De São Paulo, SP.
Em 12 de novembro de 1939 os americanos embarcaram no navio North Star, no porto de Nova York, um veiculo que tinha o tamanho de um pequeno prédio. O "Antarctic Snow Cruiser" era um laboratório ambulante e foi construído como parte do objetivo norte-americano de desbravar o continente Antártico.
Com quase 17 metros de comprimento e pesando 37 toneladas, seus enormes pneus fabricados pela Goodyear tinham 3 metros de altura. O bicho acomodava de 4 a 5 pesquisadores e foi projetado para levar um pequeno avião na parte de cima. Tinha dois motores Cummings a diesel com 6 cilindros em linha, dois geradores e quatro pequenos motores elétricos doados pela GE, que produziam uma força total de 300hp. Contava com vários compartimentos, incluindo um de carga na parte de trás que acomodava dois pneus sobressalentes (video abaixo).
Dois meses após partir de Nova York o navio chegou na Antártica e os problemas começaram logo no desembarque. O peso do mostrengo quebrou a rampa de madeira construída para descê-lo do navio. Os pneus macios demais mostraram-se ineficientes, afundando na neve e patinando sem tração para mover o peso de 37 toneladas.
Curiosamente, o veiculo conseguiu andar 92 milhas de marcha a ré, mas a chegada da II Guerra Mundial fez com que fossem abandonados no dia 22 de dezembro de 1940 tanto o veiculo como a base Little America III, construída na plataforma de gelo Ross, na Baia de Whale.
A ultima foto do que sobrou da Little America III, tirada por um navio da marinha americana no dia 13 de março de 1963, mostra restos da base se equilibrando em uma parte da plataforma, debaixo de 7,6 metros de gelo e a 300 km de distancia da localização original. Não havia sinal do veiculo, levando a crer que ele tenha despencado do iceberg e esteja hoje repousando debaixo do mar gelado da Antártica. Artigo completo sobre o "Antarctic Snow Cruiser" aqui e video longo aqui.
A desastrada experiencia americana contrasta com a saga historica dos soviéticos, que construíram seu veiculo antartico durante a guerra fria, por volta de 1957.
O Kharkovchankas, esse era o nome do colossal veiculo trans-antártico soviético, levou apenas 3 meses do projeto a fabricação. Comportava uma tripulação de 6 pessoas em seus 30 metros quadrados. Tinha 8,5 metros de comprimento e 3,3 metros de largura. Foi construído em cima da plataforma ligeiramente aumentada do famoso tanque soviético T-54. Seu motor a diesel de 12 cilindros e 520 cavalos, contava com dois turbo compressores e produzia 900hp.
Alem disso, tinha oito camadas de isolante térmico e seus vidros tinham um sistema de aquecimento embutido para derreter a neve. Sua autonomia atingia 935 milhas, foi projetado para uma velocidade maxima de 35 milhas/hora e era capaz de subir rampas com inclinação de 30 graus.
O Kharkovchankas tinha lá seus problemas. Consumia entre 9,6 e 12 litros de diesel por km rodado, a velocidade média real variava entre 4,2 e 6 km/hora, a temperatura do oleo projetada para ficar no máximo em 85ºC nunca baixava de 95ºC a 100ºC. Quando estacionado, se o aquecimento fosse desligado a temperatura interna baixava dos 30ºC graus para - 10ºC. Os gases de exaustão escapavam para o interior, cobrindo a tripulação com cheiro de diesel.
Mesmo assim, o veiculo antártico soviético rodou 3.100 milhas numa viagem ligando a base russa de Vostock no polo sul magnético à base americana de Amundsen-Scott. Foram 89 dias rodando pelos lugares mais inóspitos da terra, onde ninguém havia pisado antes, com temperaturas que chagam a -65ºC.
Uma segunda geração foi produzida. Com aparência parte caminhão, parte tanque, incorporou melhorias que tornaram o Kharkovchanka ainda melhor, mais confortável e mais confiável.
O ultimo Kharkovchankas da primeira geração rodou até 2010 e o veiculo numero 22 está exposto na estação Progresso que a Russia mantem na Antártica.
A engenharia soviética mostrou-se bem melhor do que a americana para o desbravamento da Antartica.
Artigo completo sobre os "Kharkovchankas" aqui e video longo aqui.
Grande abraço,
Eder.
Fonte: Adaptado dos artigos "Soviet Versions of The Antarctic Snow Cruiser Were So Much Better Than America's" e "The Antarctic Snow Cruiser Was a Building-Sized Car Doomed For Failure", escritos por Erin Marquis.
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