Richard P. Feynman |
De São Paulo, SP.
Richard Feynman (1918 – 1988) foi um físico teórico norte americano, ganhou o Nobel em Física de 1965 por suas contribuições para o desenvolvimento da mecânica quântica, física dos superfluidos, física das partículas e diversos outras campos.
Imbuído de um espírito extremamente curioso, Feynman se interessava por qualquer coisa que cruzasse seu caminho e entendia como ninguém o significado de aprender.
No curto vídeo ao final desse texto, Feynman fala sobre a diferença entre saber o nome de alguma coisa e de entendê-la. A certa altura, ele diz:
Vê aquele pássaro? É um Tordo de Garganta Marron (Sabiá Laranjeira), na Alemanha é chamado de Halzenfugel, na China eles chamam de Chung Lingand e mesmo você sabendo todos esses nomes, você não sabe nada sobre o pássaro. Você sabe apenas sobre como os (diferentes) povos o chamam. Esse pássaro tem um dos cantos mais bonitos dentre todos os pássaros, ensina os filhotes a voar e durante o verão eles voam muitos quilômetros de distância, atravessando o país, mas ninguém sabe como eles se orientam.
O ponto para o qual Feynman chama a atenção é que saber simplesmente o nome de alguma coisa não significa que você entenda sobre aquilo. Precisamos de palavras para falar com os outros, mas frequentemente as usamos para ofuscar nossa deficiência e falta de compreensão sobre os fatos em geral.
Em Surely You’re Joking, Mr. Feynman, ele ilustra o problema que existe no processo de aprendizagem de ciência pelas crianças.
Ele cita um livro infantil que começava apresentando quatro fotografias: a primeira de um brinquedo que funcionava dando-se corda, depois um carro, então um menino andando de bicicleta e por fim uma outra coisa em movimento. Debaixo de cada foto havia a pergunta: “O que o faz andar?”
Feynman pensa: Já sei do que se trata: eles vão falar sobre mecânica e como as molas funcionam dentro do brinquedo, sobre química e como os motores do carro a combustão funcionam e sobre biologia e como os músculos funcionam.
Ele lembra de como seu pai ensinaria esses conceitos:
Começaria perguntando: “O que os faz andar?” e diria que tudo se movimenta porque o sol brilha. Então se divertiria discutindo o assunto. Feynman responderia: “Não, o brinquedo anda porque as molas em seu interior enrolam”. O pai provocaria: “Como as molas enrolam?” e ele responderia: “Porque eu dou corda no brinquedo”. O pai perguntaria: “E como você tem força para dar corda no brinquedo?” e ele retrucaria: “Porque eu me alimento”. O pai concluiria dizendo: “Os alimentos só crescem porque o sol brilha e por causa do sol é que todas essas coisas se movimentam”. Assim, ele ensinaria o conceito de que movimento é simplesmente a transformação de energia (do sol).
Mas quando Feynman virou a pagina do livro infantil com as quatro fotos, a resposta para o que faz o brinquedo de corda andar era: ”a energia o faz andar”. A resposta para o menino na bicicleta era: ”a energia o faz andar”, todas as respostas eram: ”a energia o faz andar”.
Ele argumenta que isso não significa nada, pois ensina apenas uma palavra e não o princípio geral por trás dos vários movimentos. Não transmite nenhum conhecimento para a criança, é apenas uma palavra. Feynman prossegue:
O que as crianças deveriam fazer é olhar o brinquedo de cordas, ver que tem molas dentro dele, aprender sobre molas, aprender sobre rodas e deixar para lá, não se preocupar com “energia”. Mais tarde, quando a criança souber algo sobre como o brinquedo funciona, pode-se discutir os princípios gerais de energia.
Nem é verdade que a energia os faz andar. O que eles estão falando é sobre energia concentrada sendo transformada em formas mais diluídas, o que é um aspecto muito sutil de energia. Nesses exemplos, a energia não aumenta nem diminui, apenas muda de forma e quando as coisas param, a energia se transforma em calor.
Na opinião de Feynman, os livros infantis de ciência dizem coisas inúteis, misturam conceitos, são ambíguos, confusos e parcialmente incorretos. “Como alguém pode aprender ciência com esses livros, eu não sei, porque não aquilo não é ciência”, conclui ele.
Um bom teste para os conselheiros do seu fundo de pensão
Marciano querendo saber: O que são fundos de pensão? |
Uma forma simples de testar se você sabe uma coisa ou apenas o nome dela é um método popular de aprendizado chamado Técnica Feynman, em homenagem ao próprio Feynman.
Quando você quiser testar seu conhecimento sobre um conceito ou sobre alguma coisa, sem usar o nome da coisa, tente explicar em seus próprios termos o que sabe sobre aquilo. Explique em palavras simples, em sua própria linguagem.
Se você não conseguir explicar satisfatoriamente, você não tem uma perfeita compreensão de tudo que gira por trás das palavras, do conceito, do funcionamento.
A Técnica Feynman envolve quatro etapas:
- Quando aprender algo, aprenda o conceito, não apenas o nome;
- Então, tente explicar de forma simples, de modo que até uma criança de 10 anos seja capaz de entender;
- Identifique as lacunas na sua explicação, provavelmente você não será capaz de explicar perfeitamente logo na primeira tentativa, mas tudo bem. Volte à fonte para ter uma melhor compreensão;
- Finalmente, tente explicar novamente, simplificando mais ainda a explicação original.
Vamos lá?
Tente explicar o que é um fundo de pensão, o que ele faz, para que serve, sem falar a palavra fundo de pensão. Parece fácil, mas não é.
Faça conforme o pai de Feynman fez certa vez com ele.
Suponha que um punhado de Marcianos acabou de chegar na Terra e nunca ouviu falar de fundo de pensão. Suponha que eles não tenham fundos de pensão em Marte e te perguntem:
O que é exatamente um fundo de pensão? Quando você vive centenas de anos como nós vivemos em Marte e você não se aposenta nunca, o que acontece com sua renda de “aposentadoria”? Ela simplesmente termina ou vai ficando pequeniniiiiiiinha até que você não consegue mais pagar suas contas? E aí, então, o que você faz? Se os fundos de pensão não garantem mais sua segurança financeira futura, como os terráqueos estão resolvendo isso?
Pois é, para construir o futuro dos fundos de pensão, talvez tenhamos que torcer para os Marcianos chegarem logo por aqui ...
Video do Richard Feynman:
Grande abraço,
Eder.
Fonte: “Richard Feynman On The Difference Between Knowing the Name of Something and Knowing Something”, escrito por Abhishek Chakraborty.
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