terça-feira, 10 de dezembro de 2024

QUEM TEM MEDO DO LOBO MAU? A POLÊMICA EM TORNO DA FISCALIZAÇĀO DE FUNDOS DE PENSĀO PELO TCU.




De Sāo Paulo, SP.


O filósofo Luiz Felipe Pondé e o psicólogo Ilan Brenman na obra “Quem Tem Medo do Lobo Mau?” discutem o impacto do politicamente correto na formação das crianças e – consequentemente – dos adultos que elas se tornarão.

Os dois mostram que a patrulha do pensamento leva à perda da capacidade de interpretar a vida, com seus símbolos e ironias.

A obra da dupla nos faz refletir e pensar que talvez o lobo mau não viva apenas nos contos de fada, mas esteja a nos espreitar na escola, na família, na política ... no TCU, enfim, na sociedade.

Enfrentar o lobo mau requer ser livre para pensar e se expressar, então, vamos lá.


A polêmica

O Tribunal de Contas da União - TCU tem hoje um papel indireto na fiscalização dos fundos de pensão, pois o controle é feito por meio das empresas estatais patrocinadoras. O TCU fiscaliza a legalidade, legitimidade e economicidade dos órgãos e entidades públicas. As empresas estatais. patrocinadoras de fundos de pensão do setor publico, são unidades jurisdicionadas do Tribunal.

A Lei Complementar nº 108/2001 estabelece que as empresas patrocinadoras são responsáveis pela fiscalização sistemática das atividades de seus fundos de pensão. A Resolução CGPAR 38/2022 determina que as empresas estatais federais devem solicitar auditorias periódicas sobre as Entidades Fechadas de Previdência Complementar – EFPC (como os fundos de pensāo sāo chamados na regulamentação).

O TCU já realizou fiscalizações sobre o dever de supervisão e fiscalização dos fundos de pensão patrocinados por empresas estatais e organizações do setor publico, com o objetivo de reduzir os riscos para a União. O TCU também já apontou irregularidades no controle da própria Superintendência de Previdência Complementar - PREVIC em relação às EFPC.

A polemica atual é se o TCU deve (ou nāo) fiscalizar diretamente os fundos de pensão do setor publico, atribuição hoje da PREVIC. Essa é a decisão que está em discussão nesse momento.

Argumentos a favor do TCU fiscalizar os fundos públicos

Segundo o portal G1, entre 2011 e 2017 o governo fez 10 intervenções em fundos de pensão (tabela abaixo).


Alguns fundos de pensão foram autuados mais de uma vez, como o Serpros, que representa os funcionários do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), empresa vinculada ao Ministério da Fazenda.

Também sofreram intervenção o Portus, patrocinado pela antiga Portobrás, o Silus, da estatal gaúcha Cesa e a Fundação CEEE, o maior fundo de pensão do Rio Grande do Sul, que reúne funcionários de empresas de energia elétrica.

Mas a maior intervenção até hoje foi no Postalis, o fundo de pensão dos funcionários dos Correios & Telégrafos, criado em 1981, que teve toda a diretoria afastada.

O escândalo do Postalis foi um dos maiores envolvendo fundos de pensão brasileiros e envolve uma série de irregularidades, entre elas: denúncias de fraudes em investimentos, feitos em desacordo com a política interna do Postalis, investimentos de alto risco sem justificativa, quebra do dever de diligência, entre outras.

O Postalis sofreu um rombo de cerca de R$ 15,2 bilhões, o que ameaçou a sua insolvência e deixou um rastro de destruição. Algumas das consequências do escândalo foram:

  • Descontos contínuos nos contracheques dos participantes.
  • Redução do décimo terceiro e da pensão por morte.
  • Extinção do pecúlio por morte.

Salta aos olhos que a maioria das intervenções aconteça em fundos de pensão do setor publico o que, indubitavelmente, reforça a tese daqueles que defendem a inclusão de mais uma camada de fiscalização, que seria exercida pelo TCU.

Argumentos contrários ao TCU fiscalizar os fundos públicos

Os argumentos dos que se opõe à fiscalização do TCU é que já existe um órgão federal, no caso a PREVIC, que exerce essa fiscalização.

Portanto, a inclusão de mais um órgão para fiscalizar os fundos de pensão do setor publico aumentaria o custo de administração e seria uma duplicidade desnecessária.

Há também quem alegue que o dinheiro colocado por empresas estatais e pela administração publica em seus fundos de pensão, deixa de ser $$$ publico assim que entra no plano de previdência complementar.

Ou seja, não caberia ao TCU fiscalizar um dinheiro que não é mais dinheiro publico.

Espremido na briga, o que realmente importa: o participante

A briga em relação à fiscalização direta (ou não) dos fundos de pensão públicos pelo TCU tem méritos de lado a lado.

No entanto, o que realmente importa e passa desapercebido pela sociedade é a defesa dos interesses dos participantes e o risco sistêmico, decorrentes da quebra ou intervenção do governo em um fundo de pensão – seja do setor publico ou privado.

Diferente do que acontece em países como os EUA, a legislação de previdência complementar brasileira não define de forma clara e inequívoca o ponto em que um fundo de pensão deve ser liquidado pelo governo quando faltam as condições de cumprir com seu objetivo: pagar os benefícios prometidos aos participantes.

Essa falta de clareza fez com que pilotos aposentados de Boeing 747 tivessem que passar a dirigir taxi especial no Rio de Janeiro, pois quando o Aerus – o fundo de pensão da antiga Varig – foi liquidado, já era tarde demais. O mesmo vale para a intervenção no Postalis, será que se tivesse acontecido antes, o prejuízo dos participantes teria sido menor?

Vamos combinar, para os mais de 130 mil participantes ativos e aposentados do Postalis e para os cerca de 15 mil do Aerus, que viram suas poupanças de uma vida toda ir pelo ralo, é irrelevante se a fiscalização cabe à PREVIC ou ao TCU.

Já passou da hora de incluirmos na legislação o ponto em que um fundo de pensão deve ser liquidado, para estancar as perdas para os participantes, quando as coisas dão errado.

Nos EUA, a legislação estabelece regras estritas para evitar insuficiência patrimonial e proteger os participantes, estabelecendo o que acontece quando o déficit do plano ultrapassa determinado patamar:

1. Taxa de cobertura menor que 80% (Zona Amarela): quando o plano tem menos de 80% de nivel de cobertura dos passivos – ou seja, os ativos/patrimônio são menores que 80% do necessário para pagar os benefícios futuros – ele entra na Zona Amarela. Acende um sinal de alerta, começam as restrições e um plano de recuperação deve ser elaborado, estabelecendo:

    • Reduçaāo ou congelamento de aumento dos benefícios;
    • Limitaçāo de pagamentos únicos (lump sum);
    • Incremento das contribuiçōes dos patrocinadores e participantes.

2. Taxa de cobertura menor que 65% (Zona Vermelha): quando o plano tem menos de 65% de nivel de cobertura dos passivos, ele entra na Zona Vermelha, um ponto crítico no qual aumentam as restrições. Nesse estágio há:

    • Proibição de aumento de benefícios;
    • Possibilidade de redução de benefícios futuros (não os já adquiridos);
    • Acompanhamento pelo PBGC (*) (ver abaixo) e liquidação quando o plano tem um nível de cobertura entre 50% e 60%.

La garantia soy jo

Seria muito mais importante para a estabilidade do setor de previdência complementar discutirmos a criação de um seguro para os participantes, nos moldes existentes nos EUA, Reino Unido e outros países.

O PBGC (*) – Pension Benefit Guarantee Corporation é uma espécie de seguradora do governo americano que assume o pagamento dos benefícios quando um fundo de pensão é considerado insolvente e incapaz de gerar contribuições suficientes para acabar com o déficit.

Quando os passivos são significativamente maiores que os ativos e um plano não consegue atender os requisitos mínimos de financiamento, ele é encaminhado para liquidação. O PBGC assume o plano e garante o pagamento de benefícios, até determinado limite, aos beneficiários.

Proteção semelhante existe no Reino Unido através do PPF – Pension Protection Fund. Vale notar que tanto o PBGC quanto o PPF também são acionados diante da insolvência das patrocinadoras de planos de previdência complementar.

Em Terras de Cabral, além de não termos uma legislação que defina claramente o ponto de liquidação de um plano de previdência complementar / fundo de pensāo, para evitar maiores perdas aos participantes, também nāo temos nenhuma garantia ou proteção governamental quando os órgãos de fiscalização falham … e como mostra a historia, eles falham.

Quando uma empresa interessada em fazer um plano de previdência complementar me pergunta: “existe alguma garantia do governo em caso de quebra do fundo de pensāo ou da seguradora”? Continuo tendo que responder a mesma coisa que eu respondia nos anos 80: “La garantia soy jo”

Nota: O bordão "La garantía soy yo" foi usado na década de 1990 em anúncios da Semp Toshiba, em campanha criada pelo publicitário Paulo Bione. O bordão ficou conhecido porque no Paraguai era comum os brasileiros perguntarem sobre a garantia dos produtos eletrônicos e os vendedores responderem que eram eles que garantiam o produto.

Grande abraço,

Eder.


Opinōes: Todas minhas | Fonte: “Intervenção no Postalis é a 10ª feita em fundos de pensão desde 2011”, escrito por Marina Gazzoni.


segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

PORQUE OS FUNDOS DE PENSĀO DEVERIAM PAGAR SEUS APOSENTADOS NO EXTERIOR COM “STABLECOINS”, TIPO O USDC, USDT E OUTRAS



De Sāo Paulo, SP.


As stablecoins surgiram por um motivo muito simples: pagamentos – a movimentação de valores financeiros de uma conta para outra – não funcionam de forma eficiente.

Quem interage com os modernos sistemas de pagamento bancário nota que eles não refletem os avanços tecnológicos.

Hoje é possível transmitir mensagens de uma pessoa para outra em milissegundos, independente do volume ou da localização. No entanto, apesar da troca de mensagens ser a parte mais significativa dos pagamentos digitais, ainda leva horas e as vezes dias para mover dinheiro entre dois países.

As stablecoins, um tipo específico de cryptomoeda, são a aposta de que a tecnologia do blockchain com tokens que podem ser enviados pessoa-a-pessoa podem resolver o problema dos pagamentos transfronteiriços.

Como as stablecoins funcionam

Stablecoins são tipicamente criadas, emitidas e gerenciadas por empresas privadas como a Circle, Tether e mais recentemente o PayPal.

Esses emitentes captam recursos de várias fontes e os mantem investidos em ativos de baixo risco e relativamente líquidos, como depósitos bancários e títulos públicos do governo americano. 

Os emitentes, então, “cunham” (a linguagem crypto em inglês usa o termo mint) a moeda digital, ou seja, emitem no blockchain novas unidades de token em montante equivalente a esses ativos.

Toda vez que alguém deposita dólares para comprar uma stablecoin, o emitente “cunha” novas moedas digitais. Quando essas moedas são usadas, o emitente “queima” (a linguagem crypto em inglês usa o termo burn), ou seja, destrói o valor equivalente no blockchain.

O processo de “queima” - que consiste em remover permanentemente uma quantidade específica de tokens de criptomoedas de circulação - visa equilibrar e deflacionar os tokens nativos, reduzindo a oferta do ativo no mercado.

Em um nível menor e menos sofisticado, isso acontece em cada transação. No entanto, na prática, a maioria das pessoas deposita e retira as stablecoins atraves de aplicativos que mantem um estoque de tokens, cunhando e queimando (destruindo) as moedas digitais apenas quando muda o volume de tokens em circulação.

A funcionalidade das stablecoins corresponde a tokens fungíveis no blockchain no qual são emitidos (ver conceito abaixo). Isso significa que podem ser enviadas de uma carteira digital para outra e usadas para transações on-chain (no blockchain) tais como empréstimos, investimentos, pagamentos, trocas por outros tokens (moedas digitais) etc. 


Pagamentos transfronteiriços 

Enviar dinheiro atraves de qualquer método de pagamento é, em última análise, um sistema de transmissão de mensagens e atualização de registros contábeis por partes autorizadas a fazê-lo: bancos, administradoras de cartões, redes de pagamento e instituições não-financeiras (comercio, serviços ...).

Cada uma dessas entidades possui e controla internamente registros contábeis que representam saldos de seus clientes, usados para fazer transações em nome deles. 

Na medida em que aumenta a quantidade de moedas, instituições e países envolvidos em um pagamento, aumenta também a complexidade, as taxas, o tempo necessário e os requisitos de conformidade.

O dinheiro chega no lugar certo na maioria das vezes, mas os pagamentos envolvendo países diferentes podem ser bem caros, demorados e difíceis de rastrear. 

No Brasil, enviar dinheiro para o exterior pelo Banco do Brasil, por exemplo, pode custar entre R$ 400 e R$ 500 apenas em taxas. Na Nigeria, enviar US$ 500 para os EUA custa US$ 75 e leva entre um e cinco dias.  

Num mundo cada vez mais interconectado no qual vivemos, trabalhamos, nos relacionamos, fazemos compras e recebemos renda de aposentadoria, o fato do dinheiro não se mover rapidamente, de forma eficiente e sem fraude, entre diferentes países, pode ser um problema.

Porque os fundos de pensão deveriam usar stablecoins?

As stablecoins independem de localização do fundo de pensāo ou dos países envolvidos na transferência de recursos, porque os blockchains públicos nos quais as operações são executadas (na Internet), não tem fronteiras.

Isso significa que enviar 1.000 USDC da carteira digital X de um fundo de pensão em São Paulo, para a carteira digital Y de um aposentado vivendo (por exemplo) em Strasbourg, na França, origem e o destino separados por milhares de quilômetros de distância, custa o mesmo e é tão rápido quanto se estivessem na mesma sala.  

USDC, USD Coin ou US Dólar Coin é uma moeda estável digital – uma stablecoin - que está ligada ao dólar americano na proporção 1:1 e funciona nas redes de blockchain Ethereum, Stellar, Solana e Tron. Criada em 2018, é administrada por um consórcio chamado Centre, fundado pela Circle. 

 

Credito de Imagem: Shutterstock


Um pagamento feito em stablecoin geralmente é mais barato e mais rápido do que pelo métodos bancários porque não requerem intermediáricos para mover os recursos. Isso reduz o custo do fundo de pensāo e agiliza o recebimento pelo aposentado. Além disso, a transferências internacionais tradicionais requerem relacionamento bancário (contas correntes) tanto da parte que envia como da que recebe o dinheiro.

Como existem milhares de bancos espalhados pelo mundo, que podem se envolver em uma transação, eles se baseiam em um sistema de correspondentes bancários que agem como intermediários, cada um cobrando taxas pelos seus serviços e aumentando o tempo que leva para transferir os recursos.  

Em contraste, com stablecoins, basta dois usuários ou carteiras digitais para enviar pagamentos diretamente um para outro no mesmo blockchain, eliminando esses intermediários, custos e atrasos.

Nota: Hoje em dia, pode-se transferir stablecoins e cryptomoedas atraves de uma mensagem no Telegram ou de um simples e-mail no Ethermail.

 


Um benefício adicional de não depender de intermediários, cada um tendo seu próprio registro contábil, é o aumento da visibilidade e rastreabilidade dos recursos pelos usuários.

Se por um lado, nas transferências internacionais correntes os usuários frequentemente precisam esperar dias antes de saber se sua transação foi bem-sucedida ou não, nos aplicativos que suportam transferências on-chain (no blockchain) os usuários podem, por definição, rastrear o status de suas transações apenas consultando o blockchain ou usando ferramentas disponíveis quando o próprio app não fornece uma interface para isso. 

Adicionalmente, as stablecoins, assim como outras ferramentas do blockchain, permitem a liquidação das transações em tempo real. Diferente de bancos, blockchains funcionam 24/7, em fins de semana e feriados, dando aos usuários acesso mais rápido aos recursos independente da hora do dia.

Desde setembro de 2024, a stablecoin USDC da Circle está integrada ao sistema bancário brasileiro, permitindo que empresas e fundos de pensāo usem uma moeda estável, atrelado ao dólar americano, diretamente por meio dos bancos locais sem a necessidade de transferências internacionais.

Eliminar transferências internacionais pelo sistema tradicional pode reduzir drasticamente o tempo necessário de dias para minutos, para acessar o USDC, liberando capital preso em processos de liquidação demorados”, disse a Circle em um comunicado ao mercado no dia 17/09/2024.

A integração torna o USDC disponível em moeda fiduciária local, ou seja, o Real brasileiro (R$) e significa um dólar digital integrado diretamente ao PIX

De acordo com o DefiLama (plataforma de dados, analytics, de cryptomoedas) o USDC (Circle) possui uma capitalização de mercado de US$ 35 bilhões, o USDT (Tether) de US$ 118 bilhões e todas as stablecoins representam um marketcap de US$ 170 bilhões (dados de set/2024).



Em resumo, as vantagens são:

  1. Redução de custos: As transações com stablecoins eliminam intermediários bancários, reduzindo significativamente as taxas associadas a transferências internacionais.
  2. Velocidade: Pagamentos com stablecoins podem ser realizados em questão de minutos, eliminando os atrasos típicos do sistema bancário tradicional.
  3. Transparência e rastreabilidade: Todas as transações com stablecoins são registradas em uma blockchain, oferecendo mais segurança e clareza no processo.
  4. Acessibilidade: A integração do USDC com sistemas locais, como Pix, permite que aposentados no exterior recebam seus pagamentos em suas contas bancárias ou em carteiras digitais, dependendo de suas preferências.
  5. Elimina flutuações cambiais: A volatilidade do câmbio pode impactar tanto o custo das transações quanto o valor recebido pelo aposentado.

Como os fundos de pensão podem implementar essa solução?

Para adotar o uso de stablecoins, os fundos de pensão no Brasil podem seguir os seguintes passos:

  • Parcerias com provedores de stablecoins: Trabalhar com empresas como a Circle para criar canais de pagamento seguros e eficientes.
  • Educação financeira para beneficiários: Oferecer suporte e orientações para que aposentados no exterior entendam como receber seus pagamentos via stablecoins e, se necessário, convertê-los para a moeda local.
  • Adequação regulatória: Garantir que o uso de stablecoins esteja em conformidade com as regulamentações brasileiras e internacionais, preservando a segurança e a legalidade das operações.
  • Infraestrutura tecnológica: Implementar plataformas de pagamento que suportem tanto o envio de stablecoins quanto a integração com sistemas locais, como o Pix.

Para os fundos de pensão, essa tecnologia representa uma oportunidade de modernizar operações, reduzir custos e melhorar a experiência dos aposentados que vivem no exterior.

No entanto, a implementação dessa solução exige planejamento estratégico, compreensão regulatória e, principalmente, um compromisso com a inovação. Ao adotarem stablecoins, os fundos de pensão podem não apenas resolver problemas operacionais, mas também se posicionar na vanguarda da transformação digital do setor financeiro.

Atualmente, o Banco Central do Brasil está desenvolvendo regulamentações específicas para o uso de stablecoins, como o USDC, no mercado de câmbio, com previsão de implementação até 2025. Essas regulamentações visam garantir que as emissões de stablecoins sejam totalmente lastreadas e que as empresas emissoras mantenham governança robusta e reservas seguras, assegurando a proteção dos fundos dos usuários


Grande abraço,

Eder.


Opinōes: Todas minhas | Fontes: “On stablecoins and cross-border payments”, escrito por Teju Adeyinka e “Circle integra o USDC com os sistemas nacionais de pagamento do Brasil e México”, escrito por Ana Paula Pereira.


GRATIDĀO POR PEQUENAS COISAS!

 


De Sāo Paulo, SP.


Em 1998 Kurt Vonnegut, famoso escritor americano, fez o discurso de formatura na Rice University. Lá pelas tantas, ele disse:

Até aqui esse discurso foi sobre coisas novas, escritas para essa ocasião nesse lugar, mas todo discurso de graduação que eu fiz terminou – e esse aqui também vai terminar – com uma velha historia sobre meu tio Alex.

Tio Alex se formou em Harvard e foi morar em Indianapolis, onde se tornou um honesto corretor de seguros. Ele era culto e sábio. Uma coisa que tio Alex achava curioso sobre as pessoas é que elas raramente param para reconhecer quando estão felizes.

Ele próprio fazia o possível para fazer isso nos bons momentos. Se estivéssemos bebendo suco à sombra de uma árvore na frente de casa, em um dia quente de verão, ele interrompia a conversa pra dizer: 

“Se isso não é legal, o que é”?

Então, eu espero que vocês aqui à minha frente façam o mesmo pelo resto da vida de vocês. Quando as coisas estiverem indo bem e tudo estiver dando certo, parem por um momento e digam em voz alta:

 “Se isso não é legal, o que é”? 

A vida é repleta de pequenos momentos de beleza e prazer, fáceis de deixarmos passar desapercebidos se estivermos nos movendo rápido demais para apreciá-los. 

Quando nos debruçamos sobre esses momentos, sentimentos e pessoas, com gratidão, encontramos novas alegrias e satisfações em nossas vidas.

Que o espírito do Ano Novo permita a todos nós desacelerar o ritmo e abraçar os pequenos momentos de beleza em 2025 e sempre.

“Se isso não é legal, o que é”?


Grande abraço,

Eder.


Fonte: Sahil Bloom.


segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

COMO A PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR CORPORATIVA DIVIDIU A SOCIEDADE ENTRE OS "COM" E OS "SEM" PLANO

 


De Sāo Paulo, SP.


Há um abismo dividindo a sociedade brasileira entre os com e os sem plano de previdência complementar corporativo. Recentemente me debrucei sobre esse abismo para tentar entendê-lo melhor – como surgiu e o que pode ser feito para fechá-lo?

Mas antes, outra segregação

Existe outra divisão da sociedade: a separação das pessoas entre os com e os sem diploma universitário.

Pessoas que possuem o ensino médio morrem, em média, oito anos mais cedo do que pessoas com diploma de nível superior. Eles têm muito mais chance de morrer devido ao vicio em drogas pesadas, de ter filhos fora do casamento, de ser obesos e de dizer que não tem amigos de verdade.

A diferença na performance acadêmica entre crianças oriundas de famílias mais afluentes e aquelas que vem de famílias menos afluentes é maior do que a diferença acadêmica entre negros e brancos.

A segregação na educação não foi obra do acaso. Ela foi crida. No Século XX, um grupo de administradores de universidades nos EUA, bem-intencionados, decidiu segregar os americanos por inteligência.

Eles definiram inteligência de uma maneira bem especifica e restrita: a capacidade de alguém se desempenhar bem no meio acadêmico e em testes padronizados.

Os estudantes que tivessem essa capacidade eram admitidos em universidades de elite e ao se formarem, canalizados para empregos nos mais altos escalões da sociedade – finanças, direito, administração publica, atuária, imprensa, o topo das grandes corporações.

Eles se casam com pessoas com essa mesma capacidade, investem maciçamente na educação dos filhos que, então, frequentam as mesmas universidades de elite. Presto! Surgiu um sistema de castas, passado de pai para filho.

Mais aqui:


Na Terra de Cabral, copiamos.

Essa divisão na educação tem consequências que vão além de aspectos sociais, ela começa a influenciar a política. Trump voltou ao poder com apoio de milhões de eleitores que possuem ensino secundário, que estão furiosos com a elite com formação universitária.

A votação em Bolsonaro em 2022 teve diferenças significativas em relação à de 2018, quando foi eleito presidente. Bolsonaro perdeu votos nas capitais e grandes cidades (onde há mais pessoas com nível superior) e ganhou força em cidades menores (onde há mais pessoas com ensino medio).


No primeiro caso, um exemplo é a região metropolitana de São Paulo. No segundo, o Norte e o Nordeste. Em municípios com menos 50 mil eleitores nessas duas regiões, Bolsonaro melhorou sua votação média em mais de três pontos percentuais. Nos maiores, ao contrário, perdeu mais que isso. No Nordeste, o percentual de votos válidos cresceu por todo o interior dos Estados da região. No Norte, esse padrão quase não teve exceções”, diz Fernando Meireles, pesquisador do CEBRAP - Centro Brasileiro de Análise e Planejamento.

A questão não tem a ver com Trump nem Bolsonaro. A classe que lidera está governando bem? Nāo. A liderança nos governos são respeitadas e contam com a confiança de uma ampla fatia das populações? Nāo. A liderança tem usado o sistema para manter seus privilégios? Sim.

O que levou aos com e sem previdência complementar

Lá por volta de 1974, o maior benefício pago pelo INSS equivalia a cerca de 20 salários mínimos. Os experts, então, desenhavam planos de previdência complementar voltados para os profissionais cujos salários, na ativa, eram muito superiores a 20 salários mínimos.

O raciocínio vigente era mais ou menos o seguinte: um profissional com salário equivalente a 50 salários mínimos, receberia da previdência social, ao se aposentar, uma renda de aposentadoria de no máximo 20 salários mínimos. Isso equivalia a menos da metade, ou seja, menos de 50%, do salário que o empregado recebia quando trabalhava.

Então, esse profissional precisaria de um plano de previdência complementar que lhe pagasse a diferença entre o salário da ativa (50 S.M.) e o benefício da previdência social. (20 S.M.). Em outras palavras, um benefício de previdência complementar que lhe pagasse 30 S.M.

Portanto, todo empregado que recebesse durante a carreira ativa um salário menor do que 20 salários mínimos (teto do INSS da época), não precisaria de previdência complementar. Por exemplo, alguém ganhando um salário equivalente a 17 salários mínimos, se aposentaria com um benefício da previdência social equivalente a esses mesmos 17 S.M., ou seja, 100% de seu último salário. A previdência complementar, então, não seria necessária para esse empregado.

Muitos chegavam a reconhecer que a previdência complementar era um benéfico corporativo “elitista”, voltado para empregados com altos salários.

O tempo passou e hoje, meio seculo depois, o benefício máximo pago pela previdência social equivale a uns 05 salários mínimos (com viés de baixa). Há quem aposte que o benefício máximo do INSS, em breve, será equivalente a 1 S.M.

Os desenhos atuais de plano de previdência complementar corporativos pagam um benefício simbólico para todo empregado que recebe salário menor que 5 S.M., a ponto o benefício para os trabalhadores de renda mais baixa ser conhecido no setor por “beneficio mínimo” - apenas simbólico e pago por razões tributárias.

Em suma, os planos de previdência complementar atuais continuam voltados para empregados com renda alta, num mundo em que mesmo os empregados com baixa renda passaram a precisar deles também.

Uma vez instalada, a prática dos com e dos sem plano segue inalterada. Se a segregação dos com e sem diploma está afetando a política, a divisão da sociedade entre os com e sem previdência complementar tem tudo para afetar a economia.

A persistir esse abismo, o baixo poder de compra de um contingente de aposentados sem plano que não para de crescer, em breve, começara a minar a economia.

____________

A previdência complementar corporativa precisa ser transformada. Precisamos de desenhos de plano mais humanos, justos e democráticos, independente do salário que você ganha.

O desafio da segurança financeira futura não tem a ver com o valor máximo do benefício pago pelo INSS, tem a ver como nós, enquanto sociedade, classificamos as pessoas, colocando algumas na escada rolante da segurança financeira futura e não deixando outras subirem nela.


Está na hora de criarmos um futuro melhor para todos.

Grande abraço,

Eder.


Opiniōes: Todas minhas | Fonte “How the Ivy League Broke America”, escrito por David Brooks.




sexta-feira, 29 de novembro de 2024

A LONGA PROCURA POR UM PLANO DE PREVIDENCIA COMPLEMENTAR E UM NECESSÁRIO MERCADO, INEXISTENTE

 


De Sāo Paulo, SP.


Antes de comprar uma casa, faz sentido gastar um dia andando a pé pelo bairro onde ela fica. Você notará coisas que passam desapercebidas de dentro do carro.

Antes de começar um novo negócio, passe algum tempo observando a “caixa registadora” de um estabelecimento similar.

Antes de entrar de cabeça na área de marketing, vá fazer algumas vendas.

Antes de aderir a um plano de previdência complementar as pessoas também deveriam se dedicar a fazer uma longa procura, como nos casos acima.

Deveriam verificar se as rendas geradas pelos planos de contribuição definida e PGBLs administrados pelas alternativas de prestadores de serviços sendo cogitadas, estão entregando segurança financeira futura - exatamente como prometem – para seus aposentados.

Você já se fez essa pergunta?

O verdadeiro mercado de previdência complementar

Nem todas as necessidades das pessoas que buscam segurança financeira futura, têm um mercado ... por enquanto.

Mercado é uma categoria. Mercado é um lugar com competição. Em um mercado, as pessoas têm hábitos, orçamentos e se engajam por pressão social.

Em um mercado, há compradores e há vendedores.

Na maioria dos países que conta com certo nível de desenvolvimento, no Brasil isso nāo é diferente, existe um mercado de previdência complementar, com oferta dos mais variados produtos para quem quer poupar para o futuro, com as mais variadas taxas de administraçāo e gestāo financeira.

Embora as pessoas que buscam um plano de previdência complementar queiram ou precisem de “segurança financeira futura”, não há um mercado existente para isso.

É tentador ser um pioneiro de mercado, ser aquele que aparece com o primeiro computador doméstico, o primeiro transporte por aplicativo, a primeira solução de poupança na Web3. É algo desafiador ser pioneiro em um mercado.

Pode ser emocionante entregar segurança financeira futura para as pessoas, ao invés de apenas oferecer um veículo de poupança de longo prazo descompromissado com o resultado final.

Como os inovadores focam nos meios, não nos fins, focam na necessidade, não nos mercados, eles quase sempre falham e não levam em conta o quão difícil é satisfazer aquilo que as pessoas realmente procuram em planos de previdência complementar, que é nada mais do que segurança financeira futura.

Se você quer prosperar no mercado daqueles que buscam segurança financeira futura, se você estiver interessado em criar esse mercado, comece a chamá-lo assim e esteja preparado para as dificuldades de se construir soluções eficazes para ele.

Enquanto isso não acontece, só resta para as pessoas escolher um dos planos de previdência complementar disponíveis e torcer para ele entregue aquilo que, antes de mais nada, a fez procurar um.


Grande abraço,


Eder.

domingo, 24 de novembro de 2024

UMA REVOLUÇĀO SILENCIOSA QUE OS FUNDOS DE PENSĀO NĀO PODEM IGNORAR


De Sāo Paulo, SP.


O Projeto WorldCoin é um tema intrigante para gestores e participantes de fundos de pensão, devido ao potencial impacto da tecnologia do blockchain, identidades digitais e novos modelos de negócios da cryptoeconomia.

Para os não iniciados, o que é o Projeto WorldCoin?

Os fundadores do WorldCoin sāo Sam Altman, CEO da OpenAI, criadora do ChatGPT, Max Novendstern e Alex Blania.

Lançado em 2019, originalmente sob o nome de WorldCoin, hoje denominado World Network após passar por um rebranding em outubro passado, o objetivo do projeto é fornecer uma maneira confiável de assegurar a autenticidade dos seres humanos online, para se opor a bots, hackers e ladrões de identidade, cada vez mais turbinados pela IA.

Para isso, faz a leitura biométrica da íris usando um dispositivo chamado ORB, desenvolvido pela empresa Tools For Humanity, com sede em Berlim. Assim que o olho passa pelo scanner de um ORB, é atribuída uma identidade única para a pessoa, um tipo de RG Global chamado de World ID.

Credito de Imagem: Sergio Lemos - Uma ORB vista de perto


Em troca, a pessoa recebe tokens – ou seja, certa quantidade de uma cryptomoeda proprietária do projeto, chamada WLD. No ato da leitura da íris a pessoa recebe 25 WLD e a cada mês recebe outros 3 WLD, cuja distribuição foi inspirada nas discussões da renda básica universal.

Na sexta-feira passada, para matar minha curiosidade e aprender como funciona, fiz minha identificação numa das 10 ORBs disponíveis em São Paulo (é preciso ir pessoalmente) e recebi os 25 WLD, equivalentes a R$ 343,92 pela cotação daquele dia 21/11/2024. Abaixo, copia da minha wallet (carteira digital) no app WorldCoin no meu smartphone.

A rede global de seres humanos (World Network), criada com tecnologias que preservam a privacidade e comprovam a humanidade, permite o livre fluxo de ativos digitais entre pessoas físicas ao redor do mundo e a criação de uma comunidade verdadeiramente humana.

Há, claro, quem critique o projeto, alegando ser uma forma de coletar dados de indivíduos de baixa renda em países com pouca proteção legal aos dados pessoais. Particularmente, não tenho receio disso, o que eu temo sāo bots, hackers e governos

As tecnologias do WorldCoin e os desafios do setor

As tecnologias do WorldCoin podem dialogar de várias formas com os desafios e oportunidades do setor de fundos de pensão. Veja algumas delas:

  • Inclusão financeira e adesão a planos de previdência complementar – Um dos objetivos do WorldCoin é fornecer acesso a serviços financeiros globais, especialmente para populações subbancarizadas. Os fundos de pensão poderiam se beneficiar de iniciativas semelhantes, aumentando a adesão a planos previdenciários em populações que ainda estão fora do sistema tradicional. Alô ABRAPP, sabe o slogan “previdencia para todos”?. Por ex.: as pessoas de baixa renda que recebem tokens WLD poderiam poupar parte deles, na forma de contribuições para um plano de previdência complementar administrado por fundos de pensāo, voltado para pessoas de baixa renda.
  • A importância da identidade digital no gerenciamento de benefícios – o WorldCoin utiliza um sistema de verificação de identidade biométrica descentralizada e altamente segura. Para fundos de pensão, isso poderia abrir caminho para a adoção de tecnologias que simplifiquem o processo de identificação de participantes e beneficiários, reduzindo fraudes e melhorando a eficiência no pagamento dos benefícios.
  • Governança e transparência – a estrutura descentralizada do WorldCoin reflete uma tendencia crescente por maior transparência e automação em sistemas financeiros. Os fundos de pensāo podem adotar a tecnologia do blockchain para reforçar sua governança, especialmente na prestação de contas aos participantes.
  • Riscos regulatórios e cibernéticos – assim como o WorldCoin se propõe a enfrentar os desafios da privacidade de dados, os fundos de pensão deveriam adotar e investir em tecnologias semelhantes, visando maior segurança cibernética.
  • A nova economia da longevidade – a expansão da economia digital, impulsionada por iniciativas como o WorldCoin, cria novas dinâmicas econômicas. Os fundos de pensão precisam considerar como essas mudanças podem afetar o futuro do trabalho, as contribuições previdenciárias e sua própria sustentabilidade. Por ex.: a maioria das pessoas na fila para scanear a íris na ORB de pinheiros, eram entregadores de IFood, motoboys e pessoas de baixa renda. Claro, todos buscando uma renda adicional na forma de cryptomoedas que podem ser convertidas imediatamente em Reais por PIX. Os fundos de pensāo poderiam atrair esses trabalhadores da economia informal para seus planos, caso se inserissem rapidamente nessa nova economia da cryptografia.

Rua Cunha Gago 266, Pinheiros - Um dos 10 locais com ORBs em Sao Paulo


  • Tokenização de ativos e diversificação de investimentos – o WorldCoin é baseado em cryptomoedas e blockchain, tecnologias que estão revolucionando os mercados financeiros. Os fundos de pensão podem explorar a tokenização de ativos como uma forma de diversificar investimentos, aumentando a liquidez e acessando mercados anteriormente inacessíveis. Por ex.: aceitando contribuições na forma de cryptomoedas, facilmente conversíveis para reais.

Os fundos de pensão precisam se preparar para essas inovações

O avanço de tecnologias como as apresentadas pelo WorldCoin traz implicações profundas para o setor de fundos de pensão. Em um cenário onde identidades digitais seguras e descentralizadas se tornam a norma, os fundos precisarão repensar seus processos e estratégias. Como integrar tecnologias de autenticação biométrica e blockchain na administração de benefícios? Seria possível usar essas ferramentas para reduzir fraudes e aumentar a eficiência operacional? Além disso, como equilibrar o uso de dados biométricos com as exigências legais de privacidade e proteção de dados?

Outra questão relevante é a inclusão financeira. Projetos semelhantes ao WorldCoin podem expandir o acesso a serviços financeiros para populações subbancarizadas, permitindo que fundos de pensão tenham a oportunidade de alcançar novos públicos. Como essas tecnologias podem ser usadas para fomentar a adesão de trabalhadores informais ou jovens, tradicionalmente excluídos do sistema previdenciário?

Além disso, o crescente interesse em ativos digitais, como cryptomoedas, pode levar a uma revisão das estratégias de investimento dos fundos. Como avaliar o risco e o retorno desses ativos em um portfólio previdenciário? E como se preparar para os desafios regulatórios que acompanham essas inovações?

Esses questionamentos não apenas apontam para as possibilidades do futuro, mas também demandam que os fundos de pensão sejam proativos em explorar novas tecnologias, adaptando-se a um ambiente cada vez mais digital e globalizado.

O WorldCoin e suas tecnologias inovadoras representam muito mais do que um avanço em identidade digital e finanças descentralizadas; eles são um reflexo das transformações que moldam o futuro da economia global.

Para os fundos de pensão, essas inovações trazem tanto desafios quanto oportunidades. Ao adotar uma postura aberta à experimentação e ao aprendizado, o setor pode não apenas se proteger de riscos, mas também liderar mudanças que beneficiem seus participantes.

Assim, olhar para o WorldCoin  não é apenas explorar uma curiosidade tecnológica, mas antecipar o futuro da previdência em um mundo mais conectado tecnologicamente.

Tudo isso esta acontecendo aqui e agora, debaixo do nariz de conselheiros, diretores, participantes e de uma PREVIC hostil à novas tecnologias, infelizmente.


Grande abraço,

Eder.


Opiniōes" Todas minhas | Fonte: Eder & ChatGPT-4o.


P.S.: Quer saber mais? Assista ao video abaixo.





sábado, 23 de novembro de 2024

PREVIC BRIGA CONTRA O INEVITAVEL

 


De Sāo Paulo, SP.


A história nos diz que presidentes dificilmente mudam a trajetória dos mercados financeiros, mas parece que os atuais traders de cryptomoedas esqueceram a tradição.

Os mercados adoram uma boa história e a narrativa impulsionando o preço do Bitcoin (BTC) só melhora. O valor do ativo tornou-se parabólico com a eleição de Donald Trump, no início do mês.

Em apenas duas semanas a cotação do BTC subiu 45% e o cobiçado marco de US$ 100 mil, que todos apostavam que seria atingido no fim do ano, repentinamente, deixou de ser considerado excessivamente ambicioso.

Na quinta-feira passada o BTC chegou perto de US$ 99.000 pela primeira vez na vida (grafico abaixo), colocando o cryptoativo na trajetória de um retorno de três dígitos, superior a 100%, pelo segundo ano consecutivo (grafico subsequente).



Desconsiderando o boom na demanda por ETFs de Bitcoin e o FOMO - Fear os Missing Out (que em português seria algo tipo “medo de ficar para trás”) dos investidores institucionais e do varejo, a comunidade de cryptoativos plotou três novos pontos no gráfico da trajetória ascendente dos ativos digitais:

1.    Gary Gensler, o xerife da CVM americana, a SEC - Securities and Exchange Commission, anunciou que deixará o cargo no dia 20 de janeiro de 2025

Esse primeiro ponto marca uma vitória do segmento de ativos digitais em geral, porque abre a porta para um novo chefe do órgão, favorável a uma regulamentação mais amigável. Gensler, assim como estamos vendo acontecer com a atual liderança da PREVIC no Brasil, se mostrou contrário às novas classes de ativos digitais. O próprio Trump havia dito durante a campanha, que substituiria Gensler na primeira oportunidade. Essa havia sido uma de suas muitas promessas ao se colocar como o candidato dos cryptoativos.

2.    Pesos-pesados do segmento de cryptoativos ocuparão assento no conselho de Trump

Em relação ao segundo ponto, a Bloomberg reportou em primeira mão, que o novo governo vem discutindo com profissionais do segmento de ativos digitais a potencial criação de uma posição na Casa Branca dedicada inteiramente às políticas de crypto. O cargo, inédito, apelidado de “Czar dos Cryptoativos”, seria os olhos e ouvidos do presidente e interviria na regulamentação da economia dos ativos digitais. Altos executivos da Coinbase e da Binance – duas das maiores corretoras de crypto do mundo – teriam se reunido com Trump essa semana.

3.    Uma senadora dos EUA propôs um plano estratégico para o tesouro americano vender ouro e comprar Bitcoin

Unindo os pontos acima, a Senadora Cynthia Lummis começou a se movimentar. Em uma entrevista para a CNBC na quinta-feira passada ela propôs converter os Certificados de Ouro do Federal Reserve, o Banco Central Americano, em Bitcoin, para criar um estoque estratégico de BTC a ser mantido por 20 anos.

Devido à forma como o bitcoin tem se valorizado desde o início, este seria um ativo que ajudaria a fortalecer o dólar americano como a moeda de reserva mundial”, disse a senadora, acrescentando que ajudaria a reduzir o deficit do tesouro “significativamente”.

Ainda não se sabe se tudo isso vai acontecer conforme pretendido, mas uma coisa é certa, investidores institucionais mundo afora vem aumentando a exposição dos portfolios ao Bitcoin por meio de ETFs, adquirindo essa e outras criptomoedas diretamente ou investindo em empresas como a MicroStrategy, que estão comprando Bitcoin.

Nas palavras de Rick Wurster, o novo CEO da Charles Schwab, um gigantesco banco de investimentos americano:

As cryptomoedas certamente chamaram a atenção de muita gente, que ganharam muito dinheiro ao voltarem o olhar para elas. Eu não comprei nenhuma cryptomoeda e agora, me sinto um tolo”

É difícil saber o que se passa na cabeça do chefão da PREVIC para ter uma resistência tão grande aos cryptoativos nesse momento da historia e querer impedir os fundos de pensāo das Terras de Cabral de investir em ETFs e fundos lastreados em cryptomedas.

Mas: i) considerando que os fundos de pensāo de varios paises já investem em crypto - tanto direta, como indiretamente; ii) considerando, também, que qualquer investidor nāo-qualificado (pessoa fisica) pode comprar no Banco do Brasil, cotas de fundos de investimento atrelados a cryptomoedas; e iii) considerando, ainda, que a maior potência econômica do planeta aponta para um futuro promissor para os cryptoativos, nāo consigo deixar de pensar numa frase que ilustra bem o que pode estar acontecendo no Brasil:

“Se você é o único a manter a calma, enquanto todos à sua volta estão desesperados, é sinal de que você não entendeu bem o problema ...”

Grande abraço,


Eder.


Opiniōes: Todas minhas| Fonte: “The inevitable round number”, escrito por Phil Rosen.




quarta-feira, 20 de novembro de 2024

OS MOTIVOS QUE LEVARAM AS BETS A SE TRANSFORMAR NUMA EPIDEMIA, MOSTRAM QUE PREVIDÊNCIA PARA TODOS NĀO É O BASTANTE

 


De Sāo Paulo, SP.

No Brasil, onde a enorme população de baixa renda passou a ter largo acesso a smartphones, meios digitais de pagamento e Internet de banda larga, surgiu uma fenômeno persistente e teimoso: o vício da jogatina online.

Foi assim que tudo aconteceu.

O problema das bets no Brasil está longe de ser único no mundo. Desde o meio da década passada, o alarme vem soando no Brasil, no Quênia, em vários países do continente Africano, da América Latina e em outros cantos do mundo.

As poucas histórias de enriquecimento rápido com as bets se contrapõem aos casos de famílias destroçadas, gasto de todo o dinheiro do aluguel, da mensalidade da faculdade ... e até suicídios.

As apostas no Brasil não são uma questão inteiramente digital, nem muito menos um hábito novo. Os pontos de jogo do bicho e as casas lotéricas, estão presentes há muito tempo na paisagem urbana das cidades brasileiras.



Aos poucos, os jogos foram saindo do mundo real e pulando para o mundo online, turbinados pela disseminação de tecnologias, tipo celular, WiFi e meios de pagamento instantâneo, como o PIX.

Hoje, você pode jogar praticamente em qualquer lugar: na escola, no metrô, na praia ou numa canoa descendo o rio Amazonas. A facilidade de acesso online às plataformas de apostas, tem aumentado a participação nos jogos.

Não por acaso, as bets tem se disseminado em países onde o futebol é considerado o esporte nacional, como Brasil, Chile, Mexico, Senegal (sede da Copa Africana de 2021), Nigeria e até a empobrecida República Democrática do Congo.

Se por um lado a criação do PIX pelo Banco Central causou uma revolução dos meios de pagamentos moveis, desempenhando um papel crucial para a inclusão financeira de milhões de pessoas da economia informal e democratizando o acesso ao sistema financeiro, por outro, o PIX representa um paradoxo por ter turbinado as bets.

O mote da “previdência complementar para todos”, está sendo atropelado pelo desperdício de dinheiro em jogos de azar, drenando o pouco que tem uma camada da população que vive em circunstâncias econômicas frágeis.

Pesquisa do DataFolha mostra que 30% dos jovens brasileiros entre 16 e 24 anos já apostaram em bets e 70% dos universitários com idade média de 21 anos jogam regularmente.

No Quênia, 84% dos jovens (fonte: GeoPoll) já apostaram em bets e um terço destes aposta diariamente. De acordo com Fabio Ogachi – professor de psicologia da Universidade Kenyatta, em Nairobi:

“A maioria das pessoas que aposta em bets não o faz por diversão, mas porque quer ganhar dinheiro e uma grande percentagem mostra sinais de vicio em jogos de azar: jogam para recuperar $$$ perdido, apostam cada vez mais e mentem sobre o hábito de jogar”

O maior driver do fenômeno das apostas eletrônicas tem sido a tecnologia.

“O smartphone tem sido usado por anos e tornou parte de como conduzimos os negócios. Quando as apostas online surgiram, encontraram o sistema ideal para se espalhar”

Quando inclusão financeira não é o bastante



O fato dos pagamentos digitais via PIX terem se tornado tāo onipresentes no Brasil - e alimentado uma epidemia de apostas online – foi praticamente um acidente da história.

O PIX foi lançado em fevereiro de 2020 como um experimento do Banco Central, que buscava baratear transferências financeiras e pagamentos via boletos e TEDs.

A tecnologia já existia desde 2016, quando Ilan Goldfajn, Presidente do BACEN na época, sinalizou que o Banco Central iria lançar uma ferramenta inspirada no Zelle, fintech americana de pagamentos digitais P2P, "pessoa para pessoa".

A ideia original do novo meio de pagamento era usar o celular para permitir operações financeiras, como transferências e pagamentos, em até dez segundos.

De acordo com levantamento realizado pela FGV, cem dias após sua adoção o PIX era conhecido por grande parte dos brasileiros e mais de 70% haviam cadastrado ao menos uma chave de acesso. O custo não era o maior motivador para uso, o principal interesse estava relacionado à facilidade e rapidez do sistema de pagamento num país com 262,3 milhões de celulares (set/2024, ANATEL) ou 1,2 aparelhos por habitante.

Hoje já são feitas mais de 220 milhões de transações por dia e estima-se que terão sido movimentados R$ 27 trilhões em 2024 via PIX, o dobro do PIB do país. O PIX é um sucesso! Até vendedores de bala e de panos de chão aceitam PIX nos semáforos das capitais brasileiras.

Paralelo a isso, a ascensão das mídias sociais permitiu que as pessoas enxergassem a melhor situação econômica de amigos e parentes.

 “As pessoas estāo se comparando não apenas com os vizinhos, mas com todo mundo, até com estranhos do outro lado do mundo. Isso leva a um nível de frustração ainda maior”, diz Ogachi.

Bets se transformam no novo ganha pāo


Sem capacitação, formação acadêmica, profissionalmente defasados e diante da dificuldade de conseguir um emprego na folha, os jovens brasileiros tem desistido de procurar trabalho formal e se voltado para empreender.

Num país no qual uma faxineira não tem conta em banco, mas tem um smartphone e de acordo com o IBGE, 92,5% dos domicílios possuem acesso à Internet (88% da população acima de 10 anos de idade), o celular passou a ser “a” ferramenta de trabalho.

Entregadores de iFood, motoristas de Uber e tantas outras atividades, tornaram essa, a era da economia por aplicativo.

Foi nesse contexto que surgiram as plataformas de apostas online, as bets, que ao encontrar um ambiente favorável, se disseminaram. É possível encontrar, hoje, múltiplos sites de aposta, de corrida de cachorros a e-casinos de ping-pong a corridas de fórmula-1 e até (claro) futebol.

O que passou a acontecer pode ser entendido perfeitamente por uma frase dita por um jovem Queniano de 26 anos, chamado Bill Kirwa:

“Tomado pelo frenesi das bets, às vezes optava por deixar de comer para apostar. Convencido de que poderia ganhar das casas de apostas analisando resultados passados, comecei a apostar valores cada vez maiores. Em certo momento, apostar tinha se tornado uma atividade central para mim”

No Quênia, o termo “betting”, apostar online, é considerado um trabalho. As pessoas acreditam que ao se dedicarem genuinamente a apostar, ao dedicarem tempo para fazer boas análises, elas podem ganhar dinheiro.

Muitos jovens brasileiros estão indo por esse mesmo caminho, que tem um desvio oculto ainda pior. Uma pesquisa da ANBIMA sobre uso de instrumentos financeiros, chamada Raio X do Investidor, mostrou que 8% a 10% das pessoas que responderam a pesquisa acreditam que as bets são um tipo de investimento. É o mesmo que considerar o jogo do bicho um investimento ...

Pode-se até ganhar no curto prazo, mas no longo prazo, obviamente, essa crença está errada: apostas esportivas não são um negócio nem um investimento que depende de habilidade, capacitação ou conhecimento da atividade que seja. Os resultados dos jogos são produto do acaso, da incerteza, do caos de um universo sem lei, algo que nem as probabilidades são capazes de prever.  

Mesmo assim, com muitos jovens comprando a narrativa errada ou colocando fé na própria sorte, o segmento de bets explodiu.

Um hábito nada fácil de abandonar

Na medida que as bets se entrincheiraram entre os jovens e foram rapidamente se consolidando, seguiu-se o vicio, transformando o hábito de jogar muito mais do que numa epidemia de saúde publica, mas em um gigantesco problema econômico-social.

O jornal científico The Lancet publicou recentemente o resultado de um estudo feito por uma comissão de saúde pública sobre jogos de azar, estimam que 9% dos adultos e 16% dos adolescentes que apostam em jogos online, têm dependência.

E olha que esses números não estão nem mapeando os distúrbios psicológicos decorrentes dos problemas socioeconômicos causados pelas bets.

O mercado de 199 marcas de bet autorizadas a funcionar no país tira $$$ do consumo, R$ 117 bilhões/ano de acordo com a Confederação Nacional do Comercio e gera crise de endividamento, comprometendo a renda futura das famílias. 

Os mais afetados? Famílias de baixa renda. Beneficiários do bolsa família gastaram R$ 3 bilhões via PIX em sites de apostas, somente em agosto/2024 (fonte: BACEN)

Se a “previdencia para todos” tivesse sido atingida, o problema das bets seria ainda pior, veríamos a poupança de longo prazo sendo drenada para apostas online.

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