De Sāo Paulo, SP.
Estariam alguns fundos de pensão brasileiros exagerando, quando divulgam na mídia em geral e comunicam aos participantes, em particular, por meio de seus relatórios anuais, suas credenciais ESG – Environmental, Social & Governance?
Os participantes confiam nos fundos de pensão para guardar e investir sua poupança, é por isso que entregam seu dinheiro para eles. Mas a prioridade dos participantes vem mudando.
Eles ainda querem retornos para sus aplicações, obviamente. Porém, com os ativos direcionados para fundos orientados para aspectos ESG projetados para alcançar US$ 34 trilhões globalmente até 2026, nota-se uma clara demanda por investimentos que tenham impacto positivo sobre o meio ambiente ou a sociedade.
Pesquisas mostram que cerca de 80% dos consumidores no Reino Unido querem que seu dinheiro seja usado para fazer o bem, ao mesmo tempo que entrega retornos. No entanto, 7 em cada 10 investidores acham que muitos investimentos que dizem se preocupar com ESG, na verdade não o fazem.
As pessoas esperam que os produtos rotulados com ESG, façam o que dizem e tenham evidência para sustentar o marketing que divulgam, mas existe um problema de confiança.
No Brasil, nem o CGPC – Conselho de Gestão da Previdência Complementar, nem a PREVIC – Superintendência de Previdência Complementar, nem nenhuma instituição independente, nem ninguém, avalia ou verifica se o palavreado usado no marketing dos fundos de pensão sobre suas iniciativas ESG, corresponde ao que se espera em seus investimentos.
Nossos regiladores deveriam se espelhar na autoridade britânica responsável pelo sistema financeiro das Terras de Sua Majestade (a FCA - The Financial Conduct Authority).
Ou seja, exigir que os fundos de pensão aqui da Terra de Cabral desenvolvam uma “Teoria da Mudança”, descrevendo como esperam que o investimento de seus planos de previdência complementar contribuam para alcançar um impacto positivo e mensurável.
Essa exigência vinha sendo discutida com o mercado desde 2023 (documento abaixo) e passou a valer para as instituiçōes financeiras do Reino Unido no final do ano passado.
Você deve estar se perguntando: “o que é Teoria da Mudança”?
Teoria da Mudança
A Teoria da Mudança surgiu na década de 1950 e ganhou força durante uma mesa redonda realizada em 1990 no Aspen Institute, uma organização internacional sem fins lucrativos, com a presença de Huey Chen, Peter Rossi, Michael Quinn Patton e Carol Weiss.
A Teoria da Mudança liga os objetivos de uma organização à suas atividades. Explica como aquilo que você faz, leva ao impacto que você deseja. Isso passa pelo estabelecimento de passos intermediários e a ligação causal necessária para que seu objetivo final seja atingido.
A teoria da mudança é extremamente poderosa. Nos encoraja a refletir sobre nossos planos e objetivos, a discuti-los com os outros e a deixá-los explícitos.
Pense na teoria da mudança como os pilares da estratégia, avaliação, comunicação e métricas de uma organização.
Teoria da Mudança para fundos de pensão
A teoria da mudança é aplicável a qualquer projeto ou organização que esteja buscando causar um impacto positivo e isso inclui a gestão dos investimentos de um fundo de pensāo.
O conselho deliberativo do seu fundo de pensāo deve começar se fazendo algumas perguntas:
- Se nosso objetivo é expandir a adoção de estratégias ESG em nossos investimentos e simultaneamente gerar retornos financeiros, como chegaremos lá?
- Qual impacto teremos como alvo com nossos investimentos?
- Quais investimentos entregarão esse impacto?
- O que mediremos para sabermos se o impacto está no caminho certo para ser alcançado?
A teoria da mudança requer uma forma diferente de pensar. Ela pode ser usada para testar a logica por trás de suas atividades e uma vez que a logica tenha sido definida, pode-se pensar sobre serão medidos os resultados desejados.
Tudo junto ajuda a criar uma base de evidências para o impacto almejado.
Por vezes, medir o trabalho vai requerer métricas novas ou modelos inovadores de mensuração ao longo de todo o espectro de impacto dos investimentos,
Como o conselho deliberativo do seu fundo de pensão pode começar? Que tal por um roteiro desenvolvido pela NPC - uma firma de consultoria do setor social – que lista 10 passos para criar uma teoria da mudança.
Desenvolva a teoria da mudança para seu fundo de pensão e faça sua política de investimentos refletir as métricas e objetivos de ESG de seus investimentos.
Ou corra o rico de seu fundo de pensão estar entre os 70% dos investimentos que não contam com a confiança dos consumidores quando se trata de ESG...
Grande abraço,
Eder.
Opiniōes: Todas minhas | Fonte: “Theory of change for fund managers and impact investors”, escrito pelo Flora Charatan e Gurmeet Kaur.
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