De São Paulo, SP.
É a capacidade do conselho deliberativo em aceitar opiniões daqueles que pensam diferente dele, que de fato impulsiona o progresso de um fundo de pensão.
Da mesma forma que a evolução humana depende de mutações, erros e desvios, o progresso dos fundos de pensão depende do que é novo, de uma perspectiva diferente.
No trabalho de consultoria em governança de conselhos que desenvolvo há anos, tenho me deparado com um tema em comum, que permeia todos os fundos de pensão que cruzaram o meu caminho até aqui:
a dificuldade dos conselhos em abraçar uma perspectiva diferente, vinda de pessoas de fora do seu domínio de conhecimento
Isso acontece independentemente de o conselho ser formado por pessoas que sabem muito sobre como as coisas são feitas no segmento de previdência complementar ou que sabem pouco.
Acontece em fundos patrocinados por empresas do setor de mineração, financeiro, químico, farmacêutico, de energia, _________ (preencha a vontade), cujos conselheiros possuem uma expertise incrivelmente focada no negócio da empresa patrocinadora, mas que estão tão entrincheirados em seus afazeres que se tornam incapazes de enxergar o mundo fora dele ou mesmo tolerar a ideia de trabalhar com alguém estranho a ele.
Não escapam nem mesmo os conselheiros das patrocinadoras do setor de tecnologia, que contam com amplo conhecimento de inovação, possuem um ou dois sucessos profissionais em seus currículos e pensam que por isso podem transitar por qualquer domínio do conhecimento e desafiar tudo que nele está estabelecido.
A verdade é que todos estão fadados a falhar lentamente. Amplo conhecimento de qualquer setor específico, extensa rede de relacionamento e domínio das melhores práticas do passado criam um dogma, um bloqueio, que impede o avanço de coisas que são possíveis fazer nos fundos de pensão, tornando qualquer mudança extremamente difícil, senão, impossível.
Se você olhar com atenção para os membros que compõe qualquer conselho deliberativo, verá profissionais com uma miríade de formações profundas, mas é incrível como eles contam com zero expertise no campo em que estão se metendo quando se sentam na cadeira de conselheiro de um fundo de pensão.
O atual modelo de governança dos conselhos dos fundos de pensão, aí incluída a exigência de curso de habilitação para que qualquer um se torne conselheiro, está fadado a levar todo o setor ao abismo.
Quem faz um curso de formação de conselheiros de fundos de pensão visando cumprir um requisito legal para habilitação, pensando que se tornou um especialista no assunto e após 70, 80 horas de treinamento pode tomar decisões envolvendo bilhões de $$$ que afetarão a vida e o futuro de milhares de pessoas, sugiro refletir sobre a Lei de Hofstadter:
“Sempre leva mais tempo do que você pensa, mesmo quando você leva em consideração a Lei de Hofstadter”
A melhor pergunta que se pode fazer sobre como começar a concertar o modelo de governança que está aí é: como ampliar a visão, expertise e experiencia do conselho deliberativo de um fundo de pensão?
A resposta vocês já sabem: trazendo conselheiros profissionais e independentes para o colegiado. “Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura” – mas um dia a água acaba e ...
O progresso dos fundos de pensão é um pouco mais difícil do que parece e depende de coisas mais duras e dolorosas do que gostaríamos. Ocorrerá de fora para dentro, mas para acontecer, depende em primeiro lugar da vontade interna e em segundo de tempo, que encurta a cada santo dia.
Grande abraço,
Eder.
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