De Sāo Paulo, SP.
Cerca de cinco anos atrás, publiquei um artigo cujo título era: “Estamos preparados para um mundo pós-trabalho, no qual a aposentadoria será aposentada?”
De lá para cá um rápido avanço dos modelos de aprendizado de máquina chamados de Large Language Model (LLM), fizeram explodir o uso de ferramentas de IA - Inteligência Artificial, tipo o ChatGPT (OpenIA), o Bard (Google) e tantas outras.
As discussões sobre os avanços da IA e o futuro do trabalho tem sido acompanhadas por duas concepções erradas, por dois equívocos, em relação ao futuro do trabalho.
Equívoco #1 - A tecnologia não gera desemprego
O primeiro equívoco é a ideia de que, só porque a tecnologia não causou desemprego no passado, isso não vai acontecer no futuro.
É fácil entender a razão dessa ideia ser tão amplamente disseminada. Por séculos o trabalho tem sido automatizado. Ascensorista, trabalhador rural, metalúrgico, são apenas alguns trabalhos que eram feitos por seres humanos e que agora são feitos por máquinas.
Os seres humanos que foram desalojados de seus empregos, subiram na cadeia de valor ou encontraram novos empregos.
A automação destrói empregos individualmente, mas melhora a eficiência, o que cria riqueza, que gera demanda por produtos e serviços, que cria novos empregos, melhor remunerados e mais interessantes.
No entanto, nem sempre acontece dessa maneira. Em 1915 havia 22 milhões de cavalos trabalhando nos EUA, hoje em dia, a população de cavalos é de 2 milhões.
Não existe nada que os cavalos façam atualmente que as máquinas não possam fazer melhor, mais barato e mais rápido.
A pergunta é se as máquinas desenvolverão, algum dia, a capacidade de fazer praticamente todo trabalho que os seres humanos são capazes de fazer?
A resposta inescapável é: sim, a menos que paremos de desenvolver as máquinas, o que não acontecerá.
A transição para uma economia sem trabalho, provavelmente, vai acontecer de forma rápida, da mesma maneira que uma nova era de desenvolvimento surgiu de imediato a partir do momento em que a água se transformou em vapor e passamos a usar o vapor para impulsionar as máquinas.
Antes da 1ª Revolução das Máquinas - termo que acho muito mais adequado do que “quarta revoluçāo industrial” - haverá muitos trabalhos novos para os humanos porque, como mencionamos antes, a automação aumenta a produtividade, que cria riqueza, que gera demanda, que requer empregos.
Após a 1ª Revolução das Máquinas, a automação continuará a criar novos trabalhos, mas os novos trabalhos serão feitos por máquinas, não por humanos.
Insistir que é impossível a tecnologia gerar desemprego é o mesmo que afirmar que a experiência passada é uma garantia de que teremos os mesmos resultados no futuro. Se isso fosse verdade, o homem não seria capaz de voar …
Assegurar que a tecnologia nunca, jamais, irá gerar desemprego, é enterrar a cabeça no chāo (como fazem os avestruzes), é uma complacência perigosa.
Equívoco #2 – As pessoas trabalham por um propósito
A segunda concepção errada, o segundo equívoco, é achar que o maior desafio imposto pelo desemprego causado pela tecnologia é o propósito, a ideia de que as pessoas trabalham por um propósito, pela busca de um significado na vida.
Não trabalham, as pessoas trabalham por dinheiro.
As pessoas que discutem publicamente o desemprego causado pela tecnologia, geralmente são aquelas que encontram algum grau de significado em seus empregos. São uma minoria.
Para a maioria das pessoas, o propósito do trabalho é colocar comida na mesa. O trabalho, para alguns, pode proporcionar certa estrutura, talvez algum status. Porém, as pesquisas mostram que para a esmagadora maioria dos mortais, o trabalho não está associado a nenhum significado, a nenhum proposito.
A verdade é que encontramos significado e propösito, na família, nos amigos, em nossas crenças, nossos hobbies e nossas paixões.
Existem três grupos de pessoas que provam de modo inequivoco que o trabalho não é necessário para se ter uma vida com significado: os ricos (aristocratas), os confortavelmente aposentados e as crianças.
Fundos de pensāo num mundo sem trabalho?
Contrariamente ao que a maioria das pessoas pensa por instinto, não é ser pessimista achar que um dia as máquinas irão tirar nosso trabalho, roubar nossos empregos. Pessimismo é achar que os humanos devem ser etrnamente escravos de um salario.
Ser otimista é achar que as máquinas, um dia, poderão nos liberar para fazermos o que quisermos. Brincar, aprender, produzir arte, nos conectar com novos pessoas, viajar, explorar. Poderíamos ter uma segunda era da Renascença.
O desafio de uma sociedade pós-trabalho não é encontrar um significado, um propósito para a viver, mas sim ter um rendimento.
Uma economia na qual as máquinas fazem todo o trabalho, será altamente produtiva, criando uma riqueza enorme, mas como assegurar que todo mundo receba uma parte dela?
Muita gente acha (alô Suplicy) que uma renda mínima para todos, uma renda básica universal, é uma bala de prata. Porém, aquela palavrinha no meio (básica) é parte dos inúmeros problemas.
Precisamos assegurar para todo mundo muito mais do que uma renda básica universal, acima da linha de pobreza. Deveríamos nos preocupar em proporcionar uma renda capaz de assegurar uma vida com todo conforto, até um padrão de vida luxuoso para todo mundo.
Como fazer isso sem impor uma tributação onerosa naqueles que detém ativos? Que provavelmente acharão uma forma de se evadir dela.
A resposta é uma economia abundante, levando a praticamente zero o custo de tudo aquilo que é necessário para se ter uma vida satisfatória.
Isso pode ser feito, em parte, removendo os humanos de todo o processo de produção, o que é exatamente aquilo que a automação faz. O resultado seria um capitalismo luxuoso integralmente automatizado, definido por Calum Chace no livro “The Economic Singularity” (em tradução livre: “A Singularidade Econômica”).
Há um sem-número de perguntas sobre como fazer essa transição de forma segura, evitando o pânico ,que poderia levar a eleição de políticos ainda piores do que a atual onda de políticos populistas, polarizados, donos da pós-verdade, que temos mundo afora.
Mas há também uma certeza: num mundo pós-trabalho, no qual as maquinas assumirão os empregos, a aposentadoria não fará sentido, muito menos fundos de pensão, mas se tudo der certo, será por uma boa causa.
Ao contrário do que você ouve e lê na mídia, um mundo pós-trabalho está chegando. Se formos inteligentes e dermos um pouco de sorte, será maravilhoso.
Grande abraço,
Eder.
Disclaimer: Esse artigo foi baseado no vídeo “Two fallacies about the future of Jobs”, apresentado por Calum Chase. Quem tiver interesse no vídeo completo, aqui está:
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