são significativamente maiores que os ativos e um plano não consegue atender os requisitos mínimos de financiamento, ele é encaminhado para liquidação. O PBGC assume o plano e garante o pagamento de benefícios, até determinado limite, aos beneficiários.

Proteção semelhante existe no Reino Unido através do PPF – Pension Protection Fund. Vale notar que tanto o PBGC quanto o PPF também são acionados diante da insolvência das patrocinadoras de planos de previdência complementar.

Em Terras de Cabral, além de não termos uma legislação que defina claramente o ponto de liquidação de um plano de previdência complementar / fundo de pensāo, para evitar maiores perdas aos participantes, também nāo temos nenhuma garantia ou proteção governamental quando os órgãos de fiscalização falham … e como mostra a historia, eles falham.

Quando uma empresa interessada em fazer um plano de previdência complementar me pergunta: “existe alguma garantia do governo em caso de quebra do fundo de pensāo ou da seguradora”? Continuo tendo que responder a mesma coisa que eu respondia nos anos 80: “La garantia soy jo”

Nota: O bordão "La garantía soy yo" foi usado na década de 1990 em anúncios da Semp Toshiba, em campanha criada pelo publicitário Paulo Bione. O bordão ficou conhecido porque no Paraguai era comum os brasileiros perguntarem sobre a garantia dos produtos eletrônicos e os vendedores responderem que eram eles que garantiam o produto.

Grande abraço,

Eder.


Opinōes: Todas minhas | Fonte: “Intervenção no Postalis é a 10ª feita em fundos de pensão desde 2011”, escrito por Marina Gazzoni.


segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

PORQUE OS FUNDOS DE PENSĀO DEVERIAM PAGAR SEUS APOSENTADOS NO EXTERIOR COM “STABLECOINS”, TIPO O USDC, USDT E OUTRAS



De Sāo Paulo, SP.


As stablecoins surgiram por um motivo muito simples: pagamentos – a movimentação de valores financeiros de uma conta para outra – não funcionam de forma eficiente.

Quem interage com os modernos sistemas de pagamento bancário nota que eles não refletem os avanços tecnológicos.

Hoje é possível transmitir mensagens de uma pessoa para outra em milissegundos, independente do volume ou da localização. No entanto, apesar da troca de mensagens ser a parte mais significativa dos pagamentos digitais, ainda leva horas e as vezes dias para mover dinheiro entre dois países.

As stablecoins, um tipo específico de cryptomoeda, são a aposta de que a tecnologia do blockchain com tokens que podem ser enviados pessoa-a-pessoa podem resolver o problema dos pagamentos transfronteiriços.

Como as stablecoins funcionam

Stablecoins são tipicamente criadas, emitidas e gerenciadas por empresas privadas como a Circle, Tether e mais recentemente o PayPal.

Esses emitentes captam recursos de várias fontes e os mantem investidos em ativos de baixo risco e relativamente líquidos, como depósitos bancários e títulos públicos do governo americano. 

Os emitentes, então, “cunham” (a linguagem crypto em inglês usa o termo mint) a moeda digital, ou seja, emitem no blockchain novas unidades de token em montante equivalente a esses ativos.

Toda vez que alguém deposita dólares para comprar uma stablecoin, o emitente “cunha” novas moedas digitais. Quando essas moedas são usadas, o emitente “queima” (a linguagem crypto em inglês usa o termo burn), ou seja, destrói o valor equivalente no blockchain.

O processo de “queima” - que consiste em remover permanentemente uma quantidade específica de tokens de criptomoedas de circulação - visa equilibrar e deflacionar os tokens nativos, reduzindo a oferta do ativo no mercado.

Em um nível menor e menos sofisticado, isso acontece em cada transação. No entanto, na prática, a maioria das pessoas deposita e retira as stablecoins atraves de aplicativos que mantem um estoque de tokens, cunhando e queimando (destruindo) as moedas digitais apenas quando muda o volume de tokens em circulação.

A funcionalidade das stablecoins corresponde a tokens fungíveis no blockchain no qual são emitidos (ver conceito abaixo). Isso significa que podem ser enviadas de uma carteira digital para outra e usadas para transações on-chain (no blockchain) tais como empréstimos, investimentos, pagamentos, trocas por outros tokens (moedas digitais) etc. 


Pagamentos transfronteiriços 

Enviar dinheiro atraves de qualquer método de pagamento é, em última análise, um sistema de transmissão de mensagens e atualização de registros contábeis por partes autorizadas a fazê-lo: bancos, administradoras de cartões, redes de pagamento e instituições não-financeiras (comercio, serviços ...).

Cada uma dessas entidades possui e controla internamente registros contábeis que representam saldos de seus clientes, usados para fazer transações em nome deles. 

Na medida em que aumenta a quantidade de moedas, instituições e países envolvidos em um pagamento, aumenta também a complexidade, as taxas, o tempo necessário e os requisitos de conformidade.

O dinheiro chega no lugar certo na maioria das vezes, mas os pagamentos envolvendo países diferentes podem ser bem caros, demorados e difíceis de rastrear. 

No Brasil, enviar dinheiro para o exterior pelo Banco do Brasil, por exemplo, pode custar entre R$ 400 e R$ 500 apenas em taxas. Na Nigeria, enviar US$ 500 para os EUA custa US$ 75 e leva entre um e cinco dias.  

Num mundo cada vez mais interconectado no qual vivemos, trabalhamos, nos relacionamos, fazemos compras e recebemos renda de aposentadoria, o fato do dinheiro não se mover rapidamente, de forma eficiente e sem fraude, entre diferentes países, pode ser um problema.

Porque os fundos de pensão deveriam usar stablecoins?

As stablecoins independem de localização do fundo de pensāo ou dos países envolvidos na transferência de recursos, porque os blockchains públicos nos quais as operações são executadas (na Internet), não tem fronteiras.

Isso significa que enviar 1.000 USDC da carteira digital X de um fundo de pensão em São Paulo, para a carteira digital Y de um aposentado vivendo (por exemplo) em Strasbourg, na França, origem e o destino separados por milhares de quilômetros de distância, custa o mesmo e é tão rápido quanto se estivessem na mesma sala.  

USDC, USD Coin ou US Dólar Coin é uma moeda estável digital – uma stablecoin - que está ligada ao dólar americano na proporção 1:1 e funciona nas redes de blockchain Ethereum, Stellar, Solana e Tron. Criada em 2018, é administrada por um consórcio chamado Centre, fundado pela Circle. 

 

Credito de Imagem: Shutterstock


Um pagamento feito em stablecoin geralmente é mais barato e mais rápido do que pelo métodos bancários porque não requerem intermediáricos para mover os recursos. Isso reduz o custo do fundo de pensāo e agiliza o recebimento pelo aposentado. Além disso, a transferências internacionais tradicionais requerem relacionamento bancário (contas correntes) tanto da parte que envia como da que recebe o dinheiro.

Como existem milhares de bancos espalhados pelo mundo, que podem se envolver em uma transação, eles se baseiam em um sistema de correspondentes bancários que agem como intermediários, cada um cobrando taxas pelos seus serviços e aumentando o tempo que leva para transferir os recursos.  

Em contraste, com stablecoins, basta dois usuários ou carteiras digitais para enviar pagamentos diretamente um para outro no mesmo blockchain, eliminando esses intermediários, custos e atrasos.

Nota: Hoje em dia, pode-se transferir stablecoins e cryptomoedas atraves de uma mensagem no Telegram ou de um simples e-mail no Ethermail.

 


Um benefício adicional de não depender de intermediários, cada um tendo seu próprio registro contábil, é o aumento da visibilidade e rastreabilidade dos recursos pelos usuários.

Se por um lado, nas transferências internacionais correntes os usuários frequentemente precisam esperar dias antes de saber se sua transação foi bem-sucedida ou não, nos aplicativos que suportam transferências on-chain (no blockchain) os usuários podem, por definição, rastrear o status de suas transações apenas consultando o blockchain ou usando ferramentas disponíveis quando o próprio app não fornece uma interface para isso. 

Adicionalmente, as stablecoins, assim como outras ferramentas do blockchain, permitem a liquidação das transações em tempo real. Diferente de bancos, blockchains funcionam 24/7, em fins de semana e feriados, dando aos usuários acesso mais rápido aos recursos independente da hora do dia.

Desde setembro de 2024, a stablecoin USDC da Circle está integrada ao sistema bancário brasileiro, permitindo que empresas e fundos de pensāo usem uma moeda estável, atrelado ao dólar americano, diretamente por meio dos bancos locais sem a necessidade de transferências internacionais.

Eliminar transferências internacionais pelo sistema tradicional pode reduzir drasticamente o tempo necessário de dias para minutos, para acessar o USDC, liberando capital preso em processos de liquidação demorados”, disse a Circle em um comunicado ao mercado no dia 17/09/2024.

A integração torna o USDC disponível em moeda fiduciária local, ou seja, o Real brasileiro (R$) e significa um dólar digital integrado diretamente ao PIX

De acordo com o DefiLama (plataforma de dados, analytics, de cryptomoedas) o USDC (Circle) possui uma capitalização de mercado de US$ 35 bilhões, o USDT (Tether) de US$ 118 bilhões e todas as stablecoins representam um marketcap de US$ 170 bilhões (dados de set/2024).



Em resumo, as vantagens são:

  1. Redução de custos: As transações com stablecoins eliminam intermediários bancários, reduzindo significativamente as taxas associadas a transferências internacionais.
  2. Velocidade: Pagamentos com stablecoins podem ser realizados em questão de minutos, eliminando os atrasos típicos do sistema bancário tradicional.
  3. Transparência e rastreabilidade: Todas as transações com stablecoins são registradas em uma blockchain, oferecendo mais segurança e clareza no processo.
  4. Acessibilidade: A integração do USDC com sistemas locais, como Pix, permite que aposentados no exterior recebam seus pagamentos em suas contas bancárias ou em carteiras digitais, dependendo de suas preferências.
  5. Elimina flutuações cambiais: A volatilidade do câmbio pode impactar tanto o custo das transações quanto o valor recebido pelo aposentado.

Como os fundos de pensão podem implementar essa solução?

Para adotar o uso de stablecoins, os fundos de pensão no Brasil podem seguir os seguintes passos:

  • Parcerias com provedores de stablecoins: Trabalhar com empresas como a Circle para criar canais de pagamento seguros e eficientes.
  • Educação financeira para beneficiários: Oferecer suporte e orientações para que aposentados no exterior entendam como receber seus pagamentos via stablecoins e, se necessário, convertê-los para a moeda local.
  • Adequação regulatória: Garantir que o uso de stablecoins esteja em conformidade com as regulamentações brasileiras e internacionais, preservando a segurança e a legalidade das operações.
  • Infraestrutura tecnológica: Implementar plataformas de pagamento que suportem tanto o envio de stablecoins quanto a integração com sistemas locais, como o Pix.

Para os fundos de pensão, essa tecnologia representa uma oportunidade de modernizar operações, reduzir custos e melhorar a experiência dos aposentados que vivem no exterior.

No entanto, a implementação dessa solução exige planejamento estratégico, compreensão regulatória e, principalmente, um compromisso com a inovação. Ao adotarem stablecoins, os fundos de pensão podem não apenas resolver problemas operacionais, mas também se posicionar na vanguarda da transformação digital do setor financeiro.

Atualmente, o Banco Central do Brasil está desenvolvendo regulamentações específicas para o uso de stablecoins, como o USDC, no mercado de câmbio, com previsão de implementação até 2025. Essas regulamentações visam garantir que as emissões de stablecoins sejam totalmente lastreadas e que as empresas emissoras mantenham governança robusta e reservas seguras, assegurando a proteção dos fundos dos usuários


Grande abraço,

Eder.


Opinōes: Todas minhas | Fontes: “On stablecoins and cross-border payments”, escrito por Teju Adeyinka e “Circle integra o USDC com os sistemas nacionais de pagamento do Brasil e México”, escrito por Ana Paula Pereira.


GRATIDĀO POR PEQUENAS COISAS!

 


De Sāo Paulo, SP.


Em 1998 Kurt Vonnegut, famoso escritor americano, fez o discurso de formatura na Rice University. Lá pelas tantas, ele disse:

Até aqui esse discurso foi sobre coisas novas, escritas para essa ocasião nesse lugar, mas todo discurso de graduação que eu fiz terminou – e esse aqui também vai terminar – com uma velha historia sobre meu tio Alex.

Tio Alex se formou em Harvard e foi morar em Indianapolis, onde se tornou um honesto corretor de seguros. Ele era culto e sábio. Uma coisa que tio Alex achava curioso sobre as pessoas é que elas raramente param para reconhecer quando estão felizes.

Ele próprio fazia o possível para fazer isso nos bons momentos. Se estivéssemos bebendo suco à sombra de uma árvore na frente de casa, em um dia quente de verão, ele interrompia a conversa pra dizer: 

“Se isso não é legal, o que é”?

Então, eu espero que vocês aqui à minha frente façam o mesmo pelo resto da vida de vocês. Quando as coisas estiverem indo bem e tudo estiver dando certo, parem por um momento e digam em voz alta:

 “Se isso não é legal, o que é”? 

A vida é repleta de pequenos momentos de beleza e prazer, fáceis de deixarmos passar desapercebidos se estivermos nos movendo rápido demais para apreciá-los. 

Quando nos debruçamos sobre esses momentos, sentimentos e pessoas, com gratidão, encontramos novas alegrias e satisfações em nossas vidas.

Que o espírito do Ano Novo permita a todos nós desacelerar o ritmo e abraçar os pequenos momentos de beleza em 2025 e sempre.

“Se isso não é legal, o que é”?


Grande abraço,

Eder.


Fonte: Sahil Bloom.


segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

COMO A PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR CORPORATIVA DIVIDIU A SOCIEDADE ENTRE OS "COM" E OS "SEM" PLANO

 


De Sāo Paulo, SP.


Há um abismo dividindo a sociedade brasileira entre os com e os sem plano de previdência complementar corporativo. Recentemente me debrucei sobre esse abismo para tentar entendê-lo melhor – como surgiu e o que pode ser feito para fechá-lo?

Mas antes, outra segregação

Existe outra divisão da sociedade: a separação das pessoas entre os com e os sem diploma universitário.

Pessoas que possuem o ensino médio morrem, em média, oito anos mais cedo do que pessoas com diploma de nível superior. Eles têm muito mais chance de morrer devido ao vicio em drogas pesadas, de ter filhos fora do casamento, de ser obesos e de dizer que não tem amigos de verdade.

A diferença na performance acadêmica entre crianças oriundas de famílias mais afluentes e aquelas que vem de famílias menos afluentes é maior do que a diferença acadêmica entre negros e brancos.

A segregação na educação não foi obra do acaso. Ela foi crida. No Século XX, um grupo de administradores de universidades nos EUA, bem-intencionados, decidiu segregar os americanos por inteligência.

Eles definiram inteligência de uma maneira bem especifica e restrita: a capacidade de alguém se desempenhar bem no meio acadêmico e em testes padronizados.

Os estudantes que tivessem essa capacidade eram admitidos em universidades de elite e ao se formarem, canalizados para empregos nos mais altos escalões da sociedade – finanças, direito, administração publica, atuária, imprensa, o topo das grandes corporações.

Eles se casam com pessoas com essa mesma capacidade, investem maciçamente na educação dos filhos que, então, frequentam as mesmas universidades de elite. Presto! Surgiu um sistema de castas, passado de pai para filho.

Mais aqui:


Na Terra de Cabral, copiamos.

Essa divisão na educação tem consequências que vão além de aspectos sociais, ela começa a influenciar a política. Trump voltou ao poder com apoio de milhões de eleitores que possuem ensino secundário, que estão furiosos com a elite com formação universitária.

A votação em Bolsonaro em 2022 teve diferenças significativas em relação à de 2018, quando foi eleito presidente. Bolsonaro perdeu votos nas capitais e grandes cidades (onde há mais pessoas com nível superior) e ganhou força em cidades menores (onde há mais pessoas com ensino medio).


No primeiro caso, um exemplo é a região metropolitana de São Paulo. No segundo, o Norte e o Nordeste. Em municípios com menos 50 mil eleitores nessas duas regiões, Bolsonaro melhorou sua votação média em mais de três pontos percentuais. Nos maiores, ao contrário, perdeu mais que isso. No Nordeste, o percentual de votos válidos cresceu por todo o interior dos Estados da região. No Norte, esse padrão quase não teve exceções”, diz Fernando Meireles, pesquisador do CEBRAP - Centro Brasileiro de Análise e Planejamento.

A questão não tem a ver com Trump nem Bolsonaro. A classe que lidera está governando bem? Nāo. A liderança nos governos são respeitadas e contam com a confiança de uma ampla fatia das populações? Nāo. A liderança tem usado o sistema para manter seus privilégios? Sim.

O que levou aos com e sem previdência complementar

Lá por volta de 1974, o maior benefício pago pelo INSS equivalia a cerca de 20 salários mínimos. Os experts, então, desenhavam planos de previdência complementar voltados para os profissionais cujos salários, na ativa, eram muito superiores a 20 salários mínimos.

O raciocínio vigente era mais ou menos o seguinte: um profissional com salário equivalente a 50 salários mínimos, receberia da previdência social, ao se aposentar, uma renda de aposentadoria de no máximo 20 salários mínimos. Isso equivalia a menos da metade, ou seja, menos de 50%, do salário que o empregado recebia quando trabalhava.

Então, esse profissional precisaria de um plano de previdência complementar que lhe pagasse a diferença entre o salário da ativa (50 S.M.) e o benefício da previdência social. (20 S.M.). Em outras palavras, um benefício de previdência complementar que lhe pagasse 30 S.M.

Portanto, todo empregado que recebesse durante a carreira ativa um salário menor do que 20 salários mínimos (teto do INSS da época), não precisaria de previdência complementar. Por exemplo, alguém ganhando um salário equivalente a 17 salários mínimos, se aposentaria com um benefício da previdência social equivalente a esses mesmos 17 S.M., ou seja, 100% de seu último salário. A previdência complementar, então, não seria necessária para esse empregado.

Muitos chegavam a reconhecer que a previdência complementar era um benéfico corporativo “elitista”, voltado para empregados com altos salários.

O tempo passou e hoje, meio seculo depois, o benefício máximo pago pela previdência social equivale a uns 05 salários mínimos (com viés de baixa). Há quem aposte que o benefício máximo do INSS, em breve, será equivalente a 1 S.M.

Os desenhos atuais de plano de previdência complementar corporativos pagam um benefício simbólico para todo empregado que recebe salário menor que 5 S.M., a ponto o benefício para os trabalhadores de renda mais baixa ser conhecido no setor por “beneficio mínimo” - apenas simbólico e pago por razões tributárias.

Em suma, os planos de previdência complementar atuais continuam voltados para empregados com renda alta, num mundo em que mesmo os empregados com baixa renda passaram a precisar deles também.

Uma vez instalada, a prática dos com e dos sem plano segue inalterada. Se a segregação dos com e sem diploma está afetando a política, a divisão da sociedade entre os com e sem previdência complementar tem tudo para afetar a economia.

A persistir esse abismo, o baixo poder de compra de um contingente de aposentados sem plano que não para de crescer, em breve, começara a minar a economia.

____________

A previdência complementar corporativa precisa ser transformada. Precisamos de desenhos de plano mais humanos, justos e democráticos, independente do salário que você ganha.

O desafio da segurança financeira futura não tem a ver com o valor máximo do benefício pago pelo INSS, tem a ver como nós, enquanto sociedade, classificamos as pessoas, colocando algumas na escada rolante da segurança financeira futura e não deixando outras subirem nela.


Está na hora de criarmos um futuro melhor para todos.

Grande abraço,

Eder.


Opiniōes: Todas minhas | Fonte “How the Ivy League Broke America”, escrito por David Brooks.




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