De Sāo Paulo, SP.
Havia um pequeno vilarejo circundado por uma cerca de madeira bem alta, que estava lá há muito, muuuuito tempo.
Certo dia um viajante entrou na taberna e perguntou aos locais a razão da cerca estar ali, bloqueando a bela vista da paisagem dos campos ao redor.
Todos deram de ombros, ninguém sabia explicar, a cerca sempre esteve ali e todo ano as pessoas trabalhavam para consertá-la e mantê-la de pé.
O viajante sorri e diz:
“Se ninguém sabe porque a cerca existe, certamente vocês nāo precisam mais dela. Deveriam retirá-la e passar a ter uma vista melhor, o que atrairá mais viajantes e comércio para a região, melhorado a vida de todos no vilarejo”.
Os aldeões concordam. Na manhā seguinte, a cerca em volta do vilarejo é desmantelada. A vista é espetacular e todos se perguntam porque demoraram tanto tempo para fazer o que parecia tāo óbvio.
Mas ... naquela noite, enquanto todos dormiam, um grupo de lobos entra no vilarejo e devasta o estoque de mantimentos, armazenado para alimentar os aldeões por meses.
Acontece que a cerca, afinal, estava lá por uma razão.
Um escritor inglês, chamado G.K. Chesterton, descreveu esse fenômeno:
Existem certas leis ou instituições que, para simplificar, vamos dizer que funcionam como cercas ou portões em uma estrada. De tempos em tempos, surgem reformistas que dizem: “Nāo vejo utilidade nisso, vamos remover e tirar da frente”. Ao que um outro tipo mais inteligente de reformista, fará bem em responder: “Se você nāo vê utilidade nisso, certamente nāo deixarei você remover. Vá dar uma volta e pensar. Quando voltar e puder me dizer que enxerga uma utilidade nisso, eu poderei permitir que você a remova.
O fenômeno que ficou conhecido como “A Cerca de Chesterton” fornece uma grande lição:
Nunca remova uma cerca, sem antes saber por que ela está lá.
GILBERT KEITH CHESTERTON (1874-1936) - Credito de Imagem: Amazon.com
Na pressa em reformar os sistemas de previdência social, empurrando indefinidamente a idade mínima de aposentadoria para frente, seria importante – antes – entender: Por que, afinal, existe uma idade de aposentadoria?
Se o sistema original de previdência definiu uma idade de aposentadoria, é porque há um sentido para isso. Se mudarmos essa idade sem entender a razão original para ela ter sido definida, poderemos acabar expostos aos lobos que rondam o vilarejo do outro lado da cerca.
A maioria das discussões em torno da postergação da idade de aposentadoria da previdência social foca no financiamento do sistema, orçamento e contas públicas.
Está faltando uma reflexão profunda sobre os impactos sociais drásticos de postergar a aposentadoria para 65, 70, 75 anos, num mundo em que alguém com 55 anos já nāo consegue mais um emprego e falta para muitos, saúde para trabalhar até idades mais elevadas.
Um lembrete de que, embora a regra do sistema tradicional de previdência social - que definiu a idade de aposentadoria em 55, 60 anos - possa nāo fechar as contas públicas hoje, isso nāo significa que se deva ignorar completamente seu propósito original.
As cercas moldam nossa realidade e definem os resultados que sāo obtidos. É mais fácil subtrair do que somar.
Derrubar uma cerca velha é mais fácil do que construir uma nova.
Antes de “derrubar a cerca” da idade de aposentadoria da previdência social, os legisladores e a sociedade deveriam fazer uma pausa e se perguntar:
Por que isso estava aqui, em primeiro lugar? Qual era a sua origem?
A questão aqui não é que todas as cercas devam permanecer para sempre no lugar. Algumas realmente já cumpriram seu propósito, mas derrubá-las sem entender sua origem é perigoso.
A verdadeira sabedoria reside em distinguir entre as cercas que ainda protegem e as cercas que simplesmente restringem. Antes de derrubar a cerca, certifique-se de conhecer os lobos que ela mantinha afastados.
No caso da previdência social, tenho pra mim que andam derrubando as cercas sem prestar atenção às reais consequências disso, no longo prazo, para as pessoas, para a economia e para a sociedade ...
Grande abraço,
Eder.
Opiniōes: Todas minhas | Fonte: Chesterton’s Fence: The Importance of the Origin, Sahil Bloom


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