De Sāo Paulo, SP.
A Revolução Industrial teve uma longa trajetória – cerca de 250 anos desde que os métodos de produção manual na Inglaterra, Europa e EUA foram substituídos por máquinas e novos processos de gestāo, levando a um aumento sem precedentes na quantidade de empregados nas empresas – mas a invenção da Internet por Tim Berners-Lee nos anos 1990 sinalizou que a era das mega empresas, com milhares e milhares de empregados, estaria chegando ao fim.
A única pergunta, na medida em que a tecnologia digital foi avançando e abrindo buracos nos quadros de empregados das corporações - a base econômica dos fundos de pensão - foi se haveria tempo para salvar os móveis.
Desde o início do Século XXI passaram a existir apenas duas alternativas para os fundos de pensão nos quatro cantos do mundo: se adaptar ou morrer.
Embora haja alguma evidência de sucesso quanto a primeira alternativa, as políticas publicas e regulamentações governamentais (em todos os países) têm ignorado novas ideias e favorecido soluções que todo mundo sabe que não funcionarão.
Os resultados variam de inconsequentes a catastróficos.
No Brasil, a possibilidade dos fundos de pensão se adaptarem aos novos tempos tem sido severamente limitada pelas estruturas e governança dos maiores fundos de pensão da nação - que dominam o segmento - e pela inapetência dos pequenos e médios em fazer alguma coisa.
Centenas de planos de previdência complementar foram encerrados para assegurar que as atuais entidades de previdência complementar continuem a existir, turvando a visão do Efeito Pós-Fundo de Pensão sobre a poupança na era digital.
A aprovação das regulamentações recentes – desenhadas para sustentar um modelo de negócios que já não produz resultados para quem busca segurança financeira futura, na esperança de “salvar os fundos de pensão” – auto-evidentemente não é algo muito sábio.
Credito de Imagem: www.gov.br : Conselho Nacional de Previdencia Complementar
Vivemos numa época em que inovação e empreendedorismo – virtudes aceleradas pela competição e suprimidas pela consolidação – são desesperadamente necessárias no mercado de fundos de pensão.
Enquanto essas virtudes claramente faltam, com honradas exceções de umas poucas startups e um pequeno punhado de fundos de pensão que vem se transformando, é improvável que as entidades de previdência complementar encontrem salvação nos braços do governo.
Com as exceções já reconhecidas, a entrega de segurança financeira futura pelos fundos de pensão aos seus participantes tem sido, primariamente, um benefício oferecido voluntariamente pelas empresas aos seus funcionários, fazendo-se ausente em seu âmago um solido e moderno modelo de negócios que os norteie.
Muitos acreditam que isso, aliado ao pesado processo regulatório existente, tornem quase impossível florescer o empreendedorismo e a inovação necessários para os fundos de pensão se adaptarem numa era de massivas mudanças tecnológicas.
É assim que as coisas estão funcionando hoje. Espelhos retrovisores podem ajudar a proteger o setor contra danos, mas são inúteis para levá-lo a qualquer outro lugar. A previdência complementar claramente precisa de um novo carro e novos motoristas, se quiser prosperar como um bem à sociedade.
Qualquer dúvida de que as sociedades necessitam de soluções eficazes para entregar segurança financeira futura para seus cidadãos, se quiserem manter um pacto social pacífico, já deveria ter sido apagada pelos acontecimentos na área de IA desencadeados pelo ChatGPT em 2023 e suas consequências sobre o mercado de trabalho e emprego.
Nessas circunstâncias e pelo menos no contexto atual, não existem as condições necessárias para estabelecer um ambiente publico saudável e um amplo mercado privado onde frutifiquem novas ideias e inovações. E sem isso, as sociedades tendem a colapsar em tribos buscando sobreviver isoladamente.
Antes mesmo de podermos começar a explorar soluções possíveis para esse problema complexo, é necessário que haja um caminho sustentável para entrega realmente eficaz de segurança financeira futura.
Os melhores esforços do governo federal para fazer isso acontecer têm sido desastrosos. As revisões recentes da regulamentação têm feito mais mal do que bem, com mais e mais retiradas de patrocínio de planos e consolidação de fundos de pensão pairando ameaçadoramente sobre o setor.
As medidas de fomento propagandeadas pelo governo e discutidas dentro do próprio setor têm sido incapazes de interromper o encolhimento dos fundos de pensão. Se por um lado a chegada dos planos instituídos, planos família e fundos de pensão patrocinados pelo governo federal, por estados e municípios criou oportunidades temporárias de crescimento, ela não interrompeu o encerramento de planos BD, CD, CV nem a extinção de fundos de pensão inteiros.
Pior ainda, existem evidências crescentes sugerindo que, mais dia menos dia, a diminuição da quantidade de empregados no setor privado causada pela tecnologia e por um mundo totalmente digital, também atingirá em cheio o setor publico, fazendo com que as estruturas de governo contem com cada vez menos funcionários públicos.
Isso tem tudo para não acabar bem.
Nenhum setor da economia pode sobreviver, muito menos prosperar, quando depende da estrutura e do dinheiro do governo para crescer, em detrimento de todos os demais.
Nem eu nem ninguém pretende ter todas as soluções para esse desafio. Quando surgirem novas ideias, novas estruturas, novas formas de governança para funcionamento dos fundos de pensão e as melhores delas forem implementados, ainda assim os fundos de pensão só sobreviverão se forem capazes de entregar segurança financeira futura almejada por seus participantes.
Nem todos os atuais fundos de pensão conseguirão sobreviver e francamente, alguns deveriam mesmo morrer e sair da frente daqueles que estão procurando construir o futuro da previdência complementar.
É emocionalmente tentador preservar o passado e nos preocuparmos com os ícones que caracterizaram toda uma época, mas isso não daria ao setor de fundos de pensão a oportunidade que necessita para lutar e fazer a transição de um modelo de negócios instável para um capaz de sustentar o futuro da previdência complementar nos anos que temos à nossa frente.
Estamos todos no fim do fim de uma era. É hora de abraçar uma nova gênesis. O futuro começa hoje.
Grande abraço,
Eder.
Fonte: “It's the end of an era for news—the industry can either adapt or die”, escrito por Peter Menzies.
Nenhum comentário:
Postar um comentário