De Sāo Paulo, SP.
Governança tem a ver com direcionar, guiar, traçar o caminho, definir a direção de uma organização. Tem pouco a ver com efetuar, realizar, operacionalizar, administrar a organização.
Quando a governança de um fundo de pensão está perdida, isso pode tornar-se um problema existencial para a organização.
Existem vários equívocos conceituais sobre o que realmente significa governança, nos conselhos de muitos fundos de pensão, inclusive alguns de grande porte.
Os cinco principais:
1. Governança nāo é compliance e compliance nāo é governança – governança e compliance sāo duas coisas separadas, elas podem se interconectar, se interrelacionar, mas são duas coisas bastante distintas. O conselho deliberativo de um fundo de pensão, que dedica integralmente suas reuniões para supervisionar questões de compliance da administração, está olhando para o funcionamento do carro, sem se preocupar para onde o carro está se dirigindo. Isso se torna um problema quando surge uma curva no caminho.
2. Governança nāo tem só a ver com processos e sistemas – na verdade, governança tem a ver, principalmente, com pessoas e é por isso, que a cultura organizacional / cultura do conselho é crucial para a qualidade da governança de um fundo de pensão. Você consegue inferir o destino de um fundo de pensão ou de qualquer organização, apenas prestando a atenção à cultura de seu conselho deliberativo. Quando as pessoas não ocupam o centro de tudo, as mudanças no cenário social e econômico passam ao largo das decisões que realmente importam e a organização envelhece, sem evoluir.
3. Governança é tanto responsabilidade como prestação de contas do conselho / liderança – porém, governança também é responsabilidade de todos os demais membros da organização, todos somos dirigentes em certo sentido, porque todos nós tomamos decisões que tem consequências sobre o fundo de pensão. Quando o dever de prestaçāo de contas de um conselho deliberativo se limita a elaboraçāo de um belo relatório anual, os participantes conseguem enxergar o passado, mas ficam sem saber o que lhes espera no futuro.
4. Governança é algo complexo, nāo algo complicado – Na prática, existem poucas relações lineares naquilo que chamamos de governança. “Se você fizer isso, então, acontecerá aquilo”: essa nāo é uma maneira inteligente de pensar como a governança funciona, a governança simplesmente não funciona assim. A governança é exercida em um mundo indisciplinado, caótico e surpreendentemente arbitrário, não em um mundo disciplinado, determinístico e parcialmente aleatório. O conhecimento sobre previdencia complementar é capaz de lidar com situaçōes complicadas, mas apenas a experiência no segmento de fundos de pensāo é capaz de lidar com decisōes complexas.
5. A governança pode ser entendida como uma viagem de carro por uma estrada – definimos o destino e entāo, acompanhamos o trajeto, pedindo ao motorista para justificar os desvios de rota ao longo do caminho. Para se mensurar a governança, no entanto, é necessário uma analise bastante profunda, usando como lentes o funcionamento de sistemas complexos e comportamentos humanos, do contrário, estaremos dando tiro no escuro.
Meu Deus, eu poderia acrescentar inúmeros outros mitos e equívocos na interpretação do papel da governança em fundos de pensão, mas vou me limitar aos cinco listados acima.
Governança é o elemento mais transformador em qualquer organização, vamos dar uma chance para ela nos conselhos deliberativos dos fundos de pensão?
Grande abraço,
Eder.
Opiniões: Todas minhas | Fonte: “Governance has lost its direction”, escrito por Perrin Carey.
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