De Sāo Paulo, SP.
O conceito de plano CD surgiu logo na sequência da aprovação, em 1974, da lei que regulou a previdência privada nos EUA, conhecida por ERISA ou Employee Retirement Income Security Act (a nossa, a Lei nr 6.435, veio em 1977).
Quando foram criados, os planos corporativos de contribuição definida – que nos EUA são conhecidos por 401(k) – não foram concebidos para ser o principal meio de poupança e investimento para a aposentadoria.
Mas foi a partir dos anos 80, com o declínio dos planos de benefícios definidos (BD), motivado pela obrigação das empresas americanas reconhecerem o passivo do benefício em seus balanços (US GAAAP; FAS87), que os planos CD se disseminaram.
As limitações dos primeiros planos CD emergiram rapidamente.
Ao colocarem a decisão e os riscos dos investimentos nas mãos dos empregados, logo ficou claro que a maioria dos americanos conhecia muito pouco sobre poupança e investimento de longo prazo, para a aposentadoria.
Os participantes, em sua vasta maioria, não são profissionais de investimentos, mas passaram a ser tratados como tais da noite para o dia. Lá por volta do final da década de 90 e início dos anos 2000, foi se tornando cada vez mais evidente que a maioria dos empregados não era proativa e simplesmente deixava de tomar por conta própria as medidas necessárias para gerir sua conta de aposentadoria.
Um número significativo de empregados deixava mesmo de aderir ao plano CD oferecido por seu empregador, não poupava parte do salario para a aposentadoria nem investia em um portfolio diversificado, apropriado para sua idade e condição financeira.
Para tentar contornar o problema, o Congresso Americano aprovou em 2006 o PPA - Pension Protection Act, determinando que os planos CD oferecessem portfolios padrão (default) de investimentos e escolhas automatizadas.
Essas medidas diminuíram, em certo grau, a complexidade de escolha dos investimentos, mas muitas dificuldades permaneceram para os americanos tentando poupar para a aposentadoria.
Opções de investimentos
Após a aprovação do Pension Protection Act os planos passaram a oferecer como padrão, três opções de investimentos
- TDF ou Target-Date Funds: conhecidos no Brasil como fundos ciclo de vida, esse perfil de investimentos trabalha com uma data específica para a aposentadoria e vai ajustando automaticamente o nível de risco ao longo do tempo. Focam um crescimento dos retornos maior e mais agressivo nos primeiros anos e se tornam mais conservadores buscando menores riscos próximo a data definida para a aposentadoria. Os TDFs oferecem um portfolio diversificado, combinando várias classes de ativos num único fundo e simplificando o planejamento dos investimentos. São uma ferramenta eficaz para os participantes que não querem se envolver, nem colocar a mão na massa, na gestão de longo prazo de sua aposentadoria.
- Balanced Funds ou Hybrid Funds: no Brasil chamamos de fundos balanceados ou fundos multimercado. São veículos de investimentos que buscam equilibrar a alocação de diferentes classes de ativos, misturando ações de baixo-médio risco com títulos de renda fixa e outros instrumentos financeiros. Esses fundos diversificam os investimentos espalhando as alocações em diferentes classes de ativos e vão ajustando essas alocações com base nas condições de mercado. Destinam-se, normalmente, aqueles que buscam equilibrar retorno com estabilidade, perseguindo ganhos moderados com baixa exposição a risco. Ou seja, seguem estratégias mais conservadoras de rentabilidade na poupança para aposentadoria.
- Managed Accounts: nāo existe um equivalente direto em planos de previdência complementar no Brasil. Os managed accounts são destinados aos participantes que buscam estratégias individuais, isto é, perfis de investimentos sob medida. Os investimentos são customizados para atender características e necessidades especificas do participante, considerando seu perfil pessoal de tolerância a risco, eventuais outros ativos que o participante tenha fora do plano de previdência e um planejamento financeiro personalizado dos investimentos do plano CD.
Se por um lado todas as três alternativas default entregam uma gestão profissional dos investimentos, por outro, na maioria dos planos CD a principal opção é o TDF.
Os fundos ciclo de vida representam nos EUA 98% dos investimentos dos planos de previdência complementar corporativos do tipo CD, de acordo com um estudo da Wilshire, uma firma de consultoria em tecnologia de investimentos.
Porém, os TDFs claramente precisam evoluir, pois atualmente não oferecem customização suficiente, ainda mais se considerarmos a turbulência econômica dos anos recentes.
O choque inflacionário que se seguiu a pandemia, mais o aperto monetário e fiscal sem precedentes expôs as deficiências no desenho dos portfolios de investimentos. Ficou evidente a necessidade de se incorporar ativos reais e alternativos às estratégias de investimento, de modo a tornar os portfolios mais resilientes diante da inflação.
A necessidade de maior flexibilidade e mais diversificação nos planos CD vem sendo discutida há anos, tendo levado ao aumento de planos multiportfolio e fundos multipatrocinados.
Por tudo isso, prevê-se que o futuro dos investimentos dos planos de contribuição definida (CD) será em direção a um modelo com muito maior personalização e uma “customização automatizada”.
Portfolios de investimento baseados no ciclo de vida, multimercados e balanceados tenderão a desaparecer, com participantes demandando soluções mais personalizadas e predominância de perfis de investimentos customizados individualmente.
No Brasil ainda temos um longo caminho a percorrer, inclusive no ambiente regulatório. Ainda convivemos com vários planos CD nos quais os participantes sequer escolhem onde investir suas contribuições e tantos outros que disponibilizam perfis estanques (conservador, moderado e agressivo) como se isso representasse alguma liberdade de escolha pelo participante.
A era da personalização
A customização dos investimentos dos planos CD cresceu de 6% em 2005 para 59% em 2019 e as projeções apontam que em 2030 cerca de 80% das contas individuais serão investidas com base em características financeiras, propósitos pessoais e perfil de risco de cada participante.
Esse movimento em direção a personalização será acompanhado pela ascensão do modelo de Advisor–Managed Accounts (AMAS), abordagem na qual especialistas em investimentos assessoram não apenas as patrocinadoras e o fundo de pensão, mas atuam fornecendo assessoria em nível individual aos participantes.
Até hoje, patrocinadoras, consultores e participantes, todos focavam predominantemente em como poupar e investir o suficiente para uma aposentadoria tranquila. Não obstante, planejar os investimentos e a poupança somente até a data de aposentadoria, ao invés de planejar os investimentos ao longo da aposentadoria, já se mostrou insuficiente.
O foco nos próximos anos passará a englobar, também, os gastos e investimento da poupança segundo o estilo de vida de cada um, durante a fase de aposentadoria.
Os planos CD buscarão se conectar com os participantes em um nível maior e passarão a ser fatores chave tanto o engajamento emocional, como o comportamento individual.
Mais sobre personalização dos planos CD: aqui.
Quem tiver interesse no relatório completo da Wilshire sobre o futuro dos planos CD pode acessar esse link: aqui.
Grande abraço,
Eder.
Fonte: “The future of 401(k) plans: Personalized target date funds, advisor managed accounts”, escrito por Scott Wooldridge.
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