De São Paulo, SP.
Essa é a segunda parte de uma série de três
artigos abordando as placas tectônicas que estão se movimentando e
empurrando os fundos de pensão para uma nova configuração.
É preciso entender de onde viemos e onde
estamos hoje, se quisermos enxergar para onde vamos, seja no segmento de fundos
de pensão e de planos de previdência complementar (figura abaixo) ou em qualquer
outro setor.
As profundas
mudanças demográficas em curso
Em 2016, se agrupássemos
a Geração Baby-Boomers com a Geração X e comparássemos a
quantidade de pessoas na faixa de 30 a 60 anos com a soma de indivíduos nessa
mesma faixa etária, da Geração Z combinada com os Millenials (Geração
Y), as duas primeiras gerações representando os mais velhos tinham 2,25 vezes
mais pessoas do que as outras duas gerações mais jovens (gráfico mais abaixo)
Em 2025 essa
relação vai se inverter, com os Millenials | Gen Z passando a representar 2
vezes mais pessoas no mundo do que os Baby-Boomers | Gen X.
Atualmente 2 em
cada 3 jovens adultos nos EUA são Millenials | Gen Z e no Brasil eles já são
58% da população.
Os Millenials -
que se encontram na faixa de 40 e poucos anos - já começam a assumir posições
de C-Level nas empresas, enquanto a galera da Gen Z começou
a chegar no mercado de trabalho em plena pandemia.
Por que isso é
importante? Bem, porque o mundo em que viveremos será moldado pelos jovens e
não pelas gerações que vão saindo de cena. Por isso é extremamente importante
saber a visão de mundo, os valores, os hábitos, enfim, como pensam as novas
gerações.
Enquanto
escrevo, surgiu um exemplo inusitado que nem estava no meu radar, mas que ilustra
maravilhosamente bem o que eu quero dizer. O MS-Word deve ter sido programado
pelas gerações mais antigas, veja só o que eles acabam de me sugerir para
substituir “a galera”, termo que usei dois parágrafos acima.
As novas gerações
são movidas por um enorme senso de justiça social, presam demais as questões de
DE&I – Diversidade, Igualdade e Inclusão, levam
extremamente à sério as mudanças climáticas, a sustentabilidade ambiental, ESG e ... são de uma informalidade incrível
(adeus gravatas, agora, para sempre).
Uma pesquisa feita
pela Gallup em 2020 mostrou que 16% dos jovens entre 18 e 23 anos nos EUA se
declaram LGBT e 72% (uauuuu!) se dizem bi-sexuais. Comparados com os Millenials,
a geração anterior a deles, esses números eram de 9% LGBT e 50% bi-sexuais.
Ou seja, 1 em
cada 6 jovens americanos de declara hoje não-binário e já se usa o termo “gender
fluid” ou “gênero fluido”, para se referir a eles porque num dia se dizem uma
coisa, no outro se dizem outra coisa. Não é à toa que DE&I se tornou um
tema de alta relevância com amplas implicações para as empresas, para os fundos
de pensão e para a sociedade como um todo.
A jornada financeira,
os canais de compra e a democratização dos investimentos
Uma pesquisa
feita com várias gerações perguntou se a pessoa concordava com a seguinte
afirmação: “Transporte é necessário, mas ter um veículo não é”.
O resultado (gráfico mais abaixo) mostrou que para as gerações mais velhas, a propriedade de um
carro é fundamental para ir de um lugar a outro, é sinônimo de transporte, mas para
os jovens o que realmente importa é a jornada da mobilidade, não necessariamente
possuir um carro.
O que é jornada
da mobilidade? Imagine que um Gen Z morando em São Paulo queira ir para a praia
em Santos, no fim de semana. Ele sai de casa, pega um patinete elétrico ou uma
bicicleta compartilhada e vai até uma estação de metrô. De lá vai até o centro
da cidade onde pega uma carona compartilhada que agendou através de um app como
o Blá Blá Car,
que o leva até Santos. Na volta, faz o caminho inverso. Tudo, sem ser dono de
um carro.
Por que isso é importante? Porque podemos expandir esse modo de pensar para a jornada financeira ao longo da vida, o que tende a aproximar curto, médio e longo prazo quando o jovem olha para questões financeiras.
Mas não é só
isso.
Pesquisas
feitas pela SVIA – Silicon Valley Insurance Accelerator – uma InsureTech
do Vale do Silício – mostraram que entre 45% e 60% dos Millenials e Gen Z demonstraram
interesse em comprar seguros não apenas via canais tradicionais, tipo corretoras
de seguros e seguradoras, mas também através do Google, Amazon, Apple e outras
plataformas de big tech (slide abaixo).
Para as
gerações mais novas, seguro deixou de ser coisa (só) de seguradora e por extensão,
poupança de longo prazo também passa a não ser coisa (só) de fundo de pensão.
Por fim, a tecnologia
está democratizando o acesso dos jovens aos investimentos. Qualquer um hoje por
meio de um smartphone pode comprar e vender ações, títulos públicos ou
cryptomoedas, sem precisar de uma conta em banco.
Abaixo, meu
avatar na plataforma Reddit uma das tantas plataformas onde se encontram comunidades onde se troca informações.
Através das mídias sociais, chats e fóruns de discussão, você pode ter acesso a análises de mercado, entender os movimentos das bolsas de valores, obter dicas e orientação sobre investimentos.
Claro, educação
financeira nesse cenário é fundamental, mas se os fundos de pensão estão ausentes
dessas plataformas, os jovens ficam expostos aos StockFluencers no TikTok.
Estamos caminhando
para a democratização e hiper individualização dos investimentos.
Impactos do deslocamento da Placa #2
Entender as novas gerações é fundamental
para se poder apontar o modelo de negócios atual, qualquer que seja seu setor
de atividades, para o futuro.
A tecnologia pode ser o motor das mudanças,
mas indubitavelmente, as transformações sociais é que estão por trás do
direcionamento dessas mudanças.
Na terceira e última parte dessa minissérie
de três artigos, abordaremos a placa tectônica número 3: a disruptura na
fronteira dos negócios.
Grande abraço,
Eder.
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