De Sāo Paulo, SP
A temporada de furacões de 2024 no Atlântico Norte, que começou oficialmente no dia primeiro de junho passado, será marcada por atividade bem acima da média e a dimensão dos danos dependerá do ponto onde as tempestades atingirão terra firme.
Pelas estimativas do NOAA - National Oceanic and Atmospheric Administration - órgão responsável pela meteorologia nos EUA, deverão se formar sete grandes furacões de categoria 3, 4 ou 5, com ventos de 111 milhas/hora ou mais, esperando-se uma temporada “extraordinária” de furacões no Atlântico Norte.
O NOAA espera nomear até 25 tempestades – os americanos colocam nome em tempestades com ventos iguais ou maiores do que 39 milhas/hora equivalentes a 62 km/hora – das quais oito a treze podem se tornar furacões (ventos acima de 74 milhas/hora ou 118 km/hora).
Mas as estimativas não se limitam aquelas feitas pelo NOAA, existem outras instituições (quadro abaixo) que fazem previsões meteorológicas, como a Universidade do Estado do Colorado, cuja previsão feita no último dia 04 de abril de 2024 foi a maior até hoje: eles esperam 23 tempestades nomeadas, das quais 11 se transformarão em furacões e 5 deles serão grandes furacões que atingirão a linha costeira dos EUA e do Caribe
Muito antes do fuzuê em torno das mudanças climáticas, previsões de furacão e tempestades eram assunto acompanhado por seguradoras e resseguradoras (agora investidores) nos EUA, por razões óbvias: os danos que causam representam risco de enormes perdas materiais e de vidas humanas.
A resseguradora Gallagher tem até um Chief Science Officer (Steve Bowen), uma espécie de Diretor de Ciência, que fica baseado em Chicago e acompanha o assunto. Bowen ensina que:
"As temperaturas-recorde da superfície do mar, a transição do fenômeno El Niño para La Niña e a provável redução da velocidade dos ventos alísios deverão permitir o rápido desenvolvimento e intensificação das tempestades. Historicamente em anos de La Niña, o no maior de tempestades que chega na linha costeira é maior do que nos anos de El Niño".
Ele explica, ainda, que os anos de alta atividade não necessariamente se traduzem em grandes perdas para as seguradoras e resseguradoras porque tudo vai depender da direção que as correntes marítimas levarão as tempestades.
De fato, existe uma fraca correlação entre o nível de atividade dos furacões e as perdas das seguradoras.
“Furacões são como imóveis. Quais as três coisas mais importantes? Localização, localização e localização”, diz Karen Clark, CEO e Fundadora da Clark & Co, uma empresa de modelagem de catástrofes baseada em Boston.
Por exemplo, em 2020 um no recorde de 11 tempestades atingiu a linha costeira nos EUA, mas a perda das seguradoras naquele ano, considerada baixa, foi de apenas US$ 20 bilhões porque nenhum deles atingiu áreas densamente povoadas.
Mas, de acordo com Karen Clark, basta um furacão de categoria 4 entrar no continente próximo a Miami ou perto de Galveston, em Houston, que as perdas batem facilmente em US$ 100 bilhões, deixando claro que furacões não se transformam em desastres até que os seres humanos apareçam em seu caminho.
Fundos de pensão brasileiros e mudanças climáticas
Tudo isso nos remete às Terras de Cabral e aos nossos fundos de pensão.
Há pelo menos cinco anos que escrevo sobre a importância dos fundos de pensão brasileiros levarem mais a sério o impacto das mudanças climáticas nos seus portfolios de investimentos.
Usei a foto que encapa esse artigo num texto de 2019 quando chuvas torrenciais atingiram a cidade do Rio de Janeiro na noite de 08 de abril, deixando um rastro de destruição e perda de vidas (link para o artigo: aqui)
Ao longo dos anos recentes, só vimos aumentar no Brasil a concentração de pessoas vivendo em locais de risco.
A migração contínua de populações para encostas de morros e margens de rios, locais de alto risco, coloca mais e mais pessoas, empresas e negócios no caminho de eventos climáticos, que tem se tornado cada vez mais extremos.
Ao maior risco de perdas humanas se junta o aumenta potencial de danos a empresas, propriedade, bens e negócios, como ficou claro esse ano de 2024 com os episódios no Rio Grande do Sul, cuja economia levará décadas para se recuperar.
É disso que se trata quando se fala do “disclosure” (divulgação) dos riscos e oportunidades que as mudanças climáticas representam para o portfolio de investimentos dos fundos de pensão.
Aqueles que investem o seu, o meu, o nosso $$$, que juntamos para ter segurança financeira no longo prazo, deveriam publicar anualmente relatórios que nos mostrem de forma clara e transparente quais os riscos que nossa poupança para a aposentadoria está correndo em função das mudanças climáticas.
Por exemplo, você sabe dizer qual a exposição do patrimônio do seu fundo de pensão às perdas dos negócios e empresas localizados no RS? Nāo? Nem eu, ninguém sabe, porque nenhum fundo de pensão brasileiro publica os relatórios seguindo o padrão do TCFD – Task Force on Climate Related Financial Disclosure.
Continuamos muito atrasados nessa área, mas não é por falta de aviso …
Grande abraço,
Eder.
Fonte: “Well-above-average hurricane season may not mean higher insured losses”, escrito por Claire Wilkinson
Nenhum comentário:
Postar um comentário