De Sao Paulo, SP.
Disruptura é o deslocamento de negócios, mercados e atividades que resulta de mudanças econômicas, sociais, ambientais, políticas, regulatórias ou tecnológicas.
Está ficando vez mais obvio para todos – ou deveria estar – que os ciclos de disruptura estão se tornando mais regulares e seus impactos mais profundos do que os ciclos econômicos com os quais executivos e empresas estavam tão acostumados.
A reestruturação das operações, a implantação de novos modelos de plano de previdência (planos família) , a busca de menores custos de administração, as melhorias no sistema de governança dos fundos de pensão, todas essas coisas de uma maneira ou de outra tem sido feitas e consequência de disrupturas nas patrocinadoras e no próprio mercado.
O novo driver da economia é a disruptura. Cada CEO, cada diretor, cada gerente, cada empregado de fundo de pensão, têm que lidar hoje em dia não apenas com os desafios dos custos, competição crescente e atracão de novos participantes, mas também com as mudanças repentinas no ambiente de negócios da previdência complementar e as inevitáveis tendencias de longo prazo que estão transformando a forma como se poupa para obter segurança financeira futura.
O mundo continua ficando mais complexo, estamos na era das disrupturas na qual o normal acabou. Três em cada quatro CEOs dizem que suas organizações estão se deparando com enormes quantidades de disruptura e 72% deles dizem que suas equipes não têm a agilidade necessária para lidar com elas.
Resultado: 75% dos CEO temem que suas organizações não estejam se adaptando rápido o suficiente e 85% dizem que não sabem por onde começar.
Nada menos que 98% (ou seja, quase todas) das empresas esperam mudar seu modelo de negócios nos próximos três anos e 31% - um aumento de seis pontos percentuais em relação ao ano passado – estão mudando esse ano.
Todos esses dados são do estudo “AlixPartners Disruption Index 2023”, que mede o nível de disruptura através das principais regiões do mundo e segmentos de atividade – inclui serviços financeiros e assistência médica, mas não inclui a América Latina.
O desafio para os fundos de pensão deixou de ser apenas a busca de um novo modelo de negócios, passou a ser em quanto tempo serão capazes de fazê-lo. Conseguirão pivotar antes de sucumbir?
A pressão sobre os CEOs é enorme e 70% deles estão preocupados com a manutenção de seus próprios empregos. Acontece que aqueles que deveriam ajudá-los, seus conselhos de administração, representam na verdade o maior empecilho:
83% dos CEOs dizem que seus conselhos de administração frequentemente os impedem de lidar com as disrupturas.
Efeito das mudanças demográficas sobre os negócios
As mudanças demográficas, traduzidas pelo envelhecimento e declínio populacional, afetarão a demanda por bens e serviços. O foco será transferido de artigos de bebês, carros e ensino superior para assistência a saúde, medicina, robótica e mercados emergentes.
Quando o mercado geral se reduz ou cresce menos, há mais competição do tipo oceano vermelho, é isso que temos visto com os fundos de pensão.
Uma estratégia de oceano vermelho envolve competir em segmentos já existentes da economia, o que requer lidar com níveis intensos de competição e envolve a comoditização, com empresas competindo basicamente por preço.
Fundos de pensão e instituições operando no segmento de previdência complementar terão que extrair seu crescimento de inovações, roubando no caminho market share dos concorrentes. O outrora amistoso mercado de fundos de pensão, no qual inexistia concorrência propriamente dita, verá aumentar a competição entre as organizações.
O crescimento é sempre mais difícil quando se atua num mercado em que a população não está crescendo – imagine então atuar num negócio em que a quantidade de potenciais consumidores (empregados) está declinando a olhos vistos.
Os impactos dos movimentos demográficos sobre o business de previdência complementar vão muito além do obvio ululante e surrado argumento da longevidade
O que significa a desglobalização para os fundos de pensão
Após o fim da guerra fria diminuíram as barreiras para o fluxo de capitais, informação e pessoas ao redor do mundo. Tecnologias como a Internet e Smartphones facilitaram grandemente a comunicação e proliferação da quantidade de dados gerados.
Porém, mais recentemente, as barreiras tecnológicas e dificuldades para as comunicações estão aumentando. Na web a intolerância levantou a bandeira da fake News e virou motivo de censura, ameaça a liberdade de expressão e banimento de websites, páginas e canais de informação que muitas vezes apenas pensam diferente.
O realinhamento na cadeia global de suprimentos que está em curso não significa o fim da globalização, mas significa que as empresas precisam se preparar para um futuro com mais barreiras para trocas comerciais, maiores custos e incertezas crescentes.
Para os fundos de pensão, o impacto se dará na alocação de investimentos no exterior, que tende a ficar mais cara, mais arriscada e talvez, menos interessante. Durante períodos em que há maior confiança e cooperação, as trocas comerciais e os investimentos entre os países tendem a aumentar. O contrário também é verdade.
Tecnologia: a maior ameaça para o futuro os fundos de pensão
As mudanças induzidas pela tecnologia se tornam mais rápidas, abrangentes e invasivas a cada ano. É impensável achar que alguma parte de nossas vidas não será afetada.
Os fundos de pensão patrocinados por empresa de manufatura – que fabricam alguma coisa – sumirão do mapa. Existem hoje cerca de 3,5 milhões de robôs industriais e essa quantidade cresce a uma razão de 14% ao ano. Ou seja, a população de robôs dobra a cada cinco anos e robôs não precisam de planos de aposentadoria.
No setor de varejo o estrago será semelhante. Em 2018 cerca de 80% dos consumidores americanos pretendiam visitar uma loja física para fazer as compras de fim de ano. Quatro anos depois, em 2022, apenas 57% dos consumidores pretendiam visitar uma loja física para fazer compras. Menos lojas, menos empregados, menos fundos de pensão.
O setor financeiro vem sendo afetado em igual magnitude. De acordo com o site Statista o pagamento por meios digitais vai crescer na ordem de 12,7% ao ano entre 2023 e 2027 quando atingirão mundialmente o valor de US$ 15,2 trilhões.
A quantidade de cheques processada pelo banco central americano em 2021 foi de 3,7 milhões, metade do nº de cheques processada há 10 anos e um quarto do que era processada em 2001. Quanto mais os serviços financeiros se tornam digitais, menos necessidade de agencias bancárias, menos empregados e menos fundos de pensão patrocinados por bancos.
A aceleração das mudanças provocadas pela tecnologia abre a porta para a entrada de novos entrantes no mercado de previdência complementar e forca os incumbentes a fazer alterações radicais em seus negócios para sobreviver.
As inovações tecnológicas criam valor e ameaçam as fontes de valor tradicionais, mudam a forma como os fundos de pensão interagem com seus participantes, os encanta ou os deixa frustrados.
A única forma dos fundos de pensão sobreviverem a esse turbilhão de disrupturas causadas pelas megatendências em curso, como as mudanças demográficas, a desglobalização, a transição para uma economia de baixo carbono, a revolução tecnológica etc, é sendo proativos e não reativos.
Encarar as disrupturas como oportunidades ao invés de ameaças é para poucos, exatamente os poucos que sobreviverão a essa era de intensas mudanças.
Grande abraço,
Eder.
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