O papel do conselho durante uma crise é dar apoio e oferecer orientação para a equipe de gestão. Porém, saber quais passos devem ser dados para responder a uma crise não é tão fácil assim. Veja alguns passos que o conselho deliberativo do seu fundo de pensão pode dar para levar a organização a navegar nessa crise.
Uma crise diferente
Os conselhos deliberativos dos fundos de pensão brasileiros estão acostumados a lidar com crises, principalmente as econômicas que são as que mais afetam os planos de previdência complementar. Já passamos por dois impeachments, montanha russa de juros, rompimento de barragens, eventos climáticos extremos e um sem número de outros “desastres” ao longo dos últimos anos.
Contudo, a pandemia do Coronavirus / COVID-19 é diferente e não se encaixa no rol da “crisis as usual” (crise comum, em tradução livre). O escopo dessa crise é global, sua repercussão tem alcance de longo prazo e multifacetado. O COVID-19 já causou (dis)ruptura nos mercados financeiros mundo afora (Brasil inclusive), paralisou a circulação de bens e pessoas, gerou toque de recolher, confinamento das pessoas em casa, cancelou a prática e as temporadas de esportes, restringiu voos e fechou fronteiras isolando países inteiros. Apesar de ter paralisado o setor publico e o setor privado indistintamente, o vírus continua a se espalhar. A COVID-19 é um tipo diferente de crise.
Mesmo assim, como qualquer crise, essa pandemia representa uma oportunidade para conselheiros e executivos de fundos de pensão assumirem seus papeis de liderança e ganhar a confiança dos participantes.
Conforme disse Betsy Atkins - profissional que ao longo da carreira trabalhou nos conselhos de inúmeras empresas como Volvo, Wynn Resorts e SL Green: “a resposta a uma crise é como se a cultura da organização estivesse sendo operacionalizada em tempo real. Você toma conta dos seus empregados? Você toma conta de seus clientes? É a chance de definir sua companhia”.
Dicas para os conselhos e diretorias dos fundos de pensão
Nesse momento de incertezas colossais, aqui estão algumas dicas para ajudar o conselho e a diretoria do seu fundo de pensão a desempenharem seus papeis efetivos de líderes e seres humanos, levando serenidade para seus participantes e aposentados.
1. Analise os impactos no fundo sob todos os ângulos
A COVID-19 vem impactando todos os aspectos da operação de um fundo de pensão, desde os investimentos até o esquema de trabalho dos empregados da entidade. O papel de um conselho é ajudar a administração da entidade a entender como esses fatores se inter-relacionam para que o fundo possa responder com mais eficácia.
As prioridades, nesse momento, são a segurança dos empregados e participantes do fundo e os impactos nos investimentos.
É recomendável que o conselho solicite ao diretor de investimentos que crie um modelo com uma serie de cenários para que o board e a diretoria possam enxergar rapidamente e de forma fácil as ramificações potenciais dos impactos sobre os investimentos. Testes de stress sobre os resultados e sobre as demonstrações financeiras devem ser considerados.
Outras considerações sobre o que o COVID-19 poderá causar ao fundo de pensão passam pelos impactos na cadeia de fornecedores de serviços, fluxo de caixa e liquidez para pagamento de benefícios e estrutura de atendimento aos participantes. O fundo deveria construir um dashboard (painel de controle) para mapear os riscos específicos decorrentes do COVID-19 que a diretoria está monitorando.
2. Tenha no radar a preocupação com todos os stakeholders (grupos) do fundo
Em tempos de crise os empregados do fundo querem ter tranquilidade em relação a manutenção dos seus empregos e os assistidos sobre a continuidade de pagamento de seus benefícios. Os prestadores de serviços querem saber quando (e se) serão pagos e se os contratos continuarão em vigor. Os gestores dos investimentos, claro, passam a monitorar a cada segundo os indicadores financeiros tipo valor dos títulos públicos e índices de bolsa de valores.
É importante que o conselho deliberativo e a diretoria monitorem o pulso de cada grupo de stakeholder - e que ajustem a mensagem e a comunicação tendo por base as necessidades de cada um desses grupos. Devido a evolução e mudanças constantes de cenário do COVID-19, os fundos precisam monitorar como está evoluindo a reação de cada grupo. A comunicação precisa ser calibrada para verificar a carga emocional presente em cada um.
3. Peque pelo excesso na comunicação
Cada artigo e texto na mídia atual parecem lidar com o “coronavirus”, portanto, ao escrevermos sobre o assunto ficamos com a sensação de estarmos apenas contribuindo para aumentar o barulho em torno do tema. O conselho deve resistir a tentação de manter a comunicação sobre o assunto no mínimo. Participantes, empregados e fornecedores querem ter certeza e sentir que o fundo de pensão se preocupa com eles. É hora de “pecar pelo excesso” e não pela falta de comunicação, sempre se pautando pela transparência e honestidade nas mensagens.
O papel do conselho é tornar a resposta ao COVID-19 um item permanente da agenda e manter aberto o canal de comunicação entre a diretoria e o board, assegurando que essa linha de comunicação seja clara, transparente e eficaz. O ambiente deve ser colaborativo e flexível para lidar com os eventos na medida em que a crise se desenrole. Tendo por base algumas recomendações que a NACD - National Association of Corporate Directors fez para os boards das empresas americanas, seguem mais orientações aos fundos de pensão:
- Assegure que os líderes do fundo de pensão tenham acesso a fontes de informação respeitáveis e relevantes; assegure que os planos e as equipes certas estejam preparados para tomada de decisões
- Estabelece protocolos sobre quem comunica o quê e através de quais canais. Por exemplo: crie uma comunicação interna para colocar em movimento o plano de contingência / continuidade dos negócios
- Procure equilibrar a necessidade de transparencia com a necessidade de se evitar riscos legais
Um objetivo deve ser constante: comunique de forma a mostrar empatia e liderança.
4. Aja com rapidez, eficácia e empatia
Em uma situação tão critica, complexa e que muda rapidamente como a COVID-19, é comum haver insegurança para se determinar o caminho certo a ser adotado.
Felizmente, os conselhos e as diretorias dos fundos de pensão podem estar mais preparados do que pensam. O fundo de pensão já pode ter um plano de resposta à crise para casos de ataques cibernéticos, desastres naturais ou (dis)rupturas no ambiente de trabalho. Sem falar nas orientações colocadas ao alcance de todos pela Organização Mundial de Saúde, Governos e outras organizações.
Na medida que a pandemia vá evoluindo, o mais importante é monitorar a situação, liderando de forma tempestiva, segura e empática.
Nas palavras de Betsy Atkins:
“O QUE AS PESSOAS VÃO SE LEMBRAR É COMO VOCÊ SE COMPORTA EM UMA CRISE”
Uma governança diferente, moldada para enfrentar os novos desafios (visíveis e invisíveis) que temos pela frente na previdência complementar, só poderá ser alcançada “Revolucionando os conselhos dos fundos de pensão” (livro disponível aqui: adquirir livro)
Grande abraço,
Eder
Fonte: Adaptado de artigo do Dilligent Corporation
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