De São Paulo, SP.
O QUE ESTÁ ACONTECENDO:
Sempre me chamou a atenção uma estatística chocante na pesquisa anual da PWC sobre os conselhos das maiores empresas listadas em bolsa nos EUA. Na versão de 2022 ficou assim: quase metade dos conselheiros (o no exato é 48%) acha que um ou mais membros do conselho deveria ser substituído e 1 em cada 5 (o no exato é 19%) substituiria dois ou mais de seus colegas.
É uma visão interna corporis, não é a opinião de ninguém de fora dizendo isso. Podemos extrapolar esse resultado e imaginar que aconteça algo semelhante nos nossos fundos de pensão.
Existem milhares de razões pelas quais um conselheiro não deveria estar no board de um fundo de pensão, dá até para escrever uma tese de doutorado sobre isso, mas essa seria essa uma discussão diferente se uma única palavra fosse considerada: “renunciar”.
Pede pra sair é uma das frases mais memoráveis do Capitão Nascimento no filme Tropa de Elite e sua aplicação é extremamente vasta.
Desistir é uma postura extremamente antiamericana - ninguém gosta dos desertores - e não é bem-vista na maioria das culturas, mas renunciar é diferente de desistir.
Sair, desistir evoca falta de vontade, pouca disposição de expandir o quesito “esforço”. Resignar não tem a ver com esforço, é uma decisão de partir fundamentada, baseada em reflexões mais profundas.
Na prática, ambas têm o mesmo efeito: uma pessoa voluntariamente
decide vagar uma posição.
POR QUE ISSO É IMPORTANTE:
Você não vai ver um único painel sobre o assunto nos incontáveis webinars abordando governança de conselhos, que acontecem a cada ano.
Não vai ouvir nenhum membro experiente de conselho discutindo o que o levou a renunciar de um board, porque ele estava contente com a decisão e foi a coisa certa a fazer.
Quando não se discute uma conduta, parece que ela não acontece, mas a melhor coisa que o membro do conselho de um fundo de pensão tem a fazer em determinadas situações é renunciar.
Já ouvi de conselheiros coisas como:
1) o diretor-presidente era a pessoa errada para liderar o fundo ... por muitas razões, mas ele era amigo dos outros conselheiros e eu fiquei isolado. Eu sabia que teríamos problema com a performance e eu estava certo;
2) os demais membros do conselho não tinham experiência suficiente em previdência para saber que o problema de atrasos no envio de relatórios aos órgãos reguladores decorria de má gestão interna e isso não era comum. Todos os indicadores apontavam isso, mas eu não consegui fazer nenhum outro membro do conselho ver o problema;
3) fui convidado para o colegiado por causa de um conjunto específico de conhecimentos e experiências, mas depois da fusão de planos isso deixou de ser necessário;
4) o diretor-presidente é contra trazermos conselheiros externos, talvez porque passará a ser mais questionado, mas ele convenceu a patrocinadora que isso não é prática de mercado. A gestão dele é opaca e percebo interesses pessoais envolvidos nas decisões.
Mesmo assim, nenhum deles renunciou.
CONCLUSÃO:
A mídia é pródiga em noticiar casos ainda mais complicados de fundos de pensão em que claramente os conselheiros passaram por situações envolvendo preocupações éticas significativas, com evidências documentadas, que o presidente do conselho não se dispôs a analisar, muito menos discutir.
Todos permaneceram na cadeira e se arrependeram. Se a sua intuição sinaliza que você deveria renunciar de um conselho ... renuncie.Isso não é “desertar”. É a coisa mais inteligente a fazer e muitos conselheiros deveriam fazer isso também, estejam os “experts” em governança de conselhos falando sobre isso ou não.
Grande abraço,
Eder.
Fonte: There’s One Thing Board Members Should Do A Lot More Often: Resign, escrito por Adam J. Epstein
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