quinta-feira, 30 de abril de 2020
TE CONTEI? OS 100 DIAS QUE MUDARAM O MUNDO.
De São Paulo, SP.
O QUE ESTÁ ACONTECENDO: Para Lilia Schwarcz – Professora da USP e Princeton, EUA – a pandemia do novo coronavirus é o que de fato marca o fim do século XX e início do Século XXI. Ela se baseou no historiador Britânico Eric Hobsbawn para quem o Século XIX só terminou depois da Primeira Guerra Mundial [1914 -1918]. Nos dois casos, durante as primeiras décadas do século seguinte a humanidade ainda estava lidando com a herança do anterior. “Usamos o marcador de tempo (cronológico): virou o século, tudo mudou. Mas não funciona assim, a experiência humana é que constrói o tempo”, diz Lilia.
POR QUE ISSO É IMPORTANTE: No fim do Século XIX o pensamento vigente era de um mundo civilizado e pautado pelo progresso, mas foi preciso uma grande guerra para mostrar que não éramos tão civilizados assim. Tivemos que entender o limite da noção de civilização para podermos evoluir e esse foi o marco. O século XX foi pautado por desenvolvimento e avanços tecnológicos numa velocidade nunca vista. "Tivemos um grande progresso tecnológico, mas agora a pandemia mostra os limites da tecnologia", diz Lilia. Vamos à Marte, mas não temos hospitais nem capacidade para nos prevenir e nos curar de um vírus microscópico.
CONCLUSÃO: O filósofo Heráclito de Éfeso dizia que um homem não pode entrar no mesmo rio duas vezes, porque na segunda vez nem o rio nem o homem são mais os mesmos. Não sairemos dessa crise da mesma forma que entramos. Talvez a porta que se abre vai nos dar a oportunidade para refletirmos sobre alguns valores humanos, como solidariedade.
Grande abraço,
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quarta-feira, 29 de abril de 2020
Fundos de Pensão: as transformações que ocorreriam lentamente na próxima década, vão chegar mais cedo
Credito de Imagem: www.litmos.com
De São Paulo, SP.
Um estudo do McKinsey Global Institute divulgado hoje mostra que 57 milhões de empregos nos EUA serão perdidos com a crise. Isso é o dobro das solicitações de seguro desemprego submetidas até aqui e 25% dos desempregados são de baixa-renda. Nada diferente está ocorrendo aqui no Brasil e em outras partes do mundo.
O vírus pode estar matando os idosos, mas são os jovens abaixo de 35 anos que respondem por metade dos desempregados. Os sem diploma são duas vezes mais vulneráveis do que os com diploma.
Há uma sobreposição entre os empregos que estão desaparecendo por causa da pandemia do COVID-19 e aqueles que seriam perdidos ao longo da próxima década por causa de novas tecnologias e da automação. “A transição que pensamos que levaria anos para acontecer na força de trabalho, de repente se tornou urgente”, diz Susan Lund da McKinsey.
Visto sob outro ângulo, não apenas os empregos perdidos com a crise não serão repostos, como podemos esperar que ainda mais empregos sejam substituídos pela automação nos anos que se seguirão a pandemia. Essa repentina perda de postos de trabalho resultará em empresas menores, com muito menos empregados.
Primeiro ponto: empresas automatizadas precisam de manutenção, mas não de planos de previdência complementar.
Novos paradigmas levarão a novas relações de trabalho
Os impactos nas empresas não param aí. A pandemia forçou mudanças profundas também no ambiente de trabalho físico.
Jes Staley, CEO do Barclay, sugeriu que as grandes sedes mantidas pelas empresas nas regiões mais badaladas das cidades do mundo, simplesmente não serão mais necessárias. “No longo prazo haverá um ajuste sobre a forma que pensamos nossa estratégia de localização ... colocar 7.000 pessoas em um edifício pode ser coisa do passado”, disse ele.
Isoladamente, a substituição do ambiente físico das empresas pelo trabalho remoto causará impacto no mercado imobiliário – tanto corporativo como residencial (morar perto do trabalho ficou sem sentido) – e vai transformar os investimentos dos fundos de pensão nessa classe de ativo.
Cumulativamente, pode-se inferir que a evolução natural das mudanças físicas no local de trabalho terá desdobramentos que irão acelerar mudanças de igual magnitude no formato atual de contrato de trabalho.
Os efeitos da crise sobre o mercado de trabalho serão devastadores e deverão perdurar por anos em vários setores. Dentre as seis ideais dadas por Jack Kelly em um artigo da Forbes para quem perdeu o emprego ou está preocupado com a segurança de sua carreira e não quer esperar a guilhotina cair, apenas uma foca no atual emprego. As outras falam em abrir um negócio próprio, aceitar contratos como terceirizado, buscar trabalho remoto, reinventar sua atividade e mudar de cidade.
Segundo ponto: o modelo corporativo de previdência complementar atual se apoia na relação tradicional de trabalho, caracterizada por empregados em tempo integral na folha de pagamentos. Os fundos de pensão atuais, porem, não alcançam empregados dos prestadores de serviço, funcionários das companhias da cadeia de suprimentos nem pessoas com contratos de trabalho intermitente, temporários e com outros formatos.
Corroborando os dois pontos mencionado anteriormente, uma pesquisa da PWC feita com líderes corporativos sobre o mundo pós-COVID-19 mostrou que a crise está acelerando muitas (dis)rupturas e levando as empresas a pensarem de forma diferente:
- 49% das empresas disseram estar planejando tornar permanente o trabalho remoto para algumas funções;
- 40% disseram que deverão acelerar a automação e “novas formas de trabalho”;
- 26% disseram que deverão “reduzir a pegada imobiliária”
Economia do compartilhamento salta do mundo digital para o humano
A “economia do compartilhamento” (sharing economy, em inglês) nasceu no final da primeira década do ano 2000 durante a última crise econômica. Foi idealizada com a visão de que as novas gerações estavam se afastando da aquisição e manutenção de “coisas” e o novo éthos seriam as experiências.
Nessa nova vibe, as pessoas dividiriam com a maior boa vontade seus espaços, veículos, ferramentas e assim economizariam dinheiro para gastar com atividades de lazer e busca de experiências memoráveis.
Isso seria possível graças a aplicativos que dariam acesso a informações sobre a disponibilidade de espaços, veículos e ferramentas, que criariam reputação baseada em avaliações muito “próximas da verdade”, deixando-nos confortáveis para confiar em completos estranhos.
Agora a pandemia do novo coronavírus colocou em situação critica a chamada “economia do compartilhamento” desafiando as premissas básicas sobre o comportamento humano na era digital.
O Uber deverá demitir 20% de seus 2.700 empregados, o AirBnB recorreu a duas operações de empréstimos no começo de abril que totalizam US$ 1 bilhão e a WeWork – que já estava com problema antes da crise – não sabe o que vai acontecer se os clientes não retornarem ao espaço de trabalho.
O Sars-CoV-2 jogou por terra a aposta dessas empresas. As pessoas estão todas em casa hoje, mas depois da crise provavelmente vão preferir sair com seus próprios carros. Com menos viagens aéreas, haverá pouca demanda por locação de curto-prazo e com a disseminação do home office a demanda por espaço de coworking vai cair.
De certa forma a pandemia abriu a porta para o renascimento das ideias originais que estavam na base da “economia do compartilhamento: a cooperação comunitária e a confiança entre as pessoas.
Os vizinhos estão emprestando muito açúcar, sal e farinha ultimamente, ainda que estejam apenas deixando-o na porta dos vizinhos. Os mais favorecidos mantiveram o pagamento de empregados domésticos, ainda que os serviços tenham sido interrompidos e jamais venham a ser prestados e as pessoas passaram a adotar medidas não apenas para se proteger, mas também para não infectar o próximo.
Terceiro ponto: tomamos ciência da profunda interdependência que temos uns dos outros e numa sociedade que pensa coletivamente, essa é a essência do mutualismo, pode haver uma luz iluminando o futuro da previdência complementar.
Um soluço momentâneo no aumento da longevidade
A crise econômica que veio grudada na pandemia está afetando fortemente a saúde financeira das pessoas. Há extensos estudos na bibliografia cientifica mostrando a forte correlação entre dificuldades financeiras e problemas de saúde.
Durante um congresso internacional sobre longevidade, do qual estou participando virtualmente, ouvi um pesquisador acadêmico dizer que ao afetar a saúde financeira dos indivíduos, a crise do COVID-19 muito provavelmente terá impacto na longevidade futura.
Quarto ponto: essa inflexão na curva de aumento contínuo na longevidade que o ser humano vem experimentando ao longo das cinco décadas passadas, poderá ser a última.
Nossos fundos de pensão precisam ser ágeis se quisermos nos antecipar às mudanças e o melhor caminho para isso é “Revolucionando os Conselhos”.
Abraço,
Eder.
Fonte: Axios Daily
terça-feira, 28 de abril de 2020
TE CONTEI? MEIO CAMINHO À DENTRO DA CRISE DO COVID-19
De São Paulo, SP.
O QUE ESTÁ ACONTECENDO: Alphabet, Pfizer, Starbucks e UPS devem reportar resultados hoje. HSBC reportou: lucros caíram 50%. BP perdeu US$ 4,4 BI só no Q1. GM descartou pagar dividendos, outras 9 cias de vários setores idem. EUA: cadeia de suprimentos de carne suína foi quebrada, com fabricas fechadas em + 12 estados uns 70 mil porcos por dia não chegarão ao consumidor e mesmo assim terão que ser sacrificados. Bélgica: agricultores querem que a população coma batatas 2 X por semana para evitar que vá para o lixo o excesso armazenado. Nas empresas: volta dos cubículos revertendo a tendência dos espaços abertos? Seriam + eficientes contra espirros de colegas. Enquanto isso: China compra na baixa e estoca: 937 MM de barris de óleo cru, 10 MM Ton. de soja, 20 MM de Ton. de milho e 1 MM de Ton. de algodão (https://reut.rs/2Wa3Tp4). POR QUÊ ISSO É IMPORTANTE: Analistas falam de grande recessão, mas ninguém sabe ao certo o tamanho e por quanto tempo. Os enormes pacotes de incentivos dos governos poderão se transformar numa bomba de inflação, prejudicando a retomada (Gráfico M2 nos EUA, base monetária: https://bit.ly/2KIjYgq. CONCLUSÃO: Para aguentar os solavancos, mensagem positiva c/ corte de 3 MM de tulipas em Bant – Holanda (foto acima)
Grande abraço,
Eder.
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TE CONTEI? PARA MANTER O EMPREGO, O SACRIFICIO DEVE SER DE TODOS
De São Paulo, SP.
O QUE ESTA ACONTECENDO: Muitas empresas assumiram o compromisso de não demitir seus empregados durante a crise causada pelo COVID-19. Se por um lado, assumir um compromisso dessa magnitude é sem duvida um passo nobre, por outro, a promessa fica meio solta no ar. Quanto tempo é "durante a crise"? Depois da crise, por quanto tempo a garantia vale? Como manter essa promessa? POR QUE ISSO É IMPORTANTE: Honrar a manutenção de empregos fica mais factível se a promessa vier acompanhada de sacrifícios. Por exemplo, cortando as despesas para torna-la possível. Exatamente isso que a AON esta fazendo (artigo abaixo). CONCLUSÃO: Sem sacrifícios, não se consegue muita coisa nem na vida, nem no mundo corporativo.
Grande abraço,
Eder.
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quarta-feira, 22 de abril de 2020
Fundos de Pensão - Caçando jacarés durante a pandemia, com a ajuda do conselho
Credito de Imagem: TripAdvisor
De São Paulo, SP.
Se você ganhasse R$ 1,00 para depositar no seu plano de previdência complementar cada vez que ouvisse o adjetivo sem precedentes ao longo dessa crise do COVID-19, a queda da bolsa não teria afetado tanto sua poupança de aposentadoria.
Então, aqui vai mais um real: nesses tempos, os conselhos e os fundos de pensão a que servem vem enfrentando desafios e oportunidades sem precedentes em sua governança.
Jan Babiak, membro do conselho de administração de organizações como o Banco de Montreal, fez uma analogia muito boa para explicar o papel dos conselhos durante essa pandemia e eu adaptei para os fundos de pensão brasileiros.
“Imagine que a diretoria do seu fundo de pensão está dentro de um rio no pantanal caçando jacarés. O conselho deveria estar em um barco, apontando os jacarés que os diretores não estão vendo e ao mesmo tempo, deveria ficar de olho no céu acompanhando a trajetória de um meteoro vindo na direção de todos”.
Veja algumas considerações para ter na tela do radar do conselho deliberativo do seu fundo de pensão enquanto a crise vai sendo atravessada.
Questões operacionais do conselho deliberativo
Atravessar uma crise em que pipocam problemas a todo instante, vem demandando dos fundos de pensão reuniões em bases regulares – a maioria virtual – de seus conselhos deliberativos e diretorias. Assim será enquanto durar a pandemia.
É chave para reuniões virtuais bem-sucedidas do conselho, que os conselheiros compareçam totalmente preparados, tendo lido o material que embasará as discussões. Essa é a melhor forma para se poder fazer perguntas inteligentes e relevantes para enfrentar a crise. Os conselheiros não deveriam demandar atenção demais da diretoria nesse momento. A crise vem afetando a organização inteira e a equipe de gestão está tensionada.
As recomendações da Jan Babiak valem também para os conselheiros dos nossos fundos de pensão. Durante as reuniões do board, sejam elas virtuais, presenciais ou hibridas: “Não faça perguntas desnecessárias. Faça seu dever de casa. Leia o website do fundo de pensão. Dê uma olhada nos comunicados internos da entidade e nos posts que a diretoria publica no LinkedIn e nas mídias sociais. Informe-se sobre as iniciativas da gestão antes de fazer perguntas obvias para a diretoria”, diz ela.
Os conselheiros precisam ter flexibilidade em suas agendas para acomodar calls e reuniões virtuais de última hora.
Por incrível que pareça, muitos conselheiros – principalmente os representantes dos assistidos – ainda usam seus e-mails pessoais nas comunicações com os fundos de pensão. Junte-se a isso a adoção de aplicativos vulneráveis para realização das vídeo conferências por muitos conselhos e as informações sensíveis que transitam pelos boards estarão sujeitas à ataques cibernéticos.
Mais do que nunca, um “Secretario do Conselho”, “Secretario Corporativo” (em inglês, Corporate Secretary) ou “Secretario de Governança” teria papel fundamental nesse momento para gerenciar a intensa demanda na interface entre a diretoria e o board. Eu abordo esse papel no meu livro Revolucionando os Conselhos dos Fundos de Pensão.
Diante de tantos problemas e de uma crise que parece interminável, mais do que nunca, os conselheiros estão justificando sua remuneração. Quem sabe, depois dessa tormenta, muitos fundos de pensão, que não o fazem, se convençam de que, sim: (i) é preciso remunerar conselheiros; e (ii) conselheiros independentes são muito bem-vindos.
O fundo de pensão está enfrentando um desafio e você, que é conselheiro, conhece um expert na área? Ofereça ajuda e coloque o especialista em contato com a diretoria. É hora de ajudar, não de minar a gestão.
Fatores ambientais, sociais e de governança - ESG
A pandemia colocará sob uma nova lente as empresas que realmente levam em consideração nos seus negócios os fatores ambientais, sociais e de governança (em inglês, Environmental, Social and Governance ou simplesmente ESG).
“São necessárias muitas boas ações para construir uma boa reputação e apenas uma ruim para perde-la”, já dizia Benjamin Franklin. Investidores institucionais e sociedade estão observando como as empresas estão se portando em meio a essa crise econômica e de saúde publica de grandes proporções.
“O comportamento das organizações em tempos de crise – tanto na forma como tratam os empregados e clientes quanto no impacto que causam na sociedade – podem ter implicações duradouras, tanto positivas como negativas. Esses fatores podem ser relacionados a performance e retornos de longo prazo das empresas”, diz Jessica Alsford, Diretora de Pesquisa em Sustentabilidade do Morgan Stanley.
Mesmo antes de confusão do COVID-19 mais e mais investidores vinham analisando as empresas com a lente do ESG. As decisões das empresas com impacto sobre capital humano, clientes e a sociedade durante a pandemia estão sob forte escrutínio e terão grande peso sobre as avaliações e decisões futuras de investimento.
Faz sentido, campanhas do tipo “não demita” começaram a dar lugar essa semana a outras tipo “recontrate”. Essa é a hora das organizações mostrarem se o “social” que faz parte dos fatores ESG é apenas uma letra.
Portanto, esse é o momento para se viver os valores do seu fundo de pensão. Sabe aquela história de que “as pessoas são nosso maior patrimônio”? Essa é a hora de testar a afirmação.
O seguro saúde do seu fundo cobre os testes para Sars-CoV-2? Porque seu fundo de pensão ainda não tem um perfil e investimentos ESG, uma alternativa que está no topo das prioridades das novas gerações? (escrevi inúmeros artigos sobre isso, dois exemplos aqui: Artigo 1 e Artigo 2)
Plano de comunicação de longo prazo
Imagine que você está em um avião no meio de uma tempestade, todo mundo no avião está preocupado e se perguntando o que está acontecendo, mas o comandante se recusa a informar os passageiros. Não seria melhor ter um comandante que se comunica com os passageiros e passa informações atualizadas a cada instante? Essa foi uma explicação do T.K. Kerstetter, do Diligent Insights, sobre a importância da comunicação nessa fase.
As pessoas sabem lidar com notícias ruins, o difícil para o ser humano é o desconhecido. Portanto, comunique, comunique e comunique.
Liquidez, gestão de caixa e sustentabilidade no longo prazo
Fundos de pensão não estão acostumados com problemas de gestão de caixa. Porém, nessa crise, muitos fundos vêm fazendo planejamento financeiro a partir de forecast (previsões) baseadas em vários cenários para determinar durante quanto tempo conseguem sobreviver com as restrições de custeio administrativo atuais.
Despesas administrativas e seu respectivo custeio, nunca mais serão vistos da mesma forma depois dessa crise. A forma como os fundos veem suas despesas administrativas, suas fontes de custeio, a formação e finalidade de seus fundos administrativos e a eficiência de sua gestão, mudarão para sempre.
Passado esse momento, a dependência das patrocinadoras vai ganhar mais importância e podemos esperar ações para tornar mais sustentável o custeio administrativo dos fundos no longo prazo.
Como se não bastasse, muitas patrocinadoras de fundos de pensão entraram no alvo de ativistas financeiros e investidores oportunistas, ao se tornaram presas fáceis para eventuais aquisições face o baixo preço de suas ações. Os conselhos deliberativos dos fundos de pensão precisam estar preparados também para nisso.
Experiência tem muito valor e participar ou ter participado de vários conselhos de fundos de pensão conta bastante. Com a devida permissão, partilhar as melhores práticas de um fundo com outro ajuda nessas horas.
Conselho fiscal e comitês de auditoria
Conselhos fiscais, auditores externos e comitês de auditoria (obrigatórios nas entidades sistematicamente importantes) vem tendo muito trabalho esse ano.
O encerramento do exercício de 2019 respingado pela queda da taxa de juros e o reporte de resultados do 1º trimestre/2020 andam bastante conturbados.
* * * * *
Nessa época turbulenta, calma e bom senso são commodities valorizadas nos conselhos deliberativos dos fundos de pensão, tão importantes quanto visão estratégica e gestão de risco.
Tomara que a governança do conselho do seu fundo de pensão para tempos de crise seja tão sem precedentes quanto a disseminação desse adversário microscópico que todos nós estamos enfrentando.
Abraço,
Eder.
quinta-feira, 16 de abril de 2020
PensionsTechs: elas chegaram, mas só os Conselhos têm o poder de revolucionar os fundos de pensão
Credito de magoem: UNJSPS
De São Paulo, SP.
O melhor caminho para revolucionar um fundo de pensão é ter um conselho deliberativo eficaz, trabalhando em perfeita sintonia com a diretoria executiva. Essa é a melhor forma para um fundo de pensão enxergar adiante e proceder as mudanças necessárias, posicionando a organização para atuar na nova economia.
As mudanças chegarão mais rapidamente após superada a crise causada pelo vírus Sars-CoV-2. Conforme escrevi em artigo anterior, "Estamos vendo uma mudança que aconteceria em 10 anos, acontecer em 10 semanas".
Hoje vou partilhar com vocês como um fundo de pensão está prestes a adotar a tecnologia do blockchain conjugada com algumas outras para mudar um processo quase centenário.
Já teorizei sobre aplicações do blockchain nos fundos de pensão (Artigo 1 e Artigo 2), mas o caso que relatarei a seguir é pratico e real.
Integrando novas tecnologias
O UNJSPS - United Nations Joint Staff Pensions Scheme é o fundo de pensão das nações unidas. É patrocinado por 24 agências e instituições da ONU – tipo a Organização Mundial de Saúde – e possui 84.000 beneficiários que estão espalhados por 195 países.
Esse é o maior fundo de pensão global e como todos os fundos de pensão é bastante conservador, mas a tecnologia vai agora transformar um processo que permaneceu inalterado desde que a entidade foi implementada 70 anos atrás.
A principal reclamação dos beneficiários hoje é não receberem pelo correio o “atestado de vida e residência”, diz Cataldo Dell’Accio – CIO do UNJSPS. Não pelo documento em si, mas porque se o beneficiário não assinar o atestado (alguns fundos exigem reconhecimento de firma) e devolver para o setor de folha, o pagamento dos benefícios é suspenso.
Por mais que o processo de verificação anual tenha sido otimizado ao longo do tempo, a devolução do atestado ainda depende da eficiência dos correios mundo afora.
O UNJSPS vai entrar para o século XXI integrando uma serie de tecnologias para tornar essa verificação um processo online. Um atestado automatizado substituirá a assinatura, o envelope e o selo.
Com ajuda do International Computer Centre, o Centro de Computação da ONU criado em 1971 eles criaram e testaram um protótipo de “proof of concept” que reúne tecnologias avançadas incluindo reconhecimento biométrico, blockchain, geolocalização e aplicativos móveis.
Wikipédia - Proof of Concept ou PoC: “Prova de conceito” é um termo utilizado para denominar um modelo prático que possa provar o conceito (teórico). Pode ser considerado também uma implementação, em geral resumida ou incompleta, de um método ou de uma ideia, realizada com o propósito de verificar que o conceito ou teoria em questão é suscetível de ser explorado de uma maneira útil. A PoC é considerada um passo importante no processo de criação de um protótipo realmente operativo. Tanto na segurança de computadores como na criptografia a PoC é uma demonstração de que um sistema está, em princípio, protegido sem que a necessidade da sua construção já seja operacional.
Dissecando o problema
O primeiro passo para resolver o problema foi “quebrá-lo” em várias partes. Assim, identificaram em 2018 os seguintes elementos: existência, identidade, transação e localização.
Existência e Identidade – a prova de que o beneficiário existe e esta vivo se baseará em biometria pessoal, mais especificamente, na tecnologia de reconhecimento facial. Para afastar os falsários e evitar que o sistema seja enganado, por exemplo, com apresentação de uma foto estática para a câmera, a tecnologia requer que o beneficiário olhe para a câmera e mude a expressão. Assim o sistema identificará que está lidando com uma pessoa real e não apenas uma foto do álbum de família.
Transação – o sistema usa blockchain para registrar a transação, criando uma evidência que pode ser rastreada, que não pode ser alterada e que pode ser auditada de forma independente. Essa tecnologia permite que sejam mantidos registros de cada transação, a partir do momento em que a pessoa baixa o aplicativo para usa-lo, criando um registro publico indelével. Com o novo processo, os atestados em papel serão substituídos, liberando espaço de armazenamento ocupado por décadas.
Localização – o pagamento dos benefícios, muitas vezes, precisa observar regras locais (ex.: tributação). Portanto, além da prova de existência o fundo de pensão também precisa confirmar o endereço de residência do beneficiário. Verificar a localização, no caso do UNJSPS, tem implicações financeiras porque sendo um organismo internacional muitos pagamentos são referenciados no dólar e transformados em moeda do local de residência do beneficiário. Por fim, em um mundo onde toda a vida das pessoas está em seus smartphones, o processo estará disponível também via aplicativo móvel para facilidade do usuário.
Testes e implantação
De acordo com Dell’Accio a prova de conceito foi concluída e estão agora realizando teste piloto a partir de voluntários. Os testes estão sendo conduzidos em uma das agências da ONU a WFP - World Food Programme (Programa Mundial de Alimentos) que tem sede na Itália e escritórios em vários países em desenvolvimento.
O plano, antes da pandemia do COVID-19, era completar os testes ate junho, obter a aprovação final do conselho deliberativo ate julho e lançar globalmente o novo sistema ate o final de 2020.
Os testes seguem seu curso, mas ainda não é possível dizer se haverá atrasos no cronograma em função da crise.
Para refletir
Num mundo em que as mudanças acontecem de forma exponencial, as organizações que implementam melhorias de forma linear não sobreviverão. O melhor caminho para levar os fundos de pensão a implementarem mudanças como essa que vimos e outras na velocidade necessária, é através de um conselho eficaz.
Tenho escrito muito sobre o assunto e apontado possíveis caminhos para revolucionar os conselhos, tanto em meu livro, como em inúmeros artigos que venho publicando nas mídias sociais.
O papel que defendo para os conselhos deliberativos pode ser muito bem resumido por uma expressão em latim - presente inclusive no brasão da cidade de São Paulo:
Non Ducor Duco, significa "Não sou conduzido, conduzo".
Grande abraço,
Eder.
Fonte: Adaptado do artigo “Pensions tech: Digitising the world’s most global pension fund”, escrito por Dewi John.
quarta-feira, 15 de abril de 2020
Fundos de Pensão - Uma mensagem do futuro
De São Paulo, SP
Tenho escrito muito sobre como “revolucionar os conselhos dos fundos de pensão”, porém, como promover mudanças reais e apontar a proa dos fundos para o futuro, num mundo marcado pela incerteza?
A resposta, escreve Mark W. Christensen, co-fundador da firma de consultoria de gestão o Innosight é: “pensar da frente para trás”. Um processo que os líderes podem usar para planejar e construir um futuro melhor e mais sustentável.
Partindo de nossa realidade atual, usei a sugestão do Christensen para criar uma visão sobre o futuro dos fundos de pensão. Convido você a refletir comigo sobre o que vem pela frente.
Sobrevivência no curto prazo
Com as medidas e políticas certas, os fundos de pensão serão capazes de se recuperar da crise do COVID-19 e contribuir para uma recuperação rápida dos mercados financeiros e da economia real.
Para isso, é preciso que sejam adotadas no curtíssimo prazo, com o senso de urgência que a situação requer, decisões governamentais necessárias para aliviar o máximo possível os efeitos adversos da crise.
Aqui no Brasil isso ainda esta para acontecer, pois uma reunião do CNPC - Conselho Nacional de Previdência Complementar que deveria aprovar tais mediadas no dia 14 de abril foi postergada sine die ...
Os fundos de pensão e os planos de previdência complementar individuais precisam preservar a capacidade operacional para continuarem a desempenhar seu papel de complementação dos sistemas públicos de previdência.
Os supervisores governamentais ao redor do mundo vêm considerando medidas especificas para aliviar as pressões geradas, em alguns casos exacerbadas, pela crise, sobre o nível de cobertura dos compromissos dos fundos de pensão, tais como:
* Medidas para flexibilizar o início de recomposição dos déficits, uma vez que uma insuficiência na cobertura das reservas venha a surgir e desencadeie as atuais medidas de recomposição;
* Medidas que relaxem, por determinado período de tempo, as exigências do nível de cobertura mínima dos compromissos e das regras de solvência.
Uma frase de Andrew Young, ex-candidato as eleições presidenciais americanas de 2020, ilustra bem o momento que os fundos de pensão estão vivendo. Ele disse:
"Quando você está tentando apagar um incêndio na sua casa, você não se procura de onde a agua esta vindo"
Giro pelo mundo com medidas que vem sendo adotas
As empresas patrocinadoras se encontram sob pesado stress financeiro e no momento estão enfrentando choques severos do lado da demanda, restrições da cadeia de suprimentos e perda de liquidez.
Tudo isso afeta a capacidade das empresas pagarem suas obrigações, incluindo o recolhimento de contribuições para os fundos de pensão que patrocinam.
A PensionsEurope, uma organização que representa associações de fundos de pensão de 21 países europeus (uma espécie de ABRAPP europeia), emitiu no dia 09 de abril - por sinal, meu aniversario - uma declaração conclamando os países a adotarem as medidas nesse sentido: COVID-19 Crisis 2020- PensionsEurope Statement
Veja as medidas de alívio que vem sendo adotadas por alguns países:
Alemanha – o órgão regulador do sistema financeiro, o BaFin, relaxou as exigências existentes para o nível de cobertura dos compromissos pelos ativos garantidores dos “Pensionfonds” (fundos de pensão da Alemanha). Decidiram postergar para 2021 o pagamento pelas patrocinadoras de contribuições voltados para amortização de déficits, o que hoje é exigido sempre que a insuficiência ultrapassa o limite de 10% (artigo: aqui).
Holanda – O governo holandês decidiu compensar as patrocinadoras para que possam cobrir parcialmente salários e contribuições para seus fundos de pensão. Dentro de determinados parâmetros legalmente definidos, os fundos postergarão os prazos de recolhimento das contribuições devidas aos planos de previdência.
Suíça – O governo aprovou regras temporárias permitindo que as patrocinadoras usem reservas e fundos que pertençam às próprias patrocinadoras, para fazer tanto suas contribuições como as contribuições dos empregados para os planos de previdência complementar.
Vem se juntando a essas medidas, a postergação dos prazos exigidos pelas autoridades de supervisão para cumprimento de obrigações legais dos fundos de pensão. Principalmente os prazos relativos ao fechamento do exercício social de 31/12/2019 e o reporte de obrigações trimestrais ao longo de 2020, desde que consideradas não-críticas. Veja mais alguns exemplos:
Bulgária – Os prazos para reporte das demonstrações financeiras foi postergado. Estão considerando postergar, também, o reporte de determinadas obrigações administrativas e o pagamento de impostos.
Holanda – O “Dutch National Bank”, o banco central holandês, indicou que vai relaxar temporariamente a pesada carga de exigências sobre os fundos de pensão e já anunciou um prazo adicional de 3 meses para que os fundos reportem seus balanços anuais.
Alemanha – O prazo de 31 de março para submissão, pelos fundos, de informações sobre seus patrimônios garantidores foi suspenso. Foi definido como novo prazo para envio das demonstrações em papel o dia 30 de junho.
Mensagem do futuro
Ultrapassada a crise, o mundo será outro e o modelo de negócios dos fundos de pensão terá sido, inexoravelmente, revisto.
Se ao longo dos anos que antecederam o COVID-19 muitos já vinham antevendo uma previdência complementar compulsória como meio para resolver a eterna crise da previdência social, agora não restará mais dúvida, caminharemos para isso.
Os sistemas de previdência social serão fortemente afetados por essa pandemia devido ao modelo de repartição simples, no qual se baseiam mundo afora.
Wikipédia - Repartição simples se dá pela cobrança de contribuição das pessoas que estão em atividade para o financiamento das aposentadorias e pensões daqueles que já estão aposentados. O Regime de Repartição Simples é o mais utilizado no mundo para o financiamento da Seguridade Social, mas muito pouco difundido na previdência privada por não possuir instrumentos que garantam o pagamento dos benefícios no futuro.
O desemprego em massa que estamos vendo agora resultará num efeito em pinça, impactará as receitas e as despesas dos sistemas de previdência social. Muitos dos empregos que estão sendo perdidos agora, jamais serão repostos.
De um lado, o desemprego levará a diminuição da contribuição de empregados ativos e empresas, causando uma gigantesca perda de receita para financiamento do sistema. Do outro, o sistema de seguridade social experimentará uma estrondosa elevação dos gastos com seguro desemprego.
Os dois efeitos somados aumentarão o enorme déficit publico sendo gerado pelo descomunal pacote econômico que vem sendo implementados pelos bancos centrais através de políticas de “helicopter money” (dinheiro para pessoas e empresas).
Muito alem da recuperação, para se ter um sistema de previdência governamental adequado e sustentável - lembre que estamos vindo do futuro para hoje - é preciso que os governos se voltem apenas para as pessoas que necessitam de uma renda mínima de subsistência. Esse contingente vai aumentar muito, não em decorrência dessa crise em si, mas do mundo que ja vinha se moldando antes dela.
Planos de previdência complementar (talvez com outro nome, certamente com outro formato e entregando soluções diferentes das atuais) serão mais importantes do que nunca seja para prover renda nas crises do futuro ou num mundo dominado pela tecnologia.
Olhando do futuro para hoje, constataremos que as transformações que vinham ocorrendo em 2020 e antes da pandemia do COVID-19 seguiram seu curso. O mundo lá no futuro é dominado por automação (robôs), inteligência artificial, soluções blockchain e muitas coisas que nem vou descrever porquê aqui em 2020 simplesmente não entenderíamos.
Ah, sim, lá no futuro, a aposentadoria terá sido aposentada, não existirão mais empregos que terão sido substituídos por novas relações de "trabalho" e a parada de arrumação causada pelo Sars-CoV-2 (uma gripezinha se comparada com os vírus que virão depois dele) terá sido apenas momentânea.
Pois é, estamos vendo uma mudança que aconteceria em 10 anos, acontecendo em 10 semanas.
Grande abraço,
Eder.
Fonte: Adaptado do artigo “PensionsEurope: Pension funds can help a swift recovery from crisis”, escrito por Susanna Rust e do “PensionsEurope Statement on the Covid-19 Crisis 2020”
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Hora no Mundo?
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