sábado, 2 de dezembro de 2023

O QUE ACONTECE QUANDO O MUNDO NĀO ENXERGA MAIS VOCÊ?

 


De Sāo Paulo, SP.


Era como se ela fosse invisível. Sentada nos degraus de uma igreja, os passantes a ignoravam completamente. Talvez pensando ser uma moradora de rua, mas na verdade, ela fazia parte do meu grupo de turistas.




Credito mde Imagem: John P. Weiss


Na foto parece que ela está fazendo uma careta, porque ao notar meu celular na sua direção ela quis fazer graça. Ao ver a foto mais tarde ela riu, disse que parecia uma mendiga.


Isso por causa dos cabelos desarrumados pelo vento e as costas curvadas. Olhando com atenção naquele dia, você perceberia que ela estava bem-vestida e carregando uma bolsa de grife. Ainda assim, os transeuntes a ignoravam.


Isso aconteceu em várias outras ocasiões durante o passeio. Atendentes de loja focavam nos clientes mais jovens, alheios a minha colega de viagem. Teve até um garçom num restaurante onde almoçamos que a ignorou para atender uma jovem atraente.


Quando a flor da idade vai se apagando, como os últimos lampejos de luz de um por de sol glorioso, a escuridão que se segue pode ser difícil suportar. Envelhecer não é para os fracos de coração.


Akiko Bush, autor de “How to Disappear: Notes on Invisibilty in a Time of Transparency” (em tradução livre seria algo tipo: Como Desaparecer: Notas sobre Invisibilidade em Tempos de Transparência), escreveu:


“A mulher invisível pode ser uma atriz que não recebe mais papeis depois dos 40, uma profissional de 50 que não consegue entrevistas de emprego ou a viúva que não é mais convidada para jantares na falta do marido. Pode ser uma mulher mais velha num restaurante ignorada pelo garçom, incapaz de conseguir um copo d’água ou pedir a conta quando terminou. Quando paga a conta numa loja o caixa a chama de querida. Ela é a mulher que descobre não ser mais alvo dos olhares dos homens, a juventude se foi, a fertilidade ficou para trás, o valor social diminuiu”     


Cavalheiros, não pensem que é diferente com vocês.






Credito de Imagem: John P. Weiss


Claro que a juventude também pode ter suas desvantagens. No filme Elegy, no qual o ator Ben Kingsley faz o papel de um velho e renomado professor universitário que tem um affair com uma jovem e bela aluna, interpretada por Penelope Cruz, um poeta amigo do professor diz:


“Mulheres bonitas são invisíveis. Ficamos tão deslumbrados com o exterior, que nunca conseguimos chegar no interior”

 

Mesmo assim, juventude e boa aparência parecem ser tudo. Há um momento por volta da meia idade, quando nos damos conta de que estamos começando a desaparecer.


Notamos que as pessoas prestam menos atenção na gente. Somos esquecidos com mais frequência. As rugas vão aparecendo, o corpo começa a se deteriorar. Começamos a nos sentir um pouco irrelevantes. O “ageismo” se torna muito real, os colegas mais jovens nos ignoram ou são condescendentes conosco.


O que a vida se torna quando o mundo não enxerga mais você? 

 

A fonte da juventude


É impossível ficar agarrado à juventude e às aparências, o “senhor tempo”, mais cedo ou mais tarde vai alcançar a todos nós.


Coisas mais profundas podem fazer parte do nosso desenvolvimento pessoal. Sabedoria, conhecimento, profundidade, maturidade e um coração alegre, livre das armadilhas superficiais da aparência jovem. Mesmo perto do fim da vida, podemos irradiar atitude positiva e um entusiasmo cativante pela vida.


“Existe uma fonte da juventude: é sua mente, seus talentos, a criatividade que você trás para sua vida e as pessoas que você ama. Quando você aprender a beber dessa fonte, você terá derrotado, verdadeiramente, a idade” – Sophia Loren.

 

Um estilo chamativo, uma disposição pela alegria, uma risada sincera, uma personalidade colorida, exigem atenção independente da idade.


Podemos permanecer intelectualmente curiosos e transcender as limitações da passagem do tempo. A vida é muito mais do que juventude e aparência.


Quando você começa a desparecer e o mundo não te enxerga mais, existem outras maneiras de ser notado. Elegância, dignidade, maturidade, profundidade, crescimento intelectual ... a idade, na verdade, pode ser libertadora.


Se você se der conta, chega uma hora em que você não precisa mais se preocupar com rugas, uns quilos extra e tudo aquilo que nos deixa cegos para as melhores coisas da vida. 


Basta estar cercado de quem você gosta, bons livros, boa comida, paixões criativas, o amor da família e dos amigos.


A dança da chama


Quando a juventude começa a desaparecer e o mundo vai deixando de nos ver, pelo menos, não da forma que costumava nos ver, temos que fazer escolhas.


Algumas pessoas não cairão sem lutar. Injeções de Botox, plástica, implante de cabelo, dietas e tudo o mais que puder conter o bicho papão na porta, mas ele sempre encontrará uma maneira de entrar.


Melhor não se tornar um desses desesperados, especialmente aquela galera da televisão com seus rostos esticados e olhares tristes.  


Existe uma espécie de liberdade em parar de lutar contra. Uma tremenda alegria em deixar para lá, focar em coisas mais significativas. Sim, sinto falta do meu corpo enxuto e era legal quando as garotas me davam aquela olhada ao entrar num bar, mas tenho outras alegrias hoje.


Quando escrevo um artigo decente e alguém faz um comentário elogioso, isso me alegra por dentro. Quando uma pessoa jovem me pede conselho e posso ajudar, me sinto bem. O mais velho ensinando o mais novo, talvez até lhe inspirando. Vamos deixando um pequeno legado.


O truque é deixar sua chama interior continuar a dançar, independente da sua idade.


“Pouco antes do último lampejo de vida ser extinto de uma vela, um fino fio de fumaça espirala e faz piruetas pelo ar antes de esvanecer em direção ao céu. Acenda uma vela e observe a dança, aprenda sobre a vida e seu último suspiro” – Yitta Halberstam e Judith Leventhal

 

Mantenha sua chama acesa, deixe-a a dançar e você não vai desaparecer. O mundo continuará a te ver e você iluminará o caminho para todos que quiserem te seguir.


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Grande abraço,

Eder.


Fonte: “And Then One Day You Disappear”, escrito por John P. Weiss.


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