segunda-feira, 1 de agosto de 2022

SYSTEM THINKING: O FUTURO DOS FUNDOS DE PENSÃO NÃO ESTÁ NA “MELHORIA CONTÍNUA”, MAS SIM NA “MELHORIA DESCONTÍNUA”

 



De São Paulo, SP.

A maioria dos fundos de pensão vem adotando iniciativas de melhoria, implantado inovações como cashback, novos canais digitais de atendimento, planos família, contratando profissionais de venda para atrair novos “clientes”, fazendo rebranding para reposicionamento da marca etc.

 

Não obstante, apesar das melhorias de produtos e serviços, bem como da guinada institucional serem uma coisa boa, os fundos de pensão tendem a falhar na tentativa de pivotar seus modelos de negócios em direção ao futuro.

 

A razão primaria pela qual essas iniciativas de melhoria tenderão a continuar falhando é porque elas não vêm sendo feitas com um pensamento sistêmico e não decorrem de uma visão sistêmica dos fundos de pensão e do seu futuro. 

 

O surgimento do pensamento sistêmico

O Século XXVII foi a época da revolução cientifica que levou a grandes avanços no desenvolvimento humano, impulsionados pela evolução de áreas diversas do conhecimento.

Vigorava um pensamento reducionista-mecanicista, formulado por filósofos como Descartes, Francis Bacon e Newton, com o método científico e de análise aplicado ao estudo de física, de biologia, de medicina e das ciências humanas. 

pensamento sistêmico - “system thinking”, em inglês - foi surgir lá pelo Século XX e trouxe uma nova forma de abordar a realidade e as ciências. 

Sem negar a racionalidade cientifica, o pensamento sistêmico se contrapôs ao pensamento reducionista-mecanicista por entender que a ciência, isoladamente, não oferece parâmetros suficientes para descrição do universo material e para o desenvolvimento humano. 

Devido a essa limitação, a ciência deve ser desenvolvida conjuntamente com a subjetividade das artes e das diversas tradições espirituais: o pensamento sistêmico inclui a interdisciplinaridade.

Entendendo o que é sistema, para entender os fundos de pensão



Para entender o que é o pensamento sistêmico e sua importância para os fundos de pensão, precisamos entender antes, o que é um sistema:

  • Um sistema é “um todo”;
  • Um sistema é composto por partes, cada qual podendo afetar seu comportamento ou suas propriedades;
  • Todas as partes de um sistema devem se relacionar de forma direta ou indireta;
  • Um sistema pode abrigar outro sistema;
  • Um sistema é vinculado ao tempo e espaço.

Nosso corpo, por exemplo, é um sistema biológico chamado de organismo, que consiste de partes – coração, pulmão, pâncreas, estomago etc. Cada uma das partes que compõe o organismo pode afetar seu comportamento ou suas propriedades.

 

Quando uma parte do sistema afeta o sistema, ela é dependente de uma outra parte, em outras palavras, as partes de um sistema são interdependentes. Nenhuma parte do sistema ou nenhuma coleção de partes do sistema, tem efeito independente no sistema.

 

No exemplo do organismo, a forma que o coração afeta o corpo depende de como os pulmões estão funcionando, como o cérebro está funcionando, ou seja, as partes são interconectadas. Portanto, um sistema é o todo, que não pode ser dividido em suas partes independentes.

 

Isso tem implicações de grande importância, geralmente desprezadas.


1.    Primeiro princípio básico dos sistemas - O essencial ou as propriedades que definem qualquer sistema, são propriedades do todo, que nenhuma de suas partes possui. 


Um sistema elementar que todos conhecemos é o automóvel, cuja propriedade essencial é poder levá-lo de um lugar para outro. Porém, nenhuma parte isolada do automóvel pode fazer isso, nem mesmo o motor pode se auto carregar de um lugar a outro, mas o automóvel pode. A propriedade essencial do organismo é a vida, mas nenhuma de suas partes vive, você é que tem vida. Você pode escrever, sua mão sozinha não pode escrever.


Portanto, quando um sistema é dividido nas partes que o compõe, ele perde suas propriedades essenciais. Se desmontarmos um automóvel, mesmo tendo todas as suas partes presentes, mas separadas, não teremos um automóvel. Um sistema não é a soma dos comportamentos de suas partes, ele é o produto de suas interações.

 

Nos anos 70 havia 457 automóveis vendidos nos EUA. Suponha que os carros fossem levados para uma garagem e avaliados por 200 dos melhores engenheiros do mundo. Pediríamos que eles avaliassem e achassem o melhor motor dentre todos os carros. Eles diriam, por exemplo, o melhor motor é o do Rolls Royce. O melhor cambio? Digamos que fosse da Mercedes. A melhor bateria, a melhor transmissão ... no final teríamos a lista da melhor peça de cada um dos 457 automóveis. Ai pediríamos: montem um automóvel com essas melhores peças. Sabe o que teríamos? Não teríamos nem mesmo um automóvel por uma razão obvia: as peças não se encaixariam.

 

O funcionamento de um sistema depende de como as peças se encaixam, não de como elas funcionam separadamente.

 

O que isso significa para fundos de pensão?

 

Se tivermos um programa de melhoria num fundo de pensão que faça benchmark das melhores práticas de investimentos, de gestão de riscos, de atendimento a participantes, de comunicação, de governança, de desenho de plano ... etc., um programa de inovações voltado para melhorar áreas do fundo de pensão separadamente, pode ter absoluta certeza de que a performance do todo não será melhorada.


2.    Segundo princípio básico dos sistemas - a melhoria de um sistema deve ser voltada para aquilo que você quer, não para aquilo que você não quer.


Esse é um princípio ignorado pela maioria das empresas e foi derivado do trabalho de Walter Shewhart da Bell Labs nos anos 1930, que estabeleceu uma técnica estatística para encontrar defeitos. Pode parecer obvio, mas quando você se livra de algo que você não quer (um defeito), não necessariamente você obtém o que você quer. 

 

Numa fábrica de parafusos, as peças defeituosas são identificadas por um sistema ótico e descartas da linha de produção. Descartar os parafusos defeituosos não faz com que a causa dos defeitos seja sanada. Ou seja, encontrar deficiências e se livrar delas, não melhora a performance de um sistema. 

 

Melhorar a performance de um sistema, após determinar aquilo que você deseja, requer redesenhar o sistema, não para o futuro, mas para agora mesmo. É importante se perguntar o que você faria hoje, se pudesse fazer qualquer coisa, porque se você não souber o que fazer quando pode fazer qualquer coisa, no momento que tiver dificuldade aí que você não saberá o que fazer.

 

O que isso significa para fundos de pensão?

 

Os planos família tem sido implantados por muitos fundos de pensão como uma ferramenta de fomento da previdência complementar corporativa.

 

Ao atrair familiares de empregados das patrocinadoras, se busca recompor a escala tão necessária para a sustentabilidade dos planos. O que não se quer nos fundos de pensão é que a diminuição da quantidade de participantes prejudique sua manutenção no longo prazo.

 

Se por um lado os planos família, de fato, contribuem para o fomento da previdência corporativa, por outro, não serão capazes isoladamente de recompor a perda da escala, já que: menos empregados = menos familiares nos planos.


Reestabelecer a escala nos fundos de pensão, ou seja, aquilo que você deseja, requer redesenhar o sistema, não para o futuro, mas para agora mesmo.

 

3.    Terceiro princípio básico dos sistemas - melhoria contínua é tão importante quanto melhoria descontinua. 


Criatividade é uma descontinuidade. Um ato criativo, uma inovação, quebra a corrente de continuidade, interrompe a continuação do que havia antes. Ninguém se torna líder por meio de melhorias contínuas e incrementais, isso é imitação do líder. Você se torna líder pulando na frente daqueles que estão na sua frente, isso acontece quando você provoca uma melhoria descontinua.

 

O que isso significa para fundos de pensão?

 

Fundos de pensão são sistemas complexos, devem ser tratados através do pensamento sistêmico, mas ainda hoje, buscamos soluções baseados no pensamento reducionista-mecanicista. Precisamos mudar e buscar melhorias descontinuas, novos modelos de negócios, soluções disuptivas.

 

Concluindo

 

Fazer as coisas da maneira certa é diferente de fazer a coisa certa. Fazer a coisa errada da maneira certa, é tão ruim quanto fazer a coisa certa da maneira errada.

 

As melhorias de muitas organizações têm se baseado em iniciativas assistemáticas, confundindo o conceito de qualidade: “qualidade é aquilo que atende ou excede as expectativas dos clientes e consumidores”, não as expectativas de gerentes e gestores.

 

Qualidade tem que conter a noção de valor, agregar valor para o consumidor | participante, não meramente melhorar a eficiência da organização, sem melhorar sua eficácia. 

 

A diferença entre eficiência e eficácia é a mesma diferença entre conhecimento e sabedoria e infelizmente, as coisas hoje em dia têm sido feitas com muito conhecimento, mas pouca sabedoria.

 

Enquanto os gestores não levarem em consideração a natureza sistêmica de suas organizações, a maioria de seus esforços para melhorar a performance delas e continuarem funcionando no longo prazo, estará fadada ao insucesso. 

 

Grande abraço,

Eder

 

Fonte: Video abaixo





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