De São Paulo, SP.
Talvez lhe pareça inusitado, mas a passagem do tempo pode não ser igual para todo mundo. Além disso, o tempo pode ter velocidades diferentes dependendo do local em que você está e como se não bastasse, nem sempre o tempo flui para a frente.
Os cientistas começam a supor que a chave para compreensão do fluxo do tempo – direção e velocidade que moldam sua passagem – pode estar em nosso cérebro e não na física elementar.
Em seu livro “A Ordem do Tempo”, o físico teórico Italiano Carlo Rovelli sugere que nossa percepção do tempo, nosso senso de que o tempo sempre flui para frente, pode ser uma projeção altamente subjetiva.
Quando se olha para a realidade em uma escala diminuta, usando equações de gravidade quântica, o tempo desaparece.
“Se você observar o estado das coisas em nível microscópico, a diferença entre passado e futuro se esvanece ... na granularidade elementar das coisas, não há distinção entre causa e efeito”, escreve Rovelli, que prossegue:
“Suspeito que o chamado fluxo do tempo precisa ser entendido estudando-se a estrutura do nosso cérebro ao invés do estudo da física. A evolução transformou o cérebro em uma máquina, que para antecipar o futuro se alimenta da memória. Quando vemos o tempo passar é isso (memoria) que estamos vendo. Entender o fluxo do tempo portanto é algo que pode pertencer a neurociência mais do que à física elementar. Buscar na física a explicação para nosso sentimento de passagem do tempo pode ser um erro”
Os cientistas ainda têm muito a aprender sobre o modo de percebermos o tempo e a razão do tempo funcionar de maneira diferente dependendo da escala, mas uma coisa é certa: fora do reino da física, nossa percepção individual do tempo também é surpreendentemente elástica.
Desde que Einstein descreveu a teoria da relatividade geral, aprendemos que a gravidade tem o poder de distorcer o espaço e o tempo. Um relógio atômico colocado no alto de uma montanha e outro no nível do mar, mostrarão que o tempo passa mais lentamente quanto mais próximo da Terra nós estamos.
Conforme mostrou Einstein, isso ocorre porque a gravidade de grandes massas como a Terra ou um buraco negro, afetam o espaço e o tempo ao seu redor.
Em 2010 escrevi um artigo brincando com o assunto. O título era: “Será que as pessoas que costumam viajar muito de avião, envelhecem mais devagar e se aposentam mais tarde?”. Link aqui: http://nkl2.blogspot.com/2010/11/sera-que-as-pessoas-que-costumam-viajar.html
Mas não é preciso sair do lugar para sentir as estranhas distorções em nossa percepção da passagem do tempo. Em momentos de grande tensão como naqueles instantes que precedem um acidente, nos quais você se vê diante de situações de vida ou morte, o cérebro libera grandes quantidades de adrenalina o que acelera seu relógio interno levando-o a uma percepção de que o mundo exterior se move mais lentamente.
Outra distorção em nossa percepção sobre a passagem do tempo acontece quando focamos nossa atenção nele. Quando você se concentra na passagem do tempo, o fator que mais influencia sua percepção sobre o tempo é a atenção. Conforme nos ensina Aaron Sackett – Professor de Marketing na Universidade de St. Thomas:
“Quanto mais você presta atenção na passagem do tempo, mais devagar ele tende a passar. Por outro lado, quando você se distrai com algo interessante ao seu redor – um papo com os amigos, uma boa refeição - parece que o tempo sai de controle e sem você perceber, parece que o tempo passa mais rapidamente.
Como se costuma dizer: “O tempo voa quando você está se divertindo”. Na verdade, o tempo voa quando você não está prestando atenção nele ainda que não esteja se divertindo – tipo, quando você está apavorado com aquela apresentação que terá que fazer para o conselho deliberativo do seu fundo de pensão ou quando você está tendo uma discussão acalorada. Nesses casos parece que o tempo avança mais rápidamente do que gostaríamos.
Uma das maneiras mais misteriosas de vivenciar distorções na percepção do tempo está associada a experiências com drogas. Pesquisadores e jovens que experimentaram drogas desde as mais leves como maconha, até as mais pesadas como cocaína e LSD, relatam fenômenos e sensações extraordinárias.
Relatam a impressão de que o tempo parou, as coisas continuaram a acontecer em suas mentes, mas o relógio simplesmente não andava como se o tempo tivesse parado de fluir, numa total subversão da estrutura da realidade.
O que chamamos de tempo é um conceito amplo e estratificado, com inúmeras camadas, algumas das quais se aplicam em escalas limitadas, dentro de domínios limitados.
A ideia de que o tempo flui em uma velocidade absoluta é uma ilusão. O fluxo do tempo pode estar se movendo sempre para a frente, mas se move em velocidades diferentes para cada pessoa e até mesmo dentro da sua própria mente.
Somente quando desvendarmos os mistérios por trás de nossa percepção sobre o fluxo do tempo, conseguiremos entender melhor a razão dos jovens não darem a menor importância para segurança financeira futura.
Grande abraço,
Eder.
Fonte: Adaptado do artigo "Time is elastic: Why time passes faster atop a mountain than at sea level", escrito por Stephen Johnson (link: https://bigthink.com/surprising-science/time-perception?rebelltitem=1#rebelltitem1)