sexta-feira, 28 de junho de 2024

FUNDOS DE PENSĀO TERĀO QUE ATUAR NUM MUNDO COM DINHEIRO SEM FRONTEIRAS

 



De Sāo Paulo, SP.

Quando você manda uma mensagem de Whataspp para alguém ela é de graça e chega instantaneamente, não importa onde você esteja.

Por que os pagamentos não podem ser feitos da mesma forma? Inexistem barreiras tecnológicas para isso acontecer.

Minha filha mora em Strasbourg, na França e meu filho em São Francisco, nos EUA. Quando minha esposa e eu viajamos para visitá-los, temos algumas alternativas para pagar as despesas no exterior.

Podemos levar reais e trocar por dólares ou euros no destino. Para isso, teremos que encontrar um banco ou casa de cambio que esteja aberta, entrar numa fila, pagar uma taxa e ficar com raiva da taxa de cambio sempre extremamente desfavorável para quem compra moeda estrangeira.

Alternativamente podemos, claro, usar nosso cartão de débito em um caixa eletrônico no exterior para sacar euros ou dólares. Nesse caso, teremos que pagar uma taxa pelo uso do caixa eletrônico, mais uma taxa pela transação internacional, mais outra taxa de administração, dependendo do cartão.

A outra opção é trocar os reais pelos dólares ou euros aqui mesmo no Brasil, antes da viagem. O inconveniente e o risco, nesse caso, é ter que levar uma enorme quantidade de euros ou dólares para o aeroporto e ter que andar com esse dinheiro o tempo todo.

Então, preferimos usar nosso cartão de crédito para pagar as despesas de maneira fácil e sem fricção no exterior. O problema é quando você olha seu extrato e percebe que está pagando taxas e impostos (como o IOF) absurdos pelo uso do plástico, a cada transação que você faz. A conveniência tem um alto custo.

Numa época em que viajar ao redor do globo se tornou fácil e acessível, é ridículo pagarmos taxas tão altas como fazíamos no século passado. Poderia uma moeda global ser usada no mundo todo e resolver esses problemas?

Lição que podemos aprender com o dólar

O dólar surgiu durante a Guerra Civil americana como uma alternativa para substituir 8.370 papel-moeda que circulavam nos Estados Unidos da América.

Mas porque havia tantas moedas em circulação? Bem, tudo se resume a uma única palavra: confiança. As pessoas se tornaram céticas em relação ao “Banco dos EUA”, que era um monopólio e o único banco em nível nacional existente.

Quando o presidente Andrew Jackson, o sétimo presidente dos Estados Unidos (1829 a 1837), decidiu “matar” o banco nacional, restaram como opçāo os bancos locais, mais precisamente 8.370, cada um com sua moeda.

Crédito de Imagem: GovMint


Isso tornou as coisas complicadas. Por exemplo, alguém viajando da California para o Kentucky, com o bolso cheio de dinheiro impresso pelo Banco de Sacramento, que quisesse comprar uma cerveja no Kentucky, teria uma grande dor de cabeça.

Primeiro, o cara do bar dava uma olhada na nota de dinheiro e consultava uma tabela periódica com dezenas de páginas para saber se o dinheiro vinha de um banco de verdade. O problema é que além das moedas flutuarem, os comerciantes davam descontos baseados na distância para ir ao banco e na saúde financeira, que mudavam constantemente.

Os viajantes perdiam dinheiro ao fazer os pagamentos, uma perda geralmente entre 1% e 2%. Quando veio a guerra civil americana, o governo precisava levantar dinheiro para financiar o esforço de guerra.

Isso levou ao reestabelecimento dos bancos com atuação nacional e direcionou os americanos a ter uma única moeda em âmbito nacional. Surgia, assim, o dólar que conhecemos hoje e terminava a época das milhares de moedas em circulação nos EUA.

Crypto: a evolução natural de como pagar pelas coisas

Ao longo da história, o sistema financeiro sempre enfrentou dificuldade com as fronteiras. Fronteiras representam fricção, adicionam custos e são uma dor de cabeça para qualquer um que queira gastar dinheiro ao atravessá-las.

Existem hoje no mundo cerca de 180 diferentes moedas oficiais, chamadas de moedas fiduciárias, i.e., que não são ancoradas em comodities como ouro ou prata, mas simplesmente na relação entre oferta e demanda e na estabilidade dos governos que as emitem.

Apesar do mundo atual ser mais conectado do que jamais foi, mover dinheiro através das fronteiras ainda é algo lento e caro, sujeito a taxas astronômicas.

Uma em cada 9 pessoas no mundo depende de alguém vivendo e trabalhando no exterior e bilhões de $$$ são pagos anualmente em taxas de administração por pessoas e empresas para mandar dinheiro de um país para outro.

As cryptomoedas são uma força libertadora que pode tornar o mundo mais interconectado e resolver de forma justa, de graça, os problemas de pagamento entre fronteiras.

Um tipo específico de cryptomoeda – chamada de “stablecoin” que em tradução livre seria “moeda estável” – poderia se transformar num poderoso meio para pagamentos internacionais, oferecendo liberdade econômica para qualquer pessoa ao redor do mundo.

As stablecoins são um tipo de moeda descentralizada, comprovadamente escassa, fora do alcance de governos que queiram inflar a oferta da moeda para pagar seus déficits.

Isso significa ter um tipo de dinheiro que não pode ser manipulado por bancos centrais, nem por tecnocratas de governos ao redor do mundo, tornando as stablecoins uma ferramenta para liberdade econômica das pessoas.

Propriedades das stablecoins

Existem vários tipos diferentes de stablecoin, as mais comuns são aquelas que funcionam como uma espécie de “dólar digital”. São atreladas ao dólar ou a títulos do governo americano, que são mantidos em bancos ou fundos de investimento.

Um exemplo é a USDC – acrônimo para United States Dolar Coin – uma cryptomoeda atrelada ao dólar (1 USDC = US$ 1,00) desenvolvida na forma de um token de código aberto na rede de blockchain Ethereum.


Crédito de Imagem: Shutterstoc


Você pode mandar USDC ou USDT, acrônimo para United States Dolar Tether (outra stablecoin atrelada ao dólar) instantaneamente, de graça, para qualquer parte do mundo e em poucos segundos sua transação é concluída, com toda segurança. Isso está ao alcance de qualquer pessoa, basta ter acesso a Internet.

Além disso, qualquer um pode guardar USDC, USDT e outras stablecoins no smarthphone, sem precisar de contas bancárias, como uma alternativa para quem não tem acesso ou sofre restrições para comprar moedas estáveis tipo dólar ou o euro, funcionando como um hedge contra inflação e desvalorização de moedas locais.

Você pode usar USDC em transações P2P (Pessoa-a-Pessoa), enviando dinheiro para parentes ou amigos, estejam ou não no mesmo país. Se você tem um negócio, pode usar o USDC para fazer pagamentos B2B (entre empresas) ou usar para pagamento de produtos e serviços como consumidor.

Em breve, moedas digitais como o DREX - o Real Digital em gestação pelo Banco Central do Brasil - serão comuns em vários países. O problema é que elas poderão ser usadas como ferramentas sociopolíticas e para censura.

Governos poderão usar moedas digitais, como o DREX, conhecidas por CBDC – Central Bank Digital Currency (Moeda Digital do Banco Central) para restringir o acesso de pessoas ao sistema financeiro.

As stablecoins representam liberdade econômica, fortalecem o direito de propriedade, protegem as pessoas contra confiscos (lembra da Zelia Cardoso de Melo?) e são uma liberação contra a exposição às amarras macroeconômicas de governos.

Quando se trata de sistema financeiro, sempre haverá uma forma melhor de fazer as coisas e o dinheiro sempre estará em evolução. Para a pessoa comum, que não entende de cryptografia, de blockchain nem de tecnologia, as cryptomoedas poderão tornar o mundo um lugar mais livre.

Para os fundos de pensão, entender e abraçar tardiamente as crypomoedas como meio de pagamento e investimento de longo prazo, significará ficar a margem de uma nova era, a era da economia digital.


Grande abraço,

Eder.



Fonte: Baseado no podcast “Money Without Borders”, patrocinado pela Bloomberg Media Studios e Coinbase.


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