De Sāo Paulo, SP.
Três tendências que tem sido super utilizadas na redação de manchetes de artigos, e vídeos devem ser evitadas. As duas primeiras são:
- Títulos com “porquê”, que não explicam realmente o porquê;
- Títulos com “como”, que realmente não explicam como;
Explicar por que é difícil e aí que reside seu valor. As pessoas querem entender aquilo que as deixam confusas, por isso pesquisam “por quê” ou clicam na palavra quando uma fonte confiável promete responder.
Até os principais meios de comunicação sabem que essa é uma boa maneira de atrair atenção. Infelizmente, essa promessa não é facilmente cumprida. Explicar o “como” deveria ser ainda mais fácil, mas cai numa armadilha semelhante.
Com o surgimento da IA e dos modelos de LLM, essas manchetes se transformaram de promessas falsas em promessas redundantes.
Você pode simplesmente perguntar para IA “por que” e “como” e provavelmente obterá uma resposta melhor do que se ficar garimpando a resposta sozinho. Portanto, as poucas fontes confiáveis de informação que sobraram deveriam ter mais cuidado ao fazerem promessas.
A terceira tendência está se tornando mais perniciosa. Qualquer um pesquisando sobre fundos de pensão vai se deparar com várias notícias mencionando a criação recente de uma “Comissão de Fomento da Previdência Complementar Fechada - COFOM” (Portaria PREVIC nr. 430 de maio/2024).
Ao lê-las, é inevitável que você se pergunte por que ela foi criada e como ela fomentará a previdência complementar corporativa no país. Para atingir o objetivo, a realidade precisará atender as expectativas.
A pressão por resultados é real, mas se as soluções apontadas não forem capazes de ir além do ‘hype’, a iniciativa falhará e será uma pena, porque o problema (reverter o movimento de redução dos fundos de pensão) é real.
O fomento precisa ser abrangente e ir além das iniciativas individuais que se vê aqui e ali no setor ou será incapaz de mobilizar a sociedade e irá falhar.
Confiança é o que anda com oferta reduzida, não atenção. Sempre se pode criar comoção no curto prazo para atrair um pouco de atenção. Mas o caminho para as pessoas acreditarem em você precisa ir além do ‘hype’.
Meus “dois satoshis” para o COFOM
Dois satoshis é um termo figurativo, foi criado nos primórdios da crypto economia para expressar otimismo sobre o potencial futuro das moedas digitais, apesar dos desafios presentes.
O termo surgiu em um newsletter da Arca, firma de investimentos em crypto. O título do newsletter, que existe até hoje, era “That's Our Two Satoshis" e seu objetivo era fornecer análises, opiniões e sugestões sobre o mercado de ativos digitais.
A moeda “satoshi” não existe, assim como a grama de ouro não é um metal precioso, e sim uma unidade de medida. O satoshi é uma unidade de medida criada para facilitar pequenas transações, portanto é apenas uma escala menor. Existem 100 milhões de satoshis (sats) em um Bitcoin (BTC), o que significa que cada satoshi vale 0,00000001 BTC. Para que um satoshi valha um centavo de dólar, 1 BTC precisaria valer US$ 1 milhão.
I. Focar em anuidade nos produtos
Os brasileiros estão vivendo cada vez mais. Num casal com 65 anos de idade hoje, a chance de um dos parceiros viver até os 95 é de 45%.
Infelizmente, para a maioria dos mortais, viver mais não necessariamente significa ter carreiras mais longas de modo que se pode esperar, potencialmente, passar +30 anos “aposentado”.
Será que os planos de previdência complementar estão preparados para assegurar renda ao longo dessa vida espichada, garantindo que o dinheiro vai durar mais de 30 anos ou pelo tempo que for necessário? A resposta, todos sabem, é não.
Vai ser necessário um esforço conjunto e ações deliberadas das políticas de previdência complementar para assegurar que a sociedade esteja preparada. Não apenas para viver mais, mas para desfrutar dos anos extras.
Os empregadores têm uma oportunidade única podendo assumir um papel ativo no apoio aos empregados, através dos produtos de previdência complementar.
O governo poderia encorajar os empregadores a incluir em seus planos de contribuição definida (CD), administrados pelos fundos de pensão, uma alternativa default para os participantes.
Nessa opção padrão, o participante usaria aproximadamente 10% do saldo acumulado no momento da aposentadoria – não o saldo total – para comprar uma “renda vitalícia diferida”, que só começaria a ser paga aos 80 ou 85 anos de idade.
A renda vitalícia diferida seria comprada em uma seguradora, criando um forte mercado de anuidades, hoje inexistente no país, terceirizando o risco da longevidade, sem “desfalcar” o patrimônio dos fundos de pensão.
Planos CD são muito bons para acumular poupança de longo prazo, mas péssimos na hora de tirar o dinheiro porque induzem os participantes pensar que tem uma licença para gastar. Tao importante como uma estratégia de acumulação, é uma estratégia de desacumulaçāo.
II. Unir credito estudantil à previdência complementa
A melhor maneira de conscientizar os jovens sobre a importância de se poupar para o longo prazo é fornecendo a eles benefícios palpáveis no curto prazo.
Uma medida de fomento incrível seria permitir que as empresas tratem o pagamento das prestações do crédito estudantil pelos funcionários, como se fossem uma contribuição para o plano de previdência complementar corporativo.
Assim, a empresa faria uma contribuição na conta de aposentadoria desse empregado, no mesmo valor que o empregado está pagando para quitar seu credito estudantil.
Parece loucura? Pois saiba que a Sessão 10 do SECURE 2.0 (a nova lei de previdência complementar americana) permite exatamente isso. Quer fomentar a previdência complementar, não precisa reinventar a roda ....
Ajudar os empregados a se planejarem para um longo período de aposentadoria nessa nova era da longevidade estendida e criar incentivos para atrair os jovens para a poupança de longo prazo, não é apenas do melhor interesse de empregadores e empregados, mas sim de toda a sociedade.
Grande abraço,
Eder,
Fonte: “ERISA Advisory Council explores how annuities can enhance 401(k)s”, escrito por Lynn Cavanaugh | “No delayed retirement, please! 3 ways employers can help workers retire at 65”, escrito por Terri Fiedler | “How, why and hyperbole”, escrito por Seth Godin.
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