De Sāo Paulo, SP.
O “shadow board”, em tradução livre para o português seria algo tipo “conselho sombra", está ganhando adeptos nas empresas americanas de capital aberto.
Vale a pena entendê-los, por que seriam uma excelente oportunidade para os fundos de pensão que buscam construir um futuro.
O conselho sombra funciona meio que como um comitê, formado com profissionais geralmente mais jovens, que possuem conhecimentos, experiências e perspectivas não dominadas pelos conselheiros tradicionais.
Seu objetivo é assessorar o conselho de administraçāo, a diretoria executiva e a equipe de gestão da empresa, em relação à tópicos chave, tais como cultura corporativa, marketing dos produtos, tendências tecnológicas, questões de sustentabilidade etc.
Eles não são um conselho de administração “oficial”, claro, mas suas visões frequentemente complementam aquelas dos conselheiros, diretores executivos e líderes “C-Level”, muito mais velhos.
Os conselhos sombra vêm ganhando espaço porque são capazes de dar apoio às empresas nume época de mudanças significativas, com pressões das mudanças climáticas sobre os negócios, uma crescente transformação do trabalho, novos requisitos de mão-de-obra, expectativas de que as empresas respondam adequadamente às questões sociais mais relevantes, dentre outras.
Tudo isso requer que as lideranças das empresas e seus conselhos mantenham contato, principalmente, com a visão de mundo das novas gerações e com as inovações de uma economia digital que os profissioanis mais velhos não dominam e tem dificuldade de projetar.
Conselhos sombra nos fundos de pensão
A figura do conselho sombra cai como uma luva no segmento de fundos de pensão, porque os drivers (direcionadores) que tem levado as empresas de capital aberto a adotá-los nos EUA, são ainda mais fortes e presentes em fundos de pensão.
Nos fundos de pensão os conselhos sombra funcionariam como um grupo de assessoria, com membros mais jovens em sua composição, capaz de fornecer insights ao conselho e à diretoria executiva sobre os gostos dos consumidores das novas gerações e suas paixões.
Aliás, foi exatamente isso que atraiu empresas como Body Shop e a cadeia de hotéis Mövenpick Hotels & Resorts a adotar as nova tendencia. A Body Shop, cujos membros de seu conselho sombra tem idade abaixo de 30 anos, se inspirou em cria-lo ao perceber a enorme lacuna entre a idade jovem de seu quadro de empregados e a idade média elevada de sua liderança.
Loja da Body Shop no Shopping Ibirapuera, em São Paulo. - Foto: Divulgação
As palavras de Chris Davis – Membro do Conselho de Administração e Diretor Internacional de Sustentabilidade da Body Shop, poderiam muito bem ter saído da boca do conselheiro deliberativo de um fundo de pensão:
De repente percebemos que, se estão faltando a vozes dos jovens (em nosso conselho), como poderíamos, honestamente, dizer que estamos construindo de verdade um negócio que poderá ser passado para a próxima geração?
Ai, ai, ai, ai, essa doeu!
Tendo interagido até hoje com mais de 150 conselhos deliberativos e treinado mais de 1.200 novos conselheiros de fundos de pensão, posso dizer de cadeira que a criação do que eu chamaria de “Conselho da Liderança”, traria novos ares para a alta gestão.
A diversidade de membros de um conselho sombra, formado por jovens participantes e empregados do próprio fundo de pensão, sob a presidência de alguém mais experiente (estou na fila, viu!), seria capaz de trazer para seu Conselho Deliberativo e para o Diretor Presidente, perspectivas mais úteis do que a própria diretoria executiva, cuja idade média costuma ser superior a 35 anos.
Jovens tem mente absurdamente mais aberta e são mais desafiadores do que membros de comitês executivos, diretorias e conselhos deliberativos.
Jovens não hesitam em levantar questões que pareçam óbvias, nem tem medo de correr o risco de parecerem desinformados. Quanto mais jovem o grupo, mais “atirado” ele costuma ser, mais agressivo e com menos medo de fazer perguntas.
O caminho das pedras
Pesquisadores da escola de negócios suíça IMD, que estudaram a abordagem dos conselhos sombra, escreveram em um artigo na Harvard Business Review no ano passado, que as empresas que os adotaram conseguiram testar de forma mais eficaz projetos e produtos importantes para os consumidores jovens.
Jovens são mais capazes de agregar e criar coesão em ambientes de trabalho multigeracionais. Trabalhar com um conselho sombra pode ajudar o conselho de administração e a diretoria executiva a identificar futuros líderes e fornece exposição aos membros do conselho sombra ao mundo misterioso da governança corporativa.
Enfim, é uma relação ganha-ganha.
Os fundos de pensão que quiserem trabalhar com um conselho sombra precisam fazer um robusto planejamento e definir diretrizes claras para o trabalho que se espera que os jovens participantes desses comitês façam.
Caso contrário, o colegiado poderá terminar sendo explorado como um grupo que provê consultoria grátis e essa não é a ideia.
Uma vez implantado no fundo de pensão, a liderança e o conselho deliberativo têm que levar o conselho sombra a sério, tem que lhe dar o devido peso e reconhecimento, tem que compartilhar com ele as informações relevantes e tem que implementar suas melhores recomendações.
Os participantes e empregados do fundo de pensão precisariam se candidatar à função e os que forem selecionados, deveriam assinar um detalhado acordo de confidencialidade das informações que terão acesso, antes de se sentarem na cadeira do conselho sombra.
O mandato deveria ser de um ano, porque depois de certo tempo, o conselho sombra começa a ver e ter que avaliar as mesmas apresentações repetidas, submetidas ao conselho deliberativo e à liderança da organização.
Uma amla pesquisa sobre as diferentes abordagens, desafios, estruturas e processos dos conselhos sombra implantados em diversas empresas, ajudaria a definir uma soluçāo sob medida para o fundo de pensāo interessado em adotar um.
Para liderar de forma inclusiva, contando com um conselho sombra, o conselho deliberativo e a diretoria executiva de um fundo de pensão têm que estar dispostos a ceder um pouco de seu poder.
A abordagem é muito interessante, resta saber se os conselhos deliberativos, as diretorias executivas e ambiente dos fundos de pensão estão abertos para inovações em sua governança.
Grande abraço,
Eder.
Fonte: “Companies are turning to ‘Shadow Boards’ to keep in touch with the real world”, escrito por Lila MacLellan.
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