De São Paulo, SP.
Dizem
que os escritórios da Apple são incríveis e os benefícios oferecidos aos
empregados incluem comida de graça, lavanderia, jogos eletrônicos e um montão
de comodidades que tornam o escritório um lugar melhor para os jovens, do que viver
num apartamento apertado.
A
despeito de tudo isso, os esforços da chefia para trazer os empregados de volta
ao escritório estão falhando. Tim Cook, o Chefão da Apple, ordenou que os
empregados passem pelo menos três dias por semana no escritório, começando em
setembro: terças e quintas são obrigatórias, o terceiro dia vai ser definido
posteriormente.
Em
um memorando draconiano Cook escreveu que “a
interação pessoal é fundamental para nossa cultura”. Em resposta, os
empregados disseram, coletivamente: “não,
não vai rolar” e começaram a circular um abaixo-assinado contra a decisão
unilateral da empresa, dizendo que ela arrisca sufocar a diversidade e o
bem-estar dos empregados ao restringir a possibilidade de trabalharem
remotamente.
Evidentemente
os empregados estão se lixando para a preocupação de Cook em preservar a
cultura colaborativa. Eles entendem que a empresa deveria encorajar – não
proibir – o trabalho flexível, como forma de construir uma empresa
bem-sucedida, que respeita a diversidade de pensamento, onde as pessoas possam
se sentir confortáveis em pensar diferente.
“Se
você depende do cafezinho para que grandes ideias surjam na sua empresa ...
você está fazendo alguma coisa muito, muito errado”, disse Erin Grau – CEO da
Charter, uma empresa preocupada com o futuro do trabalho. Pior que ela está
certa.
Afinal,
o que está acontecendo no mundo corporativo, no mundo do trabalho?
Retomando o controle
sobre nossa mente e nossa alma
O
que você tem em comum com seus colegas? Há 50 anos essa resposta era fácil, porque
o trabalho era linear, as empresas recrutavam pessoas com formação idêntica,
para desempenhar tarefas idênticas, produzir resultados semelhantes e previsíveis,
sentadas em vastos escritórios.
Num
clássico de 1951, o escritor C. Wright Mills assim descreveu a classe média
americana:
“O novo escritório é racionalizado: usa maquinas, os empregados se tornam
operadores das maquinas, o trabalho é coletivo, como nas fabricas, não
individualizado, é padronizado para ser intercambiável, com funcionários
rapidamente substituíveis, é especializado até o ponto que pode ser
automatizado. O grupo de empregados é uma massa uniforme, em um lugar
silencioso e o dia em si é regulado por um horário impessoal”.
Para
Mills, 70 anos atrás, o “novo” escritório não mudou apenas como as pessoas trabalham, mas mudou também quem as pessoas são. A economia do século passado transformou
agricultores e homens de negócio independentes, predominantemente, em
“habitantes de escritórios”. Prossegue ele em seu livro:
“O
trabalhador do Século XX nunca foi independente como o agricultor costumava
ser, nem tão esperançoso do surgimento de uma grande oportunidade, como o homem
de negócios. Ele (o trabalhador atual) sempre pertence a alguém, é a co-“porção”
de algo (corporação), da empresa, do governo, das forças armadas e é visto como
o homem que não ascende (cresce). O declínio do livre empreendedor e o surgimento
na cena americana do empregado dependente, tem paralelo com o declínio da independência
do indivíduo e o surgimento do trabalhador comum na mente do americano”
Essas
mudanças não têm apenas consequências de ordem pratica e psicológica, elas também
beiram o espiritual. Os “habitantes dos escritórios” não apenas trabalham para as grandes organizações,
eles pertencem a elas.
A organização e sua personificação física, o escritório, é onde as pessoas se conectam umas às outras e encontravam significado. Em outra obra prima dos anos 1950, William H. Whyte chama a atenção para o seguinte:
“O homem-organização ... é aquele da classe média
que sai de casa todo dia, tanto fisicamente como espiritualmente, para se
devotar à vida das organizações, são eles que constituem a mente e a alma das
grandes instituições que vão se perpetuando a si mesmas”
William White descreve de forma magnifica o mundo corporativo que se seguiu à revolução
industrial. Ele via esse desdobramento como uma “Fé Utópica” na qual, em última
análise, os trabalhadores se fundem com os seus empregadores e com a sociedade
industrial.
O
homem-organização de William White,
se via “sem sentido, isoladamente”, útil apenas na medida em que “colaborava
com os outros”. Ao sublimar a si mesmo no grupo, o homem-organização ajuda a equipe
a produzir um todo maior do que a soma de suas partes.
As
empresas, corporações e a sociedade mudaram significativamente desde os anos
1950, quando C. Mills e William Whyte escreveram suas obras. A forma que trabalhamos
nos escritórios também mudou desde então, se metamorfoseou inúmeras vezes.
Ainda assim, para muitos de nós, o escritório permaneceu um ponto focal de nossa
vida social e espiritual e nesse sentido, o escritório atual permanece o mesmo.
Preenchendo o vazio
social deixado pelo fim do escritório
Até
surgir o Covid-19 os empregados passavam a maior parte do tempo no escritório,
socializando com os colegas, almoçando juntos, festejando conquistas,
celebrando o fim de ano juntos, encorajados a ver a empresa como uma “família”,
esperando a cada dia mais que os valores e escolhas da empresa reflitam os seus
próprios.
Dezenas
de milhões de pessoas passam muito menos tempo no escritório hoje do que
costumavam passar antes e alguns o evitam completamente. Isso deixa um vazio social
e espiritual nas pessoas. Como preenche-lo?
As
evidências apontam para algumas direções. Segundo o Wall Street Journal, clubes fechados, restritos aos membros, estão pipocando por toda Manhattan, servindo
como espaço alternativo para interações sociais e trabalho, na medida que os
Nova Yorkinos passam cada vez menos tempo nos escritórios.
Diferentemente
dos pomposos clubes de elite, a maioria desses novos clubes fechados possuem preços
mais acessíveis e visam atrair um grande número de membros com diferentes origens.
Tipo a evolução dos espaços de co-work.
Pertencer
a um desses clubes “significa nunca mais ter que planejar uma saída à noite, você
não precisa fazer nada, apenas aparecer lá”, disse uma mulher, membro de um
desses clubes. Um lugar para socializar e fazer networking, onde você é sempre bem-vindo,
nunca se sentirá sozinho e sempre será acolhido.
O fim do escritório e
os fundos de pensão
David
Perrel, que escreve no Twitter, diz estar vendo entre seus amigos uma rejeição apaixonada
do individualismo. “O que é velho, passa a ser novo outra vez: a âncora de uma
religião, casar cedo, ter filhos logo depois, ter numa comunidade de amigos, a quem
você possa ir a pé visitar”.
Essa
rejeição do individualismo, que gerou os planos CD e nos afastou do mutualismo
dos planos BD, parece ser uma rejeição à vida que o homem-organização vinha tendo até aqui. Uma reação contra a noção
de que seu emprego, o escritório ou até a cidade onde você nasceu, são as únicas
fontes de significado, de segurança, de propósito de vida.
Com
cada vez menos pessoas trabalhando e habitando os escritórios, podemos esperar
que mais e mais pessoas abracem novos tipos de comunidade, novas religiões e
inventem um ou dois novos tipos de fundo de pensão.
O
fim do escritório e do homem-organização,
não significa o fim dos fundos de pensão. Significa que precisamos inventar
algo novo e diferente se quisermos assegurar nossa segurança financeira no
futuro. Mas acima de tudo, significa que precisamos resgatar nossa
individualidade, nossa independência social e espiritual do mundo corporativo,
relegando ao escritório o lugar secundário que lhe cabe em nossas vidas.
Grande
abraço,
Eder.
Fontes: God Outside The Office, escrito por Dror Poleg
| We’re Going From The Great Resignation To The Great Layoffs, escrito or Jack
Kelly | Axios What’s Next, escrito por Joann Muller, Jennifer A. Kingson e Alex
Fitzpatrick.
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