De São Paulo,SP.
A “Teoria do Cavalo Morto” é uma lição ancestral na cultura indígena americana do estado de Dakota, passada de uma geração para outra, que diz:
“Quando você descobre que está cavalgando um cavalo morto, a melhor coisa que você tem a fazer é desmontá-lo”
No mundo corporativo, no entanto, quando isso acontece, frequentemente buscam-se estratégias elaboradas para lidar com o problema, tipo:
- Compra-se um chicote mais forte
- Troca-se o cavaleiro
- Cria-se um grupo de trabalho para estudar o assunto
- Buscam-se outros países p/ ver como outras culturas cavalgam cavalos mortos
- Reduzem-se os padrões para poder incluir cavalos mortos
- Reclassificam-se cavalos mortos para cavalos vivos com invalidez
- Contratam-se terceirizados para cavalgar o cavalo morto
- Reúnem-se vários cavalos mortos para aumentar sua velocidade
- Coloca-se mais recursos e/ou treinamento para aumentar a performance do cavalo morto
- Faz-se um estudo de produtividade para verificar se cavaleiros mais leves podem melhorar a performance do cavalo morto
- Decide-se que o cavalo morto não precisa ser alimentado, é mais barato e não acrescenta head-count, portanto, contribui substancialmente para economias do que outros cavalos
- Redefine-se a performance esperada para todos os cavalos e claro ....
- Promove-se o cavalo morto para uma posição gerencial
No contexto dos negócios um cavalo morto pode ser um projeto, uma estratégia ou um empreendimento que deixou de ser viável, não importa quanto esforço ou recurso adicional você coloque nele.
Isso pode acontecer devido a mudanças nas condições do mercado, na competição, no contexto econômico ou simplesmente a má execução da iniciativa.
Independentemente da causa, o resultado é sempre o mesmo: você está colocando tempo e dinheiro em algo cuja probabilidade de sucesso é tão reduzida, que não vale a pena prosseguir.
A Teoria do Cavalo Morto ajuda a enxergar exatamente as situações em que isso acontece, quando você deve continuar insistindo em um projeto que está fracassando e quando você deve abandona-lo e interromper as perdas.
Em suma, nos ajuda a aprender e identificar os cavalos mortos.
Empresas que tentaram cavalgar um cavalo morto
Uma empresa que foi vítima da Teoria do Cavalo Morto foi a Kodak, que dominava o mercado de filmes fotográficos e falhou em se adaptar as mudanças na tecnologia, não conseguindo pivotar com a chegada da fotografia digital.
A Kodak continuou a despejar milhões de $$$ no negócio de filmes, mesmo quando ficou claro que o mercado estava se afastando da fotografia tradicional. Quando reconheceu a transformação e tentou mudar já era tarde demais, a empresa faliu em 2012.
Outro exemplo clássico estudado nos cursos de MBA é o caso da Blockbuster, a gigante de aluguel de fitas de vídeo cassete. A Blockbuster foi lenta demais em se adaptar ao crescente mercado de serviços de streaming e locação de filmes online.
A Blockbuster continuou investindo na megaestrutura de lojas físicas, mesmo quando os consumidores passaram a se afastar das mídias físicas no mercado de música e filmes. A incapacidade em reconhecer a mudança no mercado e pivotar para um novo modelo de negócios acabou levando ao seu desaparecimento.
Nem sempre um cavalo morto significa a falência completa de uma empresa. Uma unidade de negócios, uma linha de produtos (um tipo de plano de previdência complementar, como foi o caso dos BD) ou um investimento que estejam sangrando $$$ e recursos, também pode ser um cavalo morto.
Veja o caso da unidade mundial de soluções digitais da Amazon, que inclui desde os autofalantes inteligentes com tecnologia de voz, como Alexa e Echo, até o serviço de streaming Prime Video. De acordo com a Business Insider, essa unidade da Amazon teve prejuízos de US$ 3 bilhões no 1º trimestre de 2022
Por mais de uma decada a Amazon vem tetando tornar a Alexa e o Echo o próximo meio de compras digitais. Comercializaram esses dispositivos pelo preço de custo planejando obter lucro quando as pessoas os usassem para comprar pela Amazon.
Há apenas um problema – quase ninguém usa os dispositivos para isso. Em novembro passado a Amazon demitiu um contingente significativo de empregados que trabalhavam com a Alexa e o Echo, o que pode ser um indício - ainda não admitido – de que estejam cavalgando um cavalo morto ...
No segmento dos fundos de pensão, acabamos de ter um exemplo de player que estava cavalgando um cavalo morto, mas percebeu e apeou dele. A PrevChevron, que contava com apenas 115 participantes ativos, 61 assistidos e um patrimônio de módicos R$ 74 milhões, foi incorporada pela TexPrev agora em janeiro de 2023.
Como evitar um cavalo morto
Mesmo as empresas mais bem sucedidas podem ser vítimas da Teoria do Cavalo Morto e sinceramente, esse é um problema bem comum no mundo dos negócios.
A única forma de evitar isso é estar constantemente experimentando. Mini experimentos ajudam a calibrar a bussola e identificar em quais tendencias vale a pena investir, quais devem ser ignoradas e quais projetos devem ser abandonados antes que engulam o resto do seu negócio.
Plano família? Implante um. Deu certo? Prossiga. Deu errado? Descontinue.
Ao dar autonomia para a gestão experimentar – com algumas diretrizes a serem seguidas – o conselho deliberativo de um fundo de pensão vai testar dezenas de mini experimentos a cada ano e ao testar novos caminhos o tempo todo, estará a frente das tendencias ao invés de terminar atrás delas.
Fundos de pensão e a Teoria do Cavalo Morto
Apesar de alguns fundos de pensão não terem sequer começado a se mover em busca de um novo modelo de negócios, mesmo diante dos sinais evidentes de que estão cavalgando (i.e., atual modelo de negócios) um cavalo morto, muitos outros fundos já acordaram para o problema.
Dentre os que acordaram, há aqueles que estão adotando uma ou mais das estratégias listadas nos bulets acima, que serão incapazes de levá-los a algum lugar, a qualquer lugar.
Mas existem uns poucos que estão no caminho certo. Não obstante, estar com a proa na direção certa é necessário, mas pode ser insuficiente caso a velocidade das mudanças não seja rápida o bastante.
A Teoria do Cavalo Morte nos lembra a importância de os conselhos deliberativos dos fundos de pensão serem proativos em reconhecer quando um projeto, uma estratégia, um tipo de plano ou uma ação, não são mais viáveis, de estarem cientes das mudanças nas condições do mercado de previdência complementar, de estarem abertos a mudar sua visão sobre o futuro, de evitar cair na mesma armadilha que caíram tantas outras empresas e negócios antes deles.
A Teoria do Cavalo Morto tem a ver com a relação problemática entre uma organização e as pessoas que a tornam o que ela é, mais precisamente, com as tensões entre a complexidade das medidas necessárias para assegurar seu futuro e a simplicidade das ações individuais.
Quando as responsabilidades não estão claras, falta competência e não há liderança, uma organização pode ser presa fácil de uma forma paralisante de cegueira coletiva. Nesse ambiente, a verdade pode se tornar disruptiva na medida em que ela ameaça a suposta integridade da organização ou de seus players institucionais.
O problema é que a realidade, eventualmente, vai alcançá-los, sejam essas organizações empresas de capital aberto, sejam fundos de pensão.
Grande abraço,
Eder.
Fonte: The Dead Horse Theory: A Cautionary Tale for Entrepreneurs, Mission Daily.
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