De Sāo Paulo, SP.
Os fundos de pensão NĀO são uma forma de fornecer segurança financeira futura para as novas gerações. Mas eles também NĀO NĀO são uma forma de fornecer segurança financeira futura para as novas gerações. Eles são ambas e não são nenhuma delas, tipo, um Gato de Schrödinger.
Se você quer entender de onde vem e para onde poderão caminhar os fundos de pensão, precisa primeiro se perguntar: qual o objetivo de um fundo de pensão?
O objetivo primário de um fundo de pensão é criar valor para suas patrocinadoras. Oferecer segurança financeira futura aos seus participantes é um subproduto dessa criação de valor.
Os fundos de pensão atuais estão num dilema existencial, semelhante ao de suas patrocinadoras: os economistas andam se perguntando se ainda se sustentam, hoje, as ideias originalmente expostas por Milton Friedman sobre o propósito das corporações. Precisamos perguntar se continuam os mesmos, os motivos que levaram as empresas a criar fundos de pensão.
O propósito de um fundo de pensão (ou de uma corporação), pode ser explicado em três partes. A primeira vem de um pensamento não-econômico, que é simplesmente a razão “d’être” do fundo de pensão. Todo fundo de pensão tem um motivo para existir. A história dele. Porque foi criado.
Mas o propósito de um fundo de pensão também precisa ser entendido sob o ponto de vista econômico, o valor que ele acrescenta no longo prazo. Essa é a segunda parte, necessária, para entender seu propósito.
Na origem, a razão econômica para existência de fundos de pensão era, num mundo competitivo, que eles ajudavam suas patrocinadoras a competir no mercado de trabalho, a atrair talentos, a reter mão de obra, por 20, 30 anos. Um trade-off prá lá de vantajoso.
Desde que ajudasse a maximizar o valor de suas patrocinadoras no longo prazo, não no curto, o custo econômico de manutenção de um fundo de pensão se justificava.
No caso das corporações, o objetivo seria maximizar o valor para os acionistas e Milton Friedman explicou grande parte do proposito de uma corporação, mas não explicou tudo.
Há um terceiro propósito para existência de fundos de pensão, que não está por trás daqueles que originalmente levaram a sua criação. Os fundos de pensão modernos surgiram nos anos 1970 e para ser justo, naquela época, alguns aspectos que foram ganhando importância ao longo do tempo, não tinham peso. Isso vale, também, para as corporações. O que escapou a Friedman, foi o aspecto social.
Os planos de previdência complementar corporativos são desenhados atualmente para assegurar “alguma” segurança financeira futura para seus participantes. Não para garantir-lhes 100% de renda até morrer.
Simplesmente porque entre os propósitos dos fundos de pensão não consta o bem-estar social de seus participantes, muito menos de todos os empregados de uma empresa - principalmente os de renda baixa - e sim a maximização de valor para suas patrocinadoras. O foco sempre foi tornar as patrocinadoras economicamente competitivas em relação aos concorrentes, o que nada tem a ver com aspectos sociais.
Isso é perfeitamente compreensível, dado que uma das premissas econômicas por trás dos fundos de pensão é que o governo está fazendo bem a parte dele na previdência social, que complementam. Advinha o quê? Não está. Nem mesmo funcionários de renda mais baixa são satisfatoriamente atendidos pelos benefícios do INSS e até eles, precisariam de previdência complementar em nossos dias.
A pressão nos fundos de pensão é por oferecer planos que entreguem segurança financeira futura de verdade para todos os participantes. A pressão nas patrocinadoras é para resolver as lacunas deixadas pelo governo em todos os espetros de renda, inclusive as mais baixas. Essas são grandes questões que seguem em aberto.
Tudo isso num momento em que os aspectos econômicos parecem, a cada dia, dificultar a existência de fundos de pensão: falta-lhes escala, porque a tecnologia reduziu os quadros de empregados das empresas, suas estruturas se tornaram caras demais para manter, as pessoas hoje têm cerca de 12 empregos ao longo da carreira e ficam em média 4,6 anos em cada empresa.
Nesse contexto, o valor que os fundos de pensão agregavam às suas patrocinadoras no longo prazo já não é mais o mesmo. Assim, um de seus principais propósitos para existir, o econômico, vai se esvanecendo.
O que os conselhos dos fundos de pensão deveriam fazer?
Em primeiro lugar, os conselheiros deveriam focar em suas obrigações fiduciárias. Assegurar que a gestão esteja entregando boa performance nos investimentos, avaliar as estratégias propostas pelos administradores, atrair e reter talentos, todas essas coisas.
Deveriam, também, dar um passo para trás para enxergar o quadro completo e entender a dinâmica de todas as partes interessadas, os “stackeholders” envolvidos no negócio. Entender o contexto das patrocinadoras, o que está acontecendo no ambiente competitivo em que operam, seus desafios.
Entender as necessidades dos participantes, dos não-participantes, dos jovens, dos nem tāo jovens. Entender fornecedores, governo, comunidade ...
Quando o conselho negligencia uma ou mais das partes interessadas, essa parte deixa de participar da criação de valor do fundo de pensão e eventualmente o leva a falhar.
Os conselhos deveriam perscrutar o horizonte para identificar não apenas os riscos tradicionais, mas também os riscos emergentes e buscar oportunidades de avanço social que beneficiem igualmente o resultado do fundo de pensão e agreguem valor para suas patrocinadoras.
O redirecionamento dos fundos de pensão para o individuo, um movimento que começou com os chamados “planos família”, não significa que eles estejam se afastando das empresas patrocinadoras.
Significa, isso sim, que precisam se adaptar a evolução dos vínculos de emprego, precisam levar em conta uma nova realidade na qual as empresas têm quadros menores de empregados e esses ficam menos tempo nos empregos ... por aí vai.
A responsabilidade social dos fundos de pensão é assunto para a liderança e conselho, não para seu departamento de relações publicas, comunicação e marketing.
Entre participantes e patrocinadoras existem visões diferentes – e frequentemente conflitantes – sobre o que o fundo de pensão deveria fazer. É por isso que existem conselhos deliberativos.
Os conselheiros deliberativos deveriam se engajar totalmente, supervisionar a administração, não fazer micro gestão como se quisessem substitui-la. Deveriam acompanhar o que está acontecendo com o fundo de pensão, levar seu papel a sério e não apenas se limitar a aceitar a representação da parte que os nomeou.
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Conforme disse certa vez o poeta persa do Século XXIII, Jalal ad-Din Muhammad ar-Rumi:
“Na medida em que você começa a caminhar, o caminho aparece”
Então? Vamos dar o primeiro passo?
Grande abraço,
Eder.
Fonte: “Character of the Corporation: Glenn Hubbard”, escrito por Bill Hayes.
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