De Sāo Paulo, SP.
As melhores respostas, na maioria das vezes, dependem de quais perguntas sāo feitas. Se o seu fundo de pensāo aceita as coisas pelo valor de face e simplesmente segue as tendências — indo atrás do efeito manada — provavelmente está deixando escapar os aspectos mais profundos sobre o futuro da previdência complementar.
Uma das perguntas mais simples, porém, mais poderosas é “POR QUÊ”?
Em 1905 Albert Einstein trabalhava em um escritório de patentes na Suíça, quando fez a si mesmo uma das perguntas mais profundas da história da física:
“O que aconteceria se eu andasse ao lado de um feixe de luz”?
A pergunta era simples, mas contra-intuitiva. Olhando hoje, em retrospecto, foi um momento monumental para a ciência.
Enquanto os físicos da época estavam ocupados refinando a mecânica Newtoniana e lutando com a natureza do éter, a pergunta de Einstein levou ao desenvolvimento da teoria especial da relatividade, alterando fundamentalmente a compreensão humana sobre tempo, espaço e energia.
Nāo foi a complexidade das equações que transformou Einstein em um pensador revolucionário – foi a habilidade que ele tinha de fazer a pergunta certa. O poder de fazer boas perguntas nāo é limitado ao reino da física, ele permeia o mundo dos negócios, investimentos e até dos fundos de pensāo.
Ao focar na obtenção de respostas rápidas, você provavelmente deixa escapar o cenário mais amplo mas se você domina a arte de fazer as perguntas certas, novas possibilidades que os outros nem consideraram se abrem à sua frente.
A importância da pergunta certa em previdência
Contudo, os projetos mais memoráveis nascem, não do desenho do plano, mas de seu alinhamento aos propósitos que a organização que deseja implantá-lo pretende atingir.
No começo dos anos 2000 eu trabalhava em uma empresa multinacional de consultoria atuarial. Certo dia, fui chamado pela Diretoria do Clube da Aeronáutica, que tem sede no Rio de Janeiro. Na reunião eles me explicaram que queriam implantar um plano de previdência complementar, seria um benefício que o clube ofereceria aos associados.
Na superfície, tudo parecia certo – o clube tinha milhares de sócios entre civis e militares, poupar para o futuro é importante e o timing nāo poderia ser melhor, pois a lei de previdência aprovada em 2001 permitiu aos fundos de pensão oferecer planos para associações, como é o caso de clubes.
Mas algo estava faltando e eu não sabia dizer o que era, ao invés de avançar com suposições, reduzi o ritmo e fiz mais algumas perguntas.
Por que o clube queria oferecer um plano de previdência complementar como benefício para os associados? Que resultado eles esperavam obter com isso?
Depois de mais alguns minutos de conversa e de perguntas cuidadosamente formuladas, sobre o objetivo por trás daquela iniciativa, a verdadeira história começou a vir à tona: o clube vinha perdendo sócios em ritmo preocupante, os sócios atuais já não frequentavam o clube como antigamente e algo atrativo precisava ser oferecido.
Contrariando meu interesse em sair dali e fazer uma proposta, expliquei para a diretoria minha visão sobre o que estava acontecendo: da mesma forma que as pessoas deixaram de ir à shoppings fazer compras, porque a Internet surgiu como alternativa de comercio eletrônico, as pessoas passaram a ter inúmeras opções de lazer online, afastando-as dos tradicionais clubes recreativos.
Fui bem honesto e disse que um plano de previdência complementar é algo sensacional, mas nem por isso seria capaz de atrair os sócios e fazê-los voltar a frequentar o cube ... o Presidente, que até aquela altura apenas ouvia, sorriu aliviado e falou que ele pensava exatamente como eu. Resumo da opera, ganhei um grande amigo, um ex-ministro da aeronáutica e não rolou proposta nenhuma. A pergunta certa destravou tudo.
Se o seu fundo de pensão simplesmente aceita as coisas pelo valor de face – seguindo a manada, indo atrás das tendências como se fossem o Flautista de Hamlin – muitos problemas podem surgir. Por exemplo, ao implantar um plano família, afinal todo mundo está fazendo isso, é provável que você deixe escapar algumas coisas.
Credito e Imagem: Dreamstime | O Flautista de Hamlin em Hameln, Alemanha
“Temos estratégia de venda e estrutura para atrair indivíduos para um plano família? Estamos preparados para atingir o break-even das despesas administrativas somente em dois a três anos? Temos canais de relacionamento para atender pessoas físicas? Que alteração é desejável na governança do conselho deliberativo? Fazer as perguntas certas ajuda a descobrir o que está debaixo da superfície, é lá que estāo as verdadeiras oportunidades.
O poder de perguntar “Por que”?
Por quê? Antes da Tesla se tornar um nome mundialmente conhecido, o mercado de carros elétricos era pequeno, um nicho de mercado ainda não estabelecido.
A maioria dos fabricantes de automóveis perguntou:
“Como podemos tornar os carros elétricos acessíveis”?
Essa era a pergunta errada, Musk fez uma pergunta diferente:
“Por que os carros elétricos não são melhores do que os carros tradicionais a combustão?
O “por que” levou a uma abordagem totalmente diferente. Ao invés de tentar competir diretamente em preço com os carros a gasolina, Musk focou em fabricar carros melhores, mais rápidos, mais desejados e mais divertidos de dirigir.
Ele não perguntou como competir em um mercado saturado — ele perguntou por que o mercado ainda nāo havia mudado. A pergunta alterou tudo.
Três maneiras de fazer boas perguntas
Aqui vāo três passos que levam a formulação de boas perguntas:
- Faça perguntas abertas: Perguntas abertas sāo uma ferramenta poderosa porque nāo limitam a resposta a um mero sim ou nāo. Elas convidam a uma reflexão mais profunda e podem destravar novas avenidas de pensamento. Ao invés de perguntar “Investir em cryptoativos é arriscado”? pergunte “Que riscos nāo estou enxergando nos investimentos em cryptomoedas”? ou “Como as classes de ativos deverão evoluir nos próximos cinco anos”? Essa abordagem encoraja as pessoas a pensar além das respostas superficiais.
- Abrace a mentalidade do leigo: Frequentemente, pensamos saber as respostas ou nos baseamos em premissas para nos guiar. Entretanto, uma das melhores maneiras de fazer boas perguntas é tratar as situações com uma mentalidade de iniciante. Aja como se estivesse aprendendo sobre o assunto pela primeira vez. Isso ajuda a eliminar vieses e abre a porta para perguntas “idiotas” – sāo elas que geralmente levam às respostas mais esclarecedoras. Nāo tenha medo de perguntar “Por que isso funciona assim?” ou “E se tratássemos esse problema sob um ângulo totalmente diferente”?
- Foque nas implicações de longo prazo: Na previdência complementar, as perguntas que têm mais valor geralmente focam no longo prazo. Ao invés de perguntar “Como podemos atrair mais participantes e patrocinadoras para nosso fundo de pensāo”? pergunte “Essa estratégia vai funcionar daqui a cinco ou dez anos”? A decisão de atrair planos / patrocinadoras de outros fundos de pensão – ao invés de empresas pequenas e médias que não tem planos – “É sustentável ao longo do tempo”? Esse tipo de pergunta te força a pensar mais estrategicamente e pode levar a melhores decisões de longo prazo.
Perguntas certas levam a respostas certas
A arte de fazer boas perguntas é uma competência que leva tempo para ser desenvolvida, mas é incrivelmente valiosa. Os melhores conselheiros deliberativos sabem que nāo se trata de ter todas as respostas, a governança eficaz de um fundo de pensão tem a ver com saber fazer as perguntas certas.
Na próxima vez que seu conselho deliberativo estiver procurando uma resposta, faça uma pausa e pergunte a si mesmo: "Estou fazendo a pergunta certa”?
Grande abraço,
Eder.
Opiniões: Todas minhas | Fonte: “Question: Are you asking the “right” questions?”, escrito por Eric Markowitz.
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