De São Paulo, SP.
Vamos para a terceira
e última parte da série de três artigos nos quais estamos abordando as
placas tectônicas que estão se movimentando e empurrando os fundos de
pensão para uma nova configuração.
Nos últimos 240
anos passamos por umas cinco revoluções tecnológicas, a mais recente delas iniciada
em 1971, provocada pela tecnologia da informação e das telecomunicações, ainda em
curso.
Revoluções tecnológicas
são processos bem destrutivos, elas definem um novo meio de produzir e de viver,
mas a sociedade leva um longo tempo para assimilar as mudanças.
Cada revolução tecnológica
traz consigo mudanças de duas naturezas: (i) técno-econômicas; e (ii) sócio-institucionais,
com enorme potencial para criação de riqueza, pela transformação da economia,
sociedade e instituições.
Surgem novos paradigmas,
que mudam a lógica dos negócios, provocando um salto quântico em todos os
setores, segmentos e indústrias, com disruptura para todo lado.
Cada revolução traz,
também, um realinhamento político, cultural, dos valores e aspirações – sabe o
lance das mudanças climáticas, da sustentabilidade, do veganismo, da diversidade
& inclusão? Pois é ...
O sucesso vai
para aqueles que melhor entendem que algo diferente está acontecendo, se
amoldam ao novo potencial, olham e andam para a frente. Esses são os fundos de
pensão passando por rebranding,
implantando planos família, se movimentando, buscando novos modelos de negócios,
como a Vivest (ex-FCESP) e outros.
Mas há também aqueles
que se apegam às velhas ideias, aos velhos objetivos, aos velhos valores individuais
ou coletivos, que olham sempre para trás e para trás vão ficando. A falha em
responder às transformações do mercado pode ser fatal.
Carlota Perez, uma Britânica de origem Venezuelana, professora honorária do Instituto de Inovações e Politicas Publicas da University College London, explica tudo isso no vídeo abaixo (em inglês), fala sobre como as revoluções tecnológicas se sucedem e se sobrepõem – TL;DR o vídeo tem duração de 01:04:48, mas recomendo muito que assistam, mesmo que sua paciência para vídeos longos seja igual à da Gen Z J
Entendendo os ecossistemas
de negócios
Nos anos 1930 o botânico
Britânico Arthur Tansley introduziu o termo “ecossistema” para descrever uma
comunidade de organismos interagindo uns com os outros em seus ambientes: ar, água,
terra etc. Para prosperar, esses organismos competem e colaboram uns com os
outros em busca dos recursos disponíveis, co-evoluem e se adaptam conjuntamente
às disrupturas externas.
Em 1993 o estrategista de gestão James Moore publicou um artigo na Harvard Business Review intitulado “Predators and Prey: A New Ecology of Competition” (Predadores e Presas: A nova Ecologia da Competição) no qual adaptou o conceito biológico fazendo um paralelo com empresas que operam num mundo onde o comercio é cada vez mais interconectado, se adaptando, evoluindo e competindo para sobreviver, algumas vezes indo à extinção. Moore sugeriu que uma empresa não deveria ser vista apenas isoladamente num setor, mas como membro de um ecossistema de negócios abrangendo participantes através de múltiplos setores.
Um ecossistema de
negócios hoje é uma rede (network) de organizações – incluindo fornecedores,
distribuidores, clientes, competidores, agências governamentais etc. -
envolvidas na entrega de um produto ou serviço especifico, através tanto de
competição como de colaboração.
A ideia é que
cada entidade do ecossistema afeta e é afetada pelas demais, criando uma
relação em constante evolução na qual cada entidade precisa ser flexível e adaptável
para sobreviver, da mesma forma que nos sistemas biológicos. Ecossistemas criam
fortes barreiras de entrada para novos competidores, uma vez que já consiste de
players que o fazem funcionar.
Por fim, ecossistemas
de negócio demandam um engajamento B2B eficaz e eficiente entre os parceiros
porque são multi-stakeholders e business-to-business por natureza. A
parceria requer processos digitais, conexão de dados, ferramentas colaborativas
e integração de modelos de negócio para vender, fazer marketing e desenvolver
soluções conjuntas.
Ecossistema em previdência complementar ou previdência lego
Para ficar fácil de
entender, vou dar um exemplo genérico e um especifico.
Em julho passado,
minha esposa e eu resolvemos fazer um fondue
no fim de semana. Preparamos uma lista de tudo que precisávamos e fomos ao
supermercado. Quando entramos, tinha um grande banner com os dizeres: “Inverno
Gourmet: Tudo para fondue”.
Embaixo do
cartaz, uma mesa enorme com absolutamente tudo para se fazer fondue de carne ou de queijo. Tinha
molhos, queijos, carnes, pão, óleo vegetal, vinho, copos, pratos, aparelho de foundue, garfinhos e ... álcool gel.
Putz, álcool gel
não estava na nossa lista! Isso implicaria voltar ao mercado para comprar esse
item que havíamos esquecido.
Esse é um bom
exemplo genérico de ecossistema de soluções, mas vamos a um exemplo simples e especifico.
Imagine que você vai
registrar no cartório, seu filho que acabou de nascer. Ao pagar a taxa de
registro, lhe oferecem por mais R$ 50 (embutidos na taxa) um plano instituído ou
um PGBL que já pode sair no CPF e nome do recém-nascido.
O pai (ou a mãe)
orgulhoso, feliz da vida, totalmente bobo, de olho no futuro do nenê, quase
certamente vai querer. Ele não foi comprar um plano de previdência complementar,
mas sai do cartório com um.
A previdência lego é a incorporação de poupança para a aposentadoria, proteções para riscos de invalidez e morte, na compra de outros produtos, serviços ou plataformas – embutida em um ecossistema de soluções.
Retrospectiva e conclusão:
Chegamos ao fim
dessa série de artigos. Como consequência do movimento das placas tectônicas, principalmente
das mudanças demográficas, passaremos por grandes mudanças em uma pequena
janela de tempo, nos próximos anos.
O poder de compra
está se deslocando das gerações mais antigas para as mais novas, a Gen Z e os
Millenials. Esses últimos estão naquele momento doce da vida, em que constituíram
família e passa a ser importante a compra de uma casa, de poupar para o futuro
(seu e dos filhos) de buscar segurança.
A pandemia despertou
os Millenials para a necessidade de proteção, o Covid-19 mostrou a importância da
segurança financeira, da compra de seguros – vida, saúde – e da poupança via
plano de previdência complementar.
Como consumidores,
procuram produtos e serviços de prevenção num lugar só, sem fricção,
partilhando seus dados em troca. Por isso a importância dos ecossistemas de
soluções, eles querem acessar seguros, previdência, saúde e bem-estar no
smartphone, da mesma forma que já fazem com pagamentos digitais via Apple Pay,
Sansum Pay etc.
Os fundos de
pensão precisam mudar, ao invés de “fazer digital”, precisam “ser digitais”,
precisam focar na experiência do consumidor, entender o que eles precisam, se
preparar para a próxima fase da jornada digital, porque até aqui, não vêm
fazendo um bom trabalho para atrair as novas gerações.
Um jovem da Gen Z nos EUA durou apenas um mês trabalhando para uma seguradora. “Não quero trabalhar onde a tecnologia não está”. Quando compram, as novas gerações se preocupam com o proposito e o valor social das marcas, o mesmo quando trabalham para uma empresa.
Os muros que delimitavam as Entidades Fechadas de Previdência começam a ruir e em breve serão destroçados pelas forças do mercado. Eu até brinco que deveríamos passar a chama-las de Entidades Escancaradas de Previdência.
Para manter a escala necessária para sua sobrevivência, a sustentabilidade de longo prazo dos fundos de pensão vai força-los a soltarem as amarras de suas patrocinadoras e atuarem em ecossistemas de soluções.
A previdência lego representa oportunidades de cross sell (venda cruzada) e up sell (agregar valor a compra original), embutindo planos de previdência complementar em outras soluções.
Os bancos e administradoras de cartão de credito, as mídias sociais e mecanismos de busca na Internet, sabem que sua esposa vai ter um bebe antes dele nascer. Os fundos de pensão poderiam fazer parcerias para distribuir seus produtos. Uma vantagem competitiva, um fluxo de receitas adicional, ninguém está fazendo ....
Não é mais o Silvio Santos que vem aí, agora quem vem aí é a previdência lego!
Grande abraço.
Eder.
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