quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

A LIÇĀO QUE O VAN HALEN PODE ENSINAR AOS FUNDOS DE PENSĀO SOBRE GESTĀO DE RISCOS


Frequentemente as coisas não são aquilo que parecem. Essa é exatamente a história do M&M marrom do Van Halen.

Os contratos da banda com os organizadores de seus shows estabeleciam que deveria haver tigelas com M&Ms na área atrás do palco, mas não poderia haver M&Ms da cor marrom nem no palco, nem em suas imediações, sob pena de cancelamento do show com multa e ressarcimento financeiro completo dos artistas.

O empresário deles dava uma volta na área atrás do palco e se visse um M&M marrom, corria de volta para o camarim e cancelava o show. O “promoter” chegava todo consternado e ele transmitia uma mensagem semelhante a que o famoso tenor italiano Erico Caruso costumava transmitir. Caruso vociferava: “é proibido assobiar atrás do palco, porque trás má sorte”. Era uma coisa de sorte e azar, um charme.

O empresário do Van Halen fazia parecer como uma completa extravagância, um ato de autoindulgência. Algo que as pessoas consideravam parte da performance ou estilo de vida dos artistas, isso as atraia para o show. 

Van Halen foi a primeira banda a organizar enormes superproduções fora dos grandes centros, em mercados de terceiro nível. Usavam nove carretas daquelas com dezoito rodas para transportar os equipamentos, enquanto o padrão das outras bandas era usar no máximo três carretas.

A produção de megashows, por sua grandiosidade, envolvia muitos, muitos erros técnicos e riscos. Das torres de sustentação que não aguentavam o peso dos equipamentos ao piso do palco que afundava ou portas que não eram largas o bastante para entrada dos artistas com suas guitarras.

Era comum as empresas contratadas para organização dos shows lerem o contrato como se fosse uma versão da lista telefônica chinesa (na diagonal), porque as clausulas descreviam uma diversidade enorme de equipamentos e a produção envolvia uma quantidade gigantesca de seres humanos.

Então, a banda e seu empresário faziam um pequeno teste, uma pegadinha, sob o ponto de vista técnico. O contrato dizia no Artigo 148: “em espaços de 6 metros serão espalhadas equitativamente 15 tomadas energizadas fornecendo 19 ampères. O Artigo 149, assim do nada, dizia: “não pode haver nenhum M&M de cor Marrom na área atrás do palco, sob pena de cancelamento do show e ressarcimento financeiro total”.



Antes de começar a apresentação, os artistas e/ou seu empresário davam uma volta para verificação atrás do palco e se encontrassem uma tigela com M&Ms marrons, isso significava que toda a produção do show estava sob risco. Era quase garantido que haveria algum problema e erros técnicos surgiriam, já que a empresa contratada para organização não havia lido o contrato com a devida atenção.

Os riscos afetavam a apresentação e podiam “melar” o show, mas podiam também representar risco de vida para os artistas.

Num show na Universidade de Pablo, Colorado, nos EUA, os organizadores não levaram o contrário a sério, trataram como se fosse algo “de boca”. Havia um desses pisos emborrachados na quadra de basquete do estádio deles. Como não leram o contrato, não tinham a menor ideia do peso que o palco deveria suportar.

Acontece que o peso de uma produção dessas equivale a de um Boeing 747. O empresário do Van Halen foi atras do palco, achou alguns M&Ms marrons e com ar Shakespeariano, levantou a tigela em uma das mãos (como se fosse a caveira da peça de Shakespeare) e perguntou: “o que é isso que estou vendo na minha frente”?

Ele correu imediatamente ao camarim, meteu o pé na porta, jogou o buffet no chão, quebrou uma cadeira, um mise-en-scène que custou cerca de US$ 1.200. O show foi cancelado. 

Posteriormente foi verificado que o palco havia afundado no piso emborrachado do estádio porque o pessoal da Universidade não havia se dado ao trabalho de ler as especificaçōes do contrato. O piso inteiro da quadra de basquete teve que ser substituído ao custo de US$ 80.000.

A imprensa noticiou que o empresário da banda havia descoberto um M&M marrom e saiu quebrando tudo na área atrás do palco, dando um prejuízo de US$ 80.000. O empresário, gostando de um bom rumor, deixou que o publico e todos continuassem acreditando que foi isso que realmente aconteceu. 

Essa história foi confirmada pelo antigo vocalista do Van Halen, David Lee Roth, no livro “Crazy From The Heat” e longe de ser uma excentricidade de roqueiros, era um criativo e inteligente mecanismo de gestão de riscos, que proporcionava um indicador altamente visível e confiável sobre a atenção a detalhes.



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E no seu fundo de pensão? Tem algum M&M marrom na sala do conselho?

Grande abraço,

Eder.


Fonte: Christian Hunt, fundador de “Human Risk”.


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