De Sāo Paulo, SP.
Já se foi pouco mais de uma década desde que comecei a escrever, quase que diariamente, sobre o setor de fundos de pensão.
O mundo mudou dramaticamente nesses cerca de quinze anos e as transformações tecnológicas estão amplamente documentadas em todo canto.
Mas o que você percebe nas inúmeras discussões que deveriam supostamente ser sobre tecnologia, é que elas evoluem rapidamente para conversas sobre as pessoas.
Como os conselheiros do meu fundo de pensão podem liderar, nesses tempos de mudanças sem precedentes? Como faço minha diretoria e sua equipe abraçarem o potencial transformador da tecnologia ao invés de resistir a ela? Como consigo levar ao limite a responsabilidade pela tomada de decisões – essencial para lidar com mudanças rápidas – e ao mesmo tempo asseguro que meus empregados estejam engajados, inspirados e alinhados com o objetivo, missão e valores do fundo de pensão, à medida que avançamos?
Venho tentando ajudar a liderança dos fundos de pensão a responder essas perguntas. As narrativas, os benchmarks, as provocações, todos tem um único objetivo: tornar os fundos de pensão melhores enquanto desenhamos seu futuro.
Se estamos sendo bem-sucedidos, vou deixar para os outros julgarem, mas nessa trajetória vou deixar mais algumas provocações por aqui.
Pressão de mercado
Isso se aplica a serviços, produtos, ideias, organizações, empregos e mais recentemente, claro, a fundos de pensão ... se aplica sempre que existe escolha e opções no mercado.
A pressão poderá empurrar seu fundo de pensão para ser:
- Mais barato
- Mais simples
- Mais fácil
- Mais conveniente
- Mais empolgante
- Mais aberto
Também é possível escolher um mercado que recompense:
- Engajamento
- Fidelidade
- Melhor performance e eficiência
- Elegância nos desenhos de plano
- Inovações
- Paciência
O verdadeiro desafio é tentar trazer os desejos presentes em um segmento de mercado para outro. Isso é bastante difícil.
Escolher seus consumidores é escolher seu futuro.
Como enfrentar as contradições na busca pelo futuro
Já interagi com mais de 200 conselhos de fundos de pensão ao longo da minha carreira. Um dos maiores desafios que eles enfrentam nos dias de hoje é buscar um caminho que leve suas organizações a continuar existindo.
Vejo muitos colegiados com dificuldade para enfrentar as contradições entre seguir atendendo um publico “legado” - formado por participantes já aposentados e na trajetória para se aposentarem - e a necessidade urgente de atrair novos participantes, das gerações mais jovens.
Existem diversas maneiras para lidar com uma contradição. Algumas maneiras são mais convencionais, outras mais criativas e outras são muito incomuns.
Por isso, é crucial entender as opções disponíveis e discernir quando uma delas deve ser adotada. As três abordagens mais comuns para se tentar enfrentar uma contradição quando o conselho do seu fundo de pensão se deparar com alguma ao desenhar o futuro, são as seguintes.
1. Aceitar que está errado
As pessoas geralmente caem em contradição, quando:
- Elas disseram que uma coisa existe, mas não existe;
- Elas alegaram que algo era uma coisa, mas na verdade era outra;
- Elas afirmaram que duas coisas eram similares, mas eram diferentes;
- Elas acreditaram que algo era bom, mas era ruim;
- Elas pensaram que algo era causado por uma coisa, mas estavam erradas.
Quando surgir qualquer uma dessas situações, o primeiro passo é admitir que você está errado e então, reavaliar suas ideias e entendimento.
Mas é claro, as coisas sempre podem ficar um pouco mais complicadas.
2. Construir um sistema paraconsistente
Quando um aspecto da realidade muda e como consequência, suas ideias se tornam inconsistentes, significa que você está lidando com uma realidade dinâmica e nem sempre seu pensamento será consistente.
Isso significa, também, que não é possível buscar consistência em sistemas muito dinâmicos, mas é possível buscar “paraconsistência”.
Um sistema paraconsistente permite que suas ideias mudem, na medida em que muda a realidade. No entanto, é preciso ressaltar que para um sistema paraconsistente funcionar, as mudanças na realidade precisam ser previsíveis.
Não existe nada mais previsível do que a necessidade de mudanças nos alicerces e modelos de negócio, sobre os quais os fundos de pensão foram criados. A realidade mudou, as ideias que fluem no conselho precisam mudar também.
3. Aceitar a inconsistência e o lado frutífero das consequências
Você pode descrever algumas coisas de maneira inconsistente e ainda assim transmitir uma mensagem forte – apesar de ser muito raro e bastante difícil fazê-lo.
As pessoas muito habilidosas conseguem fazer isso. Oscar Wilde cunhou um desses paradoxos memoráveis ao dizer:
Um amigo de verdade te apunhala pela frente
Algumas perguntas para provocar discussão no seu conselho
O conselho do seu fundo de pensão precisa desafiar o pensamento convencional e apoiar a diretoria a transformar a experiência dos participantes e causar disruptura na cadeia de valor estabelecida há muito tempo.
A disruptura pode ocorrer de diversas maneiras: novos modelos de negócios, inovação rápida de produtos (desenho de planos), mudança da proposta de valor para os participantes e/ou desintermediação dos canais de distribuição (atracão de participantes).
Os fundos de pensão podem liderar as mudanças ou ser varridos por elas. Entre os diversos tópicos que são discutidos nos conselhos deliberativos, seguem algumas perguntas uteis para provocar discussão:
- O modelo de negócios do nosso fundo de pensão está passando por disruptura? Caso positivo, como e quando saber?
- Nossa estratégia de gestão de talentos atende aos nossos propósitos, está alinhada com nossa estratégia de crescimento?
- Nossa cultura encoraja os empregados a desafiar o pensamento convencional, a mudar as formas tradicionais de trabalhar, a alinhar nosso fundo de pensão com as novas realidades de mercado, a melhorar a experiencia do participante e a rever os processos internos?
- Temos acesso a inteligência de mercado sobre as mudanças que outros fundos de pensão e potenciais competidores estão fazendo em relação a consumidores, fornecedores, tecnologias emergentes, requisitos regulatórios e outras forças externas? Já pensamos sobre como aqueles que competem por nossos participantes ou sobre inovações de mercado inesperadas podem eliminar nosso fundo de pensão?
- Como as tecnologias emergentes estão afetando nosso setor? Estamos monitorando o que os demais fundos de pensão e potenciais competidores andam fazendo? Estamos expostos a novos entrantes no mercado, especialmente aqueles da “economia digital”?
- O corpo diretivo (diretoria executiva) está alinhado na busca pelo caminho da transformação? O diretor presidente está satisfeito com os demais diretores e seus reportes diretos e confiante da capacidade de se adaptarem em face de uma mudança inesperada das condições de mercado?
- Nosso fundo de pensão está sendo capaz de reconhecer, cedo o bastante, as oportunidades e riscos emergentes e ajustar tempestivamente nossas estratégias e infraestrutura?
- Estamos mantendo contato com nossos participantes e nossos insights sobre a experiencia deles está sendo orientada por dados?
- Estamos monitorando a necessidade de fluxo de caixa de modo a subsidiar investimentos, visando impulsionar o crescimento assim que os ventos da economia permitirem?
- Temos uma estratégia com iniciativas de economia de custos que podem ser implementadas na eventualidade de uma recessão ou dificuldades das patrocinadoras?
Para terminar, a mensagem de dois pensadores:
“O que interessa não é ser aplaudido ao chegar – porque isso é comum – mas sim sentirem sua falta quando você sair” — Baltasar Gracián
“Você vai parar de se preocupar com o que as pessoas pensam sobre você, quando perceber que elas raramente o fazem” — David Foster Wallace
Grande abraço,
Eder
Fontes: “What to Do When You Encounter a Contradiction?”, escrito por Alexander Bird | “CEO Daily”, escrito por Alan Muray | “Market Pressures”, escrito por Seth Godin | “Five Areas Every Board’s Agenda Should Address”, escrito por Jim DeLoach e Frank Kurre.
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