sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

UMA AMEAÇA CRESCENTE PARA A SEGURANÇA FINANCEIRA DOS FUTUROS APOSENTADOS

 



De Sāo Paulo,.


Uma fissura começa a se abrir por debaixo do sistema de previdência e pode comprometer a adequação da renda na aposentadoria para milhões de pessoas.

A casa própria vai perdendo espaço no Brasil e o aluguel já responde por um quinto das moradias no país. A quantidade de domicílios alugados subiu de 18,5% em 2016 para 21,1% em 2022, enquanto a quantidade de domicílios próprios quitados recuou de 66,7% para 63,8% no mesmo período.  

É o que aponta a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) - Domicílios e Moradores, do IBGE.

Do total de 74,1 milhões de domicílios do país 15,7 milhões são alugados e o estudo aponta, ainda, que a quantidade de pessoas pagando aluguel subiu em todas as regiões do país, com o maior crescimento registrado no Centro-Oeste (avanço de 3,3%) e no Sul (alta de 2,3%)

Mas não é só isso.

Aumentou, também, a quantidade de pessoas morando sozinhas. Já são 15,9% de lares com apenas um morador - em 2012 eram 12,2%. As pessoas idosas, ou seja, acima de 60 anos, representam 41% das pessoas que moram sozinhas.

O aumento na quantidade de pessoas pagando aluguel e de pessoas idosas morando sozinhas, configuram um padrão preocupante, que pode colocar em risco a renda de aposentados.

Se essas tendências continuarem ao longo dos próximos anos, isso significa que vai diminuir bastante a proporção de aposentados que detém a propriedade de seus domicílios, portanto, que precisam usar a renda de aposentadoria para pagar aluguel.

É exatamente aí que começam os problemas, porque poucos locatários terão poupado o suficiente para cobrir, adequadamente, tanto o custo de vida quanto o custo do aluguel, nas idades mais avançadas.

A relação entre renda de aposentadoria e habitação poderá colocar ainda mais tensão nos sistemas de previdência social e complementar.

A menos que os formuladores de politicas públicas ajustem a expectativa daqueles que se aposentam, fica a advertência de que sem tornar mais acessível a propriedade das moradias nas idades avançadas, aumentará a dependência dos aposentados de programas sociais.



As premissas e métricas usadas tanto na definição das rendas de aposentadoria da previdência social, como da previdência complementar, não refletem adequadamente a mudança das características e das circunstâncias de vida dos futuros aposentados.

Isso demonstra a necessidade de se colocar um foco renovado na natureza holística e individual da segurança financeira nas idades mais avançadas e nas necessidades de poupança para a aposentadoria.

A queda da renda disponível e portanto, no padrão de vida do aposentado, por não ter planejado pagar aluguel ao longo da aposentadoria, não foi algo amplamente incluído no debate recente e nas politicas publicas.

Há duas implicações críticas disso.

Primeiro, o cenário sugere que milhões de pessoas idosas podem se tornar dependentes de subsídios habitacionais do governo para conseguir pagar o custo de moradia na fase final da vida.

Em segundo lugar, o problema revela uma serie de hipóteses ultrapassadas e cada vez mais desatualizadas usadas nas projeções das necessidades de renda futura dos aposentados.   

As experiências das pessoas para se prepararem e viverem a reta final da vida estão se tornando mais individualizadas e está crescendo a gama de ameaças à segurança financeira, que se originam fora dos sistemas de previdência.

Muitas dessas amaças, incluindo o cenario da moradia, não podem ser mitigados pela previdência isoladamente.

O problema da moradia serve como um alerta importante para o segmento de previdência complementar de que, para assegurar aos poupadores uma aposentadoria confortável, pela qual estão batalhando, precisamos considerar suas circunstâncias financeiras de forma geral – o que, obviamente, inclui a moradia.

É inegável que falta aos poupadores dos planos de previdência, ferramentas e conhecimento necessários para se prepararem suficientemente na transição para a aposentadoria.

É mais importante do que nunca dar condições aos poupadores para que tomem decisões bem-informadas e possam, assim, quantificar a necessidade de renda na aposentadoria.

Governos e patrocinadoras precisam melhorar o entendimento das diferentes circunstâncias financeiras dos aposentados e poder maximizar o desenvolvimento de melhores soluções para os poupadores.


Grande abraço,

Eder.


Fonte: “Rise in renting in retirement ‘poses threat’ to future of UK pensions system”, escrito por Jack Gray | “Casa própria perde espaço no Brasil: aluguel já reponde por um quinto das moradias no país”, escrito por Carolina Nalin.


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