Cajamar, 1º de
setembro de 2022
Ref.: Uma carta para você que não tem cryptomoedas
Queridos amigos,
Escrevo essa carta porque estou convencido de duas coisas: (i) nosso sistema monetário, nosso sistema financeiro, nosso sistema de previdência complementar e os demais mecanismos que usamos hoje para buscar a segurança financeira futura estão, fundamentalmente, caminhando rapidamente para se tornarem disfuncionais; e (ii) abraçar um dinheiro mais evoluído vai, no longo prazo, beneficiar as pessoas individualmente e beneficiar a sociedade como um todo.
Nossa poupança, nossos investimentos, nosso dinheiro, são assuntos sensíveis – a maioria das pessoas das gerações mais antigas não gosta de falar disso, seja porque tem pouco e sente vergonha ou porque tem muito e sente medo. Menos pessoas ainda entendem a natureza do dinheiro, o que é chocante, afinal de contas, dinheiro é algo essencial na civilização moderna.
O mundo mudou significativamente nas ultimas duas ou três décadas, o mundo do dinheiro também mudou, mas temo que o sistema monetário, o sistema financeiro e o sistema de previdência complementar, não mudaram necessariamente para melhor.
O simples fato de: (1) governos ao redor do mundo criarem do nada trilhões (com “T” mesmo) de dólares; (2) mesmo com mais de 7.000 bancos espalhados pelo planeta, mais de um bilhão de pessoas não ter acesso a contas bancárias - inclusive a faxineira aqui de casa que mora a ½ hora de São Paulo; e (3) haver participantes de planos de previdência complementar vivendo mais do que a poupança que fizeram durante toda uma vida – coisas assim atestam o quão desconectados esses sistemas estão da realidade.
O que vem pela
frente me preocupa, mas ainda assim sou otimista, porque vem surgindo uma
alternativa.
MOIP ou Money Over Internet Protocol
Tirando o dinheiro em papel, ou seja, as notas e moedas que estão na nossa carteira ou debaixo do colchão, 90% do nosso dinheiro, investimento, poupança e previdência complementar são passivos registrados no balanço proprietário de algum banco, entidade de previdência complementar ou instituição de poupança.
Em outras palavras, até aqui nosso dinheiro vinha sendo um passivo registrado no balanço pertencente a alguma instituição financeira, responsável por “guardar” nossa reserva de valor.
Aí chegou aquela galera da comunidade crypto e fez uma revolução. Eles perguntaram: “... e se criássemos softwares e protocolos que permitissem guardar nossa reserva de valor, nosso dinheiro, na Internet, que permitisse transferir e usar o dinheiro diretamente como meio de pagamento, sem passar por uma instituição financeira”?
Para você entender melhor, pense no que aconteceu com as ligações telefônicas. Até os anos 90, usávamos a rede proprietária, isto é, as linhas telefônicas, de alguma empresa de telefonia para fazer uma ligação. Hoje usamos o Facetime, o Whatsapp, o Messenger e outros apps e falamos através da web, com base em softwares e protocolos de Internet, os chamados TCP/IP – Transmission Control Protocol / Internet Protocol. Fazemos hoje ligações p/ qualquer parte do mundo 24 x 7 x 365, baseadas nesses protocolos, a custo zero.
O TCP/IP está para a comunicação de voz e dados assim como o MOIP – Money Over Internet Protocol está para uso, transmissão e guarda da reserva de valor, $$$, no mundo digital. É toda uma arquitetura de serviços financeiros, de ativos, de dinheiro, inteiramente nova, é disruptivo.
A essa altura você já deve ter ouvido falar de Bitcoin, Ethereum, XRP, Litecoin, Solana e tantos outros protocolos, chamados de cryptomoedas. O Bitcoin já foi assunto até de episódios do The Simpsons, The Big Bang Theory e inúmeros outros programas e noticiários de TV. Mas a despeito da cobertura da mídia sobre o assunto, ainda é mal compreendido em larga escala o que de fato são as cryptomoedas e o papel delas na economia.
Seja o que for que você tenha ouvido falar ou o que você pense sobre cryptomoedas, elas são muito mais do que nossos olhos conseguem enxergar - até porque são digitiais e portanto, invisiveis. Graças às intervenções monetárias causadas pelos bancos centrais espalhados pelo mundo, a narrativa sobre as cryptomoedas está começando a mudar.
Cryptomoeda não é mais
sinônimo de criminalidade nem de dinheiro transacionado na “dark web” e vem se firmando
como o equivalente a dinheiro confiável, hedge (proteção) contra o sistema corrente,
um voto pela liberdade, um paradigma diferente para a moeda.
Porque as
cryptomoedas são necessárias
Não vou te falar sobre como funcionam as cryptomoedas, nem sobre a incrivel historia de como surgiram, não vou falar do misterioso criador do Bitcoin, nem da cryptografia ou da teoria dos jogos por trás delas. Você pode ler sobre tudo isso em inúmeras fontes de informação e afinal, isso aqui é uma carta, não um livro. Vou te falar, entretanto, sobre porque elas são necessárias.
A capitalização de mercado do ouro é hoje de US$ 9 trilhões, dos imóveis é globalmente de US$ 223 trilhões. A capitalização de mercado de todas as cryptomoedas em 01 de agosto de 2022 era de US$ 1,13 trilhões. Apesar de ainda estar nos estágios iniciais de desenvolvimento, as cryptomoedas caminham para capturar parte ou todo o valor de mercado do ouro e dos imóveis, desmonetizando esses e outros ativos nesse processo. O mundo caminha para ser reprecificado em cryptomoedas.
Dinheiro é uma ferramenta essencial para qualquer situação que requeira cooperação em larga escala, é um dispositivo de mensuração, um mecanismo substituto para escambo, um meio de guardar valor e patrimônio no espaço e no tempo. Dinheiro é muitas outras coisas e é essencial para o funcionamento de uma sociedade complexa.
O amago do problema com o dinheiro convencional é que ele requer confiança para funcionar. Precisamos confiar no banco central para que o dinheiro não perca valor, mas a historia do dinheiro é cheia de episódios de quebra dessa confiança. Crises financeiras e a recente pandemia mostram claramente que nosso dinheiro tem problema, está quebrado, não funciona.
O poder de compra
do dólar vem caindo continuamente desde 1913 e a tendência mostra que deverá
cair mais ainda. As cryptomoedas são uma inovação monetária, muito mais do que
uma inovação tecnológica.
O Covid-19 revelou a fragilidade não só da cadeia global de suprimentos, mas principalmente do nosso sistema financeiro e monetário. Numa questão de dias passamos a imprimir $$$ ilimitadamente via politicas de flexibilização quantitativa (quantitative easing) mundo afora, injetando liquidez na economia, salvando (outra vez) com o seu, o meu, o nosso $$$, bancos muito grandes para quebrar, fazendo de tudo para evitar o colapso do sistema financeiro.
Se por um lado a linguagem econômica é sofisticada, por outro, a repercussão é simples: inflação galopante é o que acontece e o impacto para as pessoas sempre o mesmo, o dinheiro que você economizou desvaloriza e seu poder de compra se reduz, esteja seu $$$ debaixo do colchão ou na conta bancaria.
As cryptomoedas resolvem isso, por não serem baseadas em passivos, como o sistema atual, por terem oferta estritamente limitada, por não poderem ser criadas arbitrariamente, por não dependerem de um poder central ou uma autoridade máxima que possa corrompe-las.
As cryptomoedas são
o antidoto para a teoria monetária moderna. É necessário endireitar o mundo
tortuoso do dinheiro fiduciário e analógico.
O melhor
dinheiro que já foi inventado
As propriedades monetárias das cryptomoedas, desenhadas a partir do zero, foram criadas para ser superiores a todas as demais formas de $$$: são extremamente portáveis, perfeitamente escassas, altamente divisíveis, facilmente verificáveis, duráveis, fungíveis e extremamente resistentes à censura.
Tais propriedades não foram atribuídas as cryptos por nenhuma autoridade central, elas emergem naturalmente do próprio sistema que as construiu.
As cryptomoedas são o dinheiro do povo, feito pelo povo, para o povo, não controlado por ninguém, auditável e utilizável por todo mundo. São superiores a imóveis e ouro por muitas razoes, nenhum outro ativo pode ser magicamente transmitido por meio da Internet ou de qualquer outro canal de comunicação.
Elas possuem a maior densidade de valor dentre todos os ativos, pois são pura informação. Você pode ter em sua mente uma quantidade de Bitcoins equivalente a um bilhão de reais e guardar esse patrimônio mesmo se estiver totalmente nú.
As cryptomoedas são
um investimento no futuro, não necessariamente um investimento especulativo. Conforme
o meme acima, deveriam ser vistas não como ativos a serem trocados de volta por
reais, dólares ou euros. Quando você entender o que elas são, não vai mais precisar
vender suas cryptos.
Abraço,
Eder.
Disclaimer: Não deveria ser preciso dizer isso, mas receio ter que deixar explicito: esse texto não é aconselhamento financeiro, não é orientação de investimentos, não recomenda a compra de nenhum ativo real ou digital, nem de valores mobiliários, nem de coisa nenhuma. Publiquei o texto porque achei que poderia ser útil para alguém. Para você que não me conhece na vida real, sou apenas um cara qualquer das mídias sociais, posso até ser um hamster. Aja com prudência.
Fonte: Dear Family, Dear Friends, escrito por Gigi
Nenhum comentário:
Postar um comentário